O Ser Consciente

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CAPÍTULO 35

Condições de felicidade


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Como decorrência de uma visão caótica e pessimista da vida, estabeleceu-se que a felicidade resulta do triunfo em qualquer área e dos prazeres de rápido deleite, o que deu origem aos de natureza material, portanto sensuais, como o orgasmo, o dinheiro, o êxito com todo refinamento de sucedâneos, desde a alimentação aos relaxantes banhos, massagens, variações de moda, frivolidades...

Apesar do bem-estar que proporcionam, cedem lugar a outros anseios, convertendo-se em tormentos — conscientes ou não — geradores de conflitos por competitividade, como diante do inevitável desgaste corporal face à idade e àdoença, às fugas espetaculosas para os alcoólicos, drogas aditivas, tabaco ou depressões profundas...

Além desses, surgem, como metas felizes, os prazeres emocionais, que induzem aos relacionamentos humanos, promocionais, de lideranças e representações sociais, políticas, econômicas, religiosas, portadoras de grande valorização para o ego.

Essas metas, que são gratificantes, também têm o sentido do efêmero, tão rápidos são os relacionamentos, e perturbadores os status humanos, que não preenchem os vazios interiores.

Somente quando há uma reciprocidade honesta nesses relacionamentos, quando o intercâmbio se expressa leal e afetivo, é que a felicidade se estabelece, visto que, do ponto de vista psicológico transpessoal, ela é o amar, possuir a capacidade de amar plenamente, sem imposições nem paixões egóicas.

Esse amor não pede e sempre doa; não tenta modificar os outros e sempre se aprimora; não se rebela nem se decepciona, porquanto nada espera em retribuição; não se magoa nem se impacienta — irradia-se, qual mirífica luz que, em se expandindo, mais se potencializa.

Porque esse amor não tem apego, nunca é possessivo, portanto faz-se libertador, infinito, não se confundindo com a busca do relacionamento sexual, que pode estar embutido nele, sem lhe ser causalidade.

O prazer que gera na comunhão dos sentidos não éfundamental, embora seja contributivo.

A saúde, nos seus vários aspectos, depende muito do amor, especialmente a de natureza psicológica, emocional, resultante, quase sempre dos relacionamentos íntimos, conjugais, como mecanismo completador da harmonia pessoal.

Esse contributo do amor preserva também o equilíbrio mental, sem o qual a felicidade se torna uma utopia paranoica.

Nesse caso, o relacionamento proporciona um bem-estar igualmente físico e espiritual, já que não se pode dissociá-los, enquanto na conjuntura carnal.

Para esse amor de plenitude torna-se indispensável uma entrega autêntica, sem subterfúgios, sem aparências, fazendo-se que sejam retiradas as máscaras e as sujeições.

A felicidade se estabelece quando os dois níveis — físico e mental — harmonizam-se, ensejando o prazer emocional e transpessoal.

Nesse passo alcança-se, mediante a criatividade, o prazer mental, o bom direcionamento da mente, que consegue alterar para melhor a compreensão do mundo.

Esse sentido da vida, essa finalidade induz a sacrifícios de bens, riquezas, relacionamentos, para a entrega à inspiração, do significado à busca da felicidade.

Tal prazer não se restringe apenas à arte em si mesma, ou à cultura, porém, à vida e aos seus valores, às realizações no campo pessoal, com vistas ao bem da humanidade, à superação do ego.

Um dos pontos-chave da desdita, como dos conflitos, reside na evocação dos acontecimentos infantis menos felizes, que ressumam frequentemente em ressentimentos e torturas.

A crença indevida de que a infância tranquila, descuidada, sem preocupações, seria um período sem traumas, nem sempre corresponde à realidade.

Sem dúvida, uma infância rósea é fator positivo, porém, não essencial à felicidade.

Certas constrições e castrações, o relacionamento com a mãe, as inibições e pavores infantis geram inegavelmente tormentos que surgem e ressurgem em todos os demais períodos da existência.

Apesar disso, em uma visão transpessoal da vida e do ser, cada um traz consigo as predisposições comportamentais e cármicas para a atual experiência, convivendo com os fatores que merece, graças aos quais deve amadurecer emocionalmente e dispor-se para a auto-realização.

Qualquer tipo de crescimento, especialmente psicológico, redunda em sofrimento emocional.

A libertação de uma fase — infantil, adolescência, idade da razão — ocorre como se fora um parto com dor, culminando, biologicamente, com a terceira idade, quando se dá a morte do invólucro carnal.

Os períodos infantil e adolescente são decisivos na existência, e todas as pessoas passam por dificuldades e crises durante a formação da personalidade, favorecendo conflitos compreensíveis, que levam à independência pessoal.

Nem todos logram vencer as tensões internas e externas que se estabelecem a partir de então.

E, no entanto, nessa fase que se definem os rumos futuros do comportamento, necessitando-se de psicoterapias emocionais e espirituais, próprias para a libertação.

Mesmo essa ocorrência, feliz ou desventurada, e sua aceitação, com o consequente crescimento, têm a ver com a estrutura profunda do self, a realidade do Espírito.

Naturalmente, as recordações infantis positivas ficam submersas, sob aquelas negativas, em razão da valorização do desagradável marcar mais o ser, do que os outros, que deveriam ser mais considerados.

Trata-se de um atavismo masoquista inconsciente, que predomina em a natureza humana.

Assim, os problemas existenciais podem perturbar a identidade, quando o ser é frágil, psicologicamente, e sem experiências desafiadoras, espiritualmente.

Mesmo nas infâncias assinaladas por dificuldades, há muita beleza a recordar e momentos inesquecíveis, que são inerentes a essa fase, exceção feita às personalidades psicopatas e arredias, que cultivam, no seu mutismo ou exacerbação, os conflitos de que padecem.

Seja, porém, qual for a herança infantil que se carregue, a busca da felicidade não deve sofrer solução de continuidade, especialmente se as vivências são conflitivas, merecendo, nesse caso, mais intensidade de reidentificação com o self.

Avançando-se terapeuticamente para a libertação dos traumas, com a fixação dos propósitos e logros de saúde emocional, consegue-se dar o passo primeiro para a conquista da felicidade que logo virá.

Nos períodos de formação da personalidade — infância e juventude — é comum orientar-se o educando para as conquistas externas a qualquer preço, identificando os valores sociais e econômicos, não raro em detrimento da realização interior.

Somente quando são estabelecidas metas de triunfo íntimo, é que se alcança a correta identificação do ser com os lídimos objetivos da reencarnação.

Nessa fase de indefinição, muitos indivíduos são induzidos a satisfazer as ambições malogradas ou vitoriosas dos seus pais, educadores e chefes, que projetam sua sombra nos filhos, alunos e subordinados, sem pensarem na realização pessoal dos seus dependentes.

Essa conduta é responsável por muitos conflitos, que impedem um discernimento claro do que seja realmente a felicidade.

Diante disso, a idade da razão pode apresentar-se atemorizante e perturbada por contínuas crises existenciais.

Constatar que as conquistas feitas não são plenificadoras, defrauda as aspirações e tira o sentido da vida, O triunfo e o fracasso externo também produzem a mesma frustração e incompletude.

Nesse período, a constatação do tudo efêmero impulsiona o ser na direção da felicidade, e é nesse nível de consciência que a busca alcança os patamares elevados do amor desinteressado, da paz íntima e da realização espiritual, que são as condições essenciais para culminar no encontro.

A partir daí, a reflexão se torna frequente, a oração faz-se natural e a meditação é um reconforto normal.

Amadurecendo, o indivíduo irradia do mundo interior o bem-estar e passa a fruir de felicidade.

Isto não o impede de ter problemas, que passa a administrar com equilíbrio, não se perturbando, nem se deprimindo com eles.

São os problemas, solucionados, que proporcionam maturidade e harmonia íntima.

Sem eles, como exercícios, torna-se improvável o êxito.




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