Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861

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Capítulo XXVII

Maio - Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas — Discurso do Sr. Allan Kardec

Maio
Senhores e caros colegas,

No momento em que nossa Sociedade inicia seu quarto ano, creio que devemos um agradecimento especial aos bons Espíritos que se dignaram assistir-nos e, em particular, ao nosso Presidente espiritual, cujos sábios conselhos nos preservaram de vários perigos e cuja proteção permitiu superarmos as dificuldades semeadas em nosso caminho, sem dúvida para submeter à prova a nossa dedicação e a nossa perspicácia. Sua benevolência — devemos reconhecê-lo — jamais nos faltou e, graças ao bom espírito de que agora a Sociedade está animada, triunfou sobre a má vontade de seus inimigos. Permiti-me, a propósito, algumas observações retrospectivas.

A experiência havia-nos demonstrado lacunas lamentáveis na constituição da Sociedade, lacunas essas que abriam a porta a certos abusos. A Sociedade superou-as, e desde então só teve que se felicitar. Realiza ela o ideal da perfeição? Não seríamos espíritas se tivéssemos o orgulho de acreditar nisso. Mas, quando a base é boa e o resto só depende da vontade, é preciso esperar que, com o auxílio dos bons Espíritos, não paremos no caminho.

Entre as mais úteis reformas deve-se colocar em primeiro lugar a instituição dos sócios livres, que dá mais fácil acesso aos candidatos, permitindo que sejam conhecidos a avaliados antes de sua admissão efetiva como membros titulares. Participando dos trabalhos e dos estudos da Sociedade, aproveitam tudo quanto nela se faz, mas como não têm voz na parte administrativa, não podem, em caso algum, comprometer a responsabilidade da Sociedade. Vem a seguir a medida que objetivou restringir o número dos ouvintes e cercar de maiores dificuldades, por uma escolha mais severa, a sua admissão às sessões; depois, a que interdita a leitura de qualquer comunicação recebida fora da Sociedade, antes de seu conhecimento prévio e que a leitura tenha sido autorizada; enfim, as que armam a Sociedade contra quem quer que lhe pudesse trazer perturbação ou tentasse impor-lhe a sua vontade.

Há outras ainda que seria supérfluo lembrar, cuja utilidade não é menor e cujos resultados felizes podemos apreciar diariamente. Mas, se tal estado de coisas é compreendido no seio da Sociedade, o mesmo não se dá fora, onde — desnecessário é dissimular — não temos somente amigos. Criticam-nos em vários pontos e, embora não tenhamos que nos preocupar com isso, pois que a ordem da Sociedade só a nós interessa, talvez não seja inútil lançar um golpe de vista sobre os pontos que nos censuram porque, em definitivo, se essas censuras forem fundadas, deveríamos aproveitá-las.

Certas pessoas criticam a severa restrição à admissão dos ouvintes. Dizem que se quisermos fazer prosélitos é preciso esclarecer o público e, para tanto, abrir-lhe as portas de nossas sessões e autorizar quaisquer perguntas e interpelações; que se não admitirmos senão pessoas crentes, não teremos grande mérito em convencê-las. Tal raciocínio é especioso e se, abrindo nossas portas a qualquer um, fosse alcançado o resultado suposto, certamente erraríamos se não o fizéssemos. Mas como o contrário é o que aconteceria, não o fazemos.

Aliás, seria muito desagradável que a propagação da doutrina se subordinasse à publicidade de nossas sessões. Por mais numeroso que fosse o auditório, seria sempre muito restrito, imperceptível, comparado à massa da população. Por outro lado, sabemos, por experiência, que a verdadeira convicção só se adquire pelo estudo, pela reflexão e por uma observação contínua, e não assistindo a uma ou duas sessões, por mais interessantes que sejam. E isto é tão verdadeiro que o número dos que creem sem nada ter visto, mas porque estudaram e compreenderam, é imenso. Sem dúvida o desejo de ver é muito natural e estamos longe de censurá-lo, mas queremos que vejam em condições aproveitáveis. Eis por que dizemos: Estudai primeiro e vede depois, porque compreendereis melhor.

Se os incrédulos refletissem melhor sobre esta condição, para começar veriam nela a melhor garantia de nossa boa-fé e, a seguir, a força da doutrina. O que mais o charlatanismo teme é ser compreendido; ele fascina os olhos e não é tão tolo para se dirigir à inteligência, que facilmente descobriria a carta escondida. Ao contrário, o Espiritismo não admite a confiança cega; quer ser claro em tudo; quer que compreendam tudo e que se deem conta de tudo. Então, quando recomendamos estudo e meditação, pedimos o concurso do raciocínio, o que prova que a Ciência Espírita não teme o exame, desde que antes de crer sentimos a necessidade de compreender.

Não sendo de demonstração as nossas sessões, sua publicidade não atingiria o objetivo e teria graves inconvenientes. Com um público não selecionado, trazendo mais curiosidade que verdadeiro desejo de instruir-se e, ainda mais, vontade de criticar e troçar, seria impossível ter o indispensável recolhimento para toda manifestação séria. Uma controvérsia mais ou menos malévola e baseada, na maior parte do tempo, na ignorância dos mais elementares princípios da Ciência, determinaria eternos conflitos, nos quais a dignidade poderia ser comprometida. Ora, o que nós queremos é que, ao saírem de nossa casa, se os ouvintes não levarem convicção, que levem da Sociedade a ideia de uma reunião grave, séria, que se respeita e sabe fazer-se respeitar; que discute com calma e moderação; que examina com cuidado; que aprofunda tudo com o olhar do observador consciencioso que procura esclarecer-se, e não com a leviandade do simples curioso. E, senhores, crede-o bem, esta opinião faz mais pela propaganda do que se saíssem com o único pensamento de haverem satisfeito sua curiosidade, porque a impressão dela resultante os leva a refletir, ao passo que, no caso contrário, estariam mais dispostos a rir do que a crer.

Eu disse que as nossas não são sessões de demonstração, mas se as fizéssemos desse gênero, para uso dos neófitos, onde se trataria de instruir e convencer, tudo nela se passaria com tanta seriedade e recolhimento quanto nas nossas sessões ordinárias. A controvérsia estabelecer-se-ia com ordem, de maneira a ser instrutiva e não tumultuada, e quem quer que se permitisse uma palavra fora de propósito seria excluído; então a atenção seria mantida e a própria discussão seria a todos proveitosa. É provavelmente o que faremos um dia. Perguntarão por que não o fizemos mais cedo, no interesse de divulgação da Ciência. A razão é simples: é que quisemos proceder com prudência e não como estouvados, mais impacientes que refletidos. Antes de instruir os outros, quisemos nós próprios nos instruirmos. Queremos apoiar o nosso ensino sobre uma imponente massa de fatos e observações, e não sobre algumas experiências isoladas, observadas leviana e superficialmente. No começo, toda Ciência encontra forçosamente fatos que, a princípio, parecem contraditórios e que só um estudo minucioso e completo pode demonstrar-lhes a conexão. Foi a lei comum desses fatos que quisemos buscar, a fim de apresentar um conjunto tão completo e satisfatório quanto possível e deixando um mínimo de margem à contradição. Com este objetivo recolhemos os fatos, examinamo-los, escrutamo-los no que eles têm de mais íntimo, comentamo-los e discutimo-los friamente, sem entusiasmo. Foi assim que chegamos a descobrir o admirável encadeamento existente em todas as partes dessa vasta Ciência que toca os mais graves interesses da humanidade. Tal foi, senhores, até o presente, o objetivo dos nossos trabalhos, objetivo perfeitamente caracterizado pelo simples título de Sociedade de Estudos Espíritas, que adotamos. Reunimo-nos com o fito de nos esclarecermos, e não de nos distrairmos. Não buscando uma diversão, não queremos divertir aos outros, por isso não queremos senão ter ouvintes sérios, ao invés de curiosos, que julgassem aqui encontrar um espetáculo.

O Espiritismo é uma Ciência e, como qualquer outra Ciência, não se aprende brincando. Além do mais, tomar as almas que se foram como assunto para distração seria faltar ao respeito a que fazem jus; especular sobre sua presença e sua intervenção seria impiedade e profanação.

Estas reflexões respondem à censura que algumas pessoas nos dirigiram, por voltarmos a fatos conhecidos e não procurarmos constantemente novidades. No ponto em que estamos, é difícil que, à medida que avançamos, os fatos que se produzem não girem mais ou menos no mesmo círculo; mas esquecem que fatos tão importantes quanto os que tocam o futuro do homem não podem chegar ao estado de verdade absoluta senão após grande número de observações. Seria leviandade formular uma lei baseada em alguns exemplos. O homem sério e prudente é mais circunspecto; não somente quer ver tudo, mas ver muito e muitas vezes. Eis por que não recuamos ante a monotonia das repetições, pois delas resultam confirmações e, por vezes, nuanças instrutivas, e porque se nelas descobrimos fatos contraditórios, rebuscamos as suas causas. Não temos pressa de nos pronunciarmos sobre os primeiros dados, necessariamente incompletos. Antes de colher, esperamos a maturação. Se temos avançado menos do que alguns desejariam na sua impaciência, marchamos com mais segurança, sem nos perdermos no labirinto dos sistemas. Talvez saibamos menos coisas, mas sabemos melhor, o que é preferível, e podemos afirmar o que sabemos sobre o testemunho da experiência.

Aliás, senhores, não penseis que a opinião dos que criticam a organização da Sociedade seja a dos verdadeiros amigos do Espiritismo; não, é a dos seus inimigos, que estão magoados por ver a Sociedade seguir seu caminho com calma e dignidade, através das ciladas que lhe prepararam e ainda preparam. Eles lamentam que ingressar nela seja difícil, porque ficariam encantados de aqui virem semear a perturbação. É por isso também que a censuram de limitar o círculo de seus trabalhos, e pretendem que só se ocupa de coisas insignificantes e sem alcance, porque ela se abstém de tratar de questões políticas e religiosas. Eles queriam vê-la entrar na controvérsia dogmática. Ora, é isso precisamente o que os denuncia. Prudentemente a Sociedade fechou-se num círculo inatacável pela malevolência. Ferindo o seu amor-próprio, queriam arrastá-la por um caminho perigoso, mas ela não se deixará levar. Ocupando-se exclusivamente das questões de interesse científico, e que não podem prejudicar ninguém, ela se pôs ao abrigo dos ataques, e assim deve ficar. Por sua prudência, moderação e sabedoria, conciliou a estima dos verdadeiros espíritas, e sua influência se estende até países distantes, de onde aspiram à honra de fazer parte dela. Ora, essa homenagem que lhe é prestada por pessoas que só a conhecem pelo nome, por seus trabalhos e pela consideração que ela conquistou, é-lhe cem vezes mais preciosa que o sufrágio dos imprudentes muito apressados, ou dos malévolos que queriam arrastá-la à sua perda e ficariam encantados por vê-la comprometida. Enquanto eu tiver a honra de dirigi-la, todos os meus esforços tenderão a mantê-la nesta via. Se devesse extraviar-se, eu a deixaria na mesma hora, porque a preço algum desejaria assumir essa responsabilidade.

Aliás, senhores, sabeis das vicissitudes que a Sociedade atravessou. Tudo quanto aconteceu antes e depois foi anunciado, e tudo se realizou como fora previsto. Seus inimigos queriam a sua ruína; os Espíritos, que a sabiam útil, queriam a sua conservação, e ela se manteve e manter-se-á enquanto for necessária aos seus objetivos. Se tivésseis observado, como pude fazê-lo, as coisas nos seus detalhes íntimos, não desconheceríeis a intervenção de um poder superior, que para mim é manifesto, e compreenderíeis que tudo foi para o melhor e no interesse de sua própria conservação. Tempo virá em que, tal qual o é atualmente, ela não será mais indispensável. Então veremos o que se há de fazer, porque a marcha está traçada em vista de todas as eventualidades.

Os mais perigosos inimigos da Sociedade não são os de fora, pois podemos fechar-lhes as portas e os ouvidos. Os mais temíveis são os inimigos invisíveis, que aqui poderiam introduzir-se malgrado nosso. Cabe-nos provar-lhes, como já o temos feito, que perderiam seu tempo se tentassem impor-se a nós. Sabemos que a sua tática é procurar semear a desunião, lançar o facho da discórdia, inspirar a inveja, a desconfiança e as suscetibilidades pueris que geram a desafeição. Oponhamo-lhes a barreira da caridade, da mútua benevolência, e seremos invulneráveis, tanto contra sua maligna influência oculta quanto contra as diatribes dos nossos adversários encarnados, que mais se ocupam de nós do que nós deles, pois sem jactância podemos atribuir a nós próprios o mérito de jamais termos aqui pronunciado o seu nome, já por uma questão de decoro, já porque temos de nos ocupar de coisas mais úteis. Não obrigamos ninguém a vir a nós. Acolhemos com prazer e dedicação as pessoas sinceras e de boa vontade, seriamente desejosas de esclarecimento, e estas são suficientes para não perdermos tempo correndo atrás dos que nos voltam as costas por motivos fúteis, de amor-próprio ou de inveja. Estes não podem ser considerados como verdadeiros espíritas, malgrado as aparências; são talvez espíritas crentes nos fatos, mas, sem a menor dúvida, não são espíritas crentes nas consequências morais dos fatos, pois, do contrário, mostrariam mais abnegação, indulgência, moderação e menos presunção de infalibilidade. Procurá-los seria mesmo prestar-lhes um desserviço, porque seria induzi-los a acreditarem na sua importância e que deles não poderíamos prescindir. Com os que nos denigrem, também não nos devemos preocupar. Homens que valiam cem vezes mais do que nós foram denegridos e ridicularizados. Neste particular não poderíamos ser privilegiados; cabe-nos provar por nossos atos que as suas diatribes caem no vazio e as armas de que se servem voltar-se-ão contra eles.

Depois de ter, no começo, agradecido aos Espíritos que nos assistem, não devemos esquecer os seus intérpretes, alguns dos quais nos dão o seu concurso com um zelo e uma complacência jamais desmentidos. Em troca, não lhes podemos oferecer mais que um estéril testemunho de nossa satisfação. Mas o mundo dos Espíritos os espera e lá todos os devotamentos são compensados na medida do desinteresse, da humildade e da abnegação.

Em resumo, senhores, durante o ano que passou nossos trabalhos marcharam com perfeita regularidade e nada os interrompeu. Uma porção de fatos do mais alto interesse foram relatados, explicados e comentados; questões muito importantes foram resolvidas; todos os exemplos que passaram sob nossos olhos pelas evocações, todas as investigações a que nos dedicamos vieram confirmar os princípios da Ciência e fortalecer as nossas crenças; numerosas comunicações de incontestável superioridade foram obtidas por diversos médiuns; a província e o estrangeiro nos remeteram algumas excessivamente admiráveis, e que provam não só quanto o Espiritismo se espalha, mas, também, sob que ponto de vista grave e sério é agora encarado por toda parte. Sem dúvida este é um resultado pelo qual nos devemos sentir felizes, mas há outro não menos satisfatório e que é, aliás, uma consequência do que, desde a origem, havia sido predito: é a unidade que se estabelece na teoria da doutrina, à medida que a estudamos e melhor a compreendemos. Em todas as comunicações que nos chegam de fora encontramos a confirmação dos princípios que nos são ensinados pelos Espíritos, e como as pessoas que as recebem nos são, na maioria, desconhecidas, não se pode dizer que sofrem a nossa influência.

O próprio princípio da reencarnação que de início tinha encontrado muitos contraditores, porque não era compreendido, é hoje aceito pela força da evidência e porque todo homem que pensa reconhece nele a única solução possível do maior número de problemas da filosofia moral e religiosa. Sem a reencarnação, somos detidos a cada passo. Tudo é caos e confusão. Com a reencarnação tudo se esclarece, tudo se explica da mais racional maneira. Se ela ainda encontra alguns adversários mais sistemáticos que lógicos, seu número é muito restrito. Ora, quem a inventou? Sem a menor dúvida não fostes vós, nem eu. Ela nos foi ensinada, e nós a aceitamos. Eis tudo o que fizemos. De todos os sistemas que surgiram no princípio, poucos hoje sobrevivem, e pode-se dizer que os seus raros partidários estão, sobretudo, entre pessoas que julgam ao primeiro impulso e muitas vezes conforme ideias preconcebidas e prevenções. Mas agora é evidente que quem quer que se dê ao trabalho de aprofundar todas as questões e julgue friamente, sem prevenção e sobretudo sem hostilidade sistemática, é invencivelmente arrastado, tanto pelo raciocínio quanto pelos fatos, à teoria fundamental que hoje prevalece, pode-se dizer, em todos os países do mundo.

Certamente, senhores, a Sociedade não fez tudo para a obtenção deste resultado. Mas, sem vaidade, creio que ela pode reivindicar uma pequena parte. Sua influência moral é maior do que se pensa, e isto precisamente porque jamais ela se desviou da linha de moderação que se traçou. Sabe-se que ela se ocupa exclusivamente de seus estudos, sem se deixar desviar pelas paixões mesquinhas que se agitam ao seu redor; que o faz seriamente, como deve fazer toda assembleia científica; que ela persegue o seu objetivo sem se misturar com nenhuma intriga, sem atirar pedras em ninguém, sem mesmo recolher as que lhe atiram. Sem a menor sombra de dúvida, esta é a principal causa do crédito e da consideração que desfruta e dos quais pode sentir-se orgulhosa, e que dá certo peso à sua opinião. Por nossos esforços, senhores, por nossa prudência e pelo exemplo da união que deve existir entre os verdadeiros espíritas, continuemos a mostrar que os princípios que professamos não são para nós letra morta e que tanto pregamos pelo exemplo quanto pela teoria. Se nossas doutrinas encontram tanto eco, é que aparentemente julgam-nas mais racionais que as outras. Duvido que acontecesse o mesmo se tivéssemos professado a doutrina da intervenção exclusiva do diabo e dos demônios nas manifestações espíritas, doutrina hoje completamente ridícula, que excita mais curiosidade do que pavor, a não ser sobre algumas pessoas timoratas que, em breve, elas mesmas reconhecerão a sua futilidade.

Tal qual é hoje professada, a Doutrina Espírita tem uma amplitude que lhe permite abarcar todas as questões de ordem moral. Ela satisfaz a todas as aspirações, e, pode-se dizer, ao mais exigente raciocínio, para quem quer que se dê ao trabalho de estudá-la e não esteja dominado pelos preconceitos. Ela não tem as mesquinhas restrições de certas filosofias; alarga ao infinito o círculo das ideias e ninguém é capaz de elevar mais alto o pensamento e tirar o homem da estreita esfera do egoísmo, na qual tentaram confiná-lo. Enfim, ela se apoia nos imutáveis princípios fundamentais da religião, dos quais é a demonstração patente. Eis, sem dúvida nenhuma, o que lhe conquista tão numerosos partidários entre as pessoas esclarecidas de todos os países, e o que a fará prevalecer, em tempo mais ou menos próximo, e isto malgrado os seus adversários, motivados, em sua maioria, mais pelo interesse do que pela convicção. Sua marcha progressiva tão rápida, desde que entrou na via filosófica séria, é-nos garantia segura do futuro que lhe é reservado e que, como sabeis, está anunciado em todo o mundo. Deixemos, pois, falarem e agirem os seus inimigos. Eles nada podem contra a vontade de Deus, porque nada acontece sem sua permissão e, como dizia há pouco um eclesiástico esclarecido: “Se essas coisas acontecem, é que Deus o permite, para avivar a fé que se extingue nas trevas do materialismo.”

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