Além da Morte

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CAPÍTULO 26

BOAS NOVAS

A esse tempo fora lotada na equipe da queles que aplicavam passes a recém-desencarnados. As lições aprendidas com Adrião, junto ao leito de Clélia, abriram-me as portas às possibilidades do auxílio, como jamais poderia supor antes.

Com o carinho do dr. Cléofas, que me incluiu entre os seus auxiliares, fui lentamente aprendendo novos métodos de assistência através dos recursos do passe magnético, compreendendo o largo campo de socorro que temos ao alcance e de que raramente fazemos uso.

Compreendi que a condição essencial para o passe é o amor puro e desinteressado, ligado ao espírito de renúncia e confiança nas dadivosas Fontes da Energia.

Aquele que perder a vida, ganhá-la-á — informou o Mestre. E o conceito do Divino Instrutor pode ser aplicado no mister passista, quando se vai a Seu serviço atender a quem sofre. O desejo de dar-se, de "perder a vida" para que outros sejam felizes, concede a vida plena ao doador e ao beneficiado.

Diariamente, ao lado do dedicado Benfeitor, junto aos recém-chegados, colhia informações preciosas das malogradas experiências na carne. Verificava que na grande travessia, entre os homens, a grande maioria era colhida pelas tormentas do passado, incidindo nos mesmos desequilíbrios, para cuja libertação reencarnaram. Aprendi que as ideias que mais perturbam e as coisas que mais influenciam, devem ser vencidas a qualquer preço de dor. Carregamos na mente os valores de ontem que nos continuam a subjugar, conduzindo-nos a desmandos.

O amor selvagem, o desequilíbrio alimentar, o álcool, a cólera, o orgulho e o egoísmo eram os grandes responsáveis pela libertação precipitada das almas. Eles respondiam pela larga cópia de crimes no Orbe e pelos dolorosos estados de horror e loucura após a cortina tumular.

Constatei, muitas vezes, que o excesso de comida conduz maior número de almas à morte do que a carência de alimento.

A paixão criminosa da posse apresentava grave índice de desequilibrados que, irracionalizados, se atiravam aos desvãos cruéis do anarquismo de toda ordem. E por detrás de todos esses tremendos insucessos estavam os débitos de ontem, ligando almas a almas, erros a reparações frustradas, algozes a sicários, em atritos continuados. E concluía que Jesus, dois mil anos depois de ter estado entre os homens, continuava ignorado.

Tão fácil e clara afigurava-se-me a sua Doutrina, agora: "Perdoar setenta vezes sete.

Amar os inimigos.

Desculpar os caluniadores.

Marchar dois mil passos junto a quem nos pede uma caminhada de mil. Ignorar o mau e tolerar-lhe os males.

Dar também a túnica àquele que pede a manta... " Recordava-me, filha minha, quantas vezes eu própria desrespeitava esse código singelo e expressivo! Quantas quedas marcaram a minha alma por desatenção a essa preciosa síntese. E o orgulho, o egoísmo e a ira eram os responsáveis pela desatenção. Inimigo multimilenar de nossa integração no roteiro fraternista, o "eu" governa multidões e estilhaça corações. O impacto da sua carga aniquila expressões valorosas de respeitáveis promessas. "Aquele que quiser vir após Mim — ensinou o Mestre — renuncie-se a si mesmo, tome a sua Cruz e siga-me". Desde a infância, habituamo-nos a ouvir essa luminescente advertência, no entanto... Eis os resultados em toda parte.

A Terra era a abençoada promessa para a imortalidade vitoriosa, de todos; no entanto, a multidão que chegava à Colônia, diariamente, mais se parecia a malogrados navegadores, colhidos por vendaval imprevisto. As câmaras reservadas à loucura apinhavam-se, constituindo motivo de preocupação aos Mensageiros da Paz, na Administração da Casa, consoante me informara o bondoso médico.

Os hipnotizados, em hibernação mental, enchiam várias Enfermarias, guardando a facies marcada pelos horrores dos últimos dias na carne e os primeiros no Além, sob o acicate impiedoso dos adversários intransigentes. Assemelhavam-se a mortos-vivos, mumificados, nos quais somente a débil respiração assinalava a presença da vida. Noutras horas, sob o benefício da prece e do passe, pareciam despertar, olhar esgazeado, estampando no rosto o pavor, monossilabando com dificuldade de articulação sons incompreensíveis, para recaírem na mesma prostração de antes.

Era como um infinito desfilar de destroçados por guerra horrenda.

Dedicados cooperadores revezavam-se nos socorros entre orações e auxílios de toda ordem, a cujo grupo fui incorporada, feliz e ansiosa da renovação íntima que se fazia inadiável.

Decorriam já três anos da minha desencarnação, quando a querida Zélia me acenou com a possibilidade de um retorno ao Lar, em visita, por oito dias, fazendo parte de um grupo de companheiros sob a sua orientação, voltando ao seio das famílias.

Não me podia conter de expectativa e ansiedade. Sabia não merecer essa desejada bênção. Vários amigos novos explicaram-me, anteriormente, as dificuldades de conseguir-se ensejo para reencontros na Crosta. Ante essa promessa, não me podia dominar, visitada a todo instante pelo júbilo e pela emoção.

Depois de estafante tarefa de socorro a acidentados de Estrada de Ferro, recolhidos à nossa Colônia, a amiga espiritual informou-me que, no dia seguinte, quarta-feira, às 19:30 horas, eu retornaria ao Lar, em programa de visita. Lembrei-me de que sempre escutava a tua voz, orando com meus netinhos, no Culto Doméstico do Evangelho, nos dias de quarta-feira. Sem conter a própria felicidade, osculei as mãos da Benfeitora, que sorriu feliz, deixando-me a conjeturar.


No dia aprazado, após os labores habituais, reunimo-nos no Templo, e a irmã Zélia esclareceu:

— Fomos agraciados com o feliz ensejo de reabastecimento de amor. Retornaremos ao seio carinhoso dos nossos familiares. Nem todos, entretanto, encontraremos os entes queridos como desejaríamos. Dor, problemas, dificuldades, doenças, assinalam muitos dos lares programados. Tenhamos confiança em Jesus. Já sabemos que a felicidade não se veste de ilusão e que a paz legítima não é a resultante dos aparatos sociais do mundo. Temos aprendido aqui que o sacrifício e o sofrimento são instrumentos utilizáveis na construção do Reino de Deus. Não nos inquietemos, pois.


Depois de breve pausa, como que para reunir novas expressões, prosseguiu: - A Justiça Celeste atende-nos em qualquer lugar e a Lei encontrar-nos-á em qualquer situação, buscando-nos para o reajustamento com a vida. Confiemos no Mestre Excelso e agradeçamos-Lhe a dádiva de agora. "Não temos o direito de tentar, sob qualquer pretexto, em nome do amor, resolver os problemas que encontraremos na tela mental dos familiares, mas poderemos inspirar-lhes ânimo e coragem para a luta, resignação e confiança na vitória do Bem. "Também não lhes devemos noticiar as próprias inquietações... "Utilizemo-nOS da dádiva do Senhor como abelhas operosas que se comprazem na felicidade da flor!" E como se fizesse continuado silêncio, a amiga espiritual concluiu:

— Formaremos um gupo de almas ligadas pela oração, concentradas no serviço que nos aguarda, e utilizar-nos-emos da volitação para a viagem à Terra.



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Mateus 16:24

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;

mt 16:24
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