Vitória da Vida
Versão para cópia
Fernanda Maria de Souza Abrahão
31 de agosto de 1986, aos 20 anos, vítima de acidente automobilístico, próximo à cidade de Araraquara (SP), para onde foi levada ao hospital, no qual veio a falecer, após dez dias.
Bonita, alegre, sincera, muito organizada, Espírito nobre e independente, era filha de uma família abastada, poderia ter tudo quanto sonhasse, mas, se destacava pela sua maneira de ser, simples e discreta.
Era prestativa e responsável, pois que, desde jovenzinha assumira compromissos que cumpriu até a data de sua partida.
Assim foi com a doença da avó "Nina". Esteve à cabeceira da avó querida muito paciente e carinhosa, amparando-a em sua dor.
Depois, com a partida de sua avozinha para o mundo espiritual, substituiu a ausência da mesma, indo para a casa do avô, e ali foi a meiga neta, a governanta da casa, a amiga, não se descuidando de nada, tomando sempre todos os cuidados para o bem-estar daquele ser querido.
O mesmo aconteceu, quando da partida para o mundo espiritual de Dona Maria Lenira, a genitora do noivo Sérgio.
Ela preencheu o vazio que deixou a mãe amada, do noivo querido, sendo, para ele, a mãe, a amiga, a irmã, a companheira e a noiva querida.
Amiga dos humildes, mantinha belíssima relação de amizade com os empregados da firma de cereais de propriedade da sua família, assim também com as que trabalhavam em sua casa e na do avô, as queridas Bilu e Benedita.
Formou-se em Contabilidade e Magistério, tendo habilitação em Pré-escola.
Exerceu porém, a profissão de professora Pré-escola, na Escola Particular "Cuca Legal" de sua e de propriedade de sua mãe.
Era muito querida pelas colegas e por seus alunos.
Nos últimos meses que antecederam a sua partida para o mundo espiritual, pressentia que não se casaria com o noivo Sérgio, seu primeiro e único amor.
Falou isto às primas e tias, pois notava uma mudança em sua vida.
Sua partida, abalou a nossa pequenina Serra Roxa (SP), onde Fernanda era uma jovem muito querida por todos. (Dados biográficos escritos pela genitora, D. Dulce Abrahão)
Divaldo Franco excursionava pelo Triângulo Mineiro e havia reservado o dia 6 de março para estar com o venerando médium Chico Xavier.
Participara, à tarde, da convivência na "Vila dos Pássaros Pretos", onde proferira a palestra para o consolo dos ali presentes, ao lado de Chico, durante a distribuição de auxílio aos necessitados.
À noite, após visitar o amigo, no seu lar, no "Grupo Espírita da Prece" psicografou a consoladora mensagem que foi selecionada para formar a presente Obra.
A destinatária da carta, Sra.
Dulce Maria, ouvindo-lhe a leitura sob forte emoção, naquela memorável noite, escreveu ao médium posteriormente, de cuja correspondência extraímos alguns tópicos que confirmam a legitimidade da mensagem, rica de detalhes desconhecidos do mesmo.
A respeito da mensagem psicografada, D. Dulce relata o que segue: "Movida pela dor e consolo para meu coração dilacerado pela perda de minha querida filha Fernanda, embora católica, orientada pelos meus familiares espíritas, fui até Uberaba (MG), ao "Grupo Espírita da Prece" em busca de notícias de minha filha, pois soubera também dias antes que o médium Divaldo Pereira Franco, residente em Salvador, Bahia, orador espírita e também dotado da mediunidade psicográfica, ali estaria em visita ao amigo e confrade Chico Xavier.
Aumentaram, assim, as minhas esperanças em obter uma carta mediúnica de minha querida Fernanda.
Eram dezenas de pessoas; mães, que ali se encontravam como eu, em busca de consolo, alívio e orientação, através dos queridos Chico e Divaldo.
À tarde fomos ao "abacateiro", local onde Chico distribui donativos aos necessitados.
Lá estavam os dois médiuns Chico e Divaldo.
Enviei bilhetes e fotos de minha filha aos dois.
Assim com eu, muitas mães faziam o mesmo pedido. Ali, Divaldo fez uma linda palestra.
À noite, voltamos ao "Grupo Espírita da Prece" onde se realizam as palestras evangélicas e os trabalhos de psicografias em público.
Estava orando e pedindo à minha filha que me enviasse, pelo menos uma frase.
Soube, por outras mães que ali estavam e que tantas vezes lá estiveram, das dificuldades das notícias.
Consegui chegar perto do nosso querido médium Divaldo, quando ele chegara ao portão de entrada do "Grupo Espírita Prece" e ali, rodeada de muitas pessoas que também procuravam sua oportunidade, consegui, rapidamente e chorando, me dirigir a ele:
– Divaldo, traga, ao menos, uma palavra de minha filha. Ao que me respondeu: - Calma, filha, confie em Deus! Ela é um Espírito muito bom.
Assim entramos e foram iniciados os trabalhos da noite.
Não consegui entrar na sala, onde se realizam os trabalho Eram dezenas de pessoas.
Fiquei do lado de fora, no pátio.
Às vezes, chegávamos às janelas, mas só mesmo por algum lugarzinho, que nos era cedido por bondade das pessoas, é que conseguíamos vê-los psicografando.
Eram quatro médiuns: Chico, Divaldo, um senhor e uma senhora que me eram desconhecidos.
Ali ficamos horas, aguardando ansiosos.
Afinal, terminadas as psicografias, ouvimos o nome da minha filha - Fernanda Maria.
Era o médium Divaldo quem anunciava que aquela carta era de minha filha Fernanda dirigida a mim.
Foi a primeira mensagem lida naquela noite.
Foi uma emoção, que não possuo palavras para me expressar.
Saí correndo, não sentido os pés no chão.
Parecia que eu voava, que era levada no ar. Abrindo caminho entre as inúmeras pessoas, parecia que corria ao encontro de minha filha.
Não sei como consegui chegar perto de Divaldo.
Meu coração batia acelerado e minhas lágrimas e a de meus familiares fizeram comover a todos que ali estavam.
Foi uma emoção que só mesmo os que perdem seus filhos, podem avaliar.
A mensagem, lida ao microfone, comoveu a todos os presentes e foi motivo de grande alegria e consolo para toda a família e os amigos.
A sensação que senti, foi como se tivessem roubado minha Fernanda, e, naquele dia, eu a encontrasse sã e salva.
Obrigada, meu Deus, minha filha continua viva, muito viva, vindo confortar e alegrar nossas vidas, após seis meses de sua partida de nosso lar!
Obrigada, minha filha! Que Deus te abençoe!
Que Jesus ampare e proteja os médiuns Divaldo e Chico e todos os demais, cujas mãos abençoadas pela psicografia têm ido aos corações sofredores a paz, o consolo e a alegria de viver!" Querida mãezinha Dulce (1) Estou rogando ao seu coração santificado pela dor para que me abençoe.
Não houve tempo para dizermos adeus, naquele dia 31 de agosto do ano passado. (2) Aliás, foi uma dádiva de Deus, porque, em verdade, nunca podemos dizer esta palavra dorida, que parece representar o fim, a separação definitiva.
É sempre um "até logo", pois que prosseguimos vivendo, unidos pelo sentimento de amor, cada vez mais forte e pela razão, que nos fala de um futuro, no qual a nossa união jamais voltará a sofrer qualquer interrupção...
O coma demorado, no hospital de Araraquara (3), após o acidente, embora longo e macerador, foi muito benéfico para mim.
Apesar de todos desejarem a minha recuperação, as divinas leis haviam estabelecido que era necessário retomar.
Hoje, posso repassar todos os acontecimentos que precederam a hora da morte.
O Monza prata (4) era o meu sonho e, ao tê-lo, a minha primeira ideia foi a de rogar as bênçãos de N. Sa. Aparecida (5), para a minha joia.
Assim, conforme nos recordamos, pedi ao Sérgio (6), o noivo querido, que me ensejasse a alegria de ir até lá. Acompanhados pelos seus avós (7) fomos pela madrugada, e, quando retornávamos, quase em casa, um Voyage (8) interrompeu-nos as alegrias, assinalando nossas vidas de forma definitiva.
Não posso detalhar o insucesso, porquanto sucedeu com a rapidez do relâmpago. O choque, o desespero e o apagar da consciência.
Não desejo relacionar tristezas, antes trazer esperanças, demonstrando a vitória da Vida sobre a morte e do amor colocado o ponte eterna de luz no abismo da aparente separação.
... Só mais tarde eu vim a tomar conhecimento que, na ocorrência lutuosa, voltou à Pátria a veneranda Dona Benedita... (9) Posso imaginar a dor volumosa que se agigantou no seu e no coração do paizinho idolatrado, da família querida.
Fui e estou cientificada das aflições do noivo querido, no entanto, sei também que Deus sempre nos proporciona o que é de melhor para nós.
Mais tarde agradeceremos tudo que nos sucedeu e viveremos felizes, sem qualquer temor, sem aflição, numa abençoada família, na qual, a presença do amor como expressão sublime da vida, será a nutrição das nossas horas.
Mãezinha querida, aqui estou arrolando lembranças, graças â bondade da avó Nina
(10), que me recebeu com aquele mesmo carinho com que outrora nos embalava a toda a família.
Ela foi a luz que me chegou na hora do despertamento, clareando-me por dentro e enxugando as minhas lágrimas com as mãos de anjo de Deus, e sustentando-me na imensa saudade que parecia um punhal afiado, rasgando as delicadas fibras do meu coração.
Ainda estava enfraquecida, reequilibrando-me no hospital-colônia onde me encontro, quando a bisavó Ana Celestina (11) chegou risonha com o primo Cícero (12) e me trouxe o reconforto da esperança.
Jovial e bem humorado, Cícero recordou-me de que ele também havia experimentado golpe rude igual ao meu, deixando os queridos pais de alma esfacelada.
Recordei-me, então, do que lhe acontecera, e, abraçando-nos, choramos copiosamente.
Antes que a depressão tomasse conta de nós, a "vó" Nina chamou-nos a atenção, de modo a estimular-nos à coragem e à fé, a fim de que a minha convalescença, se fizesse mais rápida e compensadora.
Lentamente dei-me conta da realidade nova e fui induzida a pensar em termos de futuro.
O passado, eram as recordações felizes do lar, rico de amor e de ternura, onde você e papai concederam tudo quanto pode propiciar a felicidade; eram as recordações felizes do Juninho e do André (13), o carinho do Sérgio e a alegria de haver sido amada e de haver amado.
Agora, as perspectivas eram outras, chamando-nos para a construção do bem.
Novos padrões de conduta e de trabalho foram-me apresentados e diretrizes mui diferentes daquelas a que me habituara surgiram-me como desafios.
Foi assim, que inesperadamente recebi a visita de Dona Maria Lenira (14), que havia partido antes de mim, ensejando-nos este amor infinito que nutríamos, Sérgio e eu.
Fiquei comovida por revê-la e receber-lhe as palavras de carinho e de gratidão.
Agora acompanho o noivo querido e oro em favor do lar que eu não lhe pude oferecer.
O 25 de dezembro, quando aniversariava e me casaria com ele (15), tem outro sentido e significado diferente.
Ele é jovem e belo, trabalhador e nobre, merecendo a ternura de uma alma feminina para enriquecer-lhe de beleza e felicidade a existência formosa.
Eu os abraçarei no meu carinho e a terei como anjo querido, a quem confio a joia dos meus sentimentos mais puros.
Você se recorda, mamãe, de que, na minha felicidade, eu afirmava que era tão ditosa, que fazia aniversário com Jesus, na Sua data? (16) Continuo com a mesma alegria, porque a morte é uma porta de redenção aberta para o infinito.
Ouvindo-a amargurada, e recebendo as suas e as interrogações do paizinho, pedi ao Cícero que, se utilizando da mediunidade da Tia Darly (17), diminuísse os seus sofrimentos, o que o querido primo buscou fazer da melhor maneira ao seu alcance.
Assim, mamãe, acompanhei-a até aqui bem como aos tios ansiosos por notícias.
O Cícero prossegue feliz e hoje muito alegre pela oportunidade que me está sendo concedida para esta primeira correspondência.
Ele voltará a escrever proximamente e beija os paizinhos saudosos, meus queridos tios, pedindo-lhes bom ânimo e coragem na fé.
Apresenta-se o momento de interromper esta missiva.
Não estava acostumada a este tipo de correspondência, nem me em contrava em condições para fazê-lo.
Desencarnar não é fácil, e o ajustamento à Esfera nova é muito complexo.
Não existe milagre de qualquer natureza, e toda conquista resulta de largo esforço e ampla luta.
Agradeço-lhe, mãezinha Dulce, o carinho e a confiança em Deus, o socorro dos tios, acompanhando-a até aqui.
Beije o paizinho, o Juninho, o André e abrace os familiares, o Sérgio, os amigos.
Sua filha, emocionada e reconhecida, sente-se feliz e pede-lhe para desfazer o meu quarto, isto é, começar a distribuir as coisas que me pertenceram.
Elas devem felicitar outras pessoas, outras noivas...
Guarde, apenas, algumas lembranças do nosso eterno carinho e do nosso perene querer bem.
O mais, pertence à vida e deve fazer alegres aqueles que não o têm.
Faça-o em memória da sua filhinha, aumentando-me a felicidade.
Beijando-a, mãezinha querida, e pedindo-lhe para que não chore mais, a sua menina, a sua princesinha de sempre, afetuosa e alegre, Fernanda Fernanda Maria de Souza Abrahão (18)
IDENTIFICAÇÕES
(1) - Mãezinha Dulce - Nome da genitora.
(2) - 31 de agosto do ano passado - Data da desencarnação da missivista.
(3) - O coma demorado no hospital de Araraquara - Fato confirmado pela progenitora.
(4) - O Monza prata era o meu sonho - Fato verdadeiro.
(5) - Rogar as bênçãos de N.
Sa. Aparecida - Detalhe correto.
(6) - Sérgio - Nome do noivo que a levou à Aparecida, conforme se referiu.
(7) - Seus avós - Referência legítima.
(8) - Um Voyage - Anotação certa.
(9) - Dona Benedita - Benedita Frantini Magioni, avó do noivo Sérgio, que faleceu no local do acidente, a 21. 08. 86.
(10) - Avó Nina - Apelido de Dona Maria Bution Abrahão, avó de Fernanda, desencarnada a 05. 03. 83.
(11) - Bisavó Ana Celestina - Bisavó materna desencarnada há mais de 80 anos, e de quem jamais se falava na família.
(12) - Primo Cícero - Cícero Pereira de Souza Neto, primo–irmão de Fernanda, desencarnado a 22. 07. 82, aos 21 anos, igualmente num desastre de automóvel.
(13) - Juninho e André - Abdulatif João Abrahão Júnior e André Luís de Souza Abrahão, irmãos de Fernanda.
(14) - Dona Maria Lenira - Mãe do noivo da comunicante.
(15) - O dia 25 de dezembro, quando aniversariava e me casaria com ele - Dado correto.
(16) –, que fazia aniversário com Jesus na sua data? - Dado confirmado.
(17) - Mediunidade da Tia Darly - Dado igualmente confirmado.
(18) - Fernanda Maria de Souza Abrahão - Nome correto da missivista.