Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862
Versão para cópiaJaneiro - Publicidades das comunicações espíritas
Dando essas comunicações, os Espíritos visam à instrução geral, à propagação dos princípios da doutrina, e tal objetivo não seria atingido se, conforme dissemos, elas ficassem escondidas nas pastas dos que as recebem. É, pois, útil espalhá-las pela via da publicidade. Disso resultará outra importante vantagem: a de provar a concordância do ensino espontâneo dado pelos Espíritos sobre todos os pontos fundamentais e de neutralizar a influência dos sistemas errados, provando o seu isolamento.
Trata-se, pois, de examinar o modo de publicidade que pode melhor alcançar esse objetivo, e por isso há dois pontos a serem levados em cota: o meio que oferece mais chances de extensão da publicidade, e as condições mais adequadas a produzir no leitor uma impressão favorável, quer pela judiciosa escolha dos assuntos, quer pela disposição material. Por não levarem em consideração certos detalhes, talvez simplesmente formais, as melhores obras são, por vezes, natimortas. Esta constatação é resultado da experiência. Certos editores têm, a esse respeito, um tato que lhes revela o hábito do gosto do público, o que lhes permite avaliar de relance e imediatamente as chances de sucesso de uma publicação, sem levar em conta o mérito intrínseco.
O desenvolvimento que tomam as comunicações espíritas colocam-nos na impossibilidade material de inserir todas na Revista. Para abarcar o quadro inteiro, fora necessário dar-lhe uma extensão tal que deixaria o preço fora do alcance de muita gente. Há, pois, necessidade de encontrar um meio de fornecê-la nas melhores condições para todos. Examinemos, de saída, os pró e os contra dos vários sistemas que poderiam ser empregados.
1º ─ Publicações periódicas locais. Estas apresentam dois inconvenientes. O primeiro, o de serem quase sempre restritas à localidade; o segundo, é que uma publicação periódica, devendo ser alimentada e distribuída em datas fixas, necessita de um material burocrático e de gastos regulares, que devem ser cobertos de qualquer modo, sob pena de interrupção. Se os jornais locais que se dirigem ao grande público por vezes têm dificuldade de sobreviver, com mais forte razão uma publicação dirigida a um público restrito, pois seria ilusório contar com muitos assinantes de fora, principalmente se tais publicações se fossem multiplicando.
2º ─ Publicações locais não periódicas. Uma sociedade, um grupo, os grupos de uma mesma cidade poderiam, como fizeram em Metz, reunir suas comunicações em brochuras independentes umas das outras e publicá-las em datas indeterminadas. Esse modo é incomparavelmente preferível ao precedente, sob o ponto de vista financeiro, porque não se assume compromissos e a gente é livre de parar quando quiser. Mas há sempre o inconveniente da restrição da publicidade. Para espalhar tais brochuras fora do círculo local, haveria necessidade de gastos com anúncios, ante os quais muitas vezes a gente recua, ou seria necessária uma livraria central, com numerosos correspondentes que de tal se encarregassem, mas aqui surge outra dificuldade. Os livreiros em geral não têm boa vontade para com as obras que eles próprios não editam; além disso, não querem ocupar os seus correspondentes com publicações para eles sem importância e de consumo incerto, por vezes feitas em más condições de venda pelo formato e pelo preço e que, além de descontentar os correspondentes, obrigá-los-ia a despesas de devolução. São considerações que a maioria dos autores, que desconhecem o ofício de livreiro, não compreendem, sem falar dos que, achando suas obras excelentes, admiram-se que nenhum editor se esforce por agenciá-las. Os próprios autores que mandam imprimir suas obras a suas expensas deveriam lembrar-se que, sejam quais forem as vantagens que ofereçam aos livreiros, a obra terá que aguardar os clientes se, em termos do ofício, não estiver em condições negociáveis.
Pedimos desculpa aos nossos leitores por entrar em detalhes tão materiais a propósito dessas coisas espirituais, mas é precisamente no interesse da propagação das boas coisas que queremos nos premunir contra as ilusões da inexperiência.
3º ─ Publicações individuais dos médiuns. ─ Todas as reflexões acima se aplicam, naturalmente, às publicações isoladas que certos médiuns poderiam fazer das comunicações que recebem. Mas, além da maior parte deles não poderem fazêlo, elas têm outro inconveniente: é que, em geral, têm um cunho de uniformidade que as torna monótonas, e diminuiria tanto mais o seu consumo quanto mais se multiplicassem. Só seriam atraentes se, tratando de um determinado assunto, formassem um todo e apresentassem um conjunto, quer fossem obra de um só Espírito quer de vários.
Essas considerações não são absolutas e certamente haverá exceções. Há, porém, que convir que repousam sobre um fundo de verdade. Aliás, aquilo que dizemos não visa impor nossas ideias, que cada um considerará ou não. Apenas, como a gente publica na esperança de um resultado, sentimo-nos na obrigação de expor as causas de decepções.
Os inconvenientes que acabamos de assinalar se nos afiguram completamente contornados pela publicação central e coletiva que os Srs. Didier & Cia. vão empreender sob o título de Bibliothèque du monde invisible[1]. Compreenderá uma série de volumes de grande formato in-18, sete folhas de impressão ou cerca de 250 páginas, ao preço uniforme de dois francos. Cada volume terá seu número de ordem, mas será vendido separadamente, de sorte que os interessados terão liberdade de adquirir os que lhes convierem, sem a obrigação de pagar pelos que lhes não interessam. Essa coleção, que não tem limites fixos, oferecerá meios de publicar, nas melhores condições possíveis, os trabalhos mediúnicos obtidos nos diversos centros, com a vantagem de uma publicidade muito ampla, por meio dos correspondentes. O que essa casa não faria por meio de brochuras isoladas, ela fará por meio de uma coleção que pode adquirir grande importância.
O nome de Biblioteca do mundo invisível é o título geral da coleção. Cada volume, porém, terá um título especial para designar o assunto e a procedência e beneficiará o autor, sem que este tenha que se imiscuir no produto das obras que lhe são estranhas. É uma publicação coletiva, mas sem solidariedade entre os produtores, e na qual cada um entra por sua conta e se sujeita às chances do mérito de sua obra, mas se aproveitando da publicidade comum.
Nessa coleção os editores não se propõem publicar tudo quanto lhes seja enviado. Ao contrário, reservam-se expressamente o direito de uma escolha rigorosa. Os volumes publicados à custa dos respectivos autores poderão entrar na coleção, se forem aceitos e estiverem nas condições de formato e preço.
Pessoalmente não temos vínculo com conjunto dessa publicação e com sua administração, que nada tem de comum com a Revista Espírita, nem com as nossas obras especiais sobre a matéria. Damos-lhe a nossa aprovação e o nosso apoio moral porque a julgamos útil e por ser a melhor via aberta aos médiuns, grupos e sociedades para suas publicações. Nela colaboraremos como os outros, por nossa conta, só assumindo responsabilidade pelo que levar o nosso nome.
Além das obras especiais que pudermos fornecer a essa coleção, dar-lhe-emos, sob o título especial de Portefeuille spirite[2], alguns volumes compostos de comunicações escolhidas, quer entre as que são obtidas em nossas reuniões de Paris, quer entre as que nos são remetidas por médiuns e grupos franceses e estrangeiros que se correspondem conosco e não querem fazer publicações pessoais. Oriundas de fontes diferentes, essas comunicações terão o atrativo da variedade. A elas juntaremos, conforme as circunstâncias, as observações necessárias à sua compreensão e desenvolvimento. A ordem, a classificação e todas as disposições materiais serão objeto de atenção especial.
Não visando lucro pessoal de tais publicações, nossa intenção é aplicar os direitos que nos couberem pelos cuidados a elas dados, em favor da distribuição gratuita de nossas obras sobre o Espiritismo às pessoas que não as puderem adquirir, ou qualquer outro emprego julgado útil à propagação da doutrina, conforme as condições que forem fixadas ulteriormente.
Tal plano parece corresponder a todas as necessidades e não duvidamos que seja acolhido com entusiasmo por todos os sinceros amigos da doutrina.
[1] Biblioteca do mundo invisível.
[2] Pasta espírita.
Março ENSINOS E DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS
1. — “Acha-se em perigo de morte um homem; para o salvar tem um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Deve, não obstante, o segundo arriscar-se para o salvar?”
A resposta que se segue foi obtida na Sociedade Espírita de Paris, † no dia 7 de fevereiro de 1862, pelo médium Sr. A. Didier:
Questão muito grave é esta e que naturalmente se pode apresentar ao espírito. Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral, pois o de que se trata é de saber se se deve expor a vida, mesmo por um malfeitor. O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que será somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? É, talvez, a toda a sua vida passada. Imaginai, com efeito, que, nos rápidos instantes que lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido volve ao seu passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiçá, lhe chega cedo demais; a reencarnação poderá vir e ser-lhe terrível. Lançai-vos, então, ó homens; lançai-vos todos vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai-vos, arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que teria morrido a blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes que indagar se o fará, ou não; socorrei-o, porquanto, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração, que vos diz: “Podes salvá-lo, salva-o!”
Lamennais.
Observação. – Por uma singular coincidência recebemos, alguns dias mais tarde, a seguinte comunicação, obtida no grupo espírita do Havre, † tratando mais ou menos do mesmo assunto.
Escrevem-nos que, em consequência de uma conversa a propósito do assassino Dumollard, o Espírito da Sra. Elisabeth de França, que já havia dado várias comunicações, apresentou-se espontaneamente e ditou o que se segue:
2. [A VERDADEIRA CARIDADE.]
A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, e muito menos lhes será pedido do que a vós.
Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas ações, que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?
A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.
Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos. Em breve, quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.
Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe infligem.” Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele, se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser tocado de arrependimento, se orardes com fé. É tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, à imagem do Deus perfeito. Assim, orai por ele; não o julgueis: não tendes esse direito. Só Deus o julgará.
Elisabeth de França.
Allan Kardec.
Maio Conversas familiares de além-túmulo
1. — O Sr. Nivrac tinha uma inteligência notável e era nutrido por sérios estudos. Em vão o Sr. Blou lhe havia falado do Espiritismo e ofertado todas as obras que tratavam da matéria. Encarava todas essas coisas como utopias e os que lhes davam fé como sonhadores. A 1º de fevereiro ele passeava com um de seus camaradas, zombando desse assunto, como era de seu costume, quando, passando diante da livraria, viram a brochura O Espiritismo na sua expressão mais simples. Uma boa inspiração, diz o Sr. Blou, que a comprou, o que provavelmente não teria feito se eu estivesse presente. Desde esse dia o capitão Nivrac leu O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e alguns números da Revista Espírita. Seu espírito e seu coração ficaram impressionados. Longe de ridicularizar, vinha fazer-me perguntas, tornando-se zeloso propagandista do Espiritismo entre os oficiais, a tal ponto que, durante oito dias, a doutrina nova foi o assunto de todas as conversas. Desejava muito assistir a uma sessão, quando a morte o veio surpreender sem nenhuma causa aparente de doença. Terça-feira, 11 de fevereiro, estando no banho, expirava às quatro horas nos braços do médico.
“Não estará aí o dedo de Deus, permitindo que o meu amigo abrisse os olhos à luz antes de morrer?” — pergunta o capitão Blou.
1. Evocação.
Resposta. – Compreendo por que desejais falar-me. Sinto-me feliz com esta evocação e é com alegria que venho a vós, pois é um amigo que me pede e nada me podia ser mais agradável.
Observação. – O Espírito antecipa-se à pergunta que ia ser feita, que era a seguinte: “Embora não tenhamos o privilégio de vos haver conhecido, pedimos que viésseis em nome do vosso amigo, capitão Blou, nosso colega, e ficaremos muito contentes por conversar convosco, se assim quiserdes.”
2. Sois feliz… (O Espírito não deixa concluir a pergunta, que assim termina: …por ter conhecido o Espiritismo antes de morrer?)
Resposta. – Sou feliz porque acreditei antes de morrer. Lembro-me das discussões que tive contigo, meu amigo, porque repelia todas as doutrinas novas. Para dizer a verdade, eu estava abalado: dizia à minha esposa, à minha família que era loucura dar ouvidos a semelhantes frivolidades e que te julgava maluco; eu o pensava, mas, felizmente, pude crer e esperar. Minha posição é mais feliz, porque Deus me promete um avanço muito desejado.
3. Como pôde uma pequena brochura de algumas páginas exercer mais influência sobre vós que as palavras de um amigo, em quem devíeis confiar?
Resposta. – Eu estava abalado, porque a ideia de uma vida melhor está no fundo de todas as encarnações. Acreditava instintivamente, mas as ideias do soldado haviam modificado meus pensamentos; eis tudo. Quando li a brochura fiquei emocionado; achei aquilo o enunciado de uma doutrina tão clara, tão precisa, que Deus me apareceu na sua bondade. O futuro pareceu-me menos sombrio. Acreditei, porque devia crer, e a brochura satisfazia ao meu coração.
4. De que morrestes?
Resposta. – Morri de uma comoção cerebral. Deram várias razões; era uma efusão do cérebro. O tempo estava marcado e eu devia partir.
5. Poderíeis descrever as sensações que experimentastes no momento da morte e depois do vosso despertar?
Resposta. – A passagem da vida à morte é uma sensação dolorosa, mas rápida. Pressentimos tudo quanto pode acontecer; a vida se apresenta por inteiro, espontaneamente, como uma miragem, e temos vontade de retomar todo o passado, a fim de purificar os maus dias; e este pensamento nos acompanha na transição espontânea da vida à morte, que não passa de uma outra vida. Ficamos como que aturdidos pela luz nova e me vi numa confusão de ideias bastante singular. Eu não era um Espírito perfeito; entretanto, pude dar-me conta e dou graças a Deus por me haver esclarecido antes de morrer.
Observação. – Esse quadro da passagem da vida à morte tem uma analogia impressionante com o dado pelo Sr. Sanson. [v. Exéquias do Sr. Sanson.] Frisamos que não se tratava do mesmo médium.
6. Vossa situação atual seria diferente, caso não tivésseis conhecido e aceitado as ideias espíritas?
Resposta. – Sem dúvida. Mas eu era de uma natureza franca e boa e, conquanto não seja muito adiantado, não é menos certo que Deus recompensa toda decisão boa, até mesmo a última.
7. É inútil perguntar se… O Espírito não deixa concluir a pergunta, que é assim concebida: “Ides ver vossa esposa e filha, mas não vos podeis fazer ouvir. Quereis que lhes transmitamos alguma coisa de vossa parte?”
Resposta. – Sem dúvida; estou sempre perto dela. Encorajo-a a ter paciência e lhe digo: Coragem, amiga; enxugai as lágrimas e sorri a Deus, que vos fortalecerá. Pensai que minha existência é um avanço, uma purificação, e que necessito do auxílio de vossas preces. Desejo, com todas as minhas forças, uma nova encarnação e, embora a separação terrestre seja cruel, lembrai que vos amo, que estais só e tendes necessidade de boa saúde e de resignação para vos manter. Mas estarei ao vosso lado para vos encorajar, abençoar e amar.
8. Temos certeza de que vossos camaradas do regimento ficariam muito felizes se recebessem algumas palavras vossas. A esta pergunta junto outra que, talvez, encontrará lugar em vossa alocução. Até agora o Espiritismo quase não se propagou no Exército, salvo entre os oficiais. Pensais que também seria útil a sua divulgação entre os soldados? qual seria o resultado?
Resposta. – É preciso que a cabeça se torne séria, para que o corpo a siga, e compreendo que os oficiais tenham primeiro aceitado essas soluções filosóficas e sensatas, dadas por O Livro dos Espíritos. Por essas leituras, o oficial compreende melhor o seu dever; torna-se mais sério, menos sujeito a zombar da tranquilidade das famílias; habitua-se à ordem no seu interior e o hábito de comer e beber deixam de constituir os principais móveis de sua vida. Por eles os suboficiais aprenderão e propagarão; saberão poder, se o quiserem. Digo-lhes: avante! sempre avante! É um novo campo de batalha da Humanidade; apenas sem feridas, sem metralha, mas em toda a parte a harmonia, o amor e o dever. E o soldado será um homem liberal no bom sentido; terá coragem e boa vontade, que fazem do operário um bom cidadão, um homem segundo Deus.
Segui, pois, o novo rumo. Sede apóstolos conforme Deus e dirigi-vos ao infatigável propagador da doutrina, autor do opúsculo que me esclareceu.
2. Observação – A respeito da influência do Espiritismo sobre o soldado, numa outra ocasião foi ditada a seguinte comunicação:
O soldado que se torna espírita é mais fácil de governar, mais submisso, mais disciplinado, porque a submissão lhe será um dever sancionado pela razão, ao passo que, na maioria das vezes, é apenas o resultado do constrangimento. Eles não mais se embrutecerão nos excessos que, mui frequentemente, engendram as sedições e os levam a desconhecer a autoridade. Dá-se o mesmo com todos os subordinados, seja qual for a classe a que pertencerem: operários, empregados e outros. Eles se desobrigarão mais conscienciosamente de suas tarefas quando se derem conta da causa que os colocou em tal posição na Terra, e da recompensa que espera os humildes na outra vida. Infelizmente muito poucos creem na outra vida, o que os leva a dar tudo à vida presente. Se a incredulidade é uma chaga social, o é principalmente nas classes inferiores da sociedade, onde não há o contrapeso da educação e o receio da opinião. Quando os que forem chamados para exercer uma autoridade, seja a que título for, compreenderem o que ganhariam por terem subordinados imbuídos das ideias espíritas, envidarão todos os esforços para os auxiliar neste caminho. Mas paciência! Isto virá. [v. Um oficial superior morto em Magenta.]
Lespinasse.