Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867

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Capítulo III

Janeiro - Pensamentos espíritas que correm o mundo

Janeiro


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Pensamentos espíritas que correm o mundo

Em nosso último número mencionamos alguns dos pensamentos que se encontram aqui e ali, na imprensa, e que o Espiritismo pode reivindicar como partes integrantes da Doutrina. Continuaremos a falar, de tempos em tempos, daqueles que vierem ao nosso conhecimento. Essas citações têm o seu lado útil e instrutivo, pois provam a vulgarização das ideias espíritas.

Na revista hebdomadária do Siècle de 2 de dezembro, o Sr. E. Texier, referindo-se a uma nova obra do Sr. P.-J. Stahl intitulada Bonnes fortunes parisiennes, assim se exprime:

“O que distingue essas Bonnes fortunes parisiennes é a delicadeza que toca a pintura do sentimento, é o bom perfume do livro que se respira como uma brisa. Raramente tinham tratado deste assunto tão vasto, tão explorado, tão rebatido e sempre novo, o amor, com mais ciência verdadeira, mais observação sentida, mais tacto e leveza de mão. Disseram que, numa existência anterior, Balzac deveria ter sido mulher; poder-se-ia dizer também que Stahl tinha sido uma jovem. Todos os pequenos segredos do coração que se abre ao contato do primeiro arroubo, ele os capta e os fixa até nos seus mais finos detalhes. Ele fez melhor do que estudar as suas heroínas: dir-se-ia que ressentiu todas as suas impressões, todos os seus frêmitos, todos os esses lindos choques ─ alegria ou dor ─ que se sucedem na alma feminina e a enchem aos primeiros botões da floração de abril.”

Não é a primeira vez que a ideia das existências anteriores é expressa fora do Espiritismo. O autor do artigo outrora não poupou sarcasmos à nova crença, a propósito dos irmãos Davenport, nos quais, como a maioria de seus confrades jornalistas, ele acreditou e talvez ainda acredite encarnada a Doutrina. Escrevendo estas linhas, ele certamente não suspeitava que formulava um dos seus mais importantes princípios. Se o fez seriamente ou não, pouco importa! A coisa não deixa de provar que os próprios incrédulos encontram na pluralidade das existências, ainda que só admitida a título de hipótese, a explicação das aptidões inatas da existência atual. Esse pensamento, lançado a milhões de leitores pelo vento da publicidade, se populariza, infiltra-se nas crenças; a gente a ele se habitua; cada um aí procura a razão de ser de uma porção de coisas incompreendidas, de suas próprias tendências: aqui gracejando, ali seriamente; a mãe cujo filho é um tanto precoce sorri complacente à ideia de que ele pode ter sido homem de gênio. Em nosso século racionalista, queremos saber de tudo; repugna à maioria ver nas boas e nas más qualidades trazidas ao nascer, um jogo do acaso ou um capricho da divindade; a pluralidade das existências resolve a questão mostrando que as existências se encadeiam e se completam uma pelas outras. De dedução em dedução chega-se a encontrar, neste princípio fecundo, a chave de todos os mistérios, de todas as anomalias aparentes da vida moral e material, das desigualdades sociais, dos bens e dos males daqui de baixo; enfim o homem sabe de onde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que é feliz ou infeliz e o que deve fazer para assegurar sua felicidade futura.

Se acham racional admitir que já vivemos na Terra, não é menos racional que possamos aqui reviver ainda. Como é evidente que não é o corpo que revive, só pode ser a alma; esta conservou, pois, a sua individualidade; ela não se confundiu no todo universal; para conservar suas aptidões, é preciso que tenha ficado ela mesma. O princípio da pluralidade das existências, tão somente ele é, como se vê, a negação do materialismo e do panteísmo.

Para que a alma possa realizar uma série de existências sucessivas no mesmo meio, é preciso que ela não se perca nas profundezas do infinito; ela deve ficar na esfera de atividade terrestre. Eis, pois, o mundo espiritual que nos cerca, em meio do qual vivemos, no qual se derrama a Humanidade corporal, como ele mesmo se derrama nesta. Ora, chamai essas almas de Espíritos e ei-nos em pleno Espiritismo.

Se Balzac pode ter sido mulher e Stahl uma mocinha, então as mulheres podem encarnar-se como homens e, por consequência, os homens encarnar-se como mulheres. Não há, pois, entre os dois sexos senão uma diferença material, acidental e temporária, uma diferença de vestimenta carnal; mas quanto à natureza essencial do ser, ela é a mesma. Ora, da igualdade de natureza e de origem, a lógica conclui pela igualdade dos direitos sociais. Vê-se a que consequência conduz apenas o princípio da pluralidade das existências. O Sr. Texier provavelmente não crê ter dito tanto nas poucas linhas citadas.

Mas talvez digam que o Espiritismo admite a presença das almas em meio a nós e suas relações com os vivos, e eis onde está o absurdo. Sobre este ponto escutemos o Sr. Pe. V..., novo cura de São Vicente de Paulo. No discurso que ele pronunciou domingo, 25 de novembro último, por ocasião da instalação da sua paróquia, fazendo o elogio do patrono, ele disse: “O Espírito de São Vicente de Paulo está aqui, eu o afirmo, meus irmãos; sim, ele está em meio a nós; ele plana sobre esta assembleia; ele nos vê e nos ouve; eu o sinto perto de mim, inspirando-me.” Que mais teria dito um espírita? Se o Espírito de São Vicente de Paulo está na assembleia, como é ele para aí atraído senão pelo pensamento simpático dos assistentes? É o que diz o Espiritismo. Se ele aí está, outros Espíritos também aí podem encontrar-se. Eis o mundo espiritual que nos rodeia. Se o senhor cura sofre a sua influência, pode sofrer a de outros Espíritos, como outras pessoas. Há, pois, relações entre o mundo espiritual e o mundo corporal. Se ele fala sob a inspiração desse Espírito, então é médium falante; mas se fala, também pode escrever sob essa mesma inspiração, e sem dúvida o fez mais de uma vez sem o suspeitar. Ei-lo, então, médium escrevente inspirado, intuitivo. Entretanto, se lhe dissessem que havia pregado o Espiritismo, provavelmente defender-se-ia com todas as forças.

Mas sob que aparência o Espírito de São Vicente de Paulo poderia estar nessa assembleia? Se o senhor cura não o diz, di-lo São Paulo: é com o corpo espiritual ou fluídico, o corpo incorruptível que reveste a alma após a morte, ao qual o Espiritismo dá o nome de perispírito.

O perispírito, um dos elementos constitutivos do organismo humano, constatado pelo Espiritismo, tinha sido suspeitado há muito tempo. É impossível ser mais explícito a este respeito que o Sr. Charpignon, na sua obra sobre o magnetismo, publicada em 1842[1]. Com efeito, lê-se no Cap. II, página 355:

“As considerações psicológicas a que acabamos de nos entregar tiveram como resultado fixar-nos na necessidade de admitir, na composição da individualidade humana, uma verdadeira trindade, e achar neste composto ternário um elemento de uma natureza essencialmente diferente das duas outras partes, elemento perceptível, antes por suas faculdades fenomênicas do que por suas propriedades constitutivas, porque a natureza de um ser espiritual escapa aos nossos meios de investigação. O homem é, pois, um ser misto, um organismo de composição dupla, a saber: combinação de átomos formando os órgãos, e um elemento de natureza material, mas indecomponível, dinâmica por essência, numa palavra, um fluido imponderável. Isto quanto à parte material. Agora, como elemento característico da espécie hominal, é um ser simples, inteligente, livre e voluntário, que os psicólogos chamam de alma...

Estas citações e as reflexões que as acompanham têm por fim mostrar que a opinião está menos afastada das ideias espíritas do que se poderia crer, e que a força das coisas e a irresistível lógica dos fatos a isto conduzem por uma inclinação muito natural. Não é, pois, uma vã presunção dizer que o futuro é nosso.



[1] Physiologie, medecine et métaphysique du magnetisme, por Charpignon! Vol. In-8, Rua de l´École-deMédecine, 17 - Paris. Preço: 6 francos.



Agosto DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Abril MANIFESTAÇÕES ESPONTÂNEAS

Abril


Temas Relacionados:

1. — Sob o título de O diabo do moinho, o Moniteur de l’Indre de fevereiro de 1867 contém o seguinte relato:


“O Sr. François Garnier é fazendeiro e moendeiro no burgo de Vicq-sur-Nahon. É, gostamos de pensar, um homem pacífico e, contudo, desde o mês de setembro, seu moinho é teatro de fatos miraculosos, próprios a fazer supor que o diabo, ou pelo menos um Espírito brincalhão, ali elegeu o seu domicílio. Por exemplo, parece fora de dúvida que, diabo ou Espírito, o autor dos fatos que vamos narrar gosta de dormir à noite, porque só trabalha de dia.

“Nosso Espírito gosta de fazer malabarismos com as cobertas das camas. Toma-as sem que ninguém o perceba, leva-as e vai escondê-las, ora nas vigas do teto, ora no forno, ora sob montes de feno. Transporta de uma cavalariça para a outra os lençóis da cama do rapaz, e mais de uma hora depois são encontrados sob o feno ou nas grades da manjedoura. Para abrir as portas, o Espírito Vicq-sur-Nahon não precisa de chave. Um dia o Sr. Garnier, em presença de seus empregados, fechou com duas voltas a porta da padaria e pôs a chave no bolso; mesmo assim, a porta abriu-se quase imediatamente, aos olhos de Garnier e dos criados, sem que pudessem explicar como.

“Outra vez, a 1º de janeiro — maneira inteiramente nova de fazer votos de feliz ano-novo a alguém — um pouco antes da noite, o leito de penas, os lençóis, os cobertores de uma cama situada num quarto são levantados sem que a cama se desarrume e encontram esses objetos no chão, perto da porta do quarto. Garnier e os seus imaginam, então, na esperança de conjurar toda esta feitiçaria, mudar as camas de quarto, o que de fato ocorre; mas, feita a troca, os fatos diabólicos que acabamos de contar recomeçam com mais intensidade. Por diversas vezes, um rapaz da cavalariça encontra aberta sua arca, onde guarda seus objetos pessoais, e estes espalhados na cocheira.

“Mas eis duas circunstâncias em que se revela toda a diabólica habilidade do Espírito. No número dos domésticos do Sr. Garnier encontra-se uma mocinha de 13 anos, chamada Marie Richard. Um dia, estando esta menina num quarto, de repente viu surgir sobre o leito uma pequena capela, e todos os objetos colocados sobre a chaminé, 4 vasos, 1 Cristo, 3 copos, 2 xícaras, numa das quais havia água-benta, e uma pequena garrafa também cheia de água-benta, ir sucessivamente, como se obedecesse à ordem de um ser invisível, tomar lugar sobre o altar improvisado. A porta do quarto estava entreaberta, e a mulher do irmão da pequena Richard, perto da porta. Uma sombra saiu da capela, no dizer da pequena Richard, aproximou-se dela e a encarregou de convidar os donos a dar um pão bento e mandar dizer uma missa. A menina promete; durante nove dias reina a calma no moinho. Garnier manda rezar a missa pelo cura de Vicq, oferece um pão bento e a partir do dia seguinte, 15 de janeiro, as diabruras recomeçam.

“As chaves das portas desaparecem; as portas, deixadas abertas, aparecem fechadas; um serralheiro, chamado para abrir a porta do moinho, não o consegue e se vê na necessidade de desmontar a fechadura. Estes últimos fatos se passavam a 29 de janeiro. No mesmo dia, por volta do meio-dia, quando os empregados tomavam sua refeição, a menina Richard toma um cântaro de bebida, serve-se, e o relógio do Sr. Garnier, pendurado a um prego na chaminé, cai em seu copo. Repõem o relógio na chaminé; mas a menina Richard, tomando um prato servido sobre a mesa, traz o relógio com sua colher. Pela terceira vez penduram o relógio em seu lugar e, pela terceira vez, a pequena Richard o encontra numa panela que fervia ao fogo, assim como uma garrafinha de remédio, cuja rolha lhe salta ao rosto.

“Em suma, o terror se apodera dos habitantes do moinho; ninguém mais quer ficar numa casa enfeitiçada. Por fim Garnier toma o partido de prevenir o Sr.comissário de polícia de Valençay, que se dirige a Vicq, acompanhado de dois guardas. Mas o diabo não quis mostrar-se aos agentes da autoridade. Apenas estes aconselharam Garnier que despedisse a mocinha Richard, o que logo fez. Esta medida terá bastado para pôr o diabo em debandada? Esperemo-lo, para tranquilidade da gente do moinho.”


Num número posterior, o Moniteur de l’Indre contém o que segue:

“Contamos, no devido tempo, todas as diabruras que se passaram no moinho de Vicq-sur-Nahon, cujo locatário é o Sr. Garnier. Até agora cômicas, essas diabruras começam a virar tragédia. Depois das farsas, dos malabarismos, das prestidigitações, eis que o diabo recorre ao incêndio.

“No dia 12 deste mês ocorreram duas tentativas de incêndio, quase que simultaneamente, nas cavalariças do Sr. Garnier. A primeira aconteceu pelas cinco horas da tarde. O fogo tomou a palha, ao pé da cama dos rapazes moendeiros. O segundo incêndio surgiu cerca de uma hora depois, mas em outra estrebaria. O fogo surgiu igualmente ao pé de uma cama e na palha.

“Felizmente esses dois incêndios foram extintos pelo pai de Garnier, de oitenta anos, e seus empregados, prevenidos pela citada Marie Richard.

“Nossos leitores devem lembrar-se de que essa mocinha de quatorze anos, era sempre a primeira que percebia as feitiçarias que ocorriam no moinho, não obstante, seguindo os conselhos que lhe tinham sido dados, Garnier houvesse despedido a pequena Richard. Quando os dois incêndios surgiram, essa jovem tinha voltado há quinze dias à casa do Sr. Garnier. Foi ela ainda a primeira a notar os dois incêndios de 12 de março.

“Conforme as pesquisas feitas no moinho, as suspeitas caíram sobre duas empregadas.

“A família Garnier está de tal modo chocada com os acontecimentos de que seu moinho foi teatro, que se persuadiu de que o diabo, ou pelo menos algum Espírito malfazejo, fixou domicílio em sua morada.”


2. — Um dos nossos amigos escreveu ao Sr. Garnier, pedindo que lhe informasse se eram reais ou contos para divertir, os fatos relatados no jornal e, em todo o caso, o que podia haver de verdadeiro ou de exagerado na história.

O Sr. Garnier respondeu que tudo era perfeitamente exato e conforme à declaração que ele próprio havia feito ao comissário de polícia de Valençay. Confirma, também, os dois incêndios e acrescenta: O jornal nem contou tudo. De acordo com sua carta, os fatos se produziam há quatro ou cinco meses, e se viu forçado a fazer a declaração porque não conseguiu descobrir o autor. Termina dizendo: “Não sei, senhor, com que propósito me pedis estas informações; mas se tiverdes algum conhecimento dessas coisas, peço-vos participar de minhas penas, pois vos asseguro que não estamos à vontade em nossa casa. Se puderdes encontrar um meio de descobrir o autor de todos esses fatos escandalosos, prestar-nos-eis um grande serviço.”

Um ponto importante a esclarecer era saber qual podia ser a participação da mocinha, seja voluntariamente por malícia, seja inconscientemente por sua influência. Sobre esta questão, o Sr. Garnier disse que a jovem, só tendo estado ausente da casa durante quinze dias, não tinha podido julgar o efeito de sua ausência; mas que não lhe tem nenhuma suspeita, como malevolência, nem sobre os outros empregados; que quase sempre ela tinha anunciado o que se passava fora de seu alcance; que, assim, dissera várias vezes: “Eis a cama que se desarruma em tal quarto” e que, aí entrando sem a perder de vista, encontravam o leito desarrumado; que também preveniu os dois incêndios, ocorridos depois de sua volta.

Como se vê, esses fatos pertencem ao mesmo gênero de fenômenos dos de Poitiers (Revista de fevereiro e março de 1864; dem, maio de 1865); de Marselha (abril de 1865); de Dieppe (março de 1860), e tantos outros que podem ser chamados manifestações barulhentas e perturbadoras.

De início faremos notar a diferença que existe entre o tom deste relato e o do jornal de Poitiers, por ocasião do que se passou naquela cidade. Lembre-se o dilúvio de sarcasmos que, a respeito, fizeram chover sobre os espíritas, e sua persistência em sustentar, contra a evidência, o que só podia ser obra de gracejadores de mau gosto, que não tardariam a ser descobertos, mas que, em definitivo, jamais descobriram. O Moniteur de l’Indre, mais prudente, limita-se a um relato, que não é temperado por nenhuma troça descabida, e que antes implica uma afirmação que uma negação.

Uma outra observação é que fatos deste gênero ocorreram muito antes que se cogitasse do Espiritismo e que, desde então, quase sempre se passaram entre pessoas que não o conheciam nem de nome, o que exclui qualquer influência devida à crença e à imaginação. Se acusassem os espíritas de simular essas manifestações com vistas à propaganda, perguntar-se-ia quem os poderia produzir antes que houvesse espíritas.

Não conhecendo o que se passou no moinho de Vicq-sur-Nahon senão pelo relato que fizeram, limitamo-nos a constatar que aqui nada se afasta daquilo cuja possibilidade o Espiritismo admite, nem das condições normais nas quais semelhantes fatos podem produzir-se; que esses fatos se explicam por leis perfeitamente naturais e, por conseguinte, nada têm de maravilhoso. Só a ignorância dessas leis pôde, até hoje, fazer que fossem consideradas como efeitos sobrenaturais, como tem ocorrido com quase todos os fenômenos cujas leis mais tarde a Ciência revelou.

O que pode parecer mais extraordinário, e se explica menos facilmente é o fato das portas abertas, depois de cuidadosamente fechadas a chave. As manifestações modernas disto oferecem vários exemplos. Um fato análogo passou-se em Limoges, há alguns anos (Revista de agosto de 1860). Mesmo que o estado de nossos conhecimentos ainda não nos permita dar-lhe uma explicação concludente, isto nada prejulga, porque estamos longe de conhecer todas as leis que regem o mundo invisível, todas as forças que encerra este mundo, nem todas as aplicações das leis que conhecemos. O Espiritismo ainda não disse a última palavra; longe disso: nem sobre as coisas físicas, nem sobre as coisas espirituais. Muitas das descobertas serão fruto de observações ulteriores. De certo modo o Espiritismo não fez, até agora, senão fincar as primeiras balizas de uma ciência cujo alcance é desconhecido. Com o auxílio do que já descobriu, abre aos que vierem depois de nós, o caminho das investigações numa ordem especial de ideias. Só procede por observações e deduções, e jamais por suposição. Se um fato é constatado, diz-se que deve ter uma causa e que esta causa só pode ser natural; então ele a procura. Em falta de uma demonstração categórica, pode dar uma hipótese, mas até que seja confirmada, não a dá senão como hipótese, e não como verdade absoluta. Em relação ao fenômeno das portas abertas, como ao dos transportes através de corpos rígidos, ainda está reduzido a uma hipótese, baseada nas propriedades fluídicas da matéria, muito imperfeitamente conhecidas, ou, melhor dizendo, apenas suspeitadas. Se o fato em questão for confirmado pela experiência, deve ter, como dissemos, uma causa natural; se se repetir, não é uma exceção, mas a consequência de uma lei. A possibilidade da libertação de São Pedro de sua prisão, referida nos At, capítulo 12, seria assim demonstrada sem que houvesse necessidade de recorrer ao milagre.

De todos os efeitos mediúnicos, as manifestações físicas são as mais fáceis de simular. Por isso, deve-se evitar aceitar muito levianamente, como autênticos, os fatos deste gênero, sejam espontâneos, como os do moinho de Vicq-sur-Nahon, sejam conscientemente provocados pelo médium. A imitação, é verdade, só poderia ser grosseira e imperfeita, mas com habilidade pode-se enganar facilmente, como outrora fizeram com a dupla vista, aos que não conheciam as condições nas quais os fenômenos reais podem produzir-se. Vimos supostos médiuns de rara habilidade simulando transportes, escrita direta e outros gêneros de manifestações. Assim, só se deve admitir com conhecimento de causa a intervenção dos Espíritos nessas espécies de coisas.

No caso de que se trata não afirmamos esta intervenção; limitamo-nos a dizer que ela é possível. Apenas os dois princípios de incêndio poderiam fazer suspeitar um ato humano, suscitado pela malevolência, que sem dúvida o futuro levará a descobrir. Todavia, é bom notar que, graças à clarividência da jovem, suas consequências puderam ser evitadas. Com exceção deste último fato, os demais não passaram de travessuras sem maior importância. Se são obra dos Espíritos, só podem provir dos Espíritos levianos, divertindo-se com os terrores e as impaciências que causam. Sabe-se que os há de todos os caracteres, como na Terra. O melhor meio de se desembaraçar deles é não se inquietar com eles e esgotar a sua paciência, que jamais é tão longa quando veem que ninguém se preocupa com eles, o que se lhes prova rindo de suas malícias e os desafiando a fazer mais. O meio mais seguro de os excitar a perseverar é atormentar-se e encolerizar-se contra eles. Pode-se ainda livrar-se deles evocando-os com o auxílio de um bom médium e orando por eles; então, entretendo-se com eles, pode saber-se o que são e o que' querem, e os fazer escutar a razão.

Aliás, estes tipos de manifestações têm um resultado mais sério: o de propagar a ideia do mundo invisível que nos rodeia, e afirmar a sua ação sobre o mundo material. É por isto que elas se produzem de preferência entre pessoas estranhas ao Espiritismo, antes que nos espíritas, que delas não necessitam para se convencerem.

A fraude, em semelhante caso, por vezes pode ser apenas inocente brincadeira, ou um meio de se dar importância, fazendo crer numa faculdade que não se possui, ou se a possui imperfeitamente. Mas na maioria dos casos ela tem por móvel um interesse patente ou dissimulado, e por objetivo explorar a confiança das pessoas demasiado crédulas ou inexperientes. É então uma verdadeira fraude. Seria supérfluo insistir em dizer que os que se tornam culpados de quaisquer enganos deste gênero, mesmo que fossem solicitados apenas pelo amor-próprio, não são espíritas, ainda que se deem como tais. Os fenômenos reais têm um caráter sui generis, e se produzem em circunstâncias que desafiam toda suspeição. Um conhecimento completo desses caracteres e dessas circunstâncias pode facilmente levar a descobrir a trapaça.

Se essas explicações chegarem ao conhecimento do Sr. Garnier, ele aí encontrará a resposta ao pedido que faz em sua carta.


3. — Um de nossos correspondentes nos transmite o relato, escrito por uma testemunha ocular, de manifestações análogas ocorridas em janeiro último, no burgo da Basse-Indre (Loire-Inférieure). Consistiam em batidas com obstinação, durante várias semanas e que puseram em polvorosa todos os habitantes de uma casa. As pesquisas e investigações feitas pela autoridade para lhes descobrir a causa não conduziram a nada. Aliás, este fato não apresenta nenhuma particularidade mais notável, a não ser, como todas as manifestações espontâneas, chamar a atenção para os fenômenos espíritas.

Como fato de manifestações físicas, as que se produzem assim espontaneamente exercem sobre a opinião pública uma influência infinitamente maior que os efeitos provocados diretamente por um médium, seja porque têm maior repercussão e notoriedade, seja porque dão menos ensejo às suspeitas de charlatanismo e de prestidigitação.

Isto nos lembra um fato que se passou em Paris, no mês de maio do ano passado. Ei-lo, tal como foi referido na ocasião, pelo Petit Journal.


4. MANIFESTAÇÕES DE MÉNILMONTANT.


Um fato singular se repete frequentemente no bairro de Ménilmontant, sem que se tenha ainda podido explicar sua causa.

“O Sr. X…, fabricante de bronzes, mora num pavilhão ao fundo da casa; aí se entra pelo jardim. Os ateliês estão à esquerda e a sala de jantar à direita. Uma campainha está colocada acima da porta da sala de jantar; naturalmente o cordão está à porta do jardim. A aleia é bastante longa para que uma pessoa, tendo tocado, possa fugir antes que tenham vindo abrir.

“Várias vezes o contramestre, tendo ouvido a campainha, foi à porta e não viu ninguém. A princípio pensaram numa mistificação; mas, por mais que espreitassem e se assegurassem de que não havia nenhum fio que levasse à campainha, nada descobriram, e a artimanha continuava sempre. Um dia a campainha se agitou enquanto o Sr. e a Sra. X… achavam-se precisamente embaixo e um aprendiz estava na aleia diante do cordão. O fato se repetiu três vezes na mesma noite. Acrescente-se que por vezes a campainha tocava bem baixinho e outras vezes de maneira muito barulhenta.

“Desde alguns dias o fenômeno tinha cessado, mas anteontem à noite renovou-se com mais persistência.

“A Sra. X… é uma mulher muito piedosa. Há uma crença em sua região que os mortos veem reclamar preces dos parentes. Ela pensou numa tia morta e julgou ter achado a explicação. Mas preces, missas, novenas, nada resolveu: a campainha toca sempre.

“Um distinto metalurgista, a quem o fato foi contado, pensou que fosse um fenômeno científico e que uma certa quantidade de água-forte e de vitríolo, que se achava na oficina, podia desprender uma força bastante grande para mover o fio de ferro. Mas, afastadas as substâncias, o fato não cessou de se produzir.

“Não procuraremos explicá-lo, pois é assunto dos cientistas, diz a Patrie, que bem poderia enganar-se. Essas espécies de mistérios muitas vezes terminam se explicando sem que a Ciência aí constate o menor fenômeno ainda desconhecido.”



Agosto DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto ENTRADA DOS INCRÉDULOS NO MUNDO DOS ESPÍRITOS

Agosto


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1. — Um médico, que designaremos sob o nome de doutor Claudius, conhecido de alguns dos nossos colegas, e cuja vida tinha sido uma profissão de fé materialista, morreu há algum tempo de uma afecção orgânica, que ele sabia incurável. Atraído, sem dúvida, pelo pensamento dos que o haviam conhecido e que desejavam conhecer sua posição, manifestou-se espontaneamente por intermédio do Sr. Morin, um dos médiuns da Sociedade, em estado de sonambulismo espontâneo. Já várias vezes esse fenômeno se produziu por esse médium e por outros adormecidos no sono espiritual.

O Espírito que assim se manifesta apodera-se do médium, serve-se de seus órgãos como se ainda estivesse vivo. Então não é mais uma fria comunicação escrita; é a expressão, a pantomima, a inflexão de voz do indivíduo que se tem diante dos olhos.

Foi nestas condições que se manifestou o doutor Claudius, sem ter sido evocado. Sua comunicação, que publicamos textualmente a seguir, é instrutiva por várias razões, principalmente quando descreve os sentimentos que o agitam; a dúvida ainda constitui o seu tormento; a incerteza de sua situação o mergulha numa terrível perplexidade, e aí está a sua punição. É um exemplo a mais que vem confirmar o que se viu muitas vezes em casos semelhantes.


2. — Após uma dissertação sobre outro assunto, o médium absorvido se recolhe alguns instantes; depois, como se despertasse penosamente, assim se exprime, falando a si mesmo:

Ah! ainda um sistema!… Que há de verdadeiro e de falso na existência humana, na Criação, na criatura, no Criador?… A coisa é?… A matéria é mesmo verdade?… A Ciência é uma verdade?… O saber, uma aquisição?… A alma… a alma existe?

O Criador, a Divindade, não é um mito?… Mas, que digo eu?… por que essas blasfêmias multiplicadas?… Por que, em face da matéria, não posso crer, ó meu Deus, não posso ver, sentir, compreender?…

Matéria!… matéria!… mas sim, tudo é matéria… Tudo é matéria!!… e, contudo, a invocação a Deus veio-me à boca!… Por que, então, eu disse: ó meu Deus?… Por que esta palavra, já que tudo é matéria?… Sou eu?… Não é um eco do meu pensamento, que ressoa e se escuta?… Não são as últimas badaladas do sino que eu tocava?

Matéria!… Sim, a matéria existe, eu o sinto!… A matéria existe; eu a toquei!… mas!… nem tudo é matéria e, contudo… contudo tudo foi auscultado, palpado, tocado, analisado, dissecado fibra a fibra, e nada!… Nada senão a carne, a matéria sempre que, desde o instante em que o grande movimento se deteve, também parou!… O movimento para, o ar não chega mais… Mas!… se tudo é matéria, por que ela não mais se põe em movimento, desde que tudo o que existia quando ela se agitava, existe ainda?… E, contudo, ele não existe mais!…

Mas se existo!… nem tudo acabou com o corpo!… Na verdade… estou mesmo morto?… entretanto, esse corrosivo que alimentei, que cuidei com minhas mãos, não me perdoou!… É verdade; estou morto!… Mas esta doença que vi nascer… crescer… tinha uma alma?

Ah! a dúvida! sempre a dúvida!… em resposta a todas as minhas secretas aspirações!… Mas, se sou eu, ó meu Deus, se sou eu… ah! fazei que eu me reconheça!… fazei que vos pressinta!… porque, se sou eu, que longa sucessão de blasfêmias!… que longa negação de vossa sabedoria, de vossa bondade, de vossa justiça!… Que imensa responsabilidade de orgulho assumi sobre minha cabeça, ó meu Deus!… Mas, se ainda tenho um eu, eu que nada queria admitir fora do possível ao toque… Duvidei de vossa sabedoria, ó meu Deus! é justo que eu duvide!… Sim, duvidei; a dúvida me persegue e me castiga.

Oh! é preferível mil mortes à dúvida em que vivo!… Vejo, encontro antigos amigos… e, contudo, todos morreram antes! Méry, meu pobre louco!… mas não seria eu o louco?… o epíteto de louco se adapta à sua personalidade? – Vejamos, então. O que é a loucura?…

A loucura!… A loucura!… decididamente, a loucura é universal!… todos os homens são loucos num grau maior ou menor… mas sua loucura, a dele [referência ao poeta Méry: Uma lembrança de existências passadas], não era sabedoria ao lado de minha própria loucura?… Para ele, os sonhos, as imagens, as aspirações do além… mas, é justiça!… Conhecia eu esse desconhecido, que a mim se apresenta inopinadamente? Não, não, o nada não existe, porque se existisse, esta encarnação de negação, de crimes, de infâmia, não me torturaria assim!… Vejo, mas vejo tarde demais, todo o mal que fiz!… Vendo-o hoje, e reparando-o pouco a pouco, talvez um dia eu seja digno de ver e de fazer o bem!…

Sistemas!… sistemas orgulhosos, produtos de cérebros humanos, eis para onde nos conduzis!… Num, é a divindade; noutro, a divindade material e sensual; noutro ainda, o nada, nada!… Nada, divindade material, divindade espiritual são palavras? Oh! eu peço para ver, meu Deus!… e se eu existo, se vós existis, concedei-me o favor que vos peço; aceitai minha prece, porque vos peço, ó meu Deus, que me façais ver se eu existo, se eu sou!… (Estas últimas palavras foram ditas com uma inflexão dilacerante).


Observação. – Se o Sr. Claudius perseverou até o fim na sua incredulidade, não foram os meios de se esclarecer que lhe faltaram. Como médico, tinha necessariamente o espírito culto, a inteligência desenvolvida, um saber acima do vulgo e, no entanto, isto não lhe bastou. Em suas minuciosas investigações da natureza morta e da natureza viva, não entreviu Deus, não entreviu a alma! Vendo os efeitos, não soube remontar à causa! ou, melhor dizendo, tinha concebido uma causa à sua maneira, e seu orgulho de sábio o impedia de confessar a si mesmo, sobretudo de confessar à face do mundo que podia se ter enganado. Circunstância digna de nota, morreu de um mal orgânico que sabia, por sua própria ciência, ser incurável. Esse mal, que ele tratava, era uma advertência permanente; a dor que lhe causava era uma voz que lhe gritava incessantemente para pensar no futuro. Entretanto, nada pôde triunfar de sua obstinação; fechou os olhos até o último momento. Será que esse homem jamais teria podido tornar-se espírita? Certamente não. Nem fatos, nem raciocínios teriam podido vencer uma opinião preconcebida, e da qual estava decidido a não se desviar. Ele era desses homens que não querem render-se à evidência, porque neles a incredulidade é inata, como a crença em outros. O sentido pelo qual um dia poderão assimilar os princípios espirituais ainda não despontou; são para a espiritualidade quais cegos de nascença para a luz: não a compreendem.

Assim, não basta a inteligência para conduzir pelo caminho da verdade; ela é como o cavalo que nos carrega, e que segue a rota na qual o lançaram. Se esta rota conduz a um atoleiro, ele aí precipita o cavaleiro; mas, ao mesmo tempo, lhe dá os meios de se reerguer.

Tendo o Sr. Claudius morrido voluntariamente como cego espiritual, não é de admirar que não tenha visto a luz imediatamente; que não se reconheça num mundo que não quis estudar; que, morto com a ideia do nada, duvide da própria existência, incerteza pungente que constitui o seu tormento. Caiu no precipício para onde o impeliu o seu corcel. Mas pode levantar-se desta queda, e já parece entrever um clarão que, se o seguir, o conduzirá ao porto. É em seus louváveis esforços que deve ser sustentado pela prece. Quando uma vez tiver gozado dos benefícios da luz espiritual, terá horror às trevas do materialismo; e se um dia voltar à Terra, será com intuições e aspirações muito diversas das que tinha em sua última existência.



Agosto DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS

Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



Agosto

1. Nota. – Nesta sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. Inicialmente o médium se havia ocupado de saúde; depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões, cuja análise damos a seguir. Falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.


2. — Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um pavor que não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer; a criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram de si para si que em breve estariam com a razão… Mas, como se diz, a criança tinha sete fôlegos. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às zombarias. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros rebentos; para um que destruíam, brotavam cem outros.

Primeiro empregaram contra ele as armas de uma outra era, as que outrora eram bem-sucedidas contra as ideias novas, porque essas ideias não passavam de lampejos esparsos, que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância e porque ainda não haviam criado raízes nas massas… hoje é outra coisa, tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se inquieta com as ameaças que amedrontavam as crianças; o diabo, tão temido por nossos ancestrais, já não causa medo: riem dele.

Sim, as armas antigas se gastaram contra a couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte, guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de o prejudicar, seus esforços só serviam para o propagar.

Para lutar vantajosamente contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas; mas o menos não pode sobrepujar o mais.

Não podendo, pois, triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… de lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semearem a desordem, a divisão, a confusão. Porque conseguiram lançar a perturbação em algumas fileiras, cedo demais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram barulho… Não a vedes penetrar em toda parte? nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo no púlpito? Ela trabalha todas as consciências; arrasta os espíritos para novos horizontes; é encontrada em estado de intuição naqueles mesmos que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo, portanto, é uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no globo inteiro; e, depois, as ideias não são levadas nas asas dos ventos? e como atingi-las? Pode-se pegar fardos de mercadorias na alfândega; mas, ideias! elas são inatingíveis.


3. — Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para as acomodar à sua vontade… Pois bem! é o partido pelo qual se decidiram. Disseram a si mesmos: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que se realize completamente, tratemos de a desviar em nosso proveito; façamos de modo que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo confessado será a defesa da doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim a que se propõem; publicações que, à sorrelfa do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de o suplantar. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida obstinadamente, mas da qual sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la diante do que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques? nesses fenômenos que surgem em toda parte como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade, não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente suplanta a geração que se vai… Mais alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando atrás de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas, para deter o impulso do espírito humano que marcha, marcha a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar a eclosão do novo período humanitário… com os apoios que vão levantar-se em favor da nova doutrina e cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores em razão de sua autoridade.


4. — Oh! como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quantas ruínas verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!… será como a aurora afastando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! o século vinte será um século abençoado, porque verá a era nova, anunciada pelo Cristo.


Nota. – Aqui o médium para, dominado por indizível emoção e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, continua:


– Que vos dizia eu, então? – Faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois considerastes a era nova. – É isso.


5. — Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Renunciaram mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são todo-poderosas neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que se obstinou contra a ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à lisonja, ao atrativo do bem-estar material… Prometem pão a quem não o tem, trabalho ao artesão, clientela ao negociante, promoção ao empregado, honras aos ambiciosos se renunciarem às suas crenças; ferem-nos em sua posição, em seus meios de subsistência, em suas afeições, se são indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns seu efeito ordinário. Nesse número encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos, que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os dirige se esconde… Há, também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisto; sua renúncia é apenas aparente; curvam-se, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, os que têm em mais alto grau a verdadeira coragem da fé, afrontam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos Espíritos bons… Alguns, oh!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do céu; ficam, pela forma, ligados à doutrina e, sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que fazem e que pagarão muito caro!


6. — Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, ditosos aqueles sobre os quais se estender a proteção dos Espíritos bons, porque jamais esta foi tão necessária!… Orai pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitem os breves instantes de mora que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo se torne mais pesada sobre eles… Quando virem rebentar a tempestade, mais de um exclamará graça! Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinos? Vossos médiuns não escreveram centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz, e não a aproveitastes; nós vós tínhamos dado um abrigo: por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem, que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido as seduções armadas contra o vosso amor-próprio e a vossa vaidade. Então acreditastes no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabeis, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos?


7. — Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? que seja para oferecer um novo alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não; desiludi-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente; a mediunidade sob todas as formas será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, a bem dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de desmanchar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos, que se julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, se refletem nessas almas sensitivas, como num espelho, e se descobrem por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que se os conheça. Feliz o que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

[Sem nome.]


Observação. – O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento já era anunciado há algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas desta faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve-os muito no momento da Revolução; os calvinistas das Cevenas, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, foram classificados de iluminados; hoje, começa-se a compreender que a visão a distância, independente dos órgãos da visão, pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo o explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero se multiplicaram de tal maneira que já não causam tanta admiração; o que outrora parecia a alguns milagre ou sortilégio, é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se se estanca uma fonte, ele surge por outros caminhos.

Assim, esta faculdade não é nova, mas tende a generalizar-se, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas, também, como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo epidêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deveria produzir no organismo modificações que facilitassem a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Desse modo, é bom precaver-se contra a trapaça que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la, e assegurar-se, por todos os meios possíveis, da boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno, e ver se nada oferecem de suspeito.



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