Atendimento Fraterno

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CAPÍTULO 11
Ilustração tribal

A DINÂMICA DO ATENDIMENTO


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A Equipe do Projeto É desejável que se mantenha mais de um atendente por plantão, compatibilizando o número disponível com a demanda de público.

As pessoas a serem atendidas serão encaminhadas por ordem de chegada, indistintamente, para o atendente que esteja desocupado, não lhes sendo facultado escolher entre os plantonistas do dia, aquele de sua predileção.

Esta sistemática tem a grande vantagem de não estimular as preferências pessoais, valorizando-se muito mais o Serviço, por suas qualidades, do que as pessoas que o executam. Não queremos com isso dizer que essas pessoas não sejam importantes — porque, em verdade o são, conforme transparece de todo esse investimento que propusemos, linhas atrás, para prepará-los — mas afirmar que o coletivo, a tarefa, o idealismo está em primeiro lugar.

Não estimulamos o retorno dos atendidos. É claro que qualquer um, em se sentindo inseguro e necessitado de um novo esclarecimento, poderá voltar para uma orientação adicional.

Mas, ainda nesses casos, se submeterá ao critério aleatório do trabalho, não podendo exigir que seja ouvido pela mesma pessoa que o assistiu anteriormente.

Tal critério vai na mesma linha anterior, (de não marcar retorno) preservando o Serviço dos preferencialismos e os atendidos de dependências a pessoas, verdadeiras "muletas psicológicas" que, via de regra, se criam à margem dessas relações demoradas e repetitivas. Nunca ser esquecido que a Doutrina Espírita, no seu aspecto filosófico, ensina a cada criatura a encontrar o caminho de sua libertação moral-espiritual sem a dependência de terceiros, pois cada um carrega a cruz que construiu para si mesmo. Jesus, o Excelente Filho de Deus, nos deu o exemplo na caminhada para o Calvário libertador: o Cireneu que o socorreu, em decorrência do peso da cruz que carregava, não a colocou no seu próprio ombro para transportá-la ao local da crucificação.

Foi o próprio Mestre quem o fez com extraordinário estoicismo.


Não há inconveniente algum em o cliente que retorna, e estando diante de outro atendente, começar a narrativa de seu problema assim: — "Estive com fulano, seu colega de atendimento, mas como estou precisando de uma reavaliação das dificuldades que estou enfrentando, face ao desdobramento natural dos fatos, aqui estou para lhe pedir apoio". Ao que o atendente fraterno responderá com tranquilidade: — "Pois não: coloque-me a par, resumidamente,

de sua problemática, e dos passos que foram tomados até aqui, para que eu me situe e possamos emcontrar juntos uma solução viável".

E tudo correrá num bom clima, sem qualquer constrangimento.

Naturalmente que este segundo atendente tomará o cuidado necessário para não emitir julgamento crítico com relação à orientação anterior, preservando-se das insinuações emanadas dos próprios pacientes, no desconcerto que ainda os caracteriza.

O tempo de duração de cada atendimento poderá situar-se entre 15 a 20 minutos. Até porque não estamos fazendo um atendimento à feição de uma sessão de terapia psicológica, porque essa não é a finalidade do Atendimento Fraterno. Sua proposta, como já vimos, no início, é ouvir e orientar, à luz do Espiritismo, procurando sempre envolver o atendido no compromisso de assumir o que for necessário, o que for bom e justo fazer a benefício de seu despertamento espiritual. Havendo traumas profundos a remover, necessidades de atendimento nas áreas médica e psicológica, o atendido poderá ser conscientizado quanto à necessidade de buscá-los, fora do Centro Espírita, com profissionais especializados.

O que interessa, no Atendimento Fraterno, são os fatos principais e a definição clara de como a pessoa que busca auxílio está se sentindo para que comece a descobrir-se e, com a ajuda que se lhe oferece, naquela oportunidade, abrir-se a um momento novo em sua vida.

Tempo excessivo gasto na colocação de problemas pode redundar em extravasamento exagerado de emoções, queixas e repetições inócuas, dificultadoras para a transmissão das orientações, sem falarmos nos problemas de ordem prática relacionados com a ordem do serviço, que deve assegurar oportunidades de atendimentos para todos.

Isso só é possível com a disciplina do tempo para que não se estabeleçam na sala de recepção a impaciência e a inquietação entre os que esperam a sua vez de ser atendidos.

Existindo, na Casa Espírita, um companheiro mais experiente (ou mais de um) e que exerça liderança inquestionável sobre o grupo, que se destaque por uma qualificação de grande competência e se distinga por valores afetivos e intelecto-morais expressivos, essa pessoa poderá funcionar como um orientador especial para quem os casos mais complexos sejam encaminhados, de acordo, naturalmente, com certos critérios ou ordens de trabalho adredemente estabelecidos. Constituir-se-á, esse líder, um canal, um recurso para que se divida um pouco a responsabilidade com o trato das vidas alheias. Digamos, uma instância superior para a qual se pode recorrer de modo a se melhorar a qualidade do serviço e minimizar erros.

No Centro Espírita Caminho da Redenção assim procedemos.

Nessa instância especial de atendimento admite-se, esporadicamente, a recomendação de retorno, a critério exclusivo de quem por ela é responsável, a título de estímulo e como demonstração de interesse legítimo para aprofundar a ajuda.

Depois, a relação se deve transferir para o convívio normal do Centro Espírita, se o atendido conseguir sensibilizar-se com a orientação e vincular-selhe.

A situação mais comum nas Casas Espíritas que disponham desses orientadores mais abalizados e seguros, lideranças autênticas (principalmente quando médiuns) éque esses companheiros sejam procurados por um número significativo de necessitados, ficando sobrecarregados e impossibilitados de exercer um bom trabalho, por falta do tempo mínimo que cada caso requer.

A qualidade do trabalhador estimula a demanda, que acaba prejudicando a qualidade. Daí resultam os constrangimentos das filas, as reclamações, frutos da impaciência que sempre se exacerba naquele que não está bem e que carrega na mente o seu problema, que para ele é o maior do que o de todos os demais.

Criando-se um Serviço em duas instâncias, com um número adequado de atendentes, em condições de dar assistência preliminar para os casos mais graves e definitiva para os mais simples, otimiza-se o atendimento, assegurase assistência de qualidade para o maior número possível de pessoas, cada uma conforme o seu grau de necessidade.

Cuidados especiais devem ser mantidos para não caracterizar o Atendimento Fraterno como serviço que exista tão só e exclusivamente para fazer triagem de casos a serem encaminhados para o companheiro mais experiente a que nos referimos. Não. O Atendimento deve realmente orientar e assim ser visto como um serviço que tem, fundamentalmente, esse papel, não sendo por outra razão que deverá ser executado por pessoas experientes, respeitáveis e respeitadas no grupo, integradas na Casa Espírita com outras qualificações que já tivemos a oportunidade de mencionar em capítulos anteriores.

O Atendimento Fraterno não tem como finalidade fazer prosélitos. De igual modo não se deve converter em consultório psicológico, atendendo a alguns de forma preferencial e exclusivista e, por isso mesmo, dificultando o acesso a outros que dele têm necessidade. Não há como contemporizar: uma forma de atender é impeditiva e bloqueadora da outra; se atendemos aos mesmos sempre, outros ficarão sem acesso ao Atendimento.

O número sempre crescente de pessoas necessitadas de consolo, orientação e apoio que buscam o Centro Espírita vem-se tornando um desafio para que ele multiplique os seus serviços, mantendo-se de portas abertas todos os dias com plantões conjugados de Atendimento Fraterno e de passes.


REGISTROS


O que registrar, no Atendimento Fraterno, deve ser sempre em função daquilo que se quer avaliar em termos de pesquisa ou de estatística.

Se queremos pesquisar, teremos que obter dados compatíveis com a finalidade e natureza da própria pesquisa.

Poderemos colocar idade, profissão ou qualquer outra informação desde que saibamos para e porque estamos tomando semelhantes dados. Anotar por anotar não tem cabimento.

Se queremos uma estatística numérica para fins de relatório anual, deverá ser anotado apenas o necessário à quantificação de atendimentos realizados.

No Centro Espírita Caminho da Redenção evitamos o excesso de burocracia, as fichas complexas e detalhadas.

Uma coisa é certa: o trabalho do Atendimento tem compromisso com a discrição e o anonimato, por força de um impositivo ético que é comum a todas as disciplinas voltadas para a saúde física ou moral da criatura humana. Uma regra simples a observar: se identificarmos a pessoa, não podemos deixar gravado o seu problema; se gravarmos o problema, não podemos identificar a pessoa.

Um cuidado adicional para o caso de termos que tomar algumas notas: façamo-lo após o atendimento, para não dispersar a nossa atenção e nem quebrar os liames emocionais da relação estabelecida.

Havendo interesse por parte do Atendente em anotar uma experiência interessante, num caso rico de lições, com os detalhes necessários, para fins de estudo nas reuniões de avaliação, que o faça em casa registrando em uma caderneta pessoal.

Para muitos de memória eficiente bastará guardá-los na mente e no coração.


RELAÇÃO COM OS PASSES

Colocamos como pré-requisito do atendente fraterno a habilidade para aplicar passes, isto porque, havendo necessidade, poderá complementar a sua ação socorrendo o atendido com os passes magnéticos. Deve-se ter em mente, todavia, que tais fatos serão sempre raros e ocasionais, restritos a casos em que a pessoa ouvida se encontre num estado acentuado de desorganização física ou emocional. Ainda assim, é preciso a aquiescência da pessoa que está sendo atendida, pois não é raro ela desconhecer o que sejam os passes, principalmente quando não for espírita, e não se sinta confiante o suficiente para se entregar a uma terapia alternativa a que não está acostumada.

Respeito ao outro é básico no Atendimento Fraterno.

No caso de desequilíbrio instalado os passes se tornam indispensáveis.

Quando a Casa Espírita possui um serviço de passes regular, com plantões periódicos, é de bom alvitre que as pessoas, antes do passe, sejam orientadas no Atendimento Fraterno, individualmente, durante as entrevistas, ou em grupo, por meio de reuniões de pequena duração (não maiores que 25 minutos), as chamadas reuniões de assistência espiritual, constituídas de prece, leitura, comentários, vibrações e passes individuais.

Tal orientação será extremamente benéfica, sob os seguintes aspectos a considerar:
- 1o) - Orientação Quanto à Real Necessidade de Tomar Passe: Não são poucos os que recorrem a essa terapia por hábito, sem realmente estar precisando dela; muitos afirmam, supersticiosos, que tomam passe como um preventivo contra os futuros problemas que poderão advir, O atendente fraterno promoverá uma conscientização e procurará redirecionar o interesse dessas pessoas para as reuniões doutrinárias e de estudo.
- 2o) - Orientação Quanto à Conveniência do Tratamento Médico: Essa é outra conscientização importante a fazer, quando necessária.

Os atendidos não se dão conta disso, às vezes, por julgarem ser o passe suficiente para restituir-lhes a saúde e o equilíbrio, negligenciando o tratamento especializado.
- 3o) - Orientação de Como se Portar Ante o Passe: Sempre há alguma coisa a dizer àqueles que buscam a terapia pelos passes, quando nada, ensinando aos neófitos e pessoas desinformadas a postura correta a se adotar na hora do passe e depois dele - para que os resultados se façam exitosos. É de fundamental importância essa preparação através da palavra acolhedora e amiga, que abrirá os campos de força do paciente para melhor receber os benefícios da bioenergia restauradora.

Não é raro, pessoas assoberbadas de conflitos e inquietações íntimas, que à Casa Espírita recorrem em busca tão somente do benefício do passe, abrirem-se a uma conversação edificante, aliviando pressões internas e facilitando, destarte, a ação da bioenergia que vai, apenas, complementar o trabalho terapêutico já iniciado.

Com esse procedimento evita-se que seja o passista solicitado, como algumas vezes ocorre, a dar conselhos, consolar e esclarecer, dentro da sala onde é aplicado o auxílio, pessoas que não encontraram o acolhimento necessário de que tanto careciam.


Sabe-se que o silêncio e a meditação devem ser as posturas ideais dos passistas, cujo envolvimento com os pacientes não deve ir além de um gesto acolhedor (embora silencioso, repetimos), para não perder a sintonia com os Benfeitores Espirituais que lhes assessoram o trabalho
1 - Ver livro Terapia Pelos Passes também do Projeto Manoel Philomeno de Miranda.

Sala de passes, quando ali estejam se desenvolvendo as atividades da aplicação de bioenergia, não é local apropriado para conversações e relações outras que não o próprio trabalho da doação energética.

Essa é a função, repetimos, do atendente fraterno e não do passista.





FIM




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