Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

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Capítulo XIII

Fevereiro - O vento - Fábula espírita

Fevereiro


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Quanto maior a repercussão da crítica, maior bem ela fará, chamando a atenção dos indiferentes. (ALLAN KARDEC)


O furacão queria, sozinho, dominar a planície,

No impulso impetuoso

Torturava com seu hálito quente

Um olmo secular, tronco enorme e nodoso.

De seus ramos fecundos ─ dizia ele ─ a semente

Podia juncar a terra, germinar e crescer;

Prevemos uma luta e olhemos o futuro

Repleto de obstáculos ao meu grande poder.

E os pequenos penachos verdes,

Desfolhando-se aos golpes da tormenta,

Perdem-se no ar, em turbilhões ligeiros.

Contudo as sementes escapam

Ao sopro que se esforça em varrer o seu voo.

A despeito de tudo, elas se fixam ao solo.

Contra as leis do amor e do saber austero

Que espalha o Espiritismo ─ a árvore da verdade,

O vento da incredulidade

Sopra, ulula e fere sem cessar.

Faz nascer e crescer o que pensa oprimir:

Quer liberar o germe... e o ajuda a semear.


C. DOMBRE (de Marmande)


Agosto DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Agosto

Como se pode achar em si a força para perdoar? A sublimidade do perdão é a morte do Cristo no Gólgota! Ora, já vos disse que o Cristo tinha resumido em sua vida todas as angústias e lutas humanas. Todos os que mereciam o nome de cristãos antes de Jesus-Cristo morreram com o perdão nos lábios: os defensores das liberdades oprimidas, os mártires das verdades e das grandes causas de tal modo compreenderam a elevação e a sublimidade de sua vida que não faliram no último instante e perdoaram. Se o perdão de Augusto não é inteiramente sublime do ponto de vista histórico, o Augusto de Corneille, o grande trágico, é senhor de si como do Universo, porque perdoa. Ah! como são mesquinhos e miseráveis os que possuíam o mundo e não perdoavam! Como é grande aquele que continha, no futuro dos séculos, todas as humanidades espirituais e perdoava! O perdão é uma inspiração e, muitas vezes, um conselho dos Espíritos. Infelizes os que fecham o coração a essa voz: serão punidos, como diz a Escritura, porquanto tinham ouvidos e não escutavam. Pois bem! se quereis perdoar, se vos sentis fracos perante vós mesmos, contemplai a morte do Cristo. Aquele que se conhece a si próprio triunfa facilmente de si mesmo. Eis por que o grande princípio da sabedoria antiga era, antes de tudo, conhecer-se a si próprio. Antes de se lançar na luta ensinava-se aos atletas, para os jogos e pelejas grandiosas, os meios seguros de vencer. Ao lado disso, nos liceus, Sócrates ensinava que havia um Ser Supremo e, algum tempo depois, séculos antes do Cristo, ensinava a toda a nação grega a morrer e perdoar. O homem vicioso, desprezível e fraco, não perdoa; o homem habituado às lutas pessoais, às reflexões justas e sãs, perdoa facilmente.


Lamennais.




Outubro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Outubro

O homem é limitado em sua inteligência e em suas sensações. Não podendo compreender além de certos limites, pronuncia, então, a palavra sacramental, que põe fim a tudo: Sobrenatural.

Na ciência nova que estudais, o vocábulo sobrenatural é palavra convencional: existe para nada exprimir. Efetivamente, o que significa? Fora da Natureza; além do que é conhecido. Nada mais insensato; nada mais absurdo do que aplicá-la a tudo que está fora de nós. Para o homem que raciocina a palavra sobrenatural não é definitiva; é vaga e faz pressentir. Conhece-se a frase banal do incrédulo por ignorância: “É sobrenatural. Ora, a razão, etc., etc.” O que é a razão? Ah! quando a Natureza, alargando-se e agindo como soberana, nos mostra tesouros desconhecidos, a razão, nesse sentido, se torna irracional e absurda, pois persiste, malgrado os fatos. Ora, se há um fato, é que a Natureza o permite. Certamente a Natureza tem, para nós, algumas manifestações sublimes, mas muito restritas, se entrarmos no domínio do desconhecido. Ah! quereis explorar a Natureza; quereis conhecer a causa das coisas, causa rerum, e julgais desnecessário pôr de lado vossa razão banal? Mas estais brincando, senhores. O que é a razão humana, senão a maneira de pensar do vosso mundo? Correis de planeta a planeta e pensais que a razão vos deve acompanhar? Não, senhores; a única razão que deveis ter em meio a todos esses fenômenos é o sangue-frio e a observação quanto a esse ponto de vista, e não do ponto de vista da incredulidade.

Ultimamente temos abordado questões muito graves, como vos lembrais. Mas, no bojo do que dizíamos, não concluímos que todo o mal vem dos homens. Depois de muitas lutas, de muitas discussões chegam também os bons pensamentos, uma nova fé e esperanças novas. Como vos disse há pouco, o Espiritismo é a luz que deve iluminar, doravante, toda inteligência dedicada ao progresso. A prece será o único dogma e a prática exclusiva do Espiritismo, isto é, a harmonia e a simplicidade. A arte será nova, porque secundada pelas ideias novas. Pensai que toda obra inspirada por uma ideia filosófico-religiosa é sempre manifestação poderosa e sã; o Cristo será sempre a Humanidade, mas não a Humanidade sofredora: será a Humanidade triunfante.


Lamennais.


Allan Kardec.





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