Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1859

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Capítulo LXXVII

Novembro - Observações a propósito do vocábulo milagre

Novembro
O Sr. Mathieu, que citamos em nosso artigo de outubro, a propósito dos milagres, dirige-nos a reclamação seguinte, que nos apressamos em atender:

“Senhor,

“Se eu não tenho a vantagem de estar de acordo convosco em todos os pontos, pelo menos estou naquilo que tivestes ocasião de dizer de mim no último número de vosso jornal. Assim, concordo perfeitamente com vossa observação a respeito do vocábulo milagre.

“Se dele me servi em meu opúsculo, tive o cuidado de dizer, ao mesmo tempo, à pág. 4: ‘Convencido de que o vocábulo milagre exprime um fato produzido fora das leis conhecidas da Natureza; um fato que escapa a toda explicação humana, a toda interpretação científica’, supunha assim indicar suficientemente que dava ao vocábulo milagre um valor relativo e convencional. Parece-me, desde que tivestes o trabalho de me censurar, que me enganara.

“Em todo caso, conto com a vossa imparcialidade para que estas linhas, que tenho a honra de vos dirigir, encontrem acolhida no vosso próximo número. Não me sinto agastado, uma vez que os vossos leitores saibam que eu não quis dar ao vocábulo em questão o sentido que lhe censurais, e que houve inabilidade da minha parte ou malentendido da vossa, talvez mesmo um pouco de uma e de outra coisa.

“Recebei, etc.

“MATHIEU”

Como dissemos no nosso artigo, estávamos perfeitamente convencido do sentido em que o Sr. Mathieu havia empregado o vocábulo milagre. Assim, nossa crítica de modo algum visava à sua opinião, mas ao emprego do vocábulo, mesmo na sua mais racional acepção. Há tantas pessoas que não veem senão a superfície das coisas e que não se dão ao trabalho de aprofundá-las, o que não as impede de julgar como se as conhecessem, que tal título dado a um fato espírita poderia ser tomado ao pé da letra, de boa-fé por uns, de má fé pelo maior número.

Nossa observação a este respeito é tanto mais fundada quanto nos lembramos de ter lido algures, num jornal cujo nome nos escapa, um artigo onde aqueles que gozam da faculdade de provocar fenômenos espíritas eram classificados, por irrisão, como fazedores de milagres, e isto a propósito de um adepto muito zeloso, que estava, ele próprio, convencido de produzi-los. É o caso de lembrar que nada é mais perigoso do que um amigo imprudente. Nossos adversários são muito ansiosos em lançar-nos ao ridículo, sem que lhes ofereçamos pretexto.

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