Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867
Versão para cópiaCapítulo LIII
Julho - Illiers e os espíritas
Julho
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Sob este título, o Journal de Chartres de 26 de maio último trazia a seguinte correspondência:
“Illiers, 20 de maio de 1867.
“Estamos em maio ou no carnaval? Domingo último julguei-me nesta última época. Quando atravessava Illiers, pelas quatro horas da tarde, encontrei-me em frente a um ajuntamento de sessenta ou oitenta garotos, talvez uns cem, seguidos de numerosa multidão, gritando a plenos pulmões, à luz de lampiões: Olha o feiticeiro! Olha o feiticeiro! Olha o cachorro louco! Olha Grezelle! Eles vaiavam um bravo e plácido camponês de olhar esgazeado e ar assustado que teve a sorte de encontrar uma mercearia para lhe servir de refúgio. É que depois dos cantos e da algazarra vinham as injúrias e as pedras voavam, e o pobre-diabo, sem esse asilo, talvez se desse mal.
“Perguntei a um grupo que lá se achava o que aquilo significava. Contaram-me que há algum tempo todas as sextas-feiras havia uma reunião de espíritas na Sorcellerie, comuna de Vieuvicq, às portas de Illiers. O grande Pontífice que presidia a essas reuniões era um pedreiro chamado Grezelle, e era esse infeliz que acabava de se ver tão maltratado. Diziam que há alguns dias aconteceram algumas coisas muito esquisitas. Ele teria visto o diabo, teria evocado almas que lhe haviam revelado coisas pouco lisonjeiras para certas famílias.
“Em breve várias senhoras ficariam loucas e certos homens seguiam nos seus rastros; parece mesmo que o Pontífice abre o caminho; devido a ele uma jovem senhora de Illiers perdeu completamente a cabeça. Ter-lhe-iam dito que, por certas faltas, ela teria que ir para o purgatório. Sexta-feira ela se despedia de todos os parentes e vizinhos, e sábado, depois de haver feito os preparativos para a partida, ia atirar-se no rio. Felizmente estava sendo vigiada e chegaram a tempo de retardar-lhe a viagem.
“Compreende-se que tal acontecimento tenha emocionado a opinião pública. A família dessa senhora tinha perdido a cabeça, e vários membros, armados de bons chicotes, deram uma surra no Pontífice, que teve a felicidade de escapar de suas mãos.
“Ele queria sair da Sorcellerie de Vieuvicq para vir montar o seu sabá em Illiers, no lugar chamado La Folie-Valleran. Diz-se que dois valentes pais de família que lhe serviam de acólitos lhe pediram que não viesse para La Folie, pois é loucura[1] ir para lá. Falavam também que a polícia iria ocupar-se do caso.
“Deixai, então, por conta dos garotos de Illiers. Eles saberão como liquidar a coisa. Há dessas coisas que morrem espancadas pelo ridículo.
“LÉON GAUBERT.”
O mesmo jornal, em seu número de 13 de junho de 1867, traz o que se segue:
Em resposta a uma carta com a assinatura do Sr. Léon Gaubert, publicada em nosso número de 26 de maio último, recebemos a comunicação seguinte, da qual conservamos escrupulosamente a originalidade:
“La Certellerie, 4 de junho de 1867.
“Senhor Redator,
“Em vosso jornal de 26 de maio, dais publicidade a uma carta, na qual o vosso corresponde me desanca, para mostrar quanto fui maltratado em Illiers. Pedreiro e pai de família, tenho direito à reparação, depois de ter sido tão violentamente atacado, e espero de vossa bondade dar a conhecer a verdade, depois de ter deixado propagar o erro.
“É bem verdade, como diz aquela carta, que os meninos da escola e muitas pessoas que eu estimava me perseguem todas as vezes que passo por Illiers. Duas vezes, sobretudo, quase morri a pedradas e cacetadas e atingido por outros objetos que me atiravam, e ainda hoje, se eu fosse a Illiers, onde sou muito conhecido, seria cercado, ameaçado, maltratado. Além dos materiais que chovem, eles enchem o ar de injúrias: louco, feiticeiro, espírita, tais são as doçuras mais ordinárias com que me regalam. Felizmente há somente isto de verdadeiro, porquanto tudo o que o vosso correspondente vos escreve (o texto diz: tudo o que o vosso correspondente acrescenta) é falso e jamais existiu senão na imaginação de pessoas que procuraram amotinar a população contra nós.
“O Sr. Léon Gaubert, que assinou vossa carta, é completamente desconhecido nesta região; dizem-me que é um anônimo, se bem me lembro da palavra. Digo que se a pessoa se oculta, é que ela sente que não se faz o bem; direi, pois, com toda a franqueza ao Sr. Léon Gaubert: Fazei como eu e usai o vosso verdadeiro nome.
“Disse o Sr. Léon Gaubert que uma senhora, por força de excitações e práticas espíritas, enlouqueceu e quis afogar-se. Não sei se realmente ela quis afogar-se; muitas pessoas me dizem que não é verdade, mas mesmo que assim fosse, eu nada tenho com isso. Essa mulher é uma biscateira. Sua reputação aqui e conhecida há muito tempo. Ainda não se falava de Espiritismo e ela já era conhecida aqui, como é agora. Suas irmãs a ajudam a me perseguir. Eu vos declaro que ela jamais se ocupou de Espiritismo, pois seus instintos a levam em direção contrária. Ela jamais assistiu às nossas reuniões e jamais pôs os pés na casa de qualquer espírita da região.
“Por que, então, perguntareis, ela vos odeia, e por que tantos vos odeiam em
Illiers? É um enigma para mim. Só me apercebi de uma coisa: é que muitas pessoas, antes que a primeira cena estourasse, pareciam previamente instruídas, e naquele dia, quando entrei nas ruas de Illiers, notei muita gente às portas e às janelas.
“Sou um operário honesto, senhor. Ganho honestamente o meu pão. O Espiritismo absolutamente não me impede de trabalhar, e se alguém tem o menor reproche sério a me dirigir, que nada tema. Nós temos leis, e, nas circunstâncias em que me encontro, sou o primeiro a pedir que as leis do país sejam bem observadas.
“Quanto a ser espírita, não o escondo: é bem verdade, sou espírita. Meus dois filhos, jovens ativos, ordeiros e prósperos, são ambos médiuns. Tanto um como outro gostam do Espiritismo e, como seu pai, creem, oram, trabalham, melhoram-se e procuram elevar-se. Mas, que mal há nisto? Quando a cólera me diz que me vingue, o Espiritismo me barra e me diz: Todos os homens são irmãos; faze o bem aos que te fazem mal, e eu me sinto mais calmo, mais forte.
“O cura me repele do confessionário porque sou espírita. Se eu fosse a ele carregado de todos os crimes possíveis, ele me absolveria; mas espírita, crente em Deus e fazendo o bem segundo as minhas possibilidades, não encontro graça aos seus olhos. Muitas pessoas de Illiers não procedem de outro modo, e aquele dos nossos inimigos que a esta hora me joga pedra porque sou espírita faria mais do que absolver-me no dia em que me encontrasse numa orgia. Aplaudir-me-ia”
OBSERVAÇÃO: Este último parágrafo, que estava na carta original, foi suprimido pelo jornal.
“Para agradar, eu não poderia dizer preto quando vejo branco. Eu tenho convicções, e o Espiritismo é para mim a mais bela das verdades. O que quereis? Quereis forçar-me a dizer o contrário do que penso, de tudo o que vejo, e quando se fala tanto em liberdade, há que suprimi-la na prática?
“Vosso correspondente diz que eu queria deixar a Sorcellerie para ir estabelecer meu sabá em Folie-Valleron. Ao ver o Sr. Léon Gaubert inventar tantas palavras desagradáveis, na verdade dir-se-ia que ele está possuído da raiva a ponto de dar os mais desajeitados golpes de troalha na cabeça de todo mundo. O Sr. Valleran é um dos proprietários mais respeitáveis da região. Fazendo uma construção magnífica, ele dá oportunidade para muitos operários ganharem dinheiro por um trabalho honesto e lucrativo. Tanto pior para quem ficasse vexado por isso e não o imitasse senão aos recuos.
“Tende a bondade, senhor, de levar minha carta ao conhecimento de vossos leitores, a fim de esclarecer, como é justo, as pessoas que a primeira carta por vós publicada induziu em erro.
“Aceitai, etc.
“GREZELLE.”
O redator do jornal diz que preserva escrupulosamente a originalidade da carta. Sem dúvida ele se refere à forma do estilo, que num pedreiro de aldeia não é a de um literato. É provável que se esse pedreiro tivesse escrito contra o Espiritismo num estilo ainda mais incorreto, não o teriam achado ridículo. Mas se ele queria conservar tão escrupulosamente a originalidade da carta, por que lhe suprimir um parágrafo? Em caso de inexatidão, a responsabilidade cairia sobre o seu autor. Para estar rigorosamente certo, o jornal deveria ter acrescentado que a princípio se tinha recusado a publicar essa carta e que não cedeu senão ante a iminência de perseguição judiciária, cujas consequências eram inevitáveis, levando-se em conta que se tratava de um homem estimado, atacado pelo próprio jornal em sua honra e sua consideração.
O autor da primeira carta sem dúvida pensou que a adulteração burlesca dos fatos não seria bastante para lançar o ridículo sobre os espíritas. Acrescentou uma grossa malícia, transformando o nome da localidade, que é la Certellerie, no de la Sorcellerie (feitiçaria). Talvez seja muito espirituoso para as pessoas que gostam de piadas de mau gosto, mas não é uma piada engraçada nem elegante; este gênero de ridículo jamais matou coisa alguma.
É preciso considerar esses fatos como lamentáveis? Sem dúvida o são para os que foram suas vítimas, mas não para a doutrina, à qual só podem beneficiar.
De duas uma: ou as pessoas que se reúnem nessa localidade se entregam a uma comédia indigna, ou são criaturas respeitáveis, sinceramente espíritas. No primeiro caso, é prestar um grande serviço à doutrina desmascarar os que dela abusam, ou que misturam seu nome a práticas ridículas. Os espíritas sinceros não podem senão aplaudir tudo o que tende a desembaraçar o Espiritismo dos parasitas de má-fé, seja qual for a forma pela qual se apresentem e que jamais passaram de pelotiqueiros e charlatães. No segundo caso, ele não pode senão ganhar com a repercussão que lhe dá uma perseguição apoiada em fatos controvertidos, porque ela excita as pessoas a se inquirir o que ele é. Ora, o Espiritismo só pede para ser conhecido, perfeitamente convicto que um exame sério é o melhor meio de destruir as prevenções suscitadas pela malevolência dos que não o conhecem. Assim, não ficaríamos surpresos se essa empresa temerária tiver um resultado muito diferente do que aquele que esperavam os que a provocaram e se ela não for a causa de uma recrudescência no número dos adeptos da localidade. Assim tem sido por toda parte onde uma oposição um pouco violenta se manifestou.
Que fazer então? perguntar-se-ão os adversários. Se os deixamos agir, o Espiritismo avança; se agimos contra, ele avança com mais força. ─ A resposta é muito simples: reconhecer que aquilo que não podemos impedir está na vontade de Deus, e o que há de melhor a fazer é franquear-lhe o caminho.
Dois de nossos correspondentes, estranhos um ao outro, sobre estes fatos nos transmitiram informações precisas e perfeitamente concordantes. O Sr. Quômes d’Arras, um deles, homem de ciência e distinto escritor, ao primeiro relato desses acontecimentos noticiados pelo jornal de Chartres, ignorando a causa do conflito, não quis apressar-se em tomar a defesa dos fatos nem das pessoas, que abandonava à severidade da crítica, se as merecessem; mas tomou a do Espiritismo. Numa carta cheia de moderação e de conveniência, dirigida ao jornal, tratou de demonstrar que se os fatos fossem como eram descritos pelo Sr. Léon Gaubert, o Espiritismo nada tinha a ver com nisso, mesmo que tivessem usado o seu nome. Qualquer pessoa imparcial teria olhado como um dever dar lugar a uma retificação tão legítima. Assim não aconteceu, e as reiteradas instâncias apenas conduziram a uma recusa formal. Isto se passava antes da carta de Grezelle que, como se viu, devia ter a mesma sorte. Se o jornal temia levantar em suas colunas a questão do Espiritismo, não devia ter admitido a carta do Sr. Gaubert. Reservar-se o direito de atacar e recusar o de defesa é um meio fácil, mas muito pouco lógico, de ter razão.
A fim tomar conhecimento pessoalmente do estado das coisas, o Sr. Quômes d’Arras foi àqueles lugares. Teve a bondade de nos enviar um relato minucioso de sua visita. Lamentamos que a extensão desse documento não nos permita publicá-lo neste número, onde tudo o que nele devia estar não encontrou espaço. Resumimos suas principais consequências. Eis o que ele colheu em Illiers, junto a diversas pessoas honradas, estranhas ao Espiritismo.
Grezelle é um excelente pedreiro, proprietário em La Certellerie. Longe de desarrazoar, todos os que o conhecem não podem senão fazer justiça ao seu bomsenso, a seus hábitos de ordem, de trabalho, de regularidade. É um bom pai de família; todo o seu erro é inquietar os materialistas e os indiferentes da região por suas afirmações enérgicas, multiplicadas, sobre a alma, sobre suas manifestações após a morte e sobre o nossos destinos futuros. Ele está longe de ser, na região, o único partidário do Espiritismo, que aí conta, sobretudo em Brou, com numerosos e dedicados adeptos.
Quanto às mulheres que, segundo le Journal de Chartres, o Espiritismo teria enlouquecido ou arrastado a atos culposos, é uma pura invenção. O caso a que ele faz alusão é o de uma vendedora muito conhecida em Illiers, dada à bebida, e cuja razão sempre foi fraca. Ela se refere a Grezelle e fala mal dele, não se sabe por que razão. Como as ideias espíritas circulam na região, delas deve ter ouvido falar e as mistura com suas próprias incoerências, mas dele jamais se ocupou seriamente. Quanto a ter querido afogar-se, tal pensamento nada teria de impossível, dado o seu estado habitual. Mas o fato parece invenção.
De lá o Sr. Quômes d’Arras foi a La Certellerie, cinco quilômetros além de Illiers. “Lá chegando, diz ele, procurei a casa da Sra. Jacquet, cujo nome me haviam dito em Illiers. Ela estava no jardim com seu filho, em meio às flores, fazendo tricô. Assim que soube o motivo de minha viagem, conduziu-me à sua casa, onde logo se juntaram a sua empregada, moça de vinte anos, médium falante e espírita fervorosa, Grezelle e seu filho mais velho, de vinte anos. Não foi preciso conversar muito com essas pessoas, para perceber que não se tratava de espíritos agitados, tristes, singulares, exaltados ou fanáticos, mas de pessoas sérias, razoáveis, benevolentes, de uma sociabilidade perfeita; franqueza, clareza, simplicidade, amor ao bem, tais eram os traços evidentes que se pintavam em seu exterior, em suas palavras e, confessarei para minha confusão, eu não esperava tanto.
“Grezelle tem quarenta e cinco anos, é casado e tem dois filhos; ambos são médiuns escreventes, como o pai. Ele contou-me calmamente os sofrimentos que suportava e os ardis de que era objeto. A Sra. Jacquet também me disse que na região muitas pessoas alimentavam contra eles os piores sentimentos porque eles são espíritas. Aos meus olhos pareceu muito provável, e na conversa adquiri a mais completa certeza de que essas diversas famílias são tranquilas, benevolentes para com todos, incapazes de fazer mal a alguém, sinceramente apegadas a todos os seus deveres; dando graças ao céu, admirei a firmeza, a força de caráter, a solidez das convicções, o profundo apego ao bem dessas excelentes criaturas que, no campo, sem grande instrução, sem encorajamento e sem recursos visíveis, cercadas de inimigos e de trocistas, mantêm alto, há quatro anos, os seus princípios, a sua fé, as suas esperanças; para defender sua bandeira contra os risos, têm uma coragem que infelizmente muitas vezes falta aos nossos sábios das cidades, e mesmo a muitos espíritas adiantados.
“Grezelle, o único que foi realmente maltratado, embora seja espírita há três anos, tem todo o fervor de um neófito, todo o zelo de um apóstolo e ainda toda a atividade exuberante de uma natureza ativa, enérgica e empreendedora. Devido aos seus negócios, está continuamente em contato com a gente da região e, cheio do Espiritismo, amando-o mais que a vida, não pode impedir-se de falar nele, de exaltálo, de mostrar sua beleza, sua grandeza, suas maravilhas. De uma palavra realmente convincente e forte, produz no meio dos indiferentes que o cercam o efeito de fogo na água. Como não leva em conta o tempo nem as circunstâncias contrárias, poderse-ia dizer que peca um pouco por excesso de zelo, e talvez também por falta de prudência.”
No dia seguinte, à noite, o Sr. Quômes assistiu, na casa de Grezelle, a uma sessão espírita composta de dezoito a vinte pessoas, entre as quais se achava o prefeito, notabilidades do lugar, pessoas de notória honorabilidade, que certamente não teriam ido a uma assembleia de loucos e de visionários. Tudo aí se passou na melhor ordem, com o mais perfeito recolhimento e sem o menor vestígio de práticas ridículas da magia e da feitiçaria. Começam pela prece, durante a qual todos se ajoelharam. Às preces tiradas do Evangelho segundo o Espiritismo, juntam a prece da noite e outras, tiradas do ritual ordinário da Igreja. “Nossos detratores, sobretudo os eclesiásticos, acrescenta o Sr. Quômes, talvez não tivessem notado sem embaraço e sem espanto o fervor dessas almas sinceras e sua atitude recolhida, denotando um profundo sentimento religioso. Havia seis médiuns, dos quais quatro homens e duas mulheres, entre as quais a empregada da Sra. Jacquet, médium falante e escrevente. As comunicações em geral são fracas de estilo; as ideias aí são diluídas e sem encadeamento; algumas manias, mesmo, aparecem no modo de comunicação. Mas, tudo somado, nada há de mau, de perigoso, e tudo quanto se obtém edifica, encoraja, fortalece, leva o espírito ao bem ou o eleva para Deus.”
O Sr. Quômes encontrou nos espíritas a sinceridade e um devotamento a toda prova, mas também uma falta de experiência que ele procurou suprir com seus conselhos. O fato essencial que constatou é que nada em sua maneira de agir justifica o quadro ridículo que o Journal de Chartres fez dele. Os atos selvagens que se passaram em Illiers foram evidentemente suscitados pela malevolência e parecem ter sido premeditados.
De nossa parte, sentimo-nos feliz que assim seja, e felicitamos os nossos irmãos do cantão de Illiers pelos excelentes sentimentos que os animam.
Como temos dito, as perseguições são o prêmio inevitável de todas as grandes ideias novas, e todas têm tido os seus mártires. Os que as suportam um dia serão felizes por terem sofrido pelo triunfo da verdade. Que perseverem, portanto, sem desanimar e sem enfraquecer, e serão sustentados pelos bons Espíritos que os observam. Mas, também, que jamais renunciem à prudência que as circunstâncias exigem, e evitem com cuidado tudo o que possa dar oportunidade aos nossos adversários. É no interesse da Doutrina.
[1] Aqui há um trocadilho, no original. Loucura, em francês, é folie.
“Illiers, 20 de maio de 1867.
“Estamos em maio ou no carnaval? Domingo último julguei-me nesta última época. Quando atravessava Illiers, pelas quatro horas da tarde, encontrei-me em frente a um ajuntamento de sessenta ou oitenta garotos, talvez uns cem, seguidos de numerosa multidão, gritando a plenos pulmões, à luz de lampiões: Olha o feiticeiro! Olha o feiticeiro! Olha o cachorro louco! Olha Grezelle! Eles vaiavam um bravo e plácido camponês de olhar esgazeado e ar assustado que teve a sorte de encontrar uma mercearia para lhe servir de refúgio. É que depois dos cantos e da algazarra vinham as injúrias e as pedras voavam, e o pobre-diabo, sem esse asilo, talvez se desse mal.
“Perguntei a um grupo que lá se achava o que aquilo significava. Contaram-me que há algum tempo todas as sextas-feiras havia uma reunião de espíritas na Sorcellerie, comuna de Vieuvicq, às portas de Illiers. O grande Pontífice que presidia a essas reuniões era um pedreiro chamado Grezelle, e era esse infeliz que acabava de se ver tão maltratado. Diziam que há alguns dias aconteceram algumas coisas muito esquisitas. Ele teria visto o diabo, teria evocado almas que lhe haviam revelado coisas pouco lisonjeiras para certas famílias.
“Em breve várias senhoras ficariam loucas e certos homens seguiam nos seus rastros; parece mesmo que o Pontífice abre o caminho; devido a ele uma jovem senhora de Illiers perdeu completamente a cabeça. Ter-lhe-iam dito que, por certas faltas, ela teria que ir para o purgatório. Sexta-feira ela se despedia de todos os parentes e vizinhos, e sábado, depois de haver feito os preparativos para a partida, ia atirar-se no rio. Felizmente estava sendo vigiada e chegaram a tempo de retardar-lhe a viagem.
“Compreende-se que tal acontecimento tenha emocionado a opinião pública. A família dessa senhora tinha perdido a cabeça, e vários membros, armados de bons chicotes, deram uma surra no Pontífice, que teve a felicidade de escapar de suas mãos.
“Ele queria sair da Sorcellerie de Vieuvicq para vir montar o seu sabá em Illiers, no lugar chamado La Folie-Valleran. Diz-se que dois valentes pais de família que lhe serviam de acólitos lhe pediram que não viesse para La Folie, pois é loucura[1] ir para lá. Falavam também que a polícia iria ocupar-se do caso.
“Deixai, então, por conta dos garotos de Illiers. Eles saberão como liquidar a coisa. Há dessas coisas que morrem espancadas pelo ridículo.
“LÉON GAUBERT.”
O mesmo jornal, em seu número de 13 de junho de 1867, traz o que se segue:
Em resposta a uma carta com a assinatura do Sr. Léon Gaubert, publicada em nosso número de 26 de maio último, recebemos a comunicação seguinte, da qual conservamos escrupulosamente a originalidade:
“La Certellerie, 4 de junho de 1867.
“Senhor Redator,
“Em vosso jornal de 26 de maio, dais publicidade a uma carta, na qual o vosso corresponde me desanca, para mostrar quanto fui maltratado em Illiers. Pedreiro e pai de família, tenho direito à reparação, depois de ter sido tão violentamente atacado, e espero de vossa bondade dar a conhecer a verdade, depois de ter deixado propagar o erro.
“É bem verdade, como diz aquela carta, que os meninos da escola e muitas pessoas que eu estimava me perseguem todas as vezes que passo por Illiers. Duas vezes, sobretudo, quase morri a pedradas e cacetadas e atingido por outros objetos que me atiravam, e ainda hoje, se eu fosse a Illiers, onde sou muito conhecido, seria cercado, ameaçado, maltratado. Além dos materiais que chovem, eles enchem o ar de injúrias: louco, feiticeiro, espírita, tais são as doçuras mais ordinárias com que me regalam. Felizmente há somente isto de verdadeiro, porquanto tudo o que o vosso correspondente vos escreve (o texto diz: tudo o que o vosso correspondente acrescenta) é falso e jamais existiu senão na imaginação de pessoas que procuraram amotinar a população contra nós.
“O Sr. Léon Gaubert, que assinou vossa carta, é completamente desconhecido nesta região; dizem-me que é um anônimo, se bem me lembro da palavra. Digo que se a pessoa se oculta, é que ela sente que não se faz o bem; direi, pois, com toda a franqueza ao Sr. Léon Gaubert: Fazei como eu e usai o vosso verdadeiro nome.
“Disse o Sr. Léon Gaubert que uma senhora, por força de excitações e práticas espíritas, enlouqueceu e quis afogar-se. Não sei se realmente ela quis afogar-se; muitas pessoas me dizem que não é verdade, mas mesmo que assim fosse, eu nada tenho com isso. Essa mulher é uma biscateira. Sua reputação aqui e conhecida há muito tempo. Ainda não se falava de Espiritismo e ela já era conhecida aqui, como é agora. Suas irmãs a ajudam a me perseguir. Eu vos declaro que ela jamais se ocupou de Espiritismo, pois seus instintos a levam em direção contrária. Ela jamais assistiu às nossas reuniões e jamais pôs os pés na casa de qualquer espírita da região.
“Por que, então, perguntareis, ela vos odeia, e por que tantos vos odeiam em
Illiers? É um enigma para mim. Só me apercebi de uma coisa: é que muitas pessoas, antes que a primeira cena estourasse, pareciam previamente instruídas, e naquele dia, quando entrei nas ruas de Illiers, notei muita gente às portas e às janelas.
“Sou um operário honesto, senhor. Ganho honestamente o meu pão. O Espiritismo absolutamente não me impede de trabalhar, e se alguém tem o menor reproche sério a me dirigir, que nada tema. Nós temos leis, e, nas circunstâncias em que me encontro, sou o primeiro a pedir que as leis do país sejam bem observadas.
“Quanto a ser espírita, não o escondo: é bem verdade, sou espírita. Meus dois filhos, jovens ativos, ordeiros e prósperos, são ambos médiuns. Tanto um como outro gostam do Espiritismo e, como seu pai, creem, oram, trabalham, melhoram-se e procuram elevar-se. Mas, que mal há nisto? Quando a cólera me diz que me vingue, o Espiritismo me barra e me diz: Todos os homens são irmãos; faze o bem aos que te fazem mal, e eu me sinto mais calmo, mais forte.
“O cura me repele do confessionário porque sou espírita. Se eu fosse a ele carregado de todos os crimes possíveis, ele me absolveria; mas espírita, crente em Deus e fazendo o bem segundo as minhas possibilidades, não encontro graça aos seus olhos. Muitas pessoas de Illiers não procedem de outro modo, e aquele dos nossos inimigos que a esta hora me joga pedra porque sou espírita faria mais do que absolver-me no dia em que me encontrasse numa orgia. Aplaudir-me-ia”
OBSERVAÇÃO: Este último parágrafo, que estava na carta original, foi suprimido pelo jornal.
“Para agradar, eu não poderia dizer preto quando vejo branco. Eu tenho convicções, e o Espiritismo é para mim a mais bela das verdades. O que quereis? Quereis forçar-me a dizer o contrário do que penso, de tudo o que vejo, e quando se fala tanto em liberdade, há que suprimi-la na prática?
“Vosso correspondente diz que eu queria deixar a Sorcellerie para ir estabelecer meu sabá em Folie-Valleron. Ao ver o Sr. Léon Gaubert inventar tantas palavras desagradáveis, na verdade dir-se-ia que ele está possuído da raiva a ponto de dar os mais desajeitados golpes de troalha na cabeça de todo mundo. O Sr. Valleran é um dos proprietários mais respeitáveis da região. Fazendo uma construção magnífica, ele dá oportunidade para muitos operários ganharem dinheiro por um trabalho honesto e lucrativo. Tanto pior para quem ficasse vexado por isso e não o imitasse senão aos recuos.
“Tende a bondade, senhor, de levar minha carta ao conhecimento de vossos leitores, a fim de esclarecer, como é justo, as pessoas que a primeira carta por vós publicada induziu em erro.
“Aceitai, etc.
“GREZELLE.”
O redator do jornal diz que preserva escrupulosamente a originalidade da carta. Sem dúvida ele se refere à forma do estilo, que num pedreiro de aldeia não é a de um literato. É provável que se esse pedreiro tivesse escrito contra o Espiritismo num estilo ainda mais incorreto, não o teriam achado ridículo. Mas se ele queria conservar tão escrupulosamente a originalidade da carta, por que lhe suprimir um parágrafo? Em caso de inexatidão, a responsabilidade cairia sobre o seu autor. Para estar rigorosamente certo, o jornal deveria ter acrescentado que a princípio se tinha recusado a publicar essa carta e que não cedeu senão ante a iminência de perseguição judiciária, cujas consequências eram inevitáveis, levando-se em conta que se tratava de um homem estimado, atacado pelo próprio jornal em sua honra e sua consideração.
O autor da primeira carta sem dúvida pensou que a adulteração burlesca dos fatos não seria bastante para lançar o ridículo sobre os espíritas. Acrescentou uma grossa malícia, transformando o nome da localidade, que é la Certellerie, no de la Sorcellerie (feitiçaria). Talvez seja muito espirituoso para as pessoas que gostam de piadas de mau gosto, mas não é uma piada engraçada nem elegante; este gênero de ridículo jamais matou coisa alguma.
É preciso considerar esses fatos como lamentáveis? Sem dúvida o são para os que foram suas vítimas, mas não para a doutrina, à qual só podem beneficiar.
De duas uma: ou as pessoas que se reúnem nessa localidade se entregam a uma comédia indigna, ou são criaturas respeitáveis, sinceramente espíritas. No primeiro caso, é prestar um grande serviço à doutrina desmascarar os que dela abusam, ou que misturam seu nome a práticas ridículas. Os espíritas sinceros não podem senão aplaudir tudo o que tende a desembaraçar o Espiritismo dos parasitas de má-fé, seja qual for a forma pela qual se apresentem e que jamais passaram de pelotiqueiros e charlatães. No segundo caso, ele não pode senão ganhar com a repercussão que lhe dá uma perseguição apoiada em fatos controvertidos, porque ela excita as pessoas a se inquirir o que ele é. Ora, o Espiritismo só pede para ser conhecido, perfeitamente convicto que um exame sério é o melhor meio de destruir as prevenções suscitadas pela malevolência dos que não o conhecem. Assim, não ficaríamos surpresos se essa empresa temerária tiver um resultado muito diferente do que aquele que esperavam os que a provocaram e se ela não for a causa de uma recrudescência no número dos adeptos da localidade. Assim tem sido por toda parte onde uma oposição um pouco violenta se manifestou.
Que fazer então? perguntar-se-ão os adversários. Se os deixamos agir, o Espiritismo avança; se agimos contra, ele avança com mais força. ─ A resposta é muito simples: reconhecer que aquilo que não podemos impedir está na vontade de Deus, e o que há de melhor a fazer é franquear-lhe o caminho.
Dois de nossos correspondentes, estranhos um ao outro, sobre estes fatos nos transmitiram informações precisas e perfeitamente concordantes. O Sr. Quômes d’Arras, um deles, homem de ciência e distinto escritor, ao primeiro relato desses acontecimentos noticiados pelo jornal de Chartres, ignorando a causa do conflito, não quis apressar-se em tomar a defesa dos fatos nem das pessoas, que abandonava à severidade da crítica, se as merecessem; mas tomou a do Espiritismo. Numa carta cheia de moderação e de conveniência, dirigida ao jornal, tratou de demonstrar que se os fatos fossem como eram descritos pelo Sr. Léon Gaubert, o Espiritismo nada tinha a ver com nisso, mesmo que tivessem usado o seu nome. Qualquer pessoa imparcial teria olhado como um dever dar lugar a uma retificação tão legítima. Assim não aconteceu, e as reiteradas instâncias apenas conduziram a uma recusa formal. Isto se passava antes da carta de Grezelle que, como se viu, devia ter a mesma sorte. Se o jornal temia levantar em suas colunas a questão do Espiritismo, não devia ter admitido a carta do Sr. Gaubert. Reservar-se o direito de atacar e recusar o de defesa é um meio fácil, mas muito pouco lógico, de ter razão.
A fim tomar conhecimento pessoalmente do estado das coisas, o Sr. Quômes d’Arras foi àqueles lugares. Teve a bondade de nos enviar um relato minucioso de sua visita. Lamentamos que a extensão desse documento não nos permita publicá-lo neste número, onde tudo o que nele devia estar não encontrou espaço. Resumimos suas principais consequências. Eis o que ele colheu em Illiers, junto a diversas pessoas honradas, estranhas ao Espiritismo.
Grezelle é um excelente pedreiro, proprietário em La Certellerie. Longe de desarrazoar, todos os que o conhecem não podem senão fazer justiça ao seu bomsenso, a seus hábitos de ordem, de trabalho, de regularidade. É um bom pai de família; todo o seu erro é inquietar os materialistas e os indiferentes da região por suas afirmações enérgicas, multiplicadas, sobre a alma, sobre suas manifestações após a morte e sobre o nossos destinos futuros. Ele está longe de ser, na região, o único partidário do Espiritismo, que aí conta, sobretudo em Brou, com numerosos e dedicados adeptos.
Quanto às mulheres que, segundo le Journal de Chartres, o Espiritismo teria enlouquecido ou arrastado a atos culposos, é uma pura invenção. O caso a que ele faz alusão é o de uma vendedora muito conhecida em Illiers, dada à bebida, e cuja razão sempre foi fraca. Ela se refere a Grezelle e fala mal dele, não se sabe por que razão. Como as ideias espíritas circulam na região, delas deve ter ouvido falar e as mistura com suas próprias incoerências, mas dele jamais se ocupou seriamente. Quanto a ter querido afogar-se, tal pensamento nada teria de impossível, dado o seu estado habitual. Mas o fato parece invenção.
De lá o Sr. Quômes d’Arras foi a La Certellerie, cinco quilômetros além de Illiers. “Lá chegando, diz ele, procurei a casa da Sra. Jacquet, cujo nome me haviam dito em Illiers. Ela estava no jardim com seu filho, em meio às flores, fazendo tricô. Assim que soube o motivo de minha viagem, conduziu-me à sua casa, onde logo se juntaram a sua empregada, moça de vinte anos, médium falante e espírita fervorosa, Grezelle e seu filho mais velho, de vinte anos. Não foi preciso conversar muito com essas pessoas, para perceber que não se tratava de espíritos agitados, tristes, singulares, exaltados ou fanáticos, mas de pessoas sérias, razoáveis, benevolentes, de uma sociabilidade perfeita; franqueza, clareza, simplicidade, amor ao bem, tais eram os traços evidentes que se pintavam em seu exterior, em suas palavras e, confessarei para minha confusão, eu não esperava tanto.
“Grezelle tem quarenta e cinco anos, é casado e tem dois filhos; ambos são médiuns escreventes, como o pai. Ele contou-me calmamente os sofrimentos que suportava e os ardis de que era objeto. A Sra. Jacquet também me disse que na região muitas pessoas alimentavam contra eles os piores sentimentos porque eles são espíritas. Aos meus olhos pareceu muito provável, e na conversa adquiri a mais completa certeza de que essas diversas famílias são tranquilas, benevolentes para com todos, incapazes de fazer mal a alguém, sinceramente apegadas a todos os seus deveres; dando graças ao céu, admirei a firmeza, a força de caráter, a solidez das convicções, o profundo apego ao bem dessas excelentes criaturas que, no campo, sem grande instrução, sem encorajamento e sem recursos visíveis, cercadas de inimigos e de trocistas, mantêm alto, há quatro anos, os seus princípios, a sua fé, as suas esperanças; para defender sua bandeira contra os risos, têm uma coragem que infelizmente muitas vezes falta aos nossos sábios das cidades, e mesmo a muitos espíritas adiantados.
“Grezelle, o único que foi realmente maltratado, embora seja espírita há três anos, tem todo o fervor de um neófito, todo o zelo de um apóstolo e ainda toda a atividade exuberante de uma natureza ativa, enérgica e empreendedora. Devido aos seus negócios, está continuamente em contato com a gente da região e, cheio do Espiritismo, amando-o mais que a vida, não pode impedir-se de falar nele, de exaltálo, de mostrar sua beleza, sua grandeza, suas maravilhas. De uma palavra realmente convincente e forte, produz no meio dos indiferentes que o cercam o efeito de fogo na água. Como não leva em conta o tempo nem as circunstâncias contrárias, poderse-ia dizer que peca um pouco por excesso de zelo, e talvez também por falta de prudência.”
No dia seguinte, à noite, o Sr. Quômes assistiu, na casa de Grezelle, a uma sessão espírita composta de dezoito a vinte pessoas, entre as quais se achava o prefeito, notabilidades do lugar, pessoas de notória honorabilidade, que certamente não teriam ido a uma assembleia de loucos e de visionários. Tudo aí se passou na melhor ordem, com o mais perfeito recolhimento e sem o menor vestígio de práticas ridículas da magia e da feitiçaria. Começam pela prece, durante a qual todos se ajoelharam. Às preces tiradas do Evangelho segundo o Espiritismo, juntam a prece da noite e outras, tiradas do ritual ordinário da Igreja. “Nossos detratores, sobretudo os eclesiásticos, acrescenta o Sr. Quômes, talvez não tivessem notado sem embaraço e sem espanto o fervor dessas almas sinceras e sua atitude recolhida, denotando um profundo sentimento religioso. Havia seis médiuns, dos quais quatro homens e duas mulheres, entre as quais a empregada da Sra. Jacquet, médium falante e escrevente. As comunicações em geral são fracas de estilo; as ideias aí são diluídas e sem encadeamento; algumas manias, mesmo, aparecem no modo de comunicação. Mas, tudo somado, nada há de mau, de perigoso, e tudo quanto se obtém edifica, encoraja, fortalece, leva o espírito ao bem ou o eleva para Deus.”
O Sr. Quômes encontrou nos espíritas a sinceridade e um devotamento a toda prova, mas também uma falta de experiência que ele procurou suprir com seus conselhos. O fato essencial que constatou é que nada em sua maneira de agir justifica o quadro ridículo que o Journal de Chartres fez dele. Os atos selvagens que se passaram em Illiers foram evidentemente suscitados pela malevolência e parecem ter sido premeditados.
De nossa parte, sentimo-nos feliz que assim seja, e felicitamos os nossos irmãos do cantão de Illiers pelos excelentes sentimentos que os animam.
Como temos dito, as perseguições são o prêmio inevitável de todas as grandes ideias novas, e todas têm tido os seus mártires. Os que as suportam um dia serão felizes por terem sofrido pelo triunfo da verdade. Que perseverem, portanto, sem desanimar e sem enfraquecer, e serão sustentados pelos bons Espíritos que os observam. Mas, também, que jamais renunciem à prudência que as circunstâncias exigem, e evitem com cuidado tudo o que possa dar oportunidade aos nossos adversários. É no interesse da Doutrina.
[1] Aqui há um trocadilho, no original. Loucura, em francês, é folie.