Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863
Versão para cópiaJaneiro - Identidade de um Espírito encarnado
22. ─ Estás aqui? ─ Sim. Vou dizer o que te preocupa: É Adélia. Então! Sim, ela dormiu realmente comigo, eu te juro.
OBSERVAÇÕES: Esta prece, improvisada pelo Espírito, é de uma tocante simplicidade. O Sr. Delanne não conhecia o fato relativo a Adélia senão pelo que havia dito o Espírito de sua esposa, e era tal fato que lhe suscitava dúvidas. Tendo-lhe escrito a respeito, recebeu a seguinte resposta:
Junho DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS
Ao criar as almas Deus não estabeleceu diferença entre elas. Que esta igualdade de direitos entre elas sirva de princípio à amizade, que outra coisa não é senão a unidade nas tendências e nos sentimentos. A verdadeira amizade só existe entre os homens virtuosos, que se reúnem sob a proteção do Todo-Poderoso, para se encorajarem reciprocamente no cumprimento de seus deveres. Todo coração verdadeiramente cristão possui o sentimento da amizade. Ao contrário, esta virtude encontra no egoísmo das almas viciosas o escolho que, semelhante à semente caída sobre a rocha árida, a torna infecunda para o bem.
Cercai vossa alma com o muro protetor de uma prece cheia de fé, a fim de que o inimigo, seja interno ou externo, aí não possa penetrar.
A prece eleva o Espírito do homem para Deus, liberando-o de todas as inquietudes terrenas, transportando-o para um estado de tranquilidade, de paz, que o mundo não lhe poderia oferecer. Quanto mais confiante e fervorosa for a prece, melhor será ouvida e mais agradável a Deus. Quando a alma do homem, inteiramente penetrada de zelo santo, eleva-se para o céu na prece íntima e ardente, os inimigos interiores, isto é, as paixões do homem, e os inimigos exteriores, isto é, os vícios do mundo, são impotentes para forçar os muros que a protegem. Homens, orai a Deus com toda confiança, do fundo do coração, com fé e verdade!
[Anônimo.]
Abril DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS
É a primeira vez que venho entreter-me convosco, meus caros filhos. Gostaria de escolher outro médium, mais simpático aos sentimentos que foram o móvel de toda a minha vida terrena, e mais apto a me prestar um concurso religioso. Porém, como há muito tempo Santo Agostinho tomou conta do médium cujas matérias cerebrais teriam sido mais úteis para mim, e para o qual me sentia inclinado, dirijo-me a vós por este, de quem se servia meu excelente condiscípulo Jobard [Jean-Baptiste-Ambroise-Marcellin Jobard], para me apresentar à vossa sociedade filosófica. Terei, pois, muita dificuldade em expressar, hoje, o que vos quero dizer; primeiro, em razão da dificuldade que sinto em manipular a matéria mediana, pois ainda não tenho o hábito desta propriedade de meu ser desencarnado; depois, porque devo fazer que minhas ideias jorrem de um cérebro que não as admite todas. Dito isto, vou abordar o assunto.
Um espirituoso corcunda da Antiguidade dizia que os homens de seu tempo carregavam um duplo alforje, em cujo compartimento traseiro estavam os próprios defeitos e imperfeições, enquanto o dianteiro recebia todos os defeitos alheios. É o que lembraria mais tarde o Evangelho, na alegoria da palha e da trave no olho. Oh! Deus! Oh! meus filhos! como seria bom se os sacos do alforje mudassem de lugar! Cabe aos espíritas sinceros operar esta modificação, levando à frente o saco que contém suas próprias imperfeições, a fim de que, olhando-as continuamente, consigam corrigir-se; e pôr de lado o que contém os defeitos alheios, de modo a não lhes ligar nem ciúme nem malícia . Ah! como será digno da doutrina que confessais e que deve regenerar a Humanidade ver seus adeptos sinceros e convictos agirem com essa caridade que proclamam e lhes ordena não mais verem a palha que incomoda o olho de seu irmão, mas, ao contrário, ocupar-se com ardor em se desembaraçar da trave que os cega. Ah! meus filhos, essa trave é formada pela reunião de vossas tendências egoístas, das vossas más inclinações e de vossas faltas acumuladas pelas quais tendes, até o presente, como todos os homens, professado uma tolerância paternal muito maior, enquanto que, na maior parte do tempo, só tivestes intolerância e severidade para com as fraquezas do próximo. Eu gostaria de vê-los de tal modo libertos dessa enfermidade moral do resto dos homens, ó meus caros espíritas, que vos exorto com todas as minhas forças a entrardes no caminho que vos indico. Bem sei que muitas de vossas tendências pecaminosas já se modificaram no sentido da verdade; mas ainda vejo tanta tibieza e tanta indecisão em vós para o bem absoluto, que a distância que vos separa do rebanho dos pecadores endurecidos e dos materialistas não é tão grande que a torrente não possa vos arrastar ainda. Ah! resta-vos uma rude etapa a percorrer para atingirdes a altura da santa e consoladora doutrina que os Espíritos meus irmãos já vos revelam há vários anos.
Na vida militante — graças sejam dadas ao Senhor — da qual acabo de sair, vi tantas mentiras se afirmarem como verdades, tantos vícios alardeados como virtudes, que sou feliz por haver deixado um meio, onde quase sempre a hipocrisia encobria com seu manto as tristezas e as misérias morais que me cercavam. E não posso senão vos felicitar por ver que vossas fileiras não se abrem facilmente para os sectários dessa hipocrisia mentirosa.
Meus amigos, jamais vos deixeis apanhar por palavras douradas. Vede e sondai os atos antes de abrir vossas fileiras aos que solicitam esta distinção, pois muitos falsos irmãos procurarão misturar-se convosco, a fim de levar a perturbação e, sorrateiramente, semear a divisão. Ordena minha consciência que vos esclareça, e o faço com toda a sinceridade de meu coração, sem me preocupar com ninguém. Estais advertidos; doravante agi como convém. Mas para terminar como comecei, peço-vos uma graça, meus caros filhos: que vos ocupeis seriamente convosco, expulsando do coração todos os germes impuros que a ele ainda possam estar presos; que vos reformeis pouco a pouco, mas sem descanso, segundo a sã moral espírita; enfim, que sejais tão severos para convosco quanto deveis ser indulgentes para com as fraquezas dos vossos irmãos.
Se esta primeira homilia deixa algo a desejar quanto à forma, não a imputeis senão à minha inexperiência da mediunidade. Farei melhor a próxima vez que me for permitido comunicar-me em vosso meio, onde agradeço ao meu amigo Jobard por me haver patrocinado. [v. Cartão de visita do Sr. Jobard.] Adeus, meus filhos, eu vos abençoo.
François-Nicolas Madeleine.
Setembro DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS
Eis-me ainda no teatro do mundo, eu que me julgava para sempre amortalhada no meu véu de inocência e de juventude. O fogo da Terra salvou-me do fogo do inferno: assim pensava em minha fé católica e, se não ousava entrever os esplendores do paraíso, minha alma vacilante se refugiava na expiação do purgatório e eu orava, sofria, chorava. Mas quem dava à minha fraqueza a força de suportar as angústias? quem, nas longas noites de insônia e de febre dolorosa, se debruçava sobre o meu leito de martírio? quem me refrescava os lábios áridos? Éreis vós, meu anjo guardião, cuja branca auréola me cercava; éreis também vós, caros Espíritos amigos, que vínheis murmurar em meu ouvido palavras de esperança e de amor.
A chama que consumiu meu débil corpo despojou-me do apego ao que passa; assim, morri já viva da verdadeira vida. Não conheci a perturbação e entrei serena e recolhida no dia radioso que envolve os que, depois de muito sofrimento, esperaram um pouco. Minha mãe, minha cara mãe, foi a última vibração terrestre que ressoou em minha alma. Como gostaria que ela se tornasse espírita!
Desliguei-me da árvore terrena como um fruto que amadurecesse antes do tempo. Mal tinha aflorado para o demônio do orgulho, que fere as almas das infelizes arrastadas pelo sucesso brilhante e pela embriaguez da juventude. Bendigo a chama; bendigo os sofrimentos; bendigo a prova, que era uma expiação. Semelhante a esses leves fios brancos do outono, flutuo arrastada na corrente luminosa; já não são as estrelas de diamante que brilham em minha fronte, mas as estrela de ouro do bom Deus.
***
Nota. – Nossa intenção tinha sido evocar nessa sessão este Espírito, ao qual, sabíamos, muitos dentre nós eram simpáticos. Razões particulares nos haviam levado a adiar essa evocação, da qual não havíamos conversado com ninguém. Mas o Espírito, certamente atraído pelo nosso e pelo pensamento de vários membros, veio espontaneamente, sem ser chamado, ditar a encantadora comunicação acima.
Abril DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS
É a primeira vez que venho entreter-me convosco, meus caros filhos. Gostaria de escolher outro médium, mais simpático aos sentimentos que foram o móvel de toda a minha vida terrena, e mais apto a me prestar um concurso religioso. Porém, como há muito tempo Santo Agostinho tomou conta do médium cujas matérias cerebrais teriam sido mais úteis para mim, e para o qual me sentia inclinado, dirijo-me a vós por este, de quem se servia meu excelente condiscípulo Jobard [Jean-Baptiste-Ambroise-Marcellin Jobard], para me apresentar à vossa sociedade filosófica. Terei, pois, muita dificuldade em expressar, hoje, o que vos quero dizer; primeiro, em razão da dificuldade que sinto em manipular a matéria mediana, pois ainda não tenho o hábito desta propriedade de meu ser desencarnado; depois, porque devo fazer que minhas ideias jorrem de um cérebro que não as admite todas. Dito isto, vou abordar o assunto.
Um espirituoso corcunda da Antiguidade dizia que os homens de seu tempo carregavam um duplo alforje, em cujo compartimento traseiro estavam os próprios defeitos e imperfeições, enquanto o dianteiro recebia todos os defeitos alheios. É o que lembraria mais tarde o Evangelho, na alegoria da palha e da trave no olho. Oh! Deus! Oh! meus filhos! como seria bom se os sacos do alforje mudassem de lugar! Cabe aos espíritas sinceros operar esta modificação, levando à frente o saco que contém suas próprias imperfeições, a fim de que, olhando-as continuamente, consigam corrigir-se; e pôr de lado o que contém os defeitos alheios, de modo a não lhes ligar nem ciúme nem malícia . Ah! como será digno da doutrina que confessais e que deve regenerar a Humanidade ver seus adeptos sinceros e convictos agirem com essa caridade que proclamam e lhes ordena não mais verem a palha que incomoda o olho de seu irmão, mas, ao contrário, ocupar-se com ardor em se desembaraçar da trave que os cega. Ah! meus filhos, essa trave é formada pela reunião de vossas tendências egoístas, das vossas más inclinações e de vossas faltas acumuladas pelas quais tendes, até o presente, como todos os homens, professado uma tolerância paternal muito maior, enquanto que, na maior parte do tempo, só tivestes intolerância e severidade para com as fraquezas do próximo. Eu gostaria de vê-los de tal modo libertos dessa enfermidade moral do resto dos homens, ó meus caros espíritas, que vos exorto com todas as minhas forças a entrardes no caminho que vos indico. Bem sei que muitas de vossas tendências pecaminosas já se modificaram no sentido da verdade; mas ainda vejo tanta tibieza e tanta indecisão em vós para o bem absoluto, que a distância que vos separa do rebanho dos pecadores endurecidos e dos materialistas não é tão grande que a torrente não possa vos arrastar ainda. Ah! resta-vos uma rude etapa a percorrer para atingirdes a altura da santa e consoladora doutrina que os Espíritos meus irmãos já vos revelam há vários anos.
Na vida militante — graças sejam dadas ao Senhor — da qual acabo de sair, vi tantas mentiras se afirmarem como verdades, tantos vícios alardeados como virtudes, que sou feliz por haver deixado um meio, onde quase sempre a hipocrisia encobria com seu manto as tristezas e as misérias morais que me cercavam. E não posso senão vos felicitar por ver que vossas fileiras não se abrem facilmente para os sectários dessa hipocrisia mentirosa.
Meus amigos, jamais vos deixeis apanhar por palavras douradas. Vede e sondai os atos antes de abrir vossas fileiras aos que solicitam esta distinção, pois muitos falsos irmãos procurarão misturar-se convosco, a fim de levar a perturbação e, sorrateiramente, semear a divisão. Ordena minha consciência que vos esclareça, e o faço com toda a sinceridade de meu coração, sem me preocupar com ninguém. Estais advertidos; doravante agi como convém. Mas para terminar como comecei, peço-vos uma graça, meus caros filhos: que vos ocupeis seriamente convosco, expulsando do coração todos os germes impuros que a ele ainda possam estar presos; que vos reformeis pouco a pouco, mas sem descanso, segundo a sã moral espírita; enfim, que sejais tão severos para convosco quanto deveis ser indulgentes para com as fraquezas dos vossos irmãos.
Se esta primeira homilia deixa algo a desejar quanto à forma, não a imputeis senão à minha inexperiência da mediunidade. Farei melhor a próxima vez que me for permitido comunicar-me em vosso meio, onde agradeço ao meu amigo Jobard por me haver patrocinado. [v. Cartão de visita do Sr. Jobard.] Adeus, meus filhos, eu vos abençoo.
François-Nicolas Madeleine.