Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868
Versão para cópiaCapítulo LXII
Outubro - Exéquias da senhora Victor Hugo
Outubro
A Senhora Victor Hugo, falecida em Bruxelas, foi trazida para a França, a 30 de agosto último, para ser inumada em Villèquiers (Seine-Inférieur), junto de sua filha e de seu genro. O Sr. Victor Hugo a acompanhou até à fronteira. Sobre o túmulo, o Sr. Paul Meurice pronunciou as seguintes palavras:
“Eu queria apenas lhe dizer adeus por todos nós.
“Vós bem sabeis, vós que a rodeais ─ pela última vez! ─ o que era ─ o que é esta alma tão bela e tão suave, este adorável espírito, este grande coração.
“Ah! Este grande coração, sobretudo! Como ela gostava de amar! Como gostava de ser amada! Como sabia sofrer com os que ela amava!
“Ela era a esposa do maior homem que existe, e pelo coração ela se alçava a esse gênio. Ela quase o igualava, pelo fato de compreendê-lo.
“E ela tem que nos deixar! E nós temos que deixá-la!
“Ela já voltou a amar. Ela reencontrou seus dois filhos, aqui e lá (mostrando o túmulo da filha e o céu).
“Victor Hugo me disse na fronteira, ontem à noite: Dizei a minha filha que, esperando, sempre lhe envio sua mãe. Está dito, e creio que está entendido.
“E agora, pois, adeus! Adeus aos presentes! Adeus aos ausentes! Adeus, nossa amiga! Adeus, nossa irmã!
“Adeus, mas até à vista!”
O Sr. Paul Foucher, irmão da Senhora Victor Hugo, numa carta que escreveu no FranceFrance, para dar contas da cerimônia, termina por estas palavras: “Separamo-nos dilacerados, mas calmos e persuadidos, mais do que nunca, que o desaparecimento de um ser é um encontro marcado com ele numa hora indefinida.”
Nessa ocasião julgamos oportuno lembrar a carta do Sr. Victor Hugo ao Sr. Lamartine, quando da morte da esposa deste último, em data de 23 de maio de 1863, e que a maioria dos jornais da época publicou.
“Caro Lamartine,
“Uma grande desgraça vos fere; preciso pôr o meu coração junto do vosso. Eu venerava aquela que amáveis. Vosso alto espírito vê além do horizonte; percebeis distintamente a vida futura.
“Não é a vós que é necessário dizer: esperai. Sois daqueles que sabem e que esperam.
“Ela é sempre a vossa companheira, invisível, mas presente. Vós perdestes a mulher, mas não a alma. Caro amigo, vivamos nos mortos.”
“Tuus,
“VICTOR HUGO.”
As palavras pronunciadas pelo Sr. Victor Hugo, e o que ele escreveu em diversas circunstâncias provam que ele crê, não somente nessa vaga imortalidade na qual, com muito poucas exceções, todo o gênero humano acredita, mas nessa imortalidade claramente definida, que tem um objetivo, satisfaz à razão e dissipa a incerteza sobre a sorte que nos aguarda; quem nos representa as almas ou Espíritos dos que deixaram a Terra como seres concretos, individuais, povoando o espaço, vivendo entre nós, com a lembrança do que aqui fizeram, beneficiando-se do progresso intelectual e moral realizado, conservando suas afeições, testemunhas invisíveis de nossas ações e de nossos sentimentos, comungando pensamentos com os que lhes são caros; numa palavra, nesta imortalidade consoladora que enche o vazio deixado pelos ausentes e pela qual se perpetua a solidariedade entre o mundo espiritual e o mundo corporal. Ora, aí esta todo o Espiritismo. Que acrescenta ele a isto? A prova material daquilo que não era, até ele, senão uma teoria sedutora. Enquanto certas pessoas chegaram a esta crença pela intuição e pelo raciocínio, o Espiritismo partiu do fato e da observação.
Sabemos em consequência de que dolorosa catástrofe o Sr. Victor Hugo perdeu sua filha e seu genro, o Sr. Charles Vacquerie, no dia 4 de setembro de 1843. Eles iam, em barco a vela, de Villequiers para Caudebec, em companhia de um tio do Sr. Vacquerie, antigo marinheiro, e de um menino de dez anos. Uma ventania fez soçobrar a embarcação e os quatro pereceram.
Que de mais significativo, marcado de mais profunda e mais justa ideia da imortalidade que estas palavras: Dizei à minha filha que, esperando, sempre lhe envio sua mãe! Que calma, que serenidade, que confiança no futuro! Dir-se-ia que sua filha acabava de partir para uma viagem, à qual manda dizer: “Envio-te tua mãe, esperando que eu vá vos encontrar.” Quanta consolação, força e esperança não se tem nesta maneira de compreender a imortalidade! Não é mais a alma perdida no infinito, que a própria certeza de sua sobrevivência não deixa qualquer esperança de reencontrar; deixando para sempre a Terra e os que ela amou, quer esteja ela nas delícias da beatitude contemplativa, quer nos tormentos eternos do inferno, a separação é eterna. Compreende-se a amargura dos pesares com uma tal crença; mas para aquele pai, sua filha está sempre lá; ela receberá sua mãe ao sair de seu exílio terrestre e escuta as palavras que ele lhe manda dizer!
Quem quer que tenha chegado a isto é espírita; porque, se quiser refletir seriamente, ele não pode escapar de todas as consequências lógicas do Espiritismo. Aqueles que repelem essa qualificação é que, não conhecendo do Espiritismo senão os quadros ridículos da crítica trocista, fazem dele uma ideia falsa. Se eles se dessem ao trabalho de estudá-lo, de analisá-lo, de sondar o seu alcance, ficariam felizes, ao contrário, por encontrar nas ideias que constituem a sua felicidade, uma sanção capaz de consolidar a sua fé. Eles não mais diriam apenas: “Creio porque me parece justo”, mas: “Creio porque compreendo.”
Façamos um paralelo entre os sentimentos que animaram o Sr. Victor Hugo nessa circunstância e em todas aquelas em que o seu coração recebeu semelhantes feridas; a definição da imortalidade que dava o Fígaro de 3 de abril de 1868, sob a rubrica de: Dicionário do Fígaro: IMORTALIDADE, conto de enfermeiros para tranquilizar seus clientes.
“Eu queria apenas lhe dizer adeus por todos nós.
“Vós bem sabeis, vós que a rodeais ─ pela última vez! ─ o que era ─ o que é esta alma tão bela e tão suave, este adorável espírito, este grande coração.
“Ah! Este grande coração, sobretudo! Como ela gostava de amar! Como gostava de ser amada! Como sabia sofrer com os que ela amava!
“Ela era a esposa do maior homem que existe, e pelo coração ela se alçava a esse gênio. Ela quase o igualava, pelo fato de compreendê-lo.
“E ela tem que nos deixar! E nós temos que deixá-la!
“Ela já voltou a amar. Ela reencontrou seus dois filhos, aqui e lá (mostrando o túmulo da filha e o céu).
“Victor Hugo me disse na fronteira, ontem à noite: Dizei a minha filha que, esperando, sempre lhe envio sua mãe. Está dito, e creio que está entendido.
“E agora, pois, adeus! Adeus aos presentes! Adeus aos ausentes! Adeus, nossa amiga! Adeus, nossa irmã!
“Adeus, mas até à vista!”
O Sr. Paul Foucher, irmão da Senhora Victor Hugo, numa carta que escreveu no FranceFrance, para dar contas da cerimônia, termina por estas palavras: “Separamo-nos dilacerados, mas calmos e persuadidos, mais do que nunca, que o desaparecimento de um ser é um encontro marcado com ele numa hora indefinida.”
Nessa ocasião julgamos oportuno lembrar a carta do Sr. Victor Hugo ao Sr. Lamartine, quando da morte da esposa deste último, em data de 23 de maio de 1863, e que a maioria dos jornais da época publicou.
“Caro Lamartine,
“Uma grande desgraça vos fere; preciso pôr o meu coração junto do vosso. Eu venerava aquela que amáveis. Vosso alto espírito vê além do horizonte; percebeis distintamente a vida futura.
“Não é a vós que é necessário dizer: esperai. Sois daqueles que sabem e que esperam.
“Ela é sempre a vossa companheira, invisível, mas presente. Vós perdestes a mulher, mas não a alma. Caro amigo, vivamos nos mortos.”
“Tuus,
“VICTOR HUGO.”
As palavras pronunciadas pelo Sr. Victor Hugo, e o que ele escreveu em diversas circunstâncias provam que ele crê, não somente nessa vaga imortalidade na qual, com muito poucas exceções, todo o gênero humano acredita, mas nessa imortalidade claramente definida, que tem um objetivo, satisfaz à razão e dissipa a incerteza sobre a sorte que nos aguarda; quem nos representa as almas ou Espíritos dos que deixaram a Terra como seres concretos, individuais, povoando o espaço, vivendo entre nós, com a lembrança do que aqui fizeram, beneficiando-se do progresso intelectual e moral realizado, conservando suas afeições, testemunhas invisíveis de nossas ações e de nossos sentimentos, comungando pensamentos com os que lhes são caros; numa palavra, nesta imortalidade consoladora que enche o vazio deixado pelos ausentes e pela qual se perpetua a solidariedade entre o mundo espiritual e o mundo corporal. Ora, aí esta todo o Espiritismo. Que acrescenta ele a isto? A prova material daquilo que não era, até ele, senão uma teoria sedutora. Enquanto certas pessoas chegaram a esta crença pela intuição e pelo raciocínio, o Espiritismo partiu do fato e da observação.
Sabemos em consequência de que dolorosa catástrofe o Sr. Victor Hugo perdeu sua filha e seu genro, o Sr. Charles Vacquerie, no dia 4 de setembro de 1843. Eles iam, em barco a vela, de Villequiers para Caudebec, em companhia de um tio do Sr. Vacquerie, antigo marinheiro, e de um menino de dez anos. Uma ventania fez soçobrar a embarcação e os quatro pereceram.
Que de mais significativo, marcado de mais profunda e mais justa ideia da imortalidade que estas palavras: Dizei à minha filha que, esperando, sempre lhe envio sua mãe! Que calma, que serenidade, que confiança no futuro! Dir-se-ia que sua filha acabava de partir para uma viagem, à qual manda dizer: “Envio-te tua mãe, esperando que eu vá vos encontrar.” Quanta consolação, força e esperança não se tem nesta maneira de compreender a imortalidade! Não é mais a alma perdida no infinito, que a própria certeza de sua sobrevivência não deixa qualquer esperança de reencontrar; deixando para sempre a Terra e os que ela amou, quer esteja ela nas delícias da beatitude contemplativa, quer nos tormentos eternos do inferno, a separação é eterna. Compreende-se a amargura dos pesares com uma tal crença; mas para aquele pai, sua filha está sempre lá; ela receberá sua mãe ao sair de seu exílio terrestre e escuta as palavras que ele lhe manda dizer!
Quem quer que tenha chegado a isto é espírita; porque, se quiser refletir seriamente, ele não pode escapar de todas as consequências lógicas do Espiritismo. Aqueles que repelem essa qualificação é que, não conhecendo do Espiritismo senão os quadros ridículos da crítica trocista, fazem dele uma ideia falsa. Se eles se dessem ao trabalho de estudá-lo, de analisá-lo, de sondar o seu alcance, ficariam felizes, ao contrário, por encontrar nas ideias que constituem a sua felicidade, uma sanção capaz de consolidar a sua fé. Eles não mais diriam apenas: “Creio porque me parece justo”, mas: “Creio porque compreendo.”
Façamos um paralelo entre os sentimentos que animaram o Sr. Victor Hugo nessa circunstância e em todas aquelas em que o seu coração recebeu semelhantes feridas; a definição da imortalidade que dava o Fígaro de 3 de abril de 1868, sob a rubrica de: Dicionário do Fígaro: IMORTALIDADE, conto de enfermeiros para tranquilizar seus clientes.