Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861
Versão para cópiaCapítulo LXII
Outubro - Palestras familiares de além-túmulo - Eugêne Scribe (Sociedade Espirita de Paris)
Outubro
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Quando da discussão entre vários Espíritos sobre o aforismo de Buffon: “O estilo é o homem”, relatada no número precedente, foi citado o nome do Sr. Scribe, o que sem dúvida lhe deu motivo para vir, embora não tivesse sido chamado. Sem participar do debate, ditou espontaneamente a dissertação seguinte, motivando o diálogo que a acompanha:
“Seria desejável que o teatro, onde grandes e pequenos vão haurir ensinamentos, se preocupasse um pouco menos em lisonjear o gosto pelos costumes fáceis e a exaltação dos aspectos veniais de uma juventude ardente, mas que a melhora social fosse perseguida por peças elevadas e morais, onde a fina pilhéria substituísse o sal grosso de cozinha, de que se servem hoje os autores de revistas. Mas não. Conforme o teatro, e dependendo do público, lisonjeiam-se as paixões humanas. Aqui preconizam o macacão ao invés do fraque, transformado em bode expiatório de todas as iniquidades sociais; ali, é o macacão que é odiado e conspurcado, porque esconde sempre, ao que dizem, um malandro ou um assassino. Mentira de ambos os lados.
Alguns autores até começam a pegar o touro pelos chifres e, como Émile Augier, a pregar os manejadores do dinheiro no pelourinho da opinião pública. Ora! Que importa! Nem por isso o público deixa de se precipitar para os teatros, onde uma plástica atrevida e sem pudor paga os gastos do espetáculo. Ah! É tempo das ideias espíritas serem propagadas em todas as camadas sociais, porque então o teatro será moralizado por si mesmo, e às exibições femininas sucederão peças conscienciosas, representadas conscienciosamente por artistas de talento. Todos ganharão com isto. Esperemos que em breve surja um autor dramático capaz de expulsar do teatro e da predileção do público todos esses impostores, proxenetas imorais das damas das camélias de toda sorte. Trabalhai, pois, em espalhar o Espiritismo, que deve produzir tão louvável resultado.
E. SCRIBE.
“Seria desejável que o teatro, onde grandes e pequenos vão haurir ensinamentos, se preocupasse um pouco menos em lisonjear o gosto pelos costumes fáceis e a exaltação dos aspectos veniais de uma juventude ardente, mas que a melhora social fosse perseguida por peças elevadas e morais, onde a fina pilhéria substituísse o sal grosso de cozinha, de que se servem hoje os autores de revistas. Mas não. Conforme o teatro, e dependendo do público, lisonjeiam-se as paixões humanas. Aqui preconizam o macacão ao invés do fraque, transformado em bode expiatório de todas as iniquidades sociais; ali, é o macacão que é odiado e conspurcado, porque esconde sempre, ao que dizem, um malandro ou um assassino. Mentira de ambos os lados.
Alguns autores até começam a pegar o touro pelos chifres e, como Émile Augier, a pregar os manejadores do dinheiro no pelourinho da opinião pública. Ora! Que importa! Nem por isso o público deixa de se precipitar para os teatros, onde uma plástica atrevida e sem pudor paga os gastos do espetáculo. Ah! É tempo das ideias espíritas serem propagadas em todas as camadas sociais, porque então o teatro será moralizado por si mesmo, e às exibições femininas sucederão peças conscienciosas, representadas conscienciosamente por artistas de talento. Todos ganharão com isto. Esperemos que em breve surja um autor dramático capaz de expulsar do teatro e da predileção do público todos esses impostores, proxenetas imorais das damas das camélias de toda sorte. Trabalhai, pois, em espalhar o Espiritismo, que deve produzir tão louvável resultado.
E. SCRIBE.
1. ─
Numa comunicação ditada há pouco tempo à Srta. J..., e lida na Sociedade,
dizeis que o que fez a vossa reputação na Terra não a fez no Céu, e que
poderíeis ter empregado melhor os dons recebidos de Deus. Teríeis a bondade de
desenvolver este pensamento e dizer em que vossas obras são censuráveis?
Parece-nos que elas têm um lado moral, e que de certo modo abriram caminho ao
progresso.
─ Tudo é relativo. Hoje, no mundo elevado onde me
encontro, não vejo mais com os olhos terrenos, e penso que, com os dons que
havia recebido do Todo Poderoso, deveria ter feito mais pela Humanidade. Por
isto disse não haver trabalhado para o céu. Mas não posso exprimir em poucas
palavras o que vos queria dizer naquela ocasião, pois sabeis que eu era pouco
verboso.
2. ─
Dizeis também que gostaríeis de produzir uma obra mais útil e mais séria, mas
que essa alegria vos foi recusada. É como Espírito que queríeis fazer tal obra?
Nesse caso, como faríeis para que os homens dela tirassem proveito?
─ Meu Deus! Da maneira mais simples empregada pelos
Espíritos: inspirando os escritores, que muitas vezes imaginam tirar de seu
próprio íntimo, ah! por vezes tão vazio.
3. ─
Pode-se saber qual o assunto do qual vos proporíeis tratar?
─ Eu não tinha um objetivo determinado, mas bem
sabeis que a gente gosta um pouco de fazer o que nunca fez. Gostaria de
ocupar-me de Filosofia e de Espiritualismo, porque dediquei-me demais ao
realismo. Não interpreteis o vocábulo realismo como hoje o entendem. Eu apenas
quis dizer que me ocupei mais especialmente do que deleita a vista e o ouvido
dos espíritos frívolos da Terra, do que daquilo que poderia satisfazer os
espíritos sérios e filosóficos.
4. ─
Dissestes à Srta. J... que não éreis feliz. Podeis não ter a sorte dos
bem aventurados, mas há pouco, na comissão, contaram uma porção de boas ações
que praticastes e que certamente foram levadas em conta.
─ Não. Não sou feliz porque, ah! ainda tenho ambição,
e tendo sido acadêmico na Terra, queria ter feito parte, igualmente, da
assembleia dos eleitos.
5. ─
Parece que na falta da obra que ainda não podeis fazer, poderíeis alcançar o
mesmo objetivo, para vós e para os outros, aqui vindo fazer uma série de
dissertações.
─ Não peço mais do que isto, e virei com prazer, se
me permitirem, o que ignoro, pois ainda não tenho posição bem determinada no
mundo espiritual. Tudo é tão novo para mim, que passei a vida a casar tenentes
com herdeiras ricas, que ainda não tive tempo de conhecer e admirar este mundo
etéreo, o qual havia esquecido em minha encarnação. Voltarei, pois, se os
Grandes Espíritos mo permitirem.
6. ─
No mundo em que estais, já revistes a Sra. de Girardin, que em vida muito se
ocupava com Espíritos e evocações?
─ Ela teve a bondade de vir esperar-me no limiar da
verdadeira vida, com os Espíritos da plêiade à qual pertencemos.
7. ─
Ela é mais feliz do que vós?
─ Mais feliz do que eu é seu Espírito, porque ela
contribuiu para as obras de educação da infância, escritas por sua mãe, Sophie
Gay.
OBSERVAÇÃO DE ERASTO: Não. Ela é mais feliz porque
lutou, ao passo que Scribe se deixou arrastar na corrente de sua vida cômoda.
8. ─
Ides às vezes assistir às representações de vossas obras, bem como a Sra.
Girardin ou Casimir Delavigne?
─ Como quereis que deixemos de visitar esses filhos
queridos que deixamos na Terra? Ainda é um dos nossos puros prazeres.
OBSERVAÇÃO: A morte, pois, não separa os que se conheceram na Terra. Eles se reencontram, reúnem-se e se interessam pelo que era objeto de suas preocupações. Dirão sem dúvida que ao se lembrarem do que lhes dava alegria, se lembrarão também do que lhes causava sofrimento, e isso lhes deve alterar a felicidade. Essa lembrança produz um efeito absolutamente contrário, porque a satisfação de estar liberto dos males terrenos é um prazer tanto mais suave quanto maior for o contraste. Os benefícios da saúde são melhor apreciados após uma doença, a calma após a tempestade. O guerreiro voltando ao lar não se compraz em contar os perigos que enfrentou, as fadigas que experimentou? Assim, para os Espíritos, a lembrança das lutas terrenas é uma satisfação, desde que saíram vencedores. Mas tal lembrança se perde ao longe, ou, pelo menos, diminui de importância aos seus olhos, à medida que se libertam dos fluidos materiais dos mundos inferiores e se aproximam da perfeição. Para eles, tais lembranças são sonhos remotos, como para o homem feito, as recordações da primeira infância.