Espelhos da Alma: Uma Jornada Terapêutica
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A CONSULTA
—De quantas sessões necessito para minha cura? - Interrogava a dama bem vestida ao modesto dirigente da Agremiação Espírita.
—Poderia dizer-me qual o problema que a aflige? - Inquiriu o paciente evangelizador.
E o diálogo prosseguiu:
—Sempre sofri. Desde que me consigo encontrar pela memória sou uma sofredora. A dor é comensal da minha vida: enfermidades, dificuldades financeiras, perseguições, incompreensões de toda ordem...
Não suporto mais. A vida é-me desagradável, um fardo insuportável.
—O sofrimento, sem dúvida, é companheiro de todos nós.
A Terra é abençoada escola evolutiva, em cujos cursos realizamos valiosas aprendizagens. Nesse sentido, a dor sempre é participante das nossas lições purificadoras.
—Sim, mas não me conformo. Todos dizem que sou médium e que isso decorre da mediunidade, que eu deveria desenvolver, a fim de ficar boa, libertar-me dos problemas. Por essa razão, indago: em quantas sessões isso se dará?
—Necessário prestar-lhe alguns esclarecimentos, minha irmã. Inicialmente, merece que consideremos a mediunidade não como doença ou castigo, antes como bênção, porta de serviço, rota iluminativa. Os sofrimentos, que todos experimentamos, decorrem do nosso passado culposo, das nossas faltas e débitos cometidos perante as Soberanas Leis do Universo. Pelas possibilidades mediúnicas, devidamente educadas, trabalhadas com carinho e sacrifício, granjeamos bens para a paz e renovamo-nos para a vida, compreendendo melhor os deveres que nos cabem desdobrar. Desenvolver a mediunidade, seria trabalhá-la, incorporando aos nossos hábitos e do auxílio desinteressado e sacrificial em relação aos que sofrem de um plano como do outro da vida...
Para tal cometimento não há prazo fixo. Às vezes é precisa toda a existência física de devotamento, continuando, mesmo, até além do túmulo...
—Toda a vida?! E quando irei viver, gozar, aproveitar os meus dias?
—Gozar os dias não significa o exaurir das forças, o desdobrar das sensações, o desgovernar sentimentos, o fruir sem dar...
—Então não me interessa mediunidade, nem Espiritismo. Veja lá, dar a minha vida! Que coragem! É esse o homem que aconselha e resolve problemas? Para mim, basta!
E saiu resmungando, deselegantemente.
Ainda hoje, muitos buscam soluções fáceis e não resoluções permanentes, salvadoras, em consultas rápidas...
Para tais, Jesus e Fé são ingredientes para problemas e não rotas para evitarem problemas.
Apiada-te deles, mas não te detenhas.
Vai, sombranceiro, adiante! COMODIDADE E DISFARCE A senhora espiritista foi visitar a amiga, frequentadora de abençoado Núcleo Espirita.
—Hoje estou desolada.
—
}Afiançou-lhe a consóror, em lágrimas. - Imagine, que eu sou tão feliz, que me sinto inditosa! Tenho independência econômica, saúde, uma família modelo, um lar... Disponho de tempo, tudo transcorre às mil maravilhas...
—Por que não reparte essas alegrias com os sofredores?
—Não tenho jeito.
—Então, reserve as horas vazias para costurar, no Centro, a benefício dos pobres.
—Não posso.
Já faço isso uma vez por semana.
—Faça-o, porém, em casa.
—Isto, não.
Ninguém de lá o faz, porque iria eu fazê-lo?
—Costure e venda.
Oferte o lucro para as atividades socorristas da Casa.
—Não me parece boa ideia, porquanto lá não se necessita de dinheiro.
—Bem! Faça visitas aos enfermos, lendo para eles "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
—Receio a convivência com essa gente, pois temo pegar maus fluidos.
—Alfabetize algumas crianças.
—Impossível, sujariam a minha casa.
—Faça-o noutro lugar, que não aqui.
—Crianças exaurem muito a gente e poderiam por-me nervosa.
—De fato: você é muito infeliz; mais do que supõe.
Despediu-se, e se foi, deixando a exploradora das bênçãos da vida entregue à própria negligência e comodidade disfarçada de sofrimento.
Ante o bem que deves fazer, faze-o, sem indignações, sem protelamento.
Agora é a tua hora de ajudar. Não a adies.
JOVENS E ADULTOS Formava num grupo de modernos e avançados boys.
Arruaceiros, perturbadores da ordem.
Belicosos, eram o terror do bairro.
Agressivos, tresloucados.
Chefe, disputado pelas moçoilas, contava 15 anos.
Protótipo do cafajeste, modelo da mentalidade nova.
Noite sem estrelas, 21:00 horas.
—Descobri um casal, ali na praia, à sombra do outeiro, em situação surpreendente.
Vamos pregar-lhe um susto e aliviá-los dos pertences? - Aprovado!
—Tudo com calma. Esgueiremo-nos e cerquemo-los, impedindo-0lhes a retirada.
—Legal!
Os vultos amparados pela noite eram sombras na treva espessa.
A um assobio característico, todos saltaram, cercando o casal irresponsável.
—É um assalto! - Gritou o chefe, acendendo a lanterna que projetou luz no rosto dos aturdidos enamorados.
Apagou-a incontinente, porém, sob gélido tremor e silêncio geral, batendo em retirada...
Era a genitora do líder, senhora leviana que ali se encontrava.
Sempre que agredimos, a nós mesmos nos agredimos.
—"Os que tomam a espada morrerão à espada" - disse Jesus.
Como fizermos, será feito conosco.