Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1866
Versão para cópiaCapítulo XXXIV
Maio - Uma ressurreição
Maio
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Uma ressurreição
O Concorde, jornal de Versalhes, de 22 de fevereiro de 1866, relata o episódio seguinte, de uma história publicada em folhetim, sob o título de Na Córsega, esboço a pena.
Uma jovem tinha uma velha tia que lhe servia de mãe e à qual devotava uma ternura filial. A tia adoeceu e morreu. Afastaram a jovem, mas ela plantou-se à porta da câmara mortuária, chorando e orando. De repente julgou ouvir um grito fraco e como um gemido surdo. Abriu a porta precipitadamente e viu a tia, que havia afastado o pano com que a tinham coberto, e que lhe fazia sinal para que se aproximasse. Então lhe disse com voz sumida e fazendo um esforço supremo: “Savéria, há pouco eu estava morta... sim, morta... Eu vi o Senhor... Ele me permitiu voltar um instante a esta Terra para te dar um último adeus e te fazer uma última recomendação.”
Então lhe renovou um conselho muito importante, que lhe havia dado alguns dias antes, do qual dependia o seu futuro. Tratava-se de guardar um segredo absoluto sobre um fato, cuja divulgação deveria arrastar uma dessas terríveis vinganças tão comuns neste país. Tendo a sobrinha prometido conformar-se com sua vontade, ela acrescentou: “Agora posso morrer, porque Deus te protegerá como me protege nesta hora porque, indo-me embora, não levarei o desgosto de deixar atrás de mim uma vingança a satisfazer-se numa trilha de sangue e de maldição... Adeus, minha pobre filha, eu te abençoo.” Depois destas palavras, ela expirou.
Um dos nossos correspondentes, que conhece pessoalmente o autor, lhe perguntou se seu relato era fruto de sua imaginação. “Não, respondeu ele. É a pura verdade. Ouvi o fato da própria boca de Savéria, quando eu estava na Córsega. Citei suas próprias palavras e ainda omiti certos detalhes, receando que me acusassem de exagero.”
Os fatos desta natureza não são únicos; citamos um muito notável na Revista de agosto de 1863, sob o título de O Sr. Cardon, médico. Eles são a prova evidente da existência e da independência da alma, porque, se o princípio inteligente fosse inerente à matéria, extinguir-se-ia com ela. A questão é saber se, por um ato da vontade, a alma pode reentrar momentaneamente na posse do corpo que acaba de deixar.
Não se deve assimilar o fato acima, nem o do médico Cardon, ao estado de letargia. A letargia é uma suspensão acidental da sensibilidade nervosa e do movimento que apresenta o aspecto da morte, mas que não é a morte, pois não há decomposição, e os letárgicos vivem muitos anos após o seu despertar. A vitalidade, por ser latente, não deixa de estar na plenitude da sua força, e a alma não está mais destacada do corpo do que no sono ordinário. Na morte verdadeira, ao contrário, a matéria se desorganiza, a vitalidade se extingue, o perispírito se separa; o trabalho da dissolução começa ainda antes que a morte se consume. Enquanto ela não se consuma, pode haver voltas passageiras à vida, como as que citamos, mas sempre de curta duração, considerando-se que a vontade pode retardar por alguns instantes a separação definitiva do perispírito, mas que ela é impotente para deter o trabalho de dissolução, quando chega o momento. Sejam quais forem as aparências exteriores, pode-se dizer que todas as vezes que houver volta à vida é que não houve morte, na acepção patológica do vocábulo. Quando a morte é completa, essas voltas são impossíveis, pois a isto se opõem as leis fisiológicas.
Nas circunstâncias de que falamos, portanto, podíamos racionalmente admitir que a morte não estivesse consumada. Tendo sido o fato relatado na Sociedade de Paris, o guia de um dos nossos médiuns habituais lhe deu a explicação seguinte, que reproduzimos com toda a reserva, como uma coisa possível, mas não materialmente provada, e a título de observação.
Uma jovem tinha uma velha tia que lhe servia de mãe e à qual devotava uma ternura filial. A tia adoeceu e morreu. Afastaram a jovem, mas ela plantou-se à porta da câmara mortuária, chorando e orando. De repente julgou ouvir um grito fraco e como um gemido surdo. Abriu a porta precipitadamente e viu a tia, que havia afastado o pano com que a tinham coberto, e que lhe fazia sinal para que se aproximasse. Então lhe disse com voz sumida e fazendo um esforço supremo: “Savéria, há pouco eu estava morta... sim, morta... Eu vi o Senhor... Ele me permitiu voltar um instante a esta Terra para te dar um último adeus e te fazer uma última recomendação.”
Então lhe renovou um conselho muito importante, que lhe havia dado alguns dias antes, do qual dependia o seu futuro. Tratava-se de guardar um segredo absoluto sobre um fato, cuja divulgação deveria arrastar uma dessas terríveis vinganças tão comuns neste país. Tendo a sobrinha prometido conformar-se com sua vontade, ela acrescentou: “Agora posso morrer, porque Deus te protegerá como me protege nesta hora porque, indo-me embora, não levarei o desgosto de deixar atrás de mim uma vingança a satisfazer-se numa trilha de sangue e de maldição... Adeus, minha pobre filha, eu te abençoo.” Depois destas palavras, ela expirou.
Um dos nossos correspondentes, que conhece pessoalmente o autor, lhe perguntou se seu relato era fruto de sua imaginação. “Não, respondeu ele. É a pura verdade. Ouvi o fato da própria boca de Savéria, quando eu estava na Córsega. Citei suas próprias palavras e ainda omiti certos detalhes, receando que me acusassem de exagero.”
Os fatos desta natureza não são únicos; citamos um muito notável na Revista de agosto de 1863, sob o título de O Sr. Cardon, médico. Eles são a prova evidente da existência e da independência da alma, porque, se o princípio inteligente fosse inerente à matéria, extinguir-se-ia com ela. A questão é saber se, por um ato da vontade, a alma pode reentrar momentaneamente na posse do corpo que acaba de deixar.
Não se deve assimilar o fato acima, nem o do médico Cardon, ao estado de letargia. A letargia é uma suspensão acidental da sensibilidade nervosa e do movimento que apresenta o aspecto da morte, mas que não é a morte, pois não há decomposição, e os letárgicos vivem muitos anos após o seu despertar. A vitalidade, por ser latente, não deixa de estar na plenitude da sua força, e a alma não está mais destacada do corpo do que no sono ordinário. Na morte verdadeira, ao contrário, a matéria se desorganiza, a vitalidade se extingue, o perispírito se separa; o trabalho da dissolução começa ainda antes que a morte se consume. Enquanto ela não se consuma, pode haver voltas passageiras à vida, como as que citamos, mas sempre de curta duração, considerando-se que a vontade pode retardar por alguns instantes a separação definitiva do perispírito, mas que ela é impotente para deter o trabalho de dissolução, quando chega o momento. Sejam quais forem as aparências exteriores, pode-se dizer que todas as vezes que houver volta à vida é que não houve morte, na acepção patológica do vocábulo. Quando a morte é completa, essas voltas são impossíveis, pois a isto se opõem as leis fisiológicas.
Nas circunstâncias de que falamos, portanto, podíamos racionalmente admitir que a morte não estivesse consumada. Tendo sido o fato relatado na Sociedade de Paris, o guia de um dos nossos médiuns habituais lhe deu a explicação seguinte, que reproduzimos com toda a reserva, como uma coisa possível, mas não materialmente provada, e a título de observação.
(Sociedade Espírita de Paris, 2 de março de 1866 - Médium: Sr. Morin)
No caso que constitui motivo de vossa discussão, há um fato positivo, o da morta que falou à sua sobrinha. Resta saber se esse fato é do domínio material, isto é, se houve volta momentânea à vida corporal, ou se é de ordem espiritual; é esta última hipótese que é a verdadeira, porque a velha senhora estava realmente bem morta. Eis o que se passou:
Ajoelhada à porta da câmara mortuária, a jovem sofreu um impulso irresistível que a levou para junto do leito de sua tia que, como eu disse, estava bem morta. Foi a ardente vontade do Espírito dessa mulher que provocou o fenômeno. Sentindo-se morrer sem poder fazer a recomendação tão vivamente desejada, ela pediu a Deus, numa última e suprema prece, que pudesse dizer à sobrinha o que lhe desejava dizer. Já estando feita a separação, o fluido perispiritual, ainda impregnado de seu desejo, envolveu a jovem e arrastou-a para junto dos despojos. Ali, por uma permissão de Deus, ela tornou-se médium vidente e auditiva; viu e ouviu sua tia falando e agindo, não com o corpo, mas por meio do perispírito ainda vinculado ao corpo, de sorte que houve visão e audição espirituais e não materiais.
A recomendação da tia, feita em tal momento e em circunstâncias que davam a aparência de uma ressurreição, devia impressionar a moça mais vivamente, e fazê-la compreender toda a importância da recomendação. Embora já a tivesse feito em vida, queria levar a certeza de que sua sobrinha concordaria, para evitar as desgraças que resultariam de uma indiscrição. Sua vontade não pôde fazer reviver o seu corpo, contrariando as leis da Natureza, mas pôde dar ao seu envoltório fluídico as aparências de seu corpo.
EBELMAN
No caso que constitui motivo de vossa discussão, há um fato positivo, o da morta que falou à sua sobrinha. Resta saber se esse fato é do domínio material, isto é, se houve volta momentânea à vida corporal, ou se é de ordem espiritual; é esta última hipótese que é a verdadeira, porque a velha senhora estava realmente bem morta. Eis o que se passou:
Ajoelhada à porta da câmara mortuária, a jovem sofreu um impulso irresistível que a levou para junto do leito de sua tia que, como eu disse, estava bem morta. Foi a ardente vontade do Espírito dessa mulher que provocou o fenômeno. Sentindo-se morrer sem poder fazer a recomendação tão vivamente desejada, ela pediu a Deus, numa última e suprema prece, que pudesse dizer à sobrinha o que lhe desejava dizer. Já estando feita a separação, o fluido perispiritual, ainda impregnado de seu desejo, envolveu a jovem e arrastou-a para junto dos despojos. Ali, por uma permissão de Deus, ela tornou-se médium vidente e auditiva; viu e ouviu sua tia falando e agindo, não com o corpo, mas por meio do perispírito ainda vinculado ao corpo, de sorte que houve visão e audição espirituais e não materiais.
A recomendação da tia, feita em tal momento e em circunstâncias que davam a aparência de uma ressurreição, devia impressionar a moça mais vivamente, e fazê-la compreender toda a importância da recomendação. Embora já a tivesse feito em vida, queria levar a certeza de que sua sobrinha concordaria, para evitar as desgraças que resultariam de uma indiscrição. Sua vontade não pôde fazer reviver o seu corpo, contrariando as leis da Natureza, mas pôde dar ao seu envoltório fluídico as aparências de seu corpo.
EBELMAN