Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868
Versão para cópiaCapítulo XXX
Junho - Fotografia do Pensamento
Junho
Ligando-se o fenômeno da fotografia do pensamento ao das criações fluídicas, descrito em nosso livro A Gênese, no capítulo dos fluidos, reproduzimos, para maior clareza, a passagem desse capítulo onde o assunto é tratado, e o completamos com novas observações.
Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; são o elemento onde eles colhem os materiais com que operam; são o meio onde se passam os fenômenos especiais, perceptíveis à vista e ao ouvido do Espírito, e que escapam aos sentidos carnais, impressionados só pela matéria tangível, onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente da luz ordinária, por sua causa e por seus efeitos; são, enfim, o veículo do pensamento, como o ar e o veículo do som.
Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não os manipulando, como o homem manipula os gases, mas com o auxílio do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou qual direção; aglomeram-nos, combinam-nos e os dispersam; com eles formam conjuntos, tendo uma aparência, uma forma, uma cor determinadas; eles mudam as suas propriedades, como o químico muda as dos gases e de outros corpos, combinando-as segundo certas leis. É o grande atelier ou o laboratório da vida espiritual.
Por vezes essas transformações são o resultado de uma intenção; muitas vezes são o produto de um pensamento inconsciente. Basta ao Espírito pensar em uma coisa para que essa coisa se produza, como basta modular uma área para que essa ária repercuta na atmosfera.
É assim, por exemplo, que um Espírito se apresenta à vista de um encarnado dotado de visão psíquica, sob a aparência que ele tinha quando vivo, na época em que o conheceram, embora depois tivesse tido várias encarnações. Ele se apresenta com a vestimenta, os sinais exteriores ─ enfermidades, cicatrizes, membros amputados etc. ─ que tinha então; um decapitado apresentar-se-á sem a cabeça. Isto não quer dizer que tenha conservado estas aparências. Certamente não, porque, como Espírito, ele não é coxo, nem maneta, nem caolho, nem decapitado, mas seu pensamento, reportando-se à época em que ele era assim, seu perispírito toma instantaneamente as aparências, que ele deixa instantaneamente, a partir do momento que o pensamento deixa de agir. Se, pois, uma vez ele foi negro e outra vez foi branco, apresentar-se-á como negro ou como branco, conforme aquela das duas encarnações sob a qual for evocado, e à qual se reportará seu pensamento.
Por um efeito análogo, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos de que tinha o hábito de se servir: um avarento manipulará o ouro; um militar terá as suas armas e o seu uniforme; um fumante, o seu cachimbo; um lavrador, a sua charrua e os bois; uma velha, a sua roca. Esses objetos fluídicos são tão reais para o Espírito, que é, ele próprio, fluídico, quanto eram materiais para o homem vivo; mas, pelo simples fato de eles serem criados pelo pensamento, sua existência é tão fugaz quanto o pensamento.
Sendo os fluidos o veículo do pensamento, eles nos trazem o pensamento como o ar nos traz o som. Podemos dizer, portanto, a bem da verdade, que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundir, como há no ar ondas e raios sonoros.
Como se vê, é uma ordem de fatos inteiramente novos que se passam fora do mundo tangível, e constituem, se assim se pode dizer, a física e a química especiais do mundo invisível. Mas como, durante a encarnação, o princípio espiritual está unido ao princípio material, daí ressalta que certos fenômenos do mundo espiritual se produzam conjuntamente com os do mundo material e são inexplicáveis por quem quer que não conheça as suas leis. O conhecimento dessas leis é, pois, tão útil aos encarnados quanto aos desencarnados, porquanto só ele pode explicar certos fatos da vida material.
Criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispiritual como num espelho, ou ainda como essas imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores do ar. Ele aí toma um corpo e de certo modo se fotografa. Se um homem, por exemplo, tiver a ideia de matar outro, por impassível que esteja o seu corpo material, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento, do qual reproduz todas as nuanças; ele executa fluidicamente o gesto, o ato que tem o desígnio de realizar; seu pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira se pinta, como num quadro, tal qual está em seu espírito.
É assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma, encarnada ou desencarnada, pode ler em outra alma como num livro, e ver o que não é perceptível pelos olhos do corpo. Os olhos do corpo veem as impressões interiores que se refletem nos traços do rosto: a cólera, a alegria, a tristeza, mas a alma vê nos traços da alma os pensamentos que não se traduzem no exterior.
Contudo, conforme a intenção, o vidente bem pode pressentir a realização do ato que será a sua consequência, mas não pode determinar o momento em que se realizará, nem precisar os detalhes, nem mesmo afirmar que ele se realizará, porque circunstâncias ulteriores podem modificar os planos preparados e mudar as disposições. Ele não pode ver o que ainda não está no pensamento; o que ele vê é a preocupação do momento, ou habitual, do indivíduo, os seus desejos, os seus projetos, as suas boas ou más intenções. Daí os erros nas previsões de certos videntes, quando um acontecimento está subordinado ao livre-arbítrio de um homem. Eles não podem senão pressentir a sua probabilidade, conforme o pensamento que veem, mas não podem afirmar que ocorrerá de tal maneira, nem em tal momento. A maior ou menor exatidão nas previsões depende, além disso, da extensão e da clareza da visão psíquica. Em certos indivíduos, Espíritos ou encarnados, ela é difusa ou limitada a um ponto, ao passo que em outros é clara e abarca o conjunto dos pensamentos e das vontades que devem concorrer à realização de um fato; mas, acima de tudo, há sempre a vontade superior, que pode, na sua sabedoria, permitir uma revelação ou impedi-la. Neste último caso, um véu impenetrável é lançado sobre a mais perspicaz visão psíquica. (Vide A Gênese, capítulo da Presciência).
A teoria das criações fluídicas, e, por consequência, da fotografia do pensamento, é uma conquista do Espiritismo moderno, e de agora em diante pode ser considerada como adquirida em princípio, salvo as aplicações de detalhe, que são resultado da observação. Esse fenômeno é incontestavelmente a fonte das visões fantásticas, e deve representar um grande papel em certos sonhos.
Pensamos que aí pode ser encontrada a explicação da mediunidade pelo copo d’água (Ver o artigo precedente). Considerando-se que o objeto que se vê não pode estar no copo, a água deve fazer o papel de um espelho, que reflete a imagem criada pelo pensamento do Espírito. Essa imagem pode ser a reprodução de uma coisa real, como a de uma criação de fantasia. Em todo caso, o copo d’água não é senão um meio de reproduzi-la, mas não é o único, como o prova a diversidade dos processos empregados por alguns videntes. Este talvez convenha melhor a certas organizações.
Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; são o elemento onde eles colhem os materiais com que operam; são o meio onde se passam os fenômenos especiais, perceptíveis à vista e ao ouvido do Espírito, e que escapam aos sentidos carnais, impressionados só pela matéria tangível, onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente da luz ordinária, por sua causa e por seus efeitos; são, enfim, o veículo do pensamento, como o ar e o veículo do som.
Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não os manipulando, como o homem manipula os gases, mas com o auxílio do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou qual direção; aglomeram-nos, combinam-nos e os dispersam; com eles formam conjuntos, tendo uma aparência, uma forma, uma cor determinadas; eles mudam as suas propriedades, como o químico muda as dos gases e de outros corpos, combinando-as segundo certas leis. É o grande atelier ou o laboratório da vida espiritual.
Por vezes essas transformações são o resultado de uma intenção; muitas vezes são o produto de um pensamento inconsciente. Basta ao Espírito pensar em uma coisa para que essa coisa se produza, como basta modular uma área para que essa ária repercuta na atmosfera.
É assim, por exemplo, que um Espírito se apresenta à vista de um encarnado dotado de visão psíquica, sob a aparência que ele tinha quando vivo, na época em que o conheceram, embora depois tivesse tido várias encarnações. Ele se apresenta com a vestimenta, os sinais exteriores ─ enfermidades, cicatrizes, membros amputados etc. ─ que tinha então; um decapitado apresentar-se-á sem a cabeça. Isto não quer dizer que tenha conservado estas aparências. Certamente não, porque, como Espírito, ele não é coxo, nem maneta, nem caolho, nem decapitado, mas seu pensamento, reportando-se à época em que ele era assim, seu perispírito toma instantaneamente as aparências, que ele deixa instantaneamente, a partir do momento que o pensamento deixa de agir. Se, pois, uma vez ele foi negro e outra vez foi branco, apresentar-se-á como negro ou como branco, conforme aquela das duas encarnações sob a qual for evocado, e à qual se reportará seu pensamento.
Por um efeito análogo, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos de que tinha o hábito de se servir: um avarento manipulará o ouro; um militar terá as suas armas e o seu uniforme; um fumante, o seu cachimbo; um lavrador, a sua charrua e os bois; uma velha, a sua roca. Esses objetos fluídicos são tão reais para o Espírito, que é, ele próprio, fluídico, quanto eram materiais para o homem vivo; mas, pelo simples fato de eles serem criados pelo pensamento, sua existência é tão fugaz quanto o pensamento.
Sendo os fluidos o veículo do pensamento, eles nos trazem o pensamento como o ar nos traz o som. Podemos dizer, portanto, a bem da verdade, que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundir, como há no ar ondas e raios sonoros.
Como se vê, é uma ordem de fatos inteiramente novos que se passam fora do mundo tangível, e constituem, se assim se pode dizer, a física e a química especiais do mundo invisível. Mas como, durante a encarnação, o princípio espiritual está unido ao princípio material, daí ressalta que certos fenômenos do mundo espiritual se produzam conjuntamente com os do mundo material e são inexplicáveis por quem quer que não conheça as suas leis. O conhecimento dessas leis é, pois, tão útil aos encarnados quanto aos desencarnados, porquanto só ele pode explicar certos fatos da vida material.
Criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispiritual como num espelho, ou ainda como essas imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores do ar. Ele aí toma um corpo e de certo modo se fotografa. Se um homem, por exemplo, tiver a ideia de matar outro, por impassível que esteja o seu corpo material, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento, do qual reproduz todas as nuanças; ele executa fluidicamente o gesto, o ato que tem o desígnio de realizar; seu pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira se pinta, como num quadro, tal qual está em seu espírito.
É assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma, encarnada ou desencarnada, pode ler em outra alma como num livro, e ver o que não é perceptível pelos olhos do corpo. Os olhos do corpo veem as impressões interiores que se refletem nos traços do rosto: a cólera, a alegria, a tristeza, mas a alma vê nos traços da alma os pensamentos que não se traduzem no exterior.
Contudo, conforme a intenção, o vidente bem pode pressentir a realização do ato que será a sua consequência, mas não pode determinar o momento em que se realizará, nem precisar os detalhes, nem mesmo afirmar que ele se realizará, porque circunstâncias ulteriores podem modificar os planos preparados e mudar as disposições. Ele não pode ver o que ainda não está no pensamento; o que ele vê é a preocupação do momento, ou habitual, do indivíduo, os seus desejos, os seus projetos, as suas boas ou más intenções. Daí os erros nas previsões de certos videntes, quando um acontecimento está subordinado ao livre-arbítrio de um homem. Eles não podem senão pressentir a sua probabilidade, conforme o pensamento que veem, mas não podem afirmar que ocorrerá de tal maneira, nem em tal momento. A maior ou menor exatidão nas previsões depende, além disso, da extensão e da clareza da visão psíquica. Em certos indivíduos, Espíritos ou encarnados, ela é difusa ou limitada a um ponto, ao passo que em outros é clara e abarca o conjunto dos pensamentos e das vontades que devem concorrer à realização de um fato; mas, acima de tudo, há sempre a vontade superior, que pode, na sua sabedoria, permitir uma revelação ou impedi-la. Neste último caso, um véu impenetrável é lançado sobre a mais perspicaz visão psíquica. (Vide A Gênese, capítulo da Presciência).
A teoria das criações fluídicas, e, por consequência, da fotografia do pensamento, é uma conquista do Espiritismo moderno, e de agora em diante pode ser considerada como adquirida em princípio, salvo as aplicações de detalhe, que são resultado da observação. Esse fenômeno é incontestavelmente a fonte das visões fantásticas, e deve representar um grande papel em certos sonhos.
Pensamos que aí pode ser encontrada a explicação da mediunidade pelo copo d’água (Ver o artigo precedente). Considerando-se que o objeto que se vê não pode estar no copo, a água deve fazer o papel de um espelho, que reflete a imagem criada pelo pensamento do Espírito. Essa imagem pode ser a reprodução de uma coisa real, como a de uma criação de fantasia. Em todo caso, o copo d’água não é senão um meio de reproduzi-la, mas não é o único, como o prova a diversidade dos processos empregados por alguns videntes. Este talvez convenha melhor a certas organizações.