Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1869

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Capítulo III

Janeiro - Proporção relativa dos Espíritas

Janeiro
I. ─ Em relação às nacionalidades: - Não existe, por assim dizer, nenhum país civilizado da Europa e da América onde não haja espíritas. Eles são mais numerosos nos Estados Unidos da América do Norte. Seu número aí é calculado, por uns, em quatro milhões, o que já é muito, e por outros em dez milhões. Esta última cifra evidentemente é exagerada, porque compreenderia mais de um terço da população, o que não é provável. Na Europa a cifra pode ser avaliada em um milhão, e a França figura com seiscentos mil. Pode-se estimar o número dos espíritas do mundo inteiro em seis ou sete milhões. Mesmo que fosse a metade, a História não oferece nenhum exemplo de uma doutrina que em menos de quinze anos tivesse reunido tal número de adeptos disseminados por toda a superfície do globo. Se aí incluíssemos os espíritas inconscientes, isto é, os que só o são por intuição, e mais tarde se tornarão espíritas de fato, só na França poder-se-iam contar vários milhões.

Do ponto de vista da difusão das ideias espíritas e da facilidade com que são aceitas, os principais países da Europa podem ser classificados como se segue: 1º França. ─ 2º Itália. ─ 3º Espanha. ─ 4º Rússia. ─ 5º Alemanha. ─ 6º Bélgica. ─ 7º Inglaterra. ─ 8º Suécia e Dinamarca. ─ 9º Grécia. ─ 10º Suíça.

II. ─ Em relação ao sexo: 70% homens e 30% mulheres.

III. ─ Em relação à idade: de 30 a 70 anos, máximo; de 20 a 30, médio; de 70 a 80, mínimo.

IV. ─ Em relação à instrução: O grau de instrução é muito fácil de avaliar pela correspondência. Instrução cuidada, 30%; simples letrados, 30%; instrução superior, 20%; ─ semiletrados, 10%; ─ iletrados, 6%; ─ sábios oficiais, 4%.

V. ─ Em relação às ideias religiosas: católicos romanos, livres-pensadores, não ligados ao dogma, 50%; ─ católicos gregos, 15%; ─ judeus, 10%; ─ protestantes liberais, 10%; ─ católicos ligados aos dogmas, 10%; ─ protestantes ortodoxos, 3%; ─ muçulmanos, 2%.

VI. ─ Em relação à fortuna: mediocridade, 60%; ─ fortunas médias, 20%; ─ indigência 15%; ─ grandes fortunas, 5%.

VII. ─ Em relação ao estado moral, abstração feita da fortuna: aflitos, 60%; ─ sem inquietude, 30%; ─ felizes do mundo, 10%; ─ sensualistas, 0.

VIII. Em relação à classe social: Sem poder estabelecer qualquer proporção nesta categoria, é notório que o Espiritismo conta entre os seus aderentes vários soberanos e príncipes regentes; membros de famílias soberanas e um grande número de personagens tituladas. Em geral, é nas classes médias que o Espiritismo conta mais adeptos. Na Rússia é mais ou menos exclusivamente na nobreza e na alta aristocracia. Na França o Espiritismo se propagou na pequena burguesia e na classe operária.

IX. ─ Estado militar, segundo o grau: l.º ─ tenentes e subtenentes; 2.º ─ suboficiais; 3.º ─ capitães; 4.º ─ coronéis; 5.º ─ médicos e cirurgiões; 6.º ─ generais; 7.º ─ guardas municipais; 8.º ─ soldados da guarda; 9.º ─ soldados de linha. OBSERVAÇÃO; Os tenentes e subtenentes espíritas estão quase todos na ativa; entre os capitães há cerca de metade na ativa e outra metade na reserva; os coronéis, médicos, cirurgiões e generais, em sua maioria estão na reserva.

X. ─ Marinha: 1º. ─ marinha militar; 2º. ─ marinha mercante.

XI. ─ Profissões liberais e funções diversas. Agrupamo-los em dez categorias, classificadas segunda a proporção dos aderentes que elas forneceram ao Espiritismo: 1.º ─ Médicos homeopatas. ─ Magnetistas[1] 2.º ─ Engenheiros. ─ Professores: diretores e diretoras de internatos. ─ Professores livres. 3.º ─ Cônsules. ─ Padres católicos. 4.º ─ Pequenos empregados. ─ Músicos. ─ Artistas líricos. ─ Artistas dramáticos. 5.º ─ Meirinhos. ─ Comissários de polícia. 6.º ─ Médicos alopatas. ─ Homens de letras. ─ Estudantes. 7.º ─ Magistrados. ─ Altos funcionários. ─ Professores oficiais e de liceus. ─ Pastores protestantes. 8.º ─ Jornalistas. ─ Pintores. ─ Arquitetos. ─ Cirurgiões. 9.º ─ Notários. ─ Advogados. ─ Procuradores. ─ Agentes de negócios. 10.º ─ Agentes de câmbio. ─ Banqueiros.

XII. ─ Profissões industriais, manuais e comerciais, igualmente grupadas em dez categorias. 1º ─ Alfaiates. ─ Costureiras. 2º ─ Mecânicos. ─ Empregados de estradas de ferro. 3º ─ Tecelões. ─ Pequenos negociantes. ─ Porteiros. 4º ─ Farmacêuticos. ─ Fotógrafos. ─ Relojoeiros. ─ Viajantes comerciais. 5º ─ Plantadores. ─ Sapateiros. 6º ─ Padeiros. ─ Açougueiros. ─ Salsicheiros. 7º ─ Marceneiros. ─ Tipógrafos. 8º ─ Grandes industriais e chefes de estabelecimentos. 9º ─ Livreiros. ─ Impressores. 10º ─ Pintores de casas. ─ Pedreiros. ─ Serralheiros. ─ Merceeiros. ─ Domésticos.

Deste levantamento resultam as seguintes consequências:

1.º ─ Que há espíritas em todos os graus da escala social.

2.º ─ Que há mais homens que mulheres espíritas. É certo que nas famílias divididas por suas crenças, no tocante ao Espiritismo, há mais maridos contrariados pela opinião das esposas do que mulheres pela dos maridos. Não é menos evidente que, em todas as reuniões espíritas, os homens são maioria. É portanto erradamente que a crítica pretendeu que a Doutrina recruta principalmente entre as mulheres, em virtude da sua inclinação para o maravilhoso. É precisamente o contrário, porquanto essa inclinação para o maravilhoso e para o misticismo em geral as torna mais refratárias que os homens; essa predisposição faz com que elas aceitem mais facilmente a fé cega, que dispensa qualquer exame, ao passo que o Espiritismo, não admitindo senão a fé raciocinada, exige reflexão e a dedução filosófica para ser bem compreendido, para o que a educação estreita dada às mulheres torna-as menos aptas que os homens. Aquelas que sacodem o jugo imposto à sua razão e ao seu desenvolvimento intelectual, muitas vezes caem num excesso contrário; elas tornam-se o que chamam de mulheres fortes e são de uma incredulidade mais tenaz.
3.º ─ Que a grande maioria dos espíritas se acha entre as pessoas esclarecidas e não entre as ignorantes. Por toda parte o Espiritismo se propagou de alto a baixo da escala social, e em parte alguma se desenvolveu primeiro nas camadas inferiores.

4.º ─ Que a aflição e a infelicidade predispõem às crenças espíritas, em consequência das consolações que elas proporcionam. É a razão pela qual, na maioria das categorias, a proporção dos espíritas está na razão da inferioridade hierárquica, porque é aí que há mais privações e sofrimento, ao passo que os titulares das posições superiores em geral pertencem à classe dos satisfeitos; daí há que excluir o estado militar, onde os simples soldados figuram em último lugar.

5.º ─ Que o Espiritismo encontra mais fácil acesso entre os incrédulos em matéria religiosa do que entre os que têm uma fé consolidada.

6.º ─ Enfim, que depois dos fanáticos, os mais refratários às ideias espíritas são os sensualistas e as pessoas cujos únicos pensamentos estão concentrados nas posses e nos prazeres materiais, seja qual for a classe a que pertençam, o que independe do grau de instrução.

Em resumo, o Espiritismo é acolhido como um benefício pelos que ele ajuda a suportar o fardo da vida, e é repelido ou desdenhado por aqueles a quem prejudicaria no gozo da vida. Partindo deste princípio, facilmente se explica a posição que ocupam, no quadro, certas categorias de indivíduos, malgrado as luzes que são uma condição de sua posição social. Pelo caráter, os gostos, os hábitos, o gênero de vida das pessoas, pode-se julgar antecipadamente sua aptidão para assimilar as ideias espíritas. Em alguns a resistência é uma questão de amor-próprio, que segue quase sempre o grau do saber. Quando esse saber os fez conquistar uma certa posição social que os põe em evidência, eles não querem concordar que podiam ter-se enganado e que outros podem ter visto melhor. Oferecer provas a certas pessoas é oferecer-lhes o que elas mais temem. Com medo de achá-las, eles tapam os olhos e os ouvidos, preferindo negar a priori e abrigar-se atrás de sua infalibilidade, de que estão muito convencidas, digam-lhes o que disserem.

É mais difícil compreender a posição que ocupam, nesta classificação, certas profissões industriais. Pergunta-se, por exemplo, por que os alfaiates aí ocupam a primeira posição, enquanto livreiros e impressores, profissões bem mais intelectuais, estão quase na última. É um fato constatado há muito tempo e do qual ainda não percebemos a causa.

Se, no levantamento acima, em vez de não abranger senão os espíritas de fato, tivéssemos considerado os espíritas inconscientes, aqueles nos quais essas ideias estão no estado de intuição e que fazem Espiritismo sem o saber, várias categorias certamente teriam sido classificadas diversamente: por exemplo, os literatos, os poetas, os artistas, numa palavra, todos os homens de imaginação e de inspiração, os crentes de todos os cultos estariam, sem dúvida nenhuma, no primeiro lugar. Certos povos, nos quais as crenças espíritas de certo modo são inatas, também ocupariam outra posição. Eis por que essa classificação não poderia ser absoluta, e modificarse-á com o tempo.

Os médicos homeopatas estão à frente das profissões liberais porque, com efeito, é aquela que, guardadas as proporções, conta nas suas fileiras o maior número de adeptos do Espiritismo: em cem médicos espíritas, há pelo menos oitenta homeopatas. Isto se deve ao fato que o próprio princípio de sua medicação os conduz ao espiritualismo. Os materialistas são muito raros entre eles, se é que existem, ao passo que são numerosos entre os alopatas. Melhor que estes últimos, eles compreenderam o Espiritismo, porque acharam nas propriedades fisiológicas do perispírito, unido ao princípio material e ao princípio espiritual, a razão de ser de seu sistema. Pelo mesmo motivo, os espíritas puderam, melhor que outros, compreender os efeitos desse modo de tratamento. Sem serem exclusivos a respeito da homeopatia, e sem rejeitar a alopatia, eles compreenderam a sua racionalidade e a sustentaram contra ataques injustos. Achando novos defensores entre os espíritas, os homeopatas não tiveram a inabilidade de lhes atirar pedras.

Se os magnetistas figuram na primeira linha, logo após os homeopatas, malgrado a oposição persistente e por vezes acerba de alguns, é que os oponentes não formam senão uma pequeníssima minoria ao lado da massa dos que são, pode-se dizer, espíritas por intuição. O magnetismo e o Espiritismo são, com efeito, duas ciências gêmeas, que se completam e se explicam uma pela outra, e, das duas, a que não quer imobilizar-se não pode chegar ao seu complemento sem se apoiar na sua congênere; isoladas uma da outra, detêm-se num impasse; são reciprocamente como a Física e a Química, a Anatomia e a Fisiologia. A maioria dos magnetistas compreende de tal modo por intuição a relação íntima que deve existir entre as duas coisas, que geralmente se prevalecem de seus conhecimentos em magnetismo como meio de introdução junto aos espíritas.

Em todos os tempos os magnetistas estiveram divididos em dois campos: os espiritualistas e os fluidistas. Estes últimos, muito menos numerosos, pelo menos fazendo abstração do princípio espiritual, quando não o negam absolutamente, atribuindo tudo à ação do fluido material, estão, por conseguinte, em oposição de princípios com os espíritas. Ora, é de notar que, se nenhum magnetistas é espírita, todos os espíritas, sem exceção, admitem o magnetismo. Em todas as circunstâncias eles se fizeram seus defensores e baluartes. Eles devem ter-se admirado de encontrar adversários mais ou menos malévolos nesses mesmos cujas fileiras acabavam de reforçar; que, depois de terem sido, durante mais de meio século, vítimas de ataques, de troças e de perseguições de toda espécie, por sua vez atirem pedras, sarcasmos e por vezes injúrias aos colaboradores que lhes chegam e comecem a pesar na balança, por seu número.

Ademais, como dissemos, essa oposição está longe de ser geral, muito pelo contrário; pode-se afirmar, sem se afastar da verdade, que ela não chega a mais de 2% a 3% da totalidade dos magnetistas. Ela é muito menor ainda entre os da província e do estrangeiro do que de Paris.


[1] O Vocábulo magnetizador desperta a ideia de ação; o de magnetista uma ideia de adesão. O magnetizador é o que exerce por profissão ou outra coisa. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador. Dir-se-á; um magnetizador experimentado e um magnetista convicto.

Maio

Maio

Depois que o Sr. Vice-Presidente da Sociedade, junto à tumba do mestre, proferiu a prece pelos mortos e, em nome da Sociedade, testemunhou os sentimentos de pesar que acompanham o Sr. Allan Kardec à sua partida desta vida, o Sr. Camille Flammarion pronunciou o discurso que vamos reproduzir em parte. De pé, numa elevação de onde dominava a assembleia, o Sr. Flammarion pôde ser ouvido por todos, afirmando publicamente a realidade dos fatos espíritas, seu interesse geral na Ciência e sua importância futura. Esse discurso não é apenas um esboço do caráter do Sr. Allan Kardec e do papel de seus trabalhos no movimento contemporâneo, mas, ainda e sobretudo, uma exposição da situação atual das ciências físicas, do ponto de vista do mundo invisível, das forças naturais desconhecidas, da existência da alma e de sua indestrutibilidade.

Falta-nos espaço para dar in extenso o discurso do Sr. Flammarion. Eis o que se liga diretamente ao Sr. Allan Kardec e ao Espiritismo, considerado em si mesmo. (O discurso inteiro será publicado em brochura). [A. DESLIENS]).


“Senhores,

“Aceitando com deferência o convite simpático dos amigos do pensador laborioso cujo corpo terreno jaz agora aos nossos pés, vem-me à mente um dia sombrio dó mês de dezembro de 1865, em que pronunciei palavras de supremo adeus junto à tumba do fundador da Livraria Acadêmica, do honrado Didier, que, como editor, foi colaborador convicto de Allan Kardec, na publicação das obras fundamentais de uma doutrina que lhe era cara. Também ele morreu subitamente, como se o céu houvesse querido poupar a esses dois Espíritos íntegros o embaraço fisiológico de sair desta vida por via diferente da comumente seguida. A mesma reflexão se aplica à morte do nosso ex-colega Jobard, de Bruxelas.

“Hoje, maior ainda é a minha tarefa, porquanto eu desejara figurar à mente dos que me ouvem e à dos milhões de criaturas que na Europa inteira e no Novo Mundo se têm ocupado com o problema ainda misterioso dos fenômenos chamados espíritas; – eu quisera, digo, poder figurar-lhes o interesse científico e o porvir filosófico do estudo desses fenômenos, ao qual se hão consagrado, como ninguém ignora, homens eminentes dentre os nossos contemporâneos. Estimaria fazer-lhes entrever os horizontes desconhecidos que a mente humana verá rasgar-se diante de si, à medida que ela ampliar o conhecimento positivo das forças naturais que em torno de nós atuam; mostrar-lhes que essas comprovações constituem o mais eficaz antídoto para a lepra do ateísmo, de que parece atacada, principalmente, a nossa época de transição; dar, enfim, aqui, testemunho público do eminente serviço que o autor de O Livro dos Espíritos prestou à filosofia, chamando a atenção e provocando discussões sobre fatos que até então pertenciam ao domínio mórbido e funesto das superstições religiosas.

“Seria, com efeito, um ato importante firmar aqui, junto deste túmulo eloquente, que o metódico exame dos fenômenos erroneamente qualificados de sobrenaturais, longe de renovar o espírito de superstição e de enfraquecer a energia da razão, ao contrário, afasta os erros e as ilusões da ignorância e serve melhor ao progresso, do que as negações ilegítimas dos que não querem dar-se ao trabalho de ver.

“Mas, este não é lugar apropriado a estabelecer uma arena às discussões desrespeitosas. Deixemos apenas que das nossas mentes desçam, sobre a face impassível do homem ora estendido diante de nós, testemunhos de afeição e sentimentos de pesar, que lhe permaneçam ao derredor em seu túmulo, qual embalsamamento do coração! E, pois que sabemos que sua alma eterna sobrevive a estes despojos mortais, do mesmo modo que a eles preexistiu; pois que sabemos que laços indestrutíveis unem o nosso mundo visível ao mundo invisível; pois que esta alma existe hoje tão bem como há três dias e que não é impossível se ache atualmente na minha presença. Digamos-lhe que não quisemos se desvanecesse a sua imagem terrena encerrada no sepulcro, sem unanimemente rendermos homenagem a seus trabalhos e à sua memória, sem pagar um tributo de reconhecimento à sua encarnação terrena, tão útil e tão dignamente preenchida.

“Traçarei, primeiro, num esboço rápido, as linhas principais da sua carreira literária.

“Morto na idade de 65 anos, Allan Kardec consagrara a primeira parte de sua vida a escrever obras clássicas, elementares, destinadas, sobretudo, ao uso dos educadores da mocidade. Quando, pelo ano de 1850, as manifestações, novas na aparência, das mesas girantes, das pancadas sem causa ostensiva, dos movimentos insólitos de objetos e móveis começaram a prender a atenção pública, determinando mesmo, nos de imaginação aventureira, uma espécie de febre, devida à novidade de tais experiências, Allan Kardec, estudando ao mesmo tempo o magnetismo e seus singulares efeitos, acompanhou com a maior paciência e clarividência judiciosa as experimentações e as tentativas numerosas que então se faziam em Paris.

“Recolheu e pôs em ordem os resultados conseguidos dessa longa observação e com eles compôs o corpo de doutrina que publicou em 1857, na primeira edição de O Livro dos Espíritos. Todos sabeis que êxito alcançou essa obra, na França e no estrangeiro. Havendo atingido a 16ª edição, tem espalhado em todas as classes esse corpo de doutrina elementar que, na sua essência, não é absolutamente novo, porquanto a escola de Pitágoras, na Grécia, e a dos druidas, em nossa própria Gália, ensinavam os seus princípios fundamentais, mas que agora reveste uma forma de verdadeira atualidade, por corresponder aos fenômenos.

“Depois dessa primeira obra apareceram, sucessivamente, O Livro dos Médiuns, ou Espiritismo experimental – O que é o Espiritismo, ou resumo sob a forma de perguntas e respostas; – O Evangelho segundo o Espiritismo; – O Céu e o Inferno; – A Gênese. A morte o surpreendeu no momento em que, com a sua infatigável atividade, trabalhava noutra sobre as relações entre o Magnetismo e o Espiritismo.

“Pela Revista Espírita e pela Sociedade de Paris, cujo presidente ele era, se constituíra, de certo modo, o centro a que tudo ia ter, o traço de união de todos os experimentadores. Faz alguns meses, sentindo próximo o seu fim, preparou as condições de vitalidade de tais estudos para depois de sua morte e instituiu a Comissão Central que lhe sucede.

“Suscitou rivalidades; fez escola de feição um pouco pessoal, havendo ainda alguns dissídios entre os “espiritualistas” e os “espíritas”. Doravante, senhores (tal, pelo menos, o voto que formulam os amigos da verdade), devemos unir-nos todos por uma solidariedade fraterna, pelos mesmos esforços em prol da elucidação do problema, pelo desejo geral e impessoal do verdadeiro e do bem.

“Quantos corações foram consolados, de início, por esta crença religiosa! Quantas lágrimas foram enxutas! Quantas consciências abertas aos raios da beleza espiritual! Nem todos são felizes aqui na Terra. Muitas afeições foram destruídas! Muitas almas foram adormecidas no cepticismo. Não será nada ter trazido ao espiritualismo tantos seres que vacilavam na dúvida e que não mais amavam a vida física, nem a intelectual?

“Allan Kardec era o que eu denominarei simplesmente “o bom-senso encarnado.” Razão reta e judiciosa, aplicava sem cessar à sua obra permanente as indicações íntimas do senso comum. Não era essa uma qualidade somenos, na ordem de coisas com que nos ocupamos. Era, ao contrário, pode-se afirmá-lo, a primeira de todas e a mais preciosa, sem a qual a obra não teria podido tornar-se popular, nem lançar pelo mundo suas raízes imensas. A maioria dos que se têm dado a estes estudos lembram-se de que na mocidade, ou em certas circunstâncias, foram testemunhas de manifestações inexplicadas. Poucas são as famílias que não contem na sua história provas desta natureza. O ponto de partida era aplicar-lhes a razão firme do simples bom-senso e examiná-las segundo os princípios do método positivo.

“Conforme o próprio organizador deste estudo demorado e difícil previra, esta doutrina; até então filosófica, tem que entrar agora num período científico. Os fenômenos físicos, sobre os quais a princípio não se insistia, hão de tornar-se objeto da crítica experimental, sem a qual nenhuma constatação séria é possível. Esse método experimental, a que devemos a glória dos progressos modernos e as maravilhas da eletricidade e do vapor, deve colher os fenômenos de ordem ainda misteriosa a que assistimos para os dissecar, medir e definir.

“Porque, meus Senhores, o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência, da qual apenas conhecemos o á-bê-cê. Passou o tempo dos dogmas. A Natureza abrange o Universo, e o próprio Deus, feito outrora à imagem do homem, a moderna Metafísica não o pode considerar senão como um espírito na Natureza. O sobrenatural não existe. As manifestações obtidas com o auxílio dos médiuns, como as do magnetismo e do sonambulismo, são de ordem natural e devem ser severamente submetidas à verificação da experiência. Não há mais milagres. Assistimos ao alvorecer de uma ciência desconhecida. Quem poderá prever a que consequências conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo positivo desta nova psicologia?

“Doravante, o mundo é regido pela ciência e, Senhores, não virá fora de propósito, neste discurso fúnebre, assinalar-lhe a obra atual e as induções novas que ela nos patenteia, precisamente do ponto de vista das nossas pesquisas”

Aqui o Sr. Flammarion entra na parte científica de seu discurso. Expõe o estado atual da Astronomia e da Física, desenvolvendo particularmente as descobertas relativas à análise recente do espectro solar. Resulta dessas descobertas que não vemos quase nada do que se passa à nossa volta na Natureza. Os raios caloríficos, que evaporam a água, formam as nuvens, causam os ventos, as correntes, organizam a vida do globo, são invisíveis para a nossa retina. Os raios químicos que regem os movimentos das plantas e as transformações químicas do mundo inorgânico são igualmente invisíveis. A ciência contemporânea autoriza, pois, os pontos de vista revelados pelo Espiritismo e, por sua vez, nos abre um mundo invisível real, cujo conhecimento só pode esclarecer-nos quanto ao modo de produção dos fenômenos espíritas.

Em seguida o jovem astrônomo apresentou o quadro das metamorfoses, do qual resulta que a existência e a imortalidade da alma se revelam pelas mesmas leis da vida. Não podemos aqui entrar nessa exposição, mas aconselhamos vivamente os nossos irmãos em doutrina a ler e estudar na íntegra o discurso do Sr. Flammarion.

Após sua exposição científica, assim termina o autor:

“Que os que têm a vista restringida pelo orgulho ou pelo preconceito não compreendam absolutamente os anseios de nossas mentes ávidas de conhecer e lancem sobre este gênero de estudos seus sarcasmos ou anátemas! Colocamos mais alto as nossas contemplações!… Foste o primeiro, oh! mestre e amigo! foste o primeiro a dar, desde o princípio da minha carreira astronômica, testemunho de viva simpatia às minhas deduções relativas à existência das humanidades celestes, pois, tomando do livro sobre a Pluralidade dos mundos habitados, o puseste imediatamente na base do edifício doutrinário com que sonhavas. Muito amiúde conversávamos sobre essa vida celeste tão misteriosa; agora, oh! alma, sabes, por visão direta, em que consiste a vida espiritual a que voltaremos e que esquecemos durante a existência na Terra.

“Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra… Sabemos que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado.

“É-nos mais grato saber esta verdade, do que acreditar que jazes todo inteiro nesse cadáver e que tua alma se haja aniquilado com a cessação do funcionamento de um órgão. A imortalidade é a luz da vida, como este refulgente Sol é a luz da Natureza.

“Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!”





Dezembro A FESTA DOS MORTOS NÃO É NOS CEMITÉRIOS

Dezembro


Temas Relacionados:

1. — Como nos anos anteriores, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas reuniu-se especialmente em 1º de novembro, com vistas a oferecer uma piedosa lembrança aos seus colegas falecidos.

Nessa ocasião foi feita a leitura: 1º do discurso de abertura pronunciado pelo Sr. Allan Kardec na sessão de 1º de novembro de 1868, intitulado: O Espiritismo é uma religião?; 2º de uma comunicação espontânea ditada pelo Sr. Dozon sobre a solenidade do dia de Todos os Santos, em 1865, e que é lida anualmente na sessão comemorativa; 3º de uma notável comunicação sobre o temor da morte, assinada por Guillaumin e recebida pelo Sr. Leymarie. (Vide a Revista de dezembro de 1868.)

Depois de ter invocado as bênçãos de Deus sobre a assembleia e agradecido ao nosso presidente espiritual, São Luís, o seu concurso habitual, a Sociedade julgou por bem prestar, por meio de uma comemoração especial, um particular testemunho de reconhecimento à memória do Sr. Allan Kardec.

Fazendo-se intérprete dos sentimentos gerais, um dos membros do comitê pronunciou a seguinte alocução:


“Senhoras e Senhores,

“Nesta seção especialmente consagrada a dar marcas do nosso reconhecimento aos Espíritos que houveram por bem prestar-nos o seu concurso, e a honrar a memória dos nossos colegas falecidos e de todos os que, por seus trabalhos, se tornaram dignos da admiração dos homens, devemos um testemunho particular de simpatia e de veneração ao homem honrado por excelência, cujos trabalhos conquistaram celebridade universal, ao eminente Espírito que, no mundo do espaço como na Terra, consagrou seu tempo e suas faculdades à obra bendita de moralização e regeneração da Humanidade.

“Todos conhecestes o pensador laborioso cujo nome está em todos os lábios, o filósofo convicto e consciencioso cujos ensinos encontraram eco em todos os verdadeiros amigos do progresso: Allan Kardec, o imortal autor de O Livro dos Espíritos.

“Depois de ter dedicado sua vida à coordenação metódica da Doutrina Espírita, em consolar os aflitos, em tranquilizar os Espíritos roídos pela dúvida da incredulidade, substituindo a incerteza e a negação concernente ao futuro da alma por uma crença racional, fundada sobre as próprias leis da Natureza, foi colher na erraticidade a merecida recompensa, a sanção da missão cumprida e reunir os elementos necessários para contribuir ainda, como Espírito, para fazer da Humanidade um só povo de irmãos, marchando solidariamente para a conquista do futuro.

“Homem, soube fazer-se apreciado e amado não só pelos que o conheciam pessoalmente, mas ainda por seus numerosos correspondentes, enfim por todos que encontraram em suas obras a consagração de suas mais legítimas aspirações.

“Sem se preocupar com as críticas dos que, por orgulho ou por preconceito, recusavam-se a compreender a nossa insaciável avidez de conhecimento, voltava mais para o alto as suas contemplações. Os obstáculos que teve de superar, as decepções diante das quais se deixaram abater tantos pensadores sérios não o atingiam. Ante a grandeza do objetivo, ele esquecia todas as dificuldades do caminho.

“Espírito, não tardou a nos dar novas provas de seu zelo e devotamento infatigáveis. Em todos os centros, em todos os países, foi sancionar, através de comunicações de incontestável elevação, a verdade dos ensinos que em vida popularizou. Espírito conciliador e persuasivo, ensina a todos a tolerância e a solidariedade. Mais que nunca convencido de que o interesse pessoal deve apagar-se diante do interesse geral, continua seu apostolado sob uma nova forma, indo a todos os lugares, encorajando uns, instruindo outros e dando a todos provas irrecusáveis de sua afeição e devotamento.

“Em todas as épocas de transição, Espíritos superiores, profetas, messias, missionários do progresso aparecem na Humanidade para tornar populares as crenças aceitas por um pequeno número. Tais foram, na Antiguidade, Sócrates, Platão, Moisés, o Cristo e todos os grandes gênios que se imortalizaram por suas ações e, mais recentemente, João Huss, Galileu, Newton, Leibnitz e tantos outros, cujos trabalhos constituem objeto de legítima admiração.

“Tal ele já o é para nós, que o conhecemos, e tal será para as gerações futuras, quando as crenças espíritas forem adotadas, o Espírito daquele cuja memória hoje estamos reverenciando.

“Caro e venerado mestre, estais aqui presente, conquanto invisível para nós. Desde a vossa partida tendes sido para todos um protetor a mais, uma luz segura, e as falanges do espaço foram acrescidas de um trabalhador infatigável. Como na Terra, e sem chocar ninguém, sabeis dar a cada um os conselhos convenientes, moderais o zelo prematuro dos ardentes, secundais os sinceros e os desinteressados, estimulais os tíbios; vedes hoje e sabeis tudo quanto prevíeis pouco tempo atrás. Vós, que não estais mais sujeito às incertezas, sede nosso guia e nossa luz e, por vossos conselhos, sob vossa influência, avançaremos a passos certos para os tempos felizes prometidos à Humanidade regenerada.”


2. — Depois das preces habituais (Vide a Revista Espírita de novembro de 1865), foi obtido um certo número de comunicações pelos médiuns presentes. Como a falta de espaço não nos permite reproduzi-las todas, limitar-nos-emos à publicação das duas seguintes, que nos pareceram dever interessar mais particularmente aos nossos leitores:


A FESTA DOS MORTOS NÃO É NOS CEMITÉRIOS.


Hoje é dia de festa nos asilos consagrados ao repouso dos mortos. A multidão se apressa, os trajes brilham; percorre-se os campos fúnebres a passos lentos, e parece que esta afluência deveria encher de alegria as almas dos que não pertencem mais ao número dos encarnados! Entretanto, quão pouco numerosos são os Espíritos que do espaço vêm reunir-se aos seus antigos amigos da Terra! Os humanos são inumeráveis, quase alegres ou no mínimo indiferentes; um zumbido imenso se eleva acima da multidão. Mas, de que se ocupa toda essa gente? que sentimento as reúne? Pensam nos mortos? Sim, pois que vieram! Mas o pensamento salutar bem depressa se eclipsou; e se alguns nomes inscritos sobre as lápides tumulares provocam as exclamações do transeunte indiferente, ele lança no éter com a fumaça de seu charuto algumas reflexões banais, alguma gargalhada sem eco!…

Nessa balbúrdia nascem todos os pensamentos, todos os sentimentos, todas as aspirações, exceto o recolhimento, o sentimento religioso, a aspiração à comunhão íntima com os que partiram. Muitos curiosos, mas bem poucos possuem a religião da lembrança!… Por isso, os mortos que não se sentem chamados estão por toda parte, menos nos cemitérios, e a maioria dos que planam no espaço ou circulam nas estreitas aleias, estão fatalmente chumbados pelas paixões terrestres aos despojos mortais que outrora tanto amaram.

Risos, discursos inúteis entre os vivos; gritos de dor e de raiva na maior parte dos mortos; um espetáculo sem interesse para todos, uma visita formal para alguns, hábito para a maioria, eis o quadro que apresentam os cemitérios parisienses no dia dos mortos!…

E, contudo, há festa na Terra e no espaço; festa para os Espíritos que, havendo cumprido a missão que aceitaram, expiado o mal de outra existência, voltaram ao mundo da vida real e normal com alguns florões a mais. É festa para os santos que a Humanidade inteira consagrou, não por uma abnegação sem utilidade e um isolamento egoísta, mas pelo devotamento a todos, por seus trabalhos fecundos, por seus ensinos perseverantes, por sua luta incessante contra o mal, pelo triunfo do bem. Para estes há festa no espaço, como há festa na Terra para todos os que, esclarecidos pelas grandes leis que regem os universos, clamam em seu foro íntimo pela visita dos que tanto amaram e que não estão perdidos para eles. Há festas para os espíritas que creem e praticam. Há festa para os Espíritos que instruem e que continuam no espaço a obra de regeneração começada neste mundo!…

Ó, meus amigos, no campo dos mortos, nestes dias consagrados pelo uso, tudo é do domínio da morte em seu sentido mais restrito!… A vestimenta abandonada pelo Espírito não existe mais e não há crença alguma no coração dos visitantes; são mortos que só têm da vida as aparências terrestres, pois a vida real, a grande vida da alma ainda é desconhecida para o maior número.

Nós vivemos, nós que pensamos, que progredimos, que trabalhamos juntamente para estabelecer a base dos progressos futuros; e eles morrem, ou, melhor, vão morrer no passado para nascer no futuro, graças ao Espiritismo, que traz em seu seio a fonte fecunda de toda perfeição.

A morte não existe; a desagregação que leva este nome restitui à terra os elementos que o corpo material aí hauriu; mas a alma em que reside a vida, a alma que é o ser integral, edifício incessantemente aperfeiçoado pela provação humana, emerge no limiar da morte para a vida real e sem fim da erraticidade!…


Moki.


3. COMUNHÃO DE PENSAMENTOS.

(Médium: Sr. Leymarie.)

Raramente me é concedida a satisfação de vir entre vós, senhores espíritas. Até pouco tempo atrás eu não era dos vossos; hoje, sou um adepto completo, com o que me congratulo. Alguns pontos apenas nos separavam; para mim, os nossos ancestrais célticos acreditavam na imortalidade da alma e a reencarnação lhes parecia a lei das leis. Filho de gauleses, tendo vivido como gaulês nos últimos dias da Idade Média, venho afirmar a doutrina preconizada hoje; ela foi, ela é a grandeza do mestre Allan Kardec; seu espírito judicioso, lacônico provou-lhe a realidade. Ele está entre nós, lendo em vosso espírito o pensamento profundo, inapercebido; e, posso repetir com orgulho, comungo com ele pelo pensamento.

Comunhão de pensamentos! Como é profunda esta ideia! que radicalismo na filosofia liberal e renovadora de nossa sociedade atormentada, entristecida, mortificada pelas dissidências, pelas fronteiras materiais, fictícias, que os interesses levantaram entre todos os povos! Não nego o caráter peculiar a cada país; como Henri Martin, meu honrado amigo, tão prudente, tão lógico, reconheço o gênio particular inerente a cada população, separada das outras por montanhas, rios, florestas imensas; por esse dom excepcional da Providência, que introduzia no espírito geral de cada povo esse instinto original que devia, pela sucessão dos séculos, trazer um código regenerador à Humanidade, código de justiça, criando harmonia na difusão pela divergência das cores; e esse tempo chegou, em que as fronteiras materiais se abaixam e as unidades fluídicas parecem seguir o vapor e a eletricidade!

Montanhas, abismos, mares: não existis mais!… A alma de Deus se universaliza, assim como o pensamento através dos espaços se traduz instantaneamente. As Américas sentem as pulsações do pulso europeu, e o progresso, lei divina! reúne os mais opostos sistemas. Trabalho, indústria, ciência, mecânica, filosofia estão no auge e todos os vossos caros condiscípulos da erraticidade bendizem os promotores do progresso humano, esses gênios desaparecidos corporalmente, mas que presidem a todas as fases humanitárias; e é sobretudo neste momento que o mestre lamenta sua partida. Há divergência, separação, luta entre o futuro que surge e o passado que desaparece; mas ele sabe que o objetivo é a lei e sua brandura é adoçada pensando que o tempo, esse curador infatigável, sabe usar todas as asperezas; ele sabe, o vosso morto venerado, muito mais vivo do que nunca, que a luz sairá das discussões animadas e que a justiça reunirá todos os homens em feixes, diante dessa desagregação do mundo antigo, que leva as consciências à dúvida, ao horror do desconhecido. Ele sabe, o mestre, que os mortos vão depressa e, repito, comungo o seu pensamento!

Instituições, formas, crenças antiquadas, tudo morre e tudo se regenera! As camadas terrenas são revolvidas para se inocular esse vírus benfazejo que se chama leitura, saber, ciência, julgamento, e todos os desaparecidos vão bater sem cessar em todas as consciências, para as despertar e levantar a tampa de chumbo que as cobria.

Comunhão de pensamentos! última palavra de meus trabalhos de cidadão, torna-se, assim, valor intrínseco, joia nacional; inspira meu país, todos os países unidos com os seus princípios; cria o bem-querer, a justiça, a concórdia, o amor; faze que em vez de palavras vãs haja devotamento e o Mestre, satisfeito, verá, pela vontade de todos que amam a calma, a verdade e a Doutrina Espírita, irradiar-se o espírito de solidariedade, chamando a família eterna dos mortos e dos vivos a concorrerem para a edificação futura da crença na vida da erraticidade, à qual convidamos os nossos irmãos presentes e ausentes!

Sede espíritas tanto por vossos atos, quanto por vossas palavras! Uni-vos, recolhei-vos, todos vós que vos aproximais da tumba; porque, cabelos louros, cabelos brancos, sentis a vida eterna, esta surpresa do dia seguinte, surpresa da morte, radiante de vida!…


Jean Reynaud.





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