Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1866
Versão para cópiaCapítulo XLIII
Junho - Poesias espíritas
Junho
Para o teu livro
(Sociedade de Paris, 11 de maio de 1866 - Médium: Sr. V...)
Em breve, criança, tu irás deixar
O teto humilde que te viu nascer,
Para o mundo correr e enfrentar
Os seus perigos e talvez morrer,
Sem haver alcançado o teu destino.
Antes de fugir do nosso lado,
Escuta, como outrora, ó meu menino,
A voz que te guiou no teu passado.
Ai de mim! meu filho, em teu caminho,
Muitas vezes a sarça orgulhosa
Rasgará as tuas brancas mãos,
E o seu venenoso espinho
Fará coxear o teu pé atingido
Mais de uma vez, na tua estrada.
Não importa! Longe daqui será preciso
Seguir a estrela que te ilumina,
E marchar sempre à frente;
Não ter saudades da pátria,
Da aldeia, do lar ausente,
E morrer sem chorar tua vida,
Se tinhas que perdê-la um dia,
Pregando a todos como doutrina
A fé, a caridade e o amor,
Únicos deveres de tua lei divina;
Por toda parte o orgulho extirpando,
Como o falso saber e o egoísmo,
Que se estendem qual mortalha
Sobre o berço do Espiritismo;
Repetindo o que a voz
De todos esses mundos invisíveis por vezes parece revelar-te
Em murmúrios indizíveis;
Lamentando um século grosseiro,
Que junta insulto e injúria
Quando te chama feiticeiro
Ou simples ledor da sorte;
Perdoando-lhe o seu desprezo;
Tentando pela prece
Pôr os seus muitos amigos
Sob tua santa e humilde bandeira.
Eu disse: Parte, meu filho! Adeus!
Difícil e pesada é a tua tarefa.
Mas crê e espera em teu Deus.
Ele a fará mais fácil.
Um Espírito Poeta.
- - - - - - - - - -
Na sessão seguinte, de 18 de maio, o mesmo médium escreveu espontaneamente o seguinte:
“Resposta a uma crítica a meus versos “Para o teu Livro”, feita um pouco levianamente, sexta-feira última, por um desconhecido que aqui não vejo esta noite.”
“Num bosque misterioso,
Oculto pela folhagem nascente
De verde lilás, todos os anos
Ouvia-se, na primavera,
Uma graciosa cotovia
Cantar sua linda cançoneta.
Os pássaros do bosque vizinho
Vinham, cada manhã,
Colocar-se perto dela, em silêncio,
Para melhor escutar a cadência
Que sua pura voz soltava,Desferia, perolava, modulava
Com uma graça infinita.
A multidão encantada, deslumbrada,
Aplaudia a diva
Quando por acaso chegou
Um jovem melro de negra plumagem
E pôs-se a assobiar de raiva
A monótona cançãoQue admiravam sem razão.
Súbito a cotovia parou,
Sorriu e disse ao desmancha prazer:
Vós que assobiais tão bem, deveis bem cantar.
Não se podia, belo melro, um dia vos escutar?
Sem responder o melro foi fugindo.
Por quê? Adivinhai-o... Boa noite! Eu vos deixo.
ALFRED DE MUSSET.
A lagarta e a borboleta
(Fábula do Espírito batedor de Carcassone)
De um ramo de jasmins trabalhando os contornos,
Trêmula, uma lagarta ao declinar de seus dias,
Dizia: “Estou muito doente,
Já nem digiro a folha de salada;
Mal e mal a couve provoca-me apetite;
Eu morro pouco a pouco;
Como é triste morrer! Mais valia não nascer.
Sem murmurar é preciso submeter-se.
Outros, depois de mim, que tracem o seu caminho.
─ Mas tu não morrerás, lhe diz a borboleta;
Se tenho boa memória, foi sobre a mesma planta
Que contigo vivi; pois eu sou da família.
O futuro te prepara destino mais feliz;
Talvez um mesmo amor nos unirá os dois.
Espera!... Rápida é a passagem do sono.
Como eu, tu serás uma crisálida;
Como eu poderás, em cores brilhantes,
Respirar o perfume das flores”.
A velha respondeu: “Impostora! Impostora!
Nada viria mudar as leis da Natureza;
O espinheiro jamais será jasmim.
Aos meus anéis partidos, às minhas juntas fracas
Que hábil operário virá ligar as asas?
Jovem louca, segue o teu caminho.
─ Lagarta! Tens razão. O possível tem limites!
Responde um caracol, triunfante em seus cornos.
Um sapo aplaudiu. Com seu dardo, um zangão
Insultou a linda borboleta.
.....................................................
Não, nem sempre é a verdade que brilha.
Aqui na Terra, quantos cegos de nascença
Negando a alma dos mortos. Doutores, raciocinais
Mais ou menos como a lagarta.
(Sociedade de Paris, 11 de maio de 1866 - Médium: Sr. V...)
Em breve, criança, tu irás deixar
O teto humilde que te viu nascer,
Para o mundo correr e enfrentar
Os seus perigos e talvez morrer,
Sem haver alcançado o teu destino.
Antes de fugir do nosso lado,
Escuta, como outrora, ó meu menino,
A voz que te guiou no teu passado.
Ai de mim! meu filho, em teu caminho,
Muitas vezes a sarça orgulhosa
Rasgará as tuas brancas mãos,
E o seu venenoso espinho
Fará coxear o teu pé atingido
Mais de uma vez, na tua estrada.
Não importa! Longe daqui será preciso
Seguir a estrela que te ilumina,
E marchar sempre à frente;
Não ter saudades da pátria,
Da aldeia, do lar ausente,
E morrer sem chorar tua vida,
Se tinhas que perdê-la um dia,
Pregando a todos como doutrina
A fé, a caridade e o amor,
Únicos deveres de tua lei divina;
Por toda parte o orgulho extirpando,
Como o falso saber e o egoísmo,
Que se estendem qual mortalha
Sobre o berço do Espiritismo;
Repetindo o que a voz
De todos esses mundos invisíveis por vezes parece revelar-te
Em murmúrios indizíveis;
Lamentando um século grosseiro,
Que junta insulto e injúria
Quando te chama feiticeiro
Ou simples ledor da sorte;
Perdoando-lhe o seu desprezo;
Tentando pela prece
Pôr os seus muitos amigos
Sob tua santa e humilde bandeira.
Eu disse: Parte, meu filho! Adeus!
Difícil e pesada é a tua tarefa.
Mas crê e espera em teu Deus.
Ele a fará mais fácil.
Um Espírito Poeta.
- - - - - - - - - -
Na sessão seguinte, de 18 de maio, o mesmo médium escreveu espontaneamente o seguinte:
“Resposta a uma crítica a meus versos “Para o teu Livro”, feita um pouco levianamente, sexta-feira última, por um desconhecido que aqui não vejo esta noite.”
“Num bosque misterioso,
Oculto pela folhagem nascente
De verde lilás, todos os anos
Ouvia-se, na primavera,
Uma graciosa cotovia
Cantar sua linda cançoneta.
Os pássaros do bosque vizinho
Vinham, cada manhã,
Colocar-se perto dela, em silêncio,
Para melhor escutar a cadência
Que sua pura voz soltava,Desferia, perolava, modulava
Com uma graça infinita.
A multidão encantada, deslumbrada,
Aplaudia a diva
Quando por acaso chegou
Um jovem melro de negra plumagem
E pôs-se a assobiar de raiva
A monótona cançãoQue admiravam sem razão.
Súbito a cotovia parou,
Sorriu e disse ao desmancha prazer:
Vós que assobiais tão bem, deveis bem cantar.
Não se podia, belo melro, um dia vos escutar?
Sem responder o melro foi fugindo.
Por quê? Adivinhai-o... Boa noite! Eu vos deixo.
ALFRED DE MUSSET.
A lagarta e a borboleta
(Fábula do Espírito batedor de Carcassone)
De um ramo de jasmins trabalhando os contornos,
Trêmula, uma lagarta ao declinar de seus dias,
Dizia: “Estou muito doente,
Já nem digiro a folha de salada;
Mal e mal a couve provoca-me apetite;
Eu morro pouco a pouco;
Como é triste morrer! Mais valia não nascer.
Sem murmurar é preciso submeter-se.
Outros, depois de mim, que tracem o seu caminho.
─ Mas tu não morrerás, lhe diz a borboleta;
Se tenho boa memória, foi sobre a mesma planta
Que contigo vivi; pois eu sou da família.
O futuro te prepara destino mais feliz;
Talvez um mesmo amor nos unirá os dois.
Espera!... Rápida é a passagem do sono.
Como eu, tu serás uma crisálida;
Como eu poderás, em cores brilhantes,
Respirar o perfume das flores”.
A velha respondeu: “Impostora! Impostora!
Nada viria mudar as leis da Natureza;
O espinheiro jamais será jasmim.
Aos meus anéis partidos, às minhas juntas fracas
Que hábil operário virá ligar as asas?
Jovem louca, segue o teu caminho.
─ Lagarta! Tens razão. O possível tem limites!
Responde um caracol, triunfante em seus cornos.
Um sapo aplaudiu. Com seu dardo, um zangão
Insultou a linda borboleta.
.....................................................
Não, nem sempre é a verdade que brilha.
Aqui na Terra, quantos cegos de nascença
Negando a alma dos mortos. Doutores, raciocinais
Mais ou menos como a lagarta.