Atendimento Fraterno

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CAPÍTULO 8
Ilustração tribal

RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA OS ATENDENTES


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Equipe do Projeto

* Não Prometer Curas ou Estabelecer Certezas Absolutas: Uma das finalidades do Atendimento Fraterno é ajudar pessoas a redirecionarem suas vidas em função de uma melhor compreensão das dificuldades a que estão jungidas, a adotarem atitudes mais favoráveis à harmonização íntima de que carecem.

O atendente fraterno deve ser positivo, estimulante e animado para influenciar as pessoas a fazerem as mudanças necessárias à conquista de si mesmas, avançando no rumo do progresso e da paz.

Porém, deve trabalhar sempre com o relativo, fugindo às declarações extremadas, carregadas de promessas maravilhosas, que, nem sempre os atendidos estão em condições de construir ou delas são merecedores.

O Atendimento Fraterno está voltado para a solução dos problemas caracterizados por falta de ajustes da personalidade na vida íntima da pessoa.

Jamais o maravilhoso, a revelação com relação ao mágico e ao místico poderá contribuir eficazmente para a solução de tais necessidades.

Deve-se deixar bem claro, isto sim, que Deus ajuda incessantemente, na medida do esforço e da boa vontade de cada um, e que nenhuma ação no bem nem qualquer movimento da alma no sentido de reparação das faltas ficará sem resposta.

* Recusar Gratificações, Atenções ou Distinções Especiais: Tais encômios poderiam ser vistos como pagas indiretas. Todos os que trabalham nas Casas Espíritas, servindo aos propósitos do Consolador, na Terra, já sabem que o "dai de graça o que de graça recebestes" é regra insubstituível.

A confiabilidade de uma Casa Espírita repousa na observância desse princípio ético que, não sendo único, é fundamental, como base de apoio para todos os demais.

* Evitar Opiniões Pessoais: O suporte para o aconselhamento num serviço de Atendimento Fraterno de uma Casa Espírita está nos postulados da Doutrina Espírita. Ela representa hoje, na Terra, a concretização da promessa do Consolador Prometido. As pessoas buscam o Centro Espírita porque estão sequiosas desse Consolador que lhes esclarecerá as razões do sofrimento, ao mesmo tempo apresentando para elas a metodologia capaz de libertá-las desse sofrimento.


Sonegar esse "divino alimento" aos que dele precisam,

dando-lhes, em troca, opiniões pessoais, pode ser qualificado como traição ou burla injustificável e de graves consequências.

* Não Interferir em Receituários Médicos Ainda que seja médico, um atendente fraterno não deverá fazê-lo.

E se não o for, mais grave ainda o procedimento, por falta de competência para o desiderato.

O que leva muitas vezes a se agir dessa forma é a euforia, a confiança na força transformadora da Doutrina e na eficácia da Terapêutica Espírita.

Essa confiança, que deverá ser mantida, bem se vê, não invalida a excelente contribuição desempenhada pela Medicina, pela Psicologia e outras ciências que se envolvem com a saúde humana, dádivas de Deus que são, ajudando-nos na preservação da vida e na conquista de condições mais favoráveis para o exercício de nossas funções, e que se somam, isto sim, às possibilidades da Terapêutica Espírita.

As vezes, o impulso surge na mente do atendente, interessado honestamente no bem-estar do atendido, para sugerir esse ou aquele profissional da saúde, de sua preferência. Que se contenha, porque não é da sua função fazer indicações dessa natureza, muito menos em substituição aos já escolhidos pelo atendido, porque, nesse caso, estaria interferindo na decisão do outro e assumindo uma responsabilidade grave que lhe não compete.

* Manter Privacidade, Mas Não Vedação Absoluta da Sala: A privacidade é da estrutura do próprio Serviço.

Um local em que a pessoa possa falar sem ser escutada e expressar suas emoções de forma mais reservada.

Não há necessidade, todavia, de se fechar a porta e mantê-la trancada, como se estivéssemos guardando "delicados segredos".

O ato de se manter a porta apenas encostada garante essa privacidade, ao mesmo tempo deixando-se um certo acesso para alguma providência que se faça necessária, e o atendido, que vem pela primeira vez, mais tranquilo, por não estar totalmente isolado da sala de recepção, das pessoas que ali estão, dos próprios amigos ou parentes que o trouxeram àquele encontro.

A medida é também uma precaução para o próprio atendente, que não está isento das ciladas que lhe podem ser armadas através de pessoas em desarmonia íntima que acorrem ao Atendimento Fraterno.

A porta apenas encostada inibe um pouco as arremetidas do desequilíbrio, permitindo-se que rapidamente alguém seja chamado para ajudar.

* Falar Com Simplicidade: O vocabulário do atendente deve ser ajustado à cultura e às possibilidades de compreensão do atendido. Não é necessário violentar-se, mas proceder de tal forma que a comunicação se estabeleça, sob pena de comprometer a própria relação de ajuda. Aliás, a boa técnica da comunicação dita a necessidade de se verificar, durante a conversação, se está havendo compreensão de parte a parte, o que poderá ser percebido pelas reações emocionais, posturas ou mesmo através de perguntas habilmente formuladas.

Nós, espíritas, particularmente, deveremos tomar cuidado ao lidar com os não espíritas por causa do vocabulário específico da Doutrina Espírita.

* Atender o Indivíduo, de Preferência, Sozinho: São comuns as inibições e constrangimentos que presenças aparentemente inofensivas provocam. Quantas vezes, pessoas afins (pais, maridos, esposas, etc.) acompanham os seus afeiçoados aos gabinetes de Atendimento Fraterno não para ajudarem, mas, para fiscalisarem, colocarem seus pontos de vista, recalcando os dos seus entes queridos.

O atendente deve sugerir delicada e habilmente que cada um seja atendido separadamente, porém, em hipótese alguma, recusar-se a fazer o atendimento em grupo.

Tal recomendação, às vezes, se inverte: quando o atendido não tiver condições de assimilar a orientação, face às suas desarmonias íntimas, a presença de um acompanhante poderá ser bastante útil.

* Não Fazer Revelações: Comentários sobre vidências de Espíritos, revelações do passado, cenas de outras vidas, etc., são claramente indesejáveis, prejudiciais e despropositadas na maioria dos casos.

Quando ocorrem tais fenômenos com o atendente (e são extremamente raros) é para orientá-lo, dar-lhe mais segurança no atendimento e não para que revele ao seu interlocutor o que está acontecendo.

Cuidados não serão poucos para que o prazer egóico de se colocar em evidência não estimule semelhante procedimento.

* Não Dizer ao Atendido: "Você Está Obsidiado!" Conquanto se perceba, numa entrevista, a obsessão como um fato evidente e consumado, a colocação do fato nunca pode ser tão enfática, para não deprimir nem gerar pânico, ocorrências muito prejudiciais a quem já está fragilizado e dependente.

Pode-se falar, em tese, na ação dos Espíritos sobre as criaturas humanas, demonstrando que o fato é mais comum do que se imagina e aconselhar-se um "menu"de providências capazes de preservar o ajudado desse mal e erradicarlhe as primeiras manifestações.

Caberia, aqui, uma questão: se não se pode ou deve advertir ao atendido de que é portador desse mal, como tratá-lo?

Encaminhando-o para a Doutrina Espírita (reuniões doutrinárias e de estudos, livros, laborterapia da caridade, trabalho, etc.) e recomendando a utilização das terapias espíritas, num Centro sério, sempre que se sentirem em déficit de forças vitais, desordem emocional ou dificuldade de concatenação lógica do pensamento. Tais providências representam, propriamente, a desobsessão, que naturalmente se completará com a doutrinação dos Espíritos malfazejos nas reuniões mediúnicas, o que ocorrerá por iniciativa dos Mentores Espirituais, sem a necessidade da presença do assistido encarnado e mesmo sem o seu conhecimento, independentemente de nossa vontade, mas conforme a necessidade, mérito e prioridade de cada caso.

Fixar na mente do atendido a ideia da obsessão éfragilizá-lo ainda mais e colocá-lo no rol dos doentes, quando poderemos colocá-lo entre os companheiros de trajetória.

* Não Doutrinar Espíritos Durante o Atendimento: Incorporações ocorrem, algumas vezes, através dos próprios atendidos em situação de descontrole emocional, obsessão instalada ou aforamento de mediunidade. A postura correta do atendente fraterno é chamar à lucidez o atendido-médium para que o Espírito se afaste.

Pode ser necessária uma breve exortação austera ao Espírito com este propósito, seguida, em casos renitentes, de passes dispersivos.

Não se trata de descartar uma presença indesejada mas assegurar a harmonia de ambos, o Espírito e o atendido-médium, bem como do ambiente.

* Não Utilizar-se de Informações do Atendimento para Orientar Doutrinadores nem Informações destes para Orientar o Atendimento: A experiência do Atendimento Fraterno é de uso pessoal para o atendente.

Qualquer julgamento que ele faça não passa de um julgamento, de uma presunção. Como passar para outrem esse material informativo, que em si mesmo é apenas uma verdade parcial, relativa, sabendo-se que ele sofrerá outras tantas adaptações ao serem transferidas para terceiros, deformando-se mais ainda?

Por outro lado, os médiuns e doutrinadores que atuam nas reuniões mediúnicas precisam exercer as suas funções em absoluta liberdade, sem peias, livres das sugestões alheias a fim de assumirem a responsabilidade do que fazem, imunes de quaisquer sugestões que os induzam ao erro.

A discussão desse assunto vem a propósito de práticas dessa ordem que se vêm vulgarizando e fazendo escola no Movimento Espírita.

Quando é o próprio atendente fraterno que, em sendo médium ou doutrinador, percebe, nas reuniões mediúnicas, presenças espirituais ligadas a pessoa por ele atendida, o caso é diferente.

As identificações, nessas oportunidades, que são muito comuns, se constituem ajudas, informações adicionais valiosas para nortear o seu trabalho.

* Não Encaminhar ou Indicar Pessoas Para Reuniões Mediúnicas: Já é por demais conhecida a recomendação de que a reunião mediúnica não é um gabinete de terapia para os encarnados, diretamente, mas para os desencarnados. Do Atendimento Fraterno para a reunião mediúnica nenhuma pessoa deve ser encaminhada, sob pretexto algum, nem para receber ajuda momentânea, tampouco para aferir se a pessoa é médium e, muito menos, para ser um dos seus membros, o que requer uma preparação bem cuidada, estudos e integração na Casa Espírita. Ver nossa obra: Projeto Manoel Philomeno de Miranda - Reuniões Mediúnicas.

* Não Asseverar para o Atendido: "Você é Médium": Não raro, pessoas chegam ao Atendimento Fraterno com sintomas presumíveis de mediunidade em afloramento.

É muito comum que os "entendidos" em se acercando delas afirmem, peremptórios: "Você é médium O Atendimento Fraterno tem por filosofia ajudar o ser a se descobrir.

Assim sendo, todo o trabalho se desenvolverá no sentido de orientá-las para o estudo da Doutrina Espírita e de si mesmas, de tal maneira que, cada uma, em se percebendo, diga: "Tudo indica que eu sou médium.

Vou criar as condições para experimentar, como recomendava o Codificador, condição única para se ter certeza do fato".

* Não Atender Incorporado (Transe Mediúnico:) Em nossa proposta, o Atendimento Fraterno é trabalho dos homens para os homens.

A mediunidade, nesse Serviço, se expressará sob o aspecto da inspiração e capacidade de intuir, mas, nunca por meio do transe mediúnico.

Mesmo porque, esse é um trabalho de equipe, não se admitindo que uns atendam ostensivamente mediunizados e outros não.

Há inúmeras referências no Movimento Espírita a atendimentos feitos por Espíritos incorporados, as tradicionais consultas, que mais não são do que compromissos pessoais de alguns médiuns, em tarefas de aprendizagem. (Nesse campo ninguém pára de aprender). Queremos dizer que tais casos não passam de fases transitórias na trajetória mediúnica do sensitivo, enquanto adquire confiança para orientar, de forma lúcida, em sintonia apenas inspirativa com seu mentor. Começam atendendo em transe para prosseguirem, adiante, quando mais experientes, sob a influência da onda inspirativa, da corrente mental dos Mentores Espirituais.

Ocorre que a estagnação do médium torna-o, muitas vezes, dependente do transe por trás do qual se esconde para não assumir a responsabilidade direta do atendimento. E porque não confia, retarda o momento de exercer a mediunidade inspirativa plena a que está fadado. Algumas vezes, a motivação é oposta: em vez do receio, move-lhe a ânsia do poder místico que a mediunidade ostensiva proporciona entre as pessoas não familiarizadas com a Doutrina Espírita para quem falar com Espíritos "é o máximo".

* Não Estimular Que o Assistido, em Atitude de Queixa, Revele os Nomes dos Centros Espíritas Por Onde Passou: Trata-se de uma medida ética, acautelatória, para deixar o atendente livre de modo a orientar a pessoa com espontaneidade e seguro de não estar estimulando que se veicule a palavra de descrédito, o conceito desairoso a respeito de Instituições co-irmãs.



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