Espelhos da Alma: Uma Jornada Terapêutica

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CAPÍTULO 19
Ilustração tribal

VOLTE, PARA EU CHORAR...


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A sala gradeada e ampla da Penitenciária Estadual encontrava-se repleta.

Eram jovens delinquentes menores de trinta anos, que se encontravam recolhidos, por haverem destruído vidas humanas.

A jovem dama espírita fora convidada a proferir uma conferência, a fim de colaborar na tarefa de reeducação empreendida pela Casa Correcional.

A palavra lhe escorria pelos lábios, nascida na alma gentil, entretecendo considerações sobre os vergos agir e reagir. "O animal ferido reage - afirmava com doçura e sabedoria -.

O homem, quando agredido, age. " "Reagir é do instinto, significa revidar.

Agir é atitude decorrente da razão, do discernimento. " "A reação agressiva é ato de covardia moral, enquanto que ação pacífica é uma atitude de valor moral. " O auditório atento bebia-lhes os enfoques sábios. "Se muitos, senão todos aqui, se tivessem recordado de agir, no momento do problema, atuar com discernimento, certamente o resultado seria outro... " Nenhuma censura no conceito, condenação alguma na mensagem.

Ela relanceou o olhar, numa pausa que se fez natural, e se deteve fulminada pela expressão fria, quase zombeteira, de crítica ácida sem palavras, na face lívida de um jovem reeducando.

Por pouco não se desconcertou. Prosseguiu, porém, asseverando: "Quando, no Pretório, o soldado esbofeteou a face do Mestre, a fim de ser simpático a Pilatos, Jesus não entremostrou qualquer reação... Sereno, fitou o jovem militar atormentado e o inquiriu: - "Por que me bateste? Se falei errado, mostra-me o meu erro, se, porém, falei corretamente, por que me bateste?" A interrogação ficou sem resposta.

A mente aturdida no agressor, porém, jamais olvidaria aquele homem, aquele momento"...

O silêncio fazia-se sepulcral.

Alguns detentos, comovidos, choravam, e não se envergonhavam disso.

Depois de novas considerações, a nobre oradora falou da reencarnação - bênção do amor de Deus para todos os homens - suas esperanças e consolações, encerrando a conferência.

Já, ao fim, olhou para o jovem que a desafiava sem palavras e defrontou a mesma rude expressão facial agressiva.

Sentiu-se assustada, lamentando não o haver sensibilizado.

Sentia-se algo frustrada.

Terminadas as conversações, as despedidas, dirigiu-se à porta e escada externa de saída, quando vigorosa mão segurou-a pelo braço e puxou-a.

Ela se voltou, quase bruscamente, e o viu.

Ele a fixava com incomum brilho no olhar.


A voz era trêmula, quando indagou:

—A senhora pretende voltar aqui?

—Não sei...

Creio que não fui convincente, clara... Não acredito que hajam gostado do que eu falei...

—Volte, senhora, por favor! - Ele pediu, vivamente comovido.

– Volte, ao menos, para me fazer chorar outra vez, como hoje...

Ela tem voltado e ele encontrou Jesus.

Chora, diferentemente, agora.

As aparências nem sempre refletem os estados dalma.

No bem, faça sua parte, e o próprio bem realizará o que lhe cabe produzir.



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