Espelhos da Alma: Uma Jornada Terapêutica
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VINTE ANOS DEPOIS...
O local não era dos mais apropriados. Salão de bailes acolhia habitualmente homens e mulheres sedentos de fruir sensações mais fortes. Aquela, porém, era uma noite especial. A frequência denotava outro tipo de necessidade. Era uma festa, todavia, espiritual. Ela o percebera à entrada. O movimento diversificava do habitual. Em tribuna improvisada, junto a ampla mesa, na qual se encontravam personalidades do lugar, assomou um moço, que explanou, por mais de uma hora, conceitos e lições que não estava acostumada. Sentiu-se atônita. Buscava o prazer abrasador e sentia-se atendida por aragens refazentes.
Não compreendera tudo, e, todavia, percebia-se invadida por desconhecida alegria... Seguir a fila de pessoas que se congratulavam com o jovem. Entregou-se automaticamente. No curto momento, no diálogo ligeiro, desnudou-se, emocionada.
—Sou vendedora de ilusões - falou sem retoques, - Ouvindo a história da companheira de equívocos, tema central desta noite, sinto uma revelação diferente...
Gostaria de conversar com o senhor, rogo-lhe ajuda, orientação...
—Conte com os nossos parcos recursos.
—Quando poderemos fazê-lo?
—Hoje...
Logo mais, porquanto amanhã já não me encontrarei aqui.
—A esta hora?
—Por que não?
—Onde?
—Na residência em que me hospedo.
—Não serei recebida ali...
Todos sabem quem sou...
—Se ali não houver lugar para você, positivamente, também, não haverá pra mim.
—Mas, eu sou...
...
Uma irmão em busca da paz...
A conversa alongou-se, passando aquele momento, até a Alva, no lar fraterno que os recebeu.
Concluída a entrevista, o evangelizador, orando, rogou ajuda para ela. Vinte anos depois, em outro Salão, agora, num Educandário na mesma cidade, o expositor espírita encerrava outra conferência.
—O senhor não se recordará de mim!
—Realmente. - Eu sou a "vendedora de ilusões", que há vinte anos atrás o escutou nesta cidade... "Encontrei Jesus naquela noite"... E após reflexionar:
—No dia imediato abandonei o local em que me hospedava e transferi residência para uma rua modesta, dando novo rumo à existência.
—Louvado seja Deus!
—Não é tudo.
Antigo Companheiro informado da minha renovação buscou-me. Asseverou-se amar-me. Visitou-me com nobreza reiteradas vezes. Propôs-me matrimônio...
—Não lhe exijo amor - expôs -, rogo-lhe respeito e consideração.
Amarme-á depois. Enxugou a face lavada pelo pranto.
—Consorciamo-nos - prosseguiu.
– Face a impossibilidade de tornar-se mãe, resolvemos adotar uma criança cada dois anos, qual fosse nosso próprio filho. Já temos oito criaturas admiráveis em nosso lar... Venho agradecer-lhe a luz que acendeu no velador da minha alma.
—Agradeçamos ambos a Deus.
Apresentou o esposo e os dois "filhos" mais velhos entre sorrisos e partiu. Orando em lágrimas, naquela noite o expositor, reconheceu ao Pai, o primeiro encontro há vinte anos atrás...