Espelhos da Alma: Uma Jornada Terapêutica
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TROPEÇOS DA TAREFA
Os áulicos da Treva ameaçavam-nos sempre, utilizando-se de todo cabedal da maldade que podiam dispor. O seareiro de Jesus, no entanto, prosseguia fiel na tarefa. Inspiravam-no ao desencanto, ao receio; agrediam-no com gestos e malquerenças; providenciavam antipatias gratuitas e suspeitas infundadas; atiravam-lhe pessoas inescrupulosas; facultavam tentações, mas, o trabalhador orava, renovava-se, insistia e prosseguia.
Havemos de silenciar o teu verbo.
estrugiam, raivosos, uns.
Amputaremos suas mãos.
Bradavam, coléricos, outros.
Criaremos situação embaraçosa da qual não escaparás. Urgiam, venenosos, diversos. O operário do Cristo orava, vigiava e prosseguia. Convidando a deslocar-se com frequência de um para outro lugar, não eram poucos os escolhos a vencer, nem as dificuldades a transpor. Inveja de alguns, censuras de muitos, maledicências e azedumes dos frívolos, e ele, sem embargo, orava, sorria, disfarçava a dor da incompreensão e prosseguia. Não se queixava, não maldizia. Viajou, certa vez, para atender a um largo programa que o aguardava. Chegando à cidade próxima ao local da primeira conferência, não encontrou o amigo que prometera esperá-lo. No comenos, acercavam-se uns cavalheiros bem postos, saudaram-no e explicaram que seriam seus acompanhantes até a cidade onde o anfitrião, que se desculpava por ali não estar, anelava abraçá-lo e elucidaria melhor sobre o empeço.
Tratava-se de pessoas de aparência simpática, joviais, de homens do mundo...
Tomaram o veículo e partiram. A distância a vencer era de cento e setenta quilômetros, mais ou menos. O discípulo do Evangelho, a fim de tornar amena a viagem pôs-se em conversação edificante. Transcorridos alguns minutos, um dos ocupantes do veículo permitiu-se uma anedota vulgar e infeliz, sendo seguido por outro compar que se orgulhava de conhecer os desvãos da sordidez humana. Gargalhadas e deboches, promiscuidade verbal e degradação humana tomaram conta dos minutos Desagradavelmente surpreendido, o expositor espírita acautelou-se no silêncio da oração.
Ao entusiasmo da leviandade sucedeu-se a irresponsabilidade e o condutor acelerou, em demasia o veículo. A psicosfera ambiental fazia-se tóxica, penumbrosa. Prevendo uma tragédia, o trabalhador da verdade aprofundou-se na concentração.
Será hoje miserável! - Gritou-lhe, exultante, um dos inimigos desencarnados do bem -. Encontramos o material humano de que necessitávamos. Iremos matá-los, a fim de matar-te. E esturgiu ruidosas obcenidades, em gargalhadas de alucinação. Retemperando o ânimo na confiança divina, o obreiro solicitou ao condutor:
—Pode parar o carro por um momento? Súbita indisposição perturba-me.
O pedido, feito com bondade, denunciava urgência com energia. Parada a carreira do desvario, os companheiros desavisados deram-se conta da palidez que desfigurava o convidado. Perceberam a lamentável descortesia, tentando ser úteis.
—Não se preocupe - justificou-se o pregador com gentileza -, isto me sucede de quando em vez e logo passa. Permitam-me aspirar um pouco de ar, andar alguns passos e tudo retornará à normalidade. Saiu do veículo, caminhou um pouco enquanto uma nuvem de malfeitores desencarnados tentava perturbá-lo, agressivamente. A fim de fugir a visão dos acompanhantes, dispôs-se a descer ligeira encosta da estrada, quando sentiu um vigoroso empurrão e grosseira sentença cheia de ódio:
—Cai, miserável, morre! Sem saber explicar-se, rolou pela ribanceira e encharcou-se no pântano, em baixo, recoberto de caniços.
Tremiam-lhe as carnes, a respiração ofegava. Apesar disso, reuniu as forças e orou sem revides, nem desespero. À borda do asfalto, a chusma de irmãos perseguidores e doentes do espírito chiscanava, zombando, em infrutífera tentativa de aparvalhamento.
—Levanta-te para outra.
Retorna ao carro. Esperamos-te para o duelo. Covarde! Sem milindres justificáveis, após a prece restauradora da paz, ele levantou-se, corrigiu o traje enlameado, procurou assear-se e retornou. Ante ao assombro dos outros, acercou-se.
—Cai. - Disse com esforço para imprimir-se naturalidade à voz - permitame retirar a mala, a fim de trocar de camisa. Atendido pelos irresponsáveis voltou-se para eles e disse com destemor:
—Agora, podem ir-se.
Eu ficarei aqui.
—Que passa?! inquiriram.
—Nada.
– Respondeu, - com os senhores eu não seguirei. Desculpem-me e expliquem à pessoa que os mandou buscar-me. Ficarei a esperá-lo. A atitude decidida não dava margem às dúvidas. Caindo em si, os homens do mundo insistiram inutilmente e partiram.
Sem saber exatamente o que fazer, ali deixou-se ficar, em atitude de preces.
Tinha certeza do auxílio providencial do Alto, que nunca falta. Não transcorreram muitos minutos. Um caminhão, que passava na mesma direção, parou e o condutor chamou-o. - Necessita ajuda? - Perguntou, bondoso.
—Sim, rumo à cidade de...
—Venha! Traga a mala.
Acomodou-se ao alto, na boleia, não se continha de contentamento.
—Algum problema? - inquiriu o outro.
—Sim.
Tudo, porém, está regularizado.
—Estou indo a uma conferência espírita a convite do meu compadre José Leal, nesta cidade. E o senhor está de passagem? O discípulo de Jesus nublou os olhos de lágrimas, a voz se lhe embargou a garganta. Com alguma dificuldade, elucidou:
—Eu sou o conferencista.
Irei hospedar-me com seu compadre... Louvado seja Deus! A serviço do Cristo jamais te atemorizes. Não aguardes facilidades, nem receies problemas. Os tropeços da tarefa são desafios à fidelidade do serviço. Entrega-te ao trabalho do Espírito de Verdade e ele cuidará de ti.