Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862
Versão para cópiaCapítulo LXI
Agosto - Castigo de um avarento
Agosto
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François Riquier, homem muito simples, era um velho solteirão avarento, falecido em C... há quatro ou cinco anos, deixando aos colaterais uma fortuna considerável. Tinha sido senhorio de uma de nossas amigas, a Sra. F... Essa senhora o havia esquecido completamente. Ultimamente, sua filha, que é sujeita a crises de catalepsia seguidas de sono magnético espontâneo, nesse sono viu o Sr. Riquier, o qual, diz ela, queria aproximar-se de sua mãe.
Dias depois, a moça, aliás boa médium escrevente, tomou do lápis e escreveu a comunicação seguinte, na qual Riquier pôs seu nome e endereço exato. Não sabendo tal endereço, a Sra. F... foi verificá-lo e ficou muito surpreendida, pois a indicação estava correta.
Eis a comunicação, que é um novo exemplo das penas reservadas aos Espíritos culpados. Como ele se manifestou espontaneamente e expressou o desejo de falar à Sra. F..., foi-lhe feita esta pergunta:
─ Que quereis de nós?
─ O meu dinheiro, que aqueles miseráveis tomaram todo, para repartirem entre si. Dilapidaram meu patrimônio, como se não fosse meu. Venderam minhas fazendas, minhas casas, para dividir tudo. Fazei-me justiça, porque eles não me escutam e não quero assistir a tais infâmias. Dizem que eu era usurário e guardam o meu dinheiro! Por que não mo querem entregar, se acham que foi mal adquirido?
─ Mas vós estais morto, pobre homem. Já não precisais de dinheiro. Pedi a Deus uma nova existência pobre, a fim de expiardes a avareza desta.
─ Não. Eu não poderia viver na pobreza. Necessito do meu dinheiro para viver.
Aliás não preciso de outra vida, pois estou vivo agora.
A pergunta que se segue foi feita com o fito de trazê-lo à realidade. ─ Sofreis?
─ Oh! Sim. Sofro piores torturas que a moléstia mais cruel, porque é minh’alma que suporta essas torturas. Tenho sempre presente em meu pensamento a iniquidade de minha vida, que para muitos foi motivo de escândalo. Bem sei que sou um miserável, indigno de piedade, mas sofro tanto que necessito me ajudem a sair deste estado miserável.
─ Oraremos por vós.
─ Obrigado. Rogai para que eu esqueça minhas riquezas terrenas, sem o que jamais poderia arrepender-me. Adeus e obrigado.
FRANÇOIS RIQUIER
Dias depois, a moça, aliás boa médium escrevente, tomou do lápis e escreveu a comunicação seguinte, na qual Riquier pôs seu nome e endereço exato. Não sabendo tal endereço, a Sra. F... foi verificá-lo e ficou muito surpreendida, pois a indicação estava correta.
Eis a comunicação, que é um novo exemplo das penas reservadas aos Espíritos culpados. Como ele se manifestou espontaneamente e expressou o desejo de falar à Sra. F..., foi-lhe feita esta pergunta:
─ Que quereis de nós?
─ O meu dinheiro, que aqueles miseráveis tomaram todo, para repartirem entre si. Dilapidaram meu patrimônio, como se não fosse meu. Venderam minhas fazendas, minhas casas, para dividir tudo. Fazei-me justiça, porque eles não me escutam e não quero assistir a tais infâmias. Dizem que eu era usurário e guardam o meu dinheiro! Por que não mo querem entregar, se acham que foi mal adquirido?
─ Mas vós estais morto, pobre homem. Já não precisais de dinheiro. Pedi a Deus uma nova existência pobre, a fim de expiardes a avareza desta.
─ Não. Eu não poderia viver na pobreza. Necessito do meu dinheiro para viver.
Aliás não preciso de outra vida, pois estou vivo agora.
A pergunta que se segue foi feita com o fito de trazê-lo à realidade. ─ Sofreis?
─ Oh! Sim. Sofro piores torturas que a moléstia mais cruel, porque é minh’alma que suporta essas torturas. Tenho sempre presente em meu pensamento a iniquidade de minha vida, que para muitos foi motivo de escândalo. Bem sei que sou um miserável, indigno de piedade, mas sofro tanto que necessito me ajudem a sair deste estado miserável.
─ Oraremos por vós.
─ Obrigado. Rogai para que eu esqueça minhas riquezas terrenas, sem o que jamais poderia arrepender-me. Adeus e obrigado.
FRANÇOIS RIQUIER
Rue de la Charité, nº 14.
OBSERVAÇÃO: Esse exemplo e muitos outros análogos provam que o Espírito pode conservar, durante muitos anos, a idéia de ainda pertencer ao mundo corpóreo. Tal ilusão não é exclusiva dos casos de morte violenta: parece ser conseqüência da materialidade da vida terrena; e a persistência do sentimento de tal materialidade, que não pode ser vencida, é um suplício para o Espírito. Além disso, aí encontramos a prova que o Espírito é um ser semelhante ao ser corpóreo, embora fluídico, porque, para que ainda se julgue neste mundo, que continue onde pensa continuar, poder-se-ia dizer, entregue aos seus negócios, é preciso que se veja em forma e num corpo como em vida, Se dele só restasse um sopro, um vapor, uma centelha, não se enganaria quanto à situação. E assim que o estudo dos Espíritos, mesmo vulgares, nos esclarece quanto ao estado real do mundo invisível e confirma as mais importantes verdades.
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