Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1866

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Capítulo LXII

Setembro - Os irmãos Davenport em Bruxelas

Setembro


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Os irmãos Davenport em Bruxelas

Os irmãos Davenport acabam de passar algum tempo na Bélgica, onde pacificamente deram representações. Temos numerosos correspondentes nesse país, mas nem por eles nem pelos jornais soubemos que tais senhores ali tenham sido alvo de cenas lamentáveis como aquelas que ocorreram em Paris. Será que os belgas dariam lições de urbanidade aos parisienses? Poder-se-ia crê-lo comparando as duas situações. O que é evidente é que em Paris havia uma idéia preconcebida, uma conspiração organizada contra eles, e a prova disso é que os atacaram antes de saber o que iam fazer, antes mesmo que tivessem começado. Que vaiem os que fracassam, que não fazem o que anunciaram, é um direito comprado em toda parte, quando se paga a entrada. Mas que os escarneçam, que os insultem, que os maltratem, que lhes quebrem os instrumentos, antes mesmo que entrem em cena, é o que não se permitiria contra o último baderneiro de feira. Seja qual for a maneira pela qual sejam considerados esses senhores, tais procedimentos não têm desculpa num povo civilizado.

De que os acusam? De se apresentarem como médiuns? De pretenderem operar com a ajuda dos Espíritos? Se era, da parte deles, um meio fraudulento de atrair a curiosidade do público, quem tinha o direito de se lastimar? Os espíritas podiam achar ruim a exibição de uma coisa respeitável. Ora, quem lamentou? Quem gritou contra o escândalo, a impostura e a profanação? Precisamente os que não creem nos Espíritos. Mas, entre os que gritam mais alto que não há Espíritos, que fora do homem nada existe, alguns deles, de tanto ouvirem falar de manifestações, acabam, senão por crer, ao menos por temer que haja alguma coisa. O medo de que os irmãos Davenport viessem prová-lo claramente desencadeou contra eles uma verdadeira cólera que, se tivessem certeza de que eles não passavam de hábeis malabaristas, não haveria mais razão de ser do que se fosse dirigida contra o primeiro escamoteador que aparecesse. Sim, estamos convencidos de que o medo de vê-los vitoriosos foi a causa principal dessa hostilidade que tinha pré cedido o seu aparecimento em público e preparado os meios de fazer abortar sua primeira exibição.

Mas os irmãos Davenport não passavam de um pretexto; não era a eles, pessoalmente, que visavam, mas ao Espiritismo, ao qual pensavam que poderiam dar uma sanção e que, para o grande desapontamento de seus antagonistas, desfruta os efeitos da malevolência, pela prudente reserva da qual jamais se afastou, a despeito de tudo quanto fizeram para forçá-lo a dela afastar-se. Para muita gente, é um verdadeiro pesadelo. Era preciso conhecê-lo muito pouco para crer que aqueles senhores, colocandose em condições que ele desaprova, lhe pudessem servir de auxiliares. Contudo, eles serviram à sua causa, fazendo as pessoas falarem dele, na ocasião, e a crítica, sem querer, lhe deu a mão, provocando o exame da doutrina, É de notar que todo o alvoroço feito em torno do Espiritismo é obra desses mesmos que queriam abafá-lo. Por mais que tivessem feito contra ele, ele jamais gritou. Foram seus adversários que gritaram, como se já se julgassem mortos.

Extraímos do Office de Publicité, jornal de Bruxelas, que, ao que se diz, tem uma tiragem de 25.000 exemplares, as passagens seguintes de dois artigos publicados nos números de 8 e de 22 de julho último, sobre os irmãos Davenport, bem como duas cartas de refutação lealmente inseridas no mesmo jornal.

Embora um tanto gasto, o assunto não deixa de ter o seu lado instrutivo.


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