Adolescência e Vida

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CAPÍTULO 5
Ilustração tribal

O ADOLESCENTE NA BUSCA DA IDENTIDADE E DO IDEALISMO


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O desabrochar da adolescência, à semelhança do que ocorre com o botão de rosa que se abre ante a carícia do Sol, desvela-lhe a intimidade que se encontra adormecida, e desperta, suavemente, aspirando a vida, exteriorizando aroma e oferecendo pólen para a fertilização e ressurgimento em novas e maravilhosas expressões.

A plenitude da vida, na fase da adolescência, estua e exterioriza-se, deixando que todos os conteúdos arquivados no inconsciente do ser passem a revelar-se, em forma de tendências, aptidões, anseios e tentativas de realização.

Nem sempre esse despertar é tranquilo, podendo, às vezes, ser uma irrupção vulcânica de energias retidas que estouram, produzindo danos. Noutras ocasiões pode expressar-se como sofrimento íntimo, caracterizado por fobias de aparência inexplicável, mas que procedem dos registros perispirituais, mergulhados no inconsciente, que repontam como conflitos, consciência de culpa, pudor exacerbado, misticismo, em mecanismos bem elaborados de fuga da realidade.

Reencarnando-se, para reparar os erros e edificar o bem em si mesmo, o Espírito atinge a adolescência orgânica, vivenciando o transformar de energias e hormônios sutis quão poderosos, que o despertam para as manifestações do sexo, mas também para as aspirações idealistas, desenvolvendo a busca da própria identidade.

Carregando a soma das personalidades vividas em outras reencarnações, a sua identificação com o mundo atual demanda tempo e amadurecimento, mediante os quais pode aquilatar quem realmente é e o que legitimamente deseja.

Não tendo o discernimento ainda para eleger o que é melhor, quase sempre se entrega à busca do mais imediato, porque mais simples, procurando acomodar-se às manifestações fisiológicas do comer, dormir, praticar sexo, vencer o tempo sem grande esforço. Trata-se de um atavismo pernicioso, que deve ser melhor direcionado, a fim de que seja descoberta a finalidade da existência e como alcançar esse patamar que o aguarda.

Se o lar oferece segurança afetiva e compreensão, o adolescente tem facilidade para selecionar os valores e aceitar aqueles que lhe são mais favoráveis para o progresso. Todavia, se o grupo familiar é traumatizante, foge para comportamentos oportunistas, que parecem afugentar as mágoas e libertá-lo do cárcere doméstico.

A influência dos pais é decisiva na elaboração e desenvolvimento do idealismo, na afirmação da própria identidade, sem que haja pressão ou autoritarismo dos genitores, antes oferecimento de meios para o diálogo esclarecedor, sem a sujeição aos conselhos castradores e impositivos, sempre de maus resultados.

Há uma tendência no jovem para fugir aos programas elaborados, às experiências vividas por outrem, ao aproveitamento da sabedoria dos mais antigos. Cada ser é uma realidade especial, que necessita vivenciar suas próprias aspirações, muitas vezes equivocando-se para melhor compreender o caminho por onde deve seguir. Em razão disso, experiência e uma conquista pessoal, que cada qual aprende pelo próprio esforço, não raro, através de erros que são corrigidos e insucessos que se fazem ultrapassados pelo êxito.

Quando alguém deseja impor seu ponto de vista, transfere realização não lograda, para que o outro a consiga, assim alegrando aquele que se lhe torna mentor.

A educação propõe e o educando aprende mediante o exercício, a reflexão, o amadurecimento.

Os modelos devem ser silenciosos, falando mais pelos exemplos, pela alegria de viver, pelos valores comprovados, ao invés das palavras sonoras, mas cujas práticas demonstram o contrário.

Quando alguém convive com adolescente encontra-se sob a alça de mira da sua acurada observação. Ele compara as atitudes com as palavras, o comportamento cotidiano com os conteúdos filosóficos, não acreditando senão naquilo que édemonstrado, jamais no que é proposto pelo verbo. Em razão disso, surgem os conflitos domésticos, nos quais os genitores se dizem incompreendidos e não seguidos, olvidando-se que são os responsáveis, até certo ponto, pelo insucesso das suas proposições.

A identidade de cada um tem suas características pessoais, e essas não podem, nem devem ser clones, nos quais se perde a individualidade.

A busca da identidade no adolescente é demorada, qual ocorre com o indivíduo em si mesmo, prolongando-se pelo período da razão, amadurecimento e velhice.

Por isso mesmo, nem sempre a avançada idade biológica é sinônimo de sabedoria, de equilíbrio. Jovens há, maduros, enquanto idosos existem que permanecem aprisionados na criança caprichosa e renitente da infância não ultrapassada.

O idealismo brota do âmago do ser e deve ser cultivado pelos genitores, que estimularão as tendências positivas do filho, oferecendo-lhe os recursos emocionais e afetivos para que ele possa materializar a aspiração do mundo íntimo. Quando se revelar a tendência para o idealismo perverso, o desequilíbrio firmado no egoísmo, no capricho, nos desregramentos morais, é necessário ensinar-lhe a técnica de como canalizar as energias para o lado melhor da vida, propondo ideais práticos e mais imediatos, que sejam compensadores psicologicamente, de forma que a eleição se opere com naturalidade, por meio da substituição daqueles que são perturbadores por esses outros que são satisfatórios.

Ao invés das lutas contínuas, que se fazem imposições descabidas, enriquecidas de queixas e lamentações pelo investimento dirigido ao filho, a quem se informa não saber aproveitar tudo quanto recebe, é justo que todas as propostas sejam apresentadas de forma edificante, sem acusações nem rejeições, mas com espírito de tolerância e compreensão, até que o discernimento do adolescente aceite como fenômeno natural a contribuição, tendo em mente que a escolha foi própria e que isso é bom para ele, não porque outros assim o queiram, porém porque mais o conforta e o agrada.

A adolescência é ainda fase de amoldamento, de adaptação, ao mesmo tempo de transformações, que merece e exige paciência e habilidade psicológica.

De um lado, existe o interesse familiar, que trabalha para o melhor do educando, mas por outra parte se encontra o grupo social, nem sempre equilibrado, na Escola, no Clube, na rua, no trabalho, conspirando contra as atitudes saudáveis que se deseja oferecer e que naturalmente atraem o adolescente, porque ele gosta de ser igual aos demais, não chamar a atenção, ou quando, em conflito, quer destacar-se, exibir-se, exatamente porque vive inseguro, experimenta dramas, que mascara sob a desfaçatez, o cinismo aparente...

Com o tranquilizar do fluxo sexual, mediante a reflexão e o trabalho, através do estudo e das aspirações superiores que se devem ministrar com cuidado, ele passa a identificar-se com o mundo, com as pessoas e por fim com ele mesmo. Essa auto-identificação é mais demorada, porque mais profunda, prolongando-se por toda a existência bem orientada pelo dever e pelas aspirações enobrecidas.

O idealismo torna-se-lhe um alimento que deve ser ingerido com frequência, a fim de que não haja carência emocional e perda de identidade no tumulto das propostas sociais, econômicas e artísticas...

Invariavelmente o Espírito reencarna para dar prosseguimento a tarefas que ficaram interrompidas, e ressurgem nos painéis mentais como aspirações e tendências mais acentuadas. Outras vezes, no entanto, deve começar a experimentar atividades novas, mediante as quais progredirá no rumo da vida e de Deus.

Na fase da insegurança pela adolescência, toda a vigilância é necessária, de modo a auxiliar o jovem a encontrar-se e a definir o seu ideal de vida, entregando-se-lhe confiante e rico de perseverança até conseguir a meta ambicionada.


O ADOLESCENTE: POSSIBILIDADES E LIMITES

Na quadra primaveril da adolescência tudo parece fácil, exatamente pela falta de vivência da realidade humana. O adolescente examina o mundo através das lentes límpidas do entusiasmo, quando se encontra em júbilo, ou mediante as pesadas manchas do pessimismo que no momento lhe dominam as paisagens emocionais. A realidade, no entanto, difere de uma como de outra percepção, sem os altos voos do encantamento nem os abismos profundos do existencialismo negativo.

A vida é um conjunto de possibilidades que se apresentam para ser experimentadas, facultando o crescimento intelecto-moral dos seres. A forma como cada pessoa se utiliza desses recursos redunda no êxito ou no desar, não sendo a mesma responsável pela glória ou pelo insucesso daqueles que a buscam e nela se encontram envolvidos.

Para o jovem sonhador, que tudo vê róseo, há muitos caminhos a percorrer, que exigem esforço, bom direcionamento de opção e sacrifício. Toda ascensão impõe inevitável cota de dedicação, como é natural, até que a conquista dos altiplanos delineie novos horizontes ainda mais amplos e fascinantes.

Assim, as possibilidades do adolescente estão no investimento que ele aplica para a conquista do que traça como objetivo. Nesse período, tem-se pressa, porque todas as manifestações são rápidas e os acontecimentos obedecem a um organograma que não pode ser antecipado, esperando que se consumem os mecanismos propiciatórios à sua realização.

Ansioso pelos voos que pretende desferir, pensa que as suas aspirações podem ser transformadas em realidade de um para outro momento, e, quando isso não ocorre, deixa-se abater por graves frustrações e desânimo. No entanto, através desse vaivém de alegria e desencanto passa a entender que os fenômenos existenciais independem das suas imposições, provindo de muitos fatores que se conjugam para oferecer resultado correspondente. Nessa sucessão de contrários, amadurece-lhe a capacidade de compreensão e aprimora-se a faculdade de planejar, auxiliando-o a colocar os pés no chão sem a perda do otimismo, que é fator decisivo para o prosseguimento das aspirações e da sua execução contínua.

Face à constituição da vida, não basta anelar e querer, mas produzir e perseverar. Esse meio de levar adiante os planos acalentados demonstra que há limites em todos os indivíduos, que não podem ser ultrapassados, e que se apresentam na ordem social; moral, econômica, cultural, científica, enfim, em todas as áreas dos painéis existenciais.

Os acontecimentos são conforme ocorrem e não consoante se gostaria que sucedessem, isto é, nadar contra a correnteza pode exaurir o candidato que vai atirado à praia, onde chega após grandes conquistas e ali morre sem alcançar a vitória.

A sabedoria, que decorre das contínuas lutas, demonstra que se deve realizar o que é possível, aguardando o momento oportuno para novos cometimentos. Especificamente, cada dever tem o seu lugar e não é lícito assumir diversos labores que não podem ser executados de uma só vez.

A própria organização física constitui limite para todos os indivíduos. Quando se exige do organismo além das suas possibilidades, os efeitos são negativos, portanto, desanimadores. Daí, o limite se encontra na capacidade das resistências física, moral e mental, que constituem os elementos básicos do ser humano, e no enfrentamento com os imperativos da sociedade, da época em que se vive, etc.

Certamente, há homens e mulheres que se transformaram em exceção, havendo pago pesados ônus de sacrifício, graças ao qual abriram à História páginas de incomparável beleza. Simultaneamente, também, houve aqueles que mergulharam no fundo abismo do desencanto, deixando-se dominar por terríveis angústias que lhes estiolaram a alegria de viver e os maceraram, levando-os a estados profundamente perturbadores, porque não possuíam essas energias indispensáveis para as conquistas que planejaram.

Ao moço compete o dever de aprender as lições que lhe chegam, impregnando-se das suas mensagens e abrindo novos espaços para o futuro.

Quando arrebatado pelo entusiasmo, considerar que há tempo para semear como o há para colher; quando deprimido, liberar-se das sombras pelo esforço de ascender às regiões onde brilha a luz da esperança, compreendendo que a marcha começa no primeiro passo, assim como o discurso mais inflamado tem início na primeira palavra. Todas as coisas exigem planificação e tentativa. Aquele que se recusa experimentar, já perdeu parte do empreendimento. Não há por que recear o insucesso. Esse medo da experimentação já é, em si mesmo, uma forma de fracasso. Arriscar-se, no bom sentido do termo, é intensificar os esforços para produzir, mesmo que, aparentemente, tudo esteja contra. Não realizando, não tentando, é claro que as possibilidades são infinitamente menores. Sempre vence aquele que se encontra alerta, que labora, que persiste.

A atitude de esperar que tudo aconteça em favor próprio é comodidade injustificável; e deixar-se abater pelos pensamentos pessimistas, assim como pelas heranças auto-depreciativas, significa perder as melhores oportunidades de crescimento interior e exterior, que se encontram na adolescência. Esse é o momento de programar; é o campo de experimentação.

Quando o jovem começa a delinear o futuro não significa que haja logrado a vitória ou perdido a batalha, apenas está traçando rotas que o levarão a um ou a outro resultado, ambos de muito valor na sua aprendizagem, em torno da vida na qual se encontra.

A perseverança e o idealismo sem excesso responderão pelo empreendimento iniciado.

O adolescente não deve temer nunca o porvir, porquanto isso seria limitar as aspirações, nem subestimar as lições do cotidiano, que lhe devem constituir mensagens de advertência, próprias para ensinar-lhe como conseguir os resultados superiores.

Assim, nesse período de formação, de identificação consigo mesmo, a docilidade no trato, a confiança nas realizações, a gentileza na afetividade, o trabalho constante, ao lado do estudo que aprimora os valores e desenvolve a capacidade de entendimento, devem ser o programa normal de vivência. Os prazeres, os jogos apaixonantes do desejo, as buscas intérminas do gozo cedem lugar aos compromissos iluminativos, que desenham a felicidade na alma e materializam-na no comportamento.

Ser jovem não é, somente, possuir força orgânica, capacidade de sonhar e de produzir, mas, sobretudo, poder discernir o que precisa ser feito, como executá-lo e para que realizá-lo.

A escala de valores pessoais necessita ser muito bem considerada, a fim de que o tempo não seja empregado de forma caótica em projetos de secundária importância, em detrimento de outros labores primaciais, que constituem a primeira meta existencial, da qual decorrerão todas as outras realizações.

São infinitas, portanto, as possibilidades da vida, limitadas pelas circunstâncias, pelo estágio de evolução de cada homem e de cada mulher, que devem, desde adolescentes, programar o roteiro da evolução e seguir com segurança, etapa a etapa, até o momento de sua auto-realização.



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