Espelhos da Alma: Uma Jornada Terapêutica
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VOLTE, PARA EU CHORAR...
A sala gradeada e ampla da Penitenciária Estadual encontrava-se repleta.
Eram jovens delinquentes menores de trinta anos, que se encontravam recolhidos, por haverem destruído vidas humanas.
A jovem dama espírita fora convidada a proferir uma conferência, a fim de colaborar na tarefa de reeducação empreendida pela Casa Correcional.
A palavra lhe escorria pelos lábios, nascida na alma gentil, entretecendo considerações sobre os vergos agir e reagir. "O animal ferido reage - afirmava com doçura e sabedoria -.
O homem, quando agredido, age. " "Reagir é do instinto, significa revidar.
Agir é atitude decorrente da razão, do discernimento. " "A reação agressiva é ato de covardia moral, enquanto que ação pacífica é uma atitude de valor moral. " O auditório atento bebia-lhes os enfoques sábios. "Se muitos, senão todos aqui, se tivessem recordado de agir, no momento do problema, atuar com discernimento, certamente o resultado seria outro... " Nenhuma censura no conceito, condenação alguma na mensagem.
Ela relanceou o olhar, numa pausa que se fez natural, e se deteve fulminada pela expressão fria, quase zombeteira, de crítica ácida sem palavras, na face lívida de um jovem reeducando.
Por pouco não se desconcertou. Prosseguiu, porém, asseverando: "Quando, no Pretório, o soldado esbofeteou a face do Mestre, a fim de ser simpático a Pilatos, Jesus não entremostrou qualquer reação... Sereno, fitou o jovem militar atormentado e o inquiriu: - "Por que me bateste? Se falei errado, mostra-me o meu erro, se, porém, falei corretamente, por que me bateste?" A interrogação ficou sem resposta.
A mente aturdida no agressor, porém, jamais olvidaria aquele homem, aquele momento"...
O silêncio fazia-se sepulcral.
Alguns detentos, comovidos, choravam, e não se envergonhavam disso.
Depois de novas considerações, a nobre oradora falou da reencarnação - bênção do amor de Deus para todos os homens - suas esperanças e consolações, encerrando a conferência.
Já, ao fim, olhou para o jovem que a desafiava sem palavras e defrontou a mesma rude expressão facial agressiva.
Sentiu-se assustada, lamentando não o haver sensibilizado.
Sentia-se algo frustrada.
Terminadas as conversações, as despedidas, dirigiu-se à porta e escada externa de saída, quando vigorosa mão segurou-a pelo braço e puxou-a.
Ela se voltou, quase bruscamente, e o viu.
Ele a fixava com incomum brilho no olhar.
A voz era trêmula, quando indagou:
—A senhora pretende voltar aqui?
—Não sei...
Creio que não fui convincente, clara... Não acredito que hajam gostado do que eu falei...
—Volte, senhora, por favor! - Ele pediu, vivamente comovido.
– Volte, ao menos, para me fazer chorar outra vez, como hoje...
Ela tem voltado e ele encontrou Jesus.
Chora, diferentemente, agora.
As aparências nem sempre refletem os estados dalma.
No bem, faça sua parte, e o próprio bem realizará o que lhe cabe produzir.