Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867
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Fevereiro - As três filhas da bíblia
Fevereiro
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As três filhas da bíblia
Sob este titulo, o Sr. Hippolyte Rodrigues publicou uma obra, na qual prevê a fusão das três grandes religiões saídas da Bíblia. Um dos escritores do jornal le Pays faz a respeito as reflexões seguintes, no número de 10 de dezembro de 1866:
“Quais são as três filhas da Bíblia? A primeira é judia, a segunda é católica, a terceira é maometana.
“Compreende-se logo que se trata de um livro sério e que a obra do Sr. Hippolyte Rodrigues interessa especialmente os espíritos sérios, que se comprazem nas meditações morais e filosóficas sobre o destino humano.
“O autor crê numa próxima fusão das três grandes religiões, que chama as três filhas da Bíblia, e trabalha para conduzir a este resultado, no qual vê um progresso imenso. E desta fusão que sairá a religião nova, que ele considera como devendo ser a religião definitiva da humanidade.
“Não quero aqui entabular com o Sr. Hippolyte Rodrigues uma polêmica inoportuna sobre a questão religiosa, que se agita desde tantos anos, no fundo das consciências e nas entranhas da sociedade. Permitir-me-ei, entretanto, uma reflexão. Até hoje não há senão a fé que tenha fundado e mantido as religiões, por esta razão suprema que, quando se raciocina, não se crê mais, e que quando um povo, uma época cessou de crer, em breve se vê desmoronar-se a religião existente, não se vê surgir uma religião nova.”
A. de Cesena.
Essa tendência, que se generaliza, de prever a unificação dos cultos, como tudo o que se liga à fusão dos povos, ao nivelamento das barreiras que os separam moralmente e comercialmente, é também um dos sinais característicos dos tempos. Não julgaremos a obra do Sr. Rodrigues, por quais circunstancias poderá ser atingido o resultado que ele espera, e que considera, a justo titulo, como um progresso. Queremos apenas apresentar algumas observações sobre o artigo acima.
O autor comete um grande erro quando diz que “quando se raciocina não se crê mais” Nós dizemos, ao contrário, que quando se raciocina sua crença, crê-se mais firmemente, porque se compreende; é em virtude deste principio que dissemos: Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.
O erro da parte das religiões é ter erigido um dogma absoluto o princípio da fé cega, e ter, em favor deste princípio, que anula a ação da inteligência, feito aceitar, durante algum tempo, crenças que os ulteriores progressos da ciência vieram contradizer. Disto resultou, em grande número de pessoas, essa prevenção que qualquer crença religiosa não pode suportar o livre exame, confundindo, numa reprovação geral, o que não passa de casos particulares. Esta maneira de julgar as coisas não é mais racional do que se se condenasse todo um poema, porque encerra alguns versos incorretos, mas é mais cômoda para os que em nada querem crer porque, rejeitando tudo se julgam livres para nada examinar.
O autor comete um outro erro capital quando diz: “quando um povo, uma época cessou de crer, em breve se vê desmoronar-se a religião existente, não se vê surgir uma religião nova.” Onde viu ele na história, um povo, uma época sem religião?
A maior parte das religiões surgiram em tempos remotos, em que os conhecimentos científicos eram muito limitados ou nulos. Erigiram em crença noções erradas, que só o tempo podia retificar. Infelizmente todas se fundaram no princípio da imutabilidade, e como quase todas confundiram, num mesmo código, a lei civil e a lei religiosa, disso resultou que, num dado momento, tendo avançado o espírito humano, ao passo que as religiões ficaram estacionárias, estas não mais se encontraram à altura das ideias novas. Então caem pela força das coisas, como caem as leis, os costumes sociais, os sistemas políticos que não podem corresponder às necessidades novas. Mas como as crenças religiosas são instintivas no homem e constituem, para o coração e para o espírito uma necessidade tão imperiosa quanto a legislação civil para a ordem social, não se anulam: transformam-se.
A transição jamais se opera de maneira brusca, mas pela mistura temporária de ideias antigas com ideias novas; é, a princípio uma fé mista, que participa de umas e outras; pouco a pouco a velha crença se extingue, a nova cresce, até que a substituição seja completa. Por vezes a transformação é apenas parcial; então são seitas que se separam da religião mãe, modificando pontas de detalhe. Foi assim que o Cristianismo sucedeu ao paganismo, que o Islamismo sucedeu ao Fetichismo árabe, que o Protestantismo, a religião grega se separaram do Catolicismo. Por toda a parte vêem-se os povos não deixar uma crença senão para seguir outra, adequada ao seu adiantamento moral e intelectual: mas em parte alguma há solução de continuidade. E verdade que hoje se vê a incredulidade absoluta erigida em doutrina e professada por algumas seitas filosóficas. Mas seus representantes, ínfima minoria na população inteligente, cometem o erro de se julgarem todo um povo, toda uma época e, porque não querem mais religião, imaginam que sua opinião pessoal é o termo dos tempos religiosos, quando não passa de transição parcial a outra ordem de ideias.
“Quais são as três filhas da Bíblia? A primeira é judia, a segunda é católica, a terceira é maometana.
“Compreende-se logo que se trata de um livro sério e que a obra do Sr. Hippolyte Rodrigues interessa especialmente os espíritos sérios, que se comprazem nas meditações morais e filosóficas sobre o destino humano.
“O autor crê numa próxima fusão das três grandes religiões, que chama as três filhas da Bíblia, e trabalha para conduzir a este resultado, no qual vê um progresso imenso. E desta fusão que sairá a religião nova, que ele considera como devendo ser a religião definitiva da humanidade.
“Não quero aqui entabular com o Sr. Hippolyte Rodrigues uma polêmica inoportuna sobre a questão religiosa, que se agita desde tantos anos, no fundo das consciências e nas entranhas da sociedade. Permitir-me-ei, entretanto, uma reflexão. Até hoje não há senão a fé que tenha fundado e mantido as religiões, por esta razão suprema que, quando se raciocina, não se crê mais, e que quando um povo, uma época cessou de crer, em breve se vê desmoronar-se a religião existente, não se vê surgir uma religião nova.”
A. de Cesena.
Essa tendência, que se generaliza, de prever a unificação dos cultos, como tudo o que se liga à fusão dos povos, ao nivelamento das barreiras que os separam moralmente e comercialmente, é também um dos sinais característicos dos tempos. Não julgaremos a obra do Sr. Rodrigues, por quais circunstancias poderá ser atingido o resultado que ele espera, e que considera, a justo titulo, como um progresso. Queremos apenas apresentar algumas observações sobre o artigo acima.
O autor comete um grande erro quando diz que “quando se raciocina não se crê mais” Nós dizemos, ao contrário, que quando se raciocina sua crença, crê-se mais firmemente, porque se compreende; é em virtude deste principio que dissemos: Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.
O erro da parte das religiões é ter erigido um dogma absoluto o princípio da fé cega, e ter, em favor deste princípio, que anula a ação da inteligência, feito aceitar, durante algum tempo, crenças que os ulteriores progressos da ciência vieram contradizer. Disto resultou, em grande número de pessoas, essa prevenção que qualquer crença religiosa não pode suportar o livre exame, confundindo, numa reprovação geral, o que não passa de casos particulares. Esta maneira de julgar as coisas não é mais racional do que se se condenasse todo um poema, porque encerra alguns versos incorretos, mas é mais cômoda para os que em nada querem crer porque, rejeitando tudo se julgam livres para nada examinar.
O autor comete um outro erro capital quando diz: “quando um povo, uma época cessou de crer, em breve se vê desmoronar-se a religião existente, não se vê surgir uma religião nova.” Onde viu ele na história, um povo, uma época sem religião?
A maior parte das religiões surgiram em tempos remotos, em que os conhecimentos científicos eram muito limitados ou nulos. Erigiram em crença noções erradas, que só o tempo podia retificar. Infelizmente todas se fundaram no princípio da imutabilidade, e como quase todas confundiram, num mesmo código, a lei civil e a lei religiosa, disso resultou que, num dado momento, tendo avançado o espírito humano, ao passo que as religiões ficaram estacionárias, estas não mais se encontraram à altura das ideias novas. Então caem pela força das coisas, como caem as leis, os costumes sociais, os sistemas políticos que não podem corresponder às necessidades novas. Mas como as crenças religiosas são instintivas no homem e constituem, para o coração e para o espírito uma necessidade tão imperiosa quanto a legislação civil para a ordem social, não se anulam: transformam-se.
A transição jamais se opera de maneira brusca, mas pela mistura temporária de ideias antigas com ideias novas; é, a princípio uma fé mista, que participa de umas e outras; pouco a pouco a velha crença se extingue, a nova cresce, até que a substituição seja completa. Por vezes a transformação é apenas parcial; então são seitas que se separam da religião mãe, modificando pontas de detalhe. Foi assim que o Cristianismo sucedeu ao paganismo, que o Islamismo sucedeu ao Fetichismo árabe, que o Protestantismo, a religião grega se separaram do Catolicismo. Por toda a parte vêem-se os povos não deixar uma crença senão para seguir outra, adequada ao seu adiantamento moral e intelectual: mas em parte alguma há solução de continuidade. E verdade que hoje se vê a incredulidade absoluta erigida em doutrina e professada por algumas seitas filosóficas. Mas seus representantes, ínfima minoria na população inteligente, cometem o erro de se julgarem todo um povo, toda uma época e, porque não querem mais religião, imaginam que sua opinião pessoal é o termo dos tempos religiosos, quando não passa de transição parcial a outra ordem de ideias.
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