Amor, Imbatível Amor

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CAPÍTULO 61

AMOR-PERDÃO

Quando vige o amor nos sentimentos, não há lugar para o ressentimento. Não obstante, face à estrutura psicológica do ser humano, a afetividade espontânea sempre irrompe intentando crescimento, de modo a administrar as paisagens que constituem os objetivos existenciais. Não conseguindo atingir as metas, porque se depara com a agressividade inerente ao processo de desenvolvimento intelectomoral que ainda não se pôde instalar, sente-se combatida e impelida ao recuo.

Tal ocorrência, nos indivíduos menos equipados de valores éticos, gera mal-estar e choques comportamentais que se podem transformar em transtornos aflitivos.

Quando isso sucede, o ser maltratado refugia-se na mágoa, ancorando-se no desejo de desforço ou de vingança.

A injustiça de qualquer natureza é sempre -uma agressão à ordem natural que deve viger em toda a parte, especialmente no homem que, por instinto, defende-se antes de ser agredido, arma-se temendo ser assaltado, fica à espreita em atitude defensiva...

Tudo quanto lhe constitui ameaça real ou imaginária torna-se-lhe temerário e, por mecanismo de defesa, experimenta as reações fisiológicas específicas que decorrem das expectativas psicológicas.

A raiva, sob esse aspecto, é uma reação que resulta da descarga de adrenalina na corrente sanguínea, quando se está sob tensão, medo, ansiedade ou conflito defensivo.

O medo que, às vezes, a inspira, impulsiona àagressão, em cujo momento assume o comando das atitudes, assenhoreando-se da mente e da emoção.

A criatura humana, portanto, convive com esses estados emocionais que se alternam de acordo com as ocorrências, e que se podem transformar em transtornos desesperadores tais o ódio, o pânico, a mágoa enfermiça.

A mágoa ou ressentimento, segundo os estudos da Dra. Robin Kasarjian, instala-se nos sentimentos em razão do Self encontrar-se envolto por subpersonalidades, que são as qualidades morais inferiores, aquelas herdadas das experiências primárias do processo evolutivo, tais a inveja, o ciúme, a malquerença, a perversidade, a insatisfação, o medo, a raiva, a ira, o ódio, etc.

Quando alguém emite uma onda inferior — sub-personalidade — a mesma sincroniza com uma faixa equivalente que se encontra naquele contra quem é direcionada a vibração, estabelecendo-se um contato infeliz, que provoca idêntica reação.

A partir daí estabelece-se a luta com enfrentamentos contínuos, que resultam em danos para ambos os litigantes, que passam a experimentar debilidade nas suas resistências da saúde física, emocional, psíquica, econômica, social...

Naturalmente, porque a alteração do comportamento se reflete na sua existência humana.

Sentindo-se vilipendiado, ofendido, injustiçado, o outro, que se supõe vítima, acumula o morbo do ressentimento e cultiva-o, como recurso justo para descarregar o sofrimento que lhe está sendo imposto.

Essa atitude pode ser comparada à condução de "uma brasa para ser atirada no adversário que, apesar disso, enquanto não é lançada queima a mão daquele que a carrega".

O ressentimento, por isso mesmo, é desequilíbrio da emoção, que passa aatitude infeliz, profundamente infantil, qual a de querer vingar-se, embora sofrendo os danos demorados que mantém esse estado até quando surja a oportunidade.

O amor, porém, proporciona a transformação das subpersonalidades em superpersonalidades, o que impede a sintonia com os petardos inferiores que lhes sejam disparados.

Em nossa forma de examinar a questão do ressen timento e da estrutura psicológica em torno do Self, acreditamos que, em se traçando uma horizontal, e partindo-se do fulcro em torno de um semicírculo para baixo, teríamos as subpersonalidades, e, naquele que está acima da linha reta, defrontamos as superpersonalidades, mesmo que, nas pessoas violentas e mais instintivas, em forma embrionária.

Toda vez que é gerada uma situação de antagonismo entre os indivíduos, as subpersonalidades se enfrentam, distendendo ondas de violência que encontram guarida no campo equivalente da pessoa objetivada.

Não houvesse esse registro negativo e a agressão se perderia, por faltar sintonia vibratória que facultasse a captação psíquica.

O ressentimento, portanto, é efeito também da onda perturbadora que se fixa nos painéis da emotividade, ampliando o campo da subpersonalidade semelhante que se transforma em gerador de toxinas que terminam por perturbar e enfermar quem o acolhe.

Sob o direcionamento do amor, a subpersonalidade tende a adquirir valores que a irão transformar em sentimentos elevados — superpersonalidades — anulando, lentamente, a sombra, o lado mau do indivíduo, criando campo para o perdão.

É provável que, na primeira fase, o perdão não seja exatamente o olvidar da ofensa, apagando da memória a ocorrência desagradável e malfazeja. Isso virá com o tempo, na medida que novas conquistas éticas forem sendo armazenadas no inconsciente, sobrepondo-se às mazelas dominantes, por fim, anulando-lhes as vibrações deletérias que são disparadas contra o adversário, ao tempo em que desintegram as resistências daquele que as emite.

Não revidar o mal pelo mal é forma de amar, concedendo o direito de ser enfermo àquele que se transforma em agressor, que se compraz em afligir e perturbar.

Nessa condição — estágio primário do processo de desenvolvimento do pensamento e da emoção — é natural que o outro pense e aja de maneira equivocada.

O amor-perdão é um ato de gentileza que a pessoa se dispensa, não se permitindo entorpecer pelos vapores angustiantes do desequilíbrio ou desarticular-se emocionalmente sob a ação dos tóxicos do ódio ressentido.

O homem maduro psicologicamente é saudável, por isso, ama-se e perdoa-se quando se surpreende em erro, pois que percebe não ser especial ou alguém irretorquível.

Compreendendo que o trabalho de elevação se dá mediante as experiências de erros e de acertos, proporciona-se tolerância, nunca porém sendo complacente com esses equívocos, a ponto de os não querer corrigir.

É atitude de sabedoria perdoar-se e perdoar, porquanto a conquista dos valores éticos é consequência natural do equilíbrio emocional, patamar de segurança para a aquisição da plenitude.

O amor é força irradiante que vence as distonias da violência vigente noprimarismo humano, gerador das subpersonalidades.

Surge como expressão de simpatia que toma corpo na emoção, distendendo ondas de felicidade que envolvem o ser psicológico e se torna força dominadora a conduzir os objetivos essenciais à vida digna.

Fonte proporcionadora do perdão, confunde-se com esse, porque as fronteiras aparentes não existem em realidade, desde que um somente tem vigência quando o outro se pode expressar.

Amor é saúde que se expande, tornando-se vitalidade que sustenta os ideais, fomenta o progresso e desenvolve os valores elevados que devem caracterizar a criatura humana.

Insito em todos os seres, é a luz da alma, momentaneamente em sombra, aguardando oportunidade de esplender e expandir-se.

O amor completa o ser, auxiliando-o na auto-superação de problemas que perdem o significado ante a sua grandeza.

Enquanto viger nos sentimentos, não haverá lugar para os resíduos enfermiços das sub-personalidades, que se transformarão em claridade psicológica, avançando para os níveis superiores do sentimento, quando a auto-realização conseguirá perdoar a tudo e a todos, forma única de viver em plenitude.



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