Vitória da Vida
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Marco Aurélio Leite F do Amaral
Nas noites de sábado, durante as reuniões doutrinárias do Centro Espírita "Caminho da Redenção", na sede da "Mansão do Caminho", no bairro do Pau da Lima, em Salvador (BA), enquanto os expositores proferem palestras para o público presente, Divaldo Franco psicografa mensagens de variado teor.
Desse modo, na reunião de 2 de fevereiro do ano de 1986, foi recebida a página que ora apresentamos com os comentários que lhe são pertinentes.
Marco Aurélio Leite F.
do Amaral, filho de Carlos Abraão F. do Amaral e Vanda Leite F. do Amaral, mais conhecido pelo apelido de Sindô, nascido em 29 de junho de 1971, na cidade de Almenara, Estado de Minas Gerais, cursava a 6ª série do Colégio Edvaldo Boaventura, no bairro do Stiep, em Salvador, Bahia.
Sindô foi uma criança sofrida e, com a separação dos pais que consequentemente trouxe ainda mais sofrimento, não deixou de ser o filho que sempre me ajudou a lutar pela nossa sobrevivência.
Viemos para a Bahia, ele com cinco anos de idade, seu irmão com quatro anos, e nós três enfrentamos muitas dificuldades, sendo que o Sindô era um menino muito responsável, cuidava da casa e do irmão para que eu pudesse trabalhar.
Muito inteligente e estudioso, de uma personalidade muito forte.
Gostava muito de desenhar.
Poucas semanas antes do ocorrido ele fez um desenho em um dos seus cadernos escolares que só agora posso entender e analisar o significado do mesmo.
Era louco por futebol e sempre me dizia que iria para a seleção e quando lá estivesse daria tudo que eu precisasse. Dizia assim: "Vou te dar tudo que a senhora sonha, mãinha, e merece. " Sindô, não era mesmo deste mundo...
suas atitudes eram tão puras e corretas que chegavam a me deixar perplexa perante seu caráter.
A DOENÇA
No dia 1º de maio de 1986, fomos a uma cidade vizinha e, na volta, paramos em um restaurante para almoçar. No dia seguinte, quando cheguei do trabalho, ele me disse: "Mãinha, eu estou me sentido cheio", e eu logo imaginei que tinha sido a comida do restaurante que poderia ter-lhe feito mal.
Não podia imaginar que ali começava o nosso martírio (como ele mesmo disse em sua mensagem). No dia 11 de maio, "Dia das Mães", levei-o para a clínica, o médico disse que iria dar soro e no outro dia colheria o material para exames.
No dia seguinte, para minha surpresa, não pudemos colher o material, pois estava com hemorragia interna.
Após cinco dias, os médicos deram alta dizendo ser varizes no esôfago.
Achando eu, que ele não estava melhorando, levei-o a Belo Horizonte, onde residia seu pai e seus avós paternos para confirmação do diagnóstico.
Lá, em Belo Horizonte, ele ficou apavorado com tantos exames e perguntou ao médico, Dr. Laurents: - "Por favor, me diga o que tenho" e o médico respondeu: - "É hepatite, meu filho.
Quando a hemorragia passar vamos fazer um exame no fígado. " Aí ele já percebera que seu problema de saúde era grave, mas, mesmo assim nos surpreendia com sua força de vontade de viver, andando, conversando, fazendo planos para o futuro.
No dia 26 de maio, tudo parecia correr bem até às 20 horas.
A partir daí, logo depois de ter vindo do banheiro, começaram as golfadas de sangue sem parar.
Sem saber o que fazer levantei a sua cabeça, para que as golfadas não o sufocassem.
Foi quando ele pediu para encostar sua cabeça no peito esquerdo dizendo: - "Deixe eu ficar assim, mãinha. " Ficando nesta posição por alguns minutos, este foi um gesto carinhoso de se despedir, porém, sem que eu percebesse.
Neste momento, o meu coração apertava como se uma dor aguda me fulminasse.
Logo, em seguida, a maca entrava no quarto para levá-lo para a UTI, e o acompanhei até o elevador, quando ele disse: - "Deus é muito grande, ele vai me ajudar!" (Dados biográficos escritos por D. Vanda Leite F. do Amaral)
Sobre a legitimidade da comunicação mediúnica, assim declarou a genitora do missivista, destinatária da mesma: "Diante de tantas evidências da imortalidade, só me resta o agradecimento a Deus, Nosso Pai, por me ter iluminado a procurar este médium tão caridoso que, através das suas mãos abençoadas, eu pudesse receber esta tão linda mensagem de amor e gratidão. " "Profundamente abalada com a perda do meu querido filho, orientada por amigos, passei a ler algumas obras espíritas.
Ganhei um livro psicografado pelo médium Divaldo Franco, cuja mensagem muito parecia com o caso de meu filho.
Resolvi procurá-lo.
Fui, pela primeira vez, ao Centro Espírita "Caminho da Redenção".
Neste mesmo dia tive a felicidade de encontrar Divaldo, que estava na reunião.
Fui para a fila tentar falar com ele, e, quando lá cheguei, só consegui dizer que queria notícias de meu filho.
Aí, as lágrimas me sufocaram as palavras.
Ele só me respondeu: - "Vamos ver se é possível, pois ainda é muito cedo. " Isto foi em uma quinta-feira, e, no sábado, tinha uma reunião na "Mansão do Caminho".
Fui até lá, esperei minha vez para falar novamente com Divaldo.
Quando me aproximei, ele disse que tinha notícias para mim.
E começou a descrever como era Sindô e transmitiu o recado em voz alta: - "Diga a ‘mãinha’ que não chore e que estou bem; vou escrever", mas não disse quando.
No sábado seguinte voltei à reunião.
Nunca tinha visto alguém psicografar antes.
Quando Divaldo começou a escrever, não podia imaginar que seria dirigida a mim, aquela mensagem.
Quando ele terminou de escrever, perguntou em voz alta quem era Vanda e começou a ler em público esta tão linda carta, rica de amor, que uma mãe possa receber de um filho.
Eu, muito emocionada, ouvindo as palavras que traziam o selo inconfundível da autenticidade, em um novo alento, novas esperanças e a certeza da imortalidade dos Espíritos, com provas indiscutíveis e revelações totalmente desconhecidas do médium.
Naquele momento, roguei a nosso Pai e aos Bons Espíritos, a Joanna de Ângelis que continuassem abençoando as mãos benditas de Divaldo para que confortassem outros corações maternos como o meu.
Creio que não há maior dor neste mundo, nesta nossa curta passagem pela Terra do que a perda de um filho.
Mas, na minha ignorância, que é perfeitamente compreensível, não aceitamos a realidade de que na paisagem onde se encontram estão mais vivos do que nós, simples mortais apegados a tantas insignificâncias materiais.
E, só daí aprendi o verdadeiro significado da palavra (morte), depois que recebi esta mensagem e várias outras. " Querida mãinha (1) Estou rogando ao Bom Deus que nos dê as forças necessárias para carregara cruz de redenção até o nosso Calvário.
Esta carta é uma onda de amor que o lápis vai modelando em letras que nascem no coração saudoso, desejando diminuir a dor que lhe fere e que a mim, também me faz sofrer.
Cada palavra que escrevo é originada na voz da gratidão e de um amor in findo que nos une e prosseguirá como sendo uma ponte de dimensão infinita, sustentando nossas esperanças e levando-nos à felicidade que um dia gozaremos sem receio de qualquer futura interrupção.
Mãinha querida, estou vivo e quase feliz.
Quase feliz, porque necessito da sua paz e do seu sorriso, a fim de que me possa sentir pleno.
Suas lágrimas e a sua voz me chamam de volta à nossa Casa e, notando que você está triste, eu lamento ser o instrumento indireto desse seu sofrer.
Recordo-me de todos os lances que precederam a nossa aparente separação.
Naquele domingo, dia 11 de maio, dedicado às Mães, não podíamos imaginar, nem você, nem seu filho, que ali se iniciava a nossa aflição demorada. (2) Indo ao banheiro senti a dor desagradável, prenúncio da grave hepatite (3) que me desorganizava o corpo.
Você preocupou-se, mas o médico nos tranquilizou. (4) Seu filho, porém, sentiu que algo se passava por dentro.
Logo depois, em Belo Horizonte (5), quando o problema se agravou eu percebi que ia partir...
A sua desesperação me fez procurar tranquilizá-la e me lembro que lhe disse, quando ia para a UTI: - "Tudo vai sair bem, Deus vai ajudar. " (6) As golfadas de sangue nos preocupavam, e foi assim que eu viajei para cá...
Você sabe que eu queria viver. Eu era o homem da Casa, porque o Abraão (7) ainda necessita muito de nós.
Além disso, depois do que você tem sofrido, como heroína de mil batalhas, eu me havia proposto que, ao crescer, evitaria suas dores futuras e que você nunca mais iria experimentar novas dores.
Você é a rainha do meu céu, porque, na noite, você sempre foi a minha estrela brilhando e dando-me claridade.
Dormi, sem sofrer, não experimentando nenhuma agonia.
Despertei, ouvindo uma voz carinhosa que me dizia ser do Padre Eustáquio (8), que ali estava em nome de Jesus e de Maria, atendendo as suas preces.
Fiquei comovido, mas ele me sossegou, informando-me que tudo estava muito bem e que eu necessitava de repouso.
Voltei a dormir. Ao acordar, renovado, sem dores, ali estava o Dr. Bezerra de Menezes, que atendia aos apelos da minha avó Léia. (9) Foi ele, bondoso e sábio, quem me explicou o ocorrido.
Confesso que chorei muito.
Ele deixou que as lágrimas me lavassem a alma, após o que me trouxe para visitar nossa família...
Lentamente recupero-me. Desde aquele 27 de maio (10) venho-me empenhando em ganhar tempo e crescer.
Ainda é cedo para eu lhe explicar a razão de haver partido antes de completar quinze anos...
Sei, porém, que há razões que voltaremos a examinar, oportunamente, que nos irão aclarar o que parece um castigo de Deus, e é, todavia, uma bênção.
No dia 29 de junho (11), data do meu aniversário, ouvi todos os seus apelos e dores...
Tentei falar-lhe, mas, eu também, ainda não tinha condições para fazê-lo.
Agora mesmo, escrevo a três mãos: Dr. Bezerra dirige o meu pensamento e lhe dá forma, eu seguro a mão do médium e ele compõe, automaticamente, esta música - missiva de amor, de saudade e de gratidão.
Diminua as suas lágrimas, mãinha e volte a sorrir, a fim de que eu me sinta feliz.
O Abraãozinho necessita de você, de nós dois.
Beije-o em meu nome e abrace toda a nossa família.
Agradeço as preces e as referências de carinho, as missas a mim dedicadas(12) e, sobretudo, o seu coração rico de amor.
Mãinha, eu gostaria de cantar outra vez e dizer-lhe tudo que o coração está procurando transformar num hino de louvor a você.
Beijando-a, mãinha amada e inesquecível, sou o seu filho, vivo e querido, sempre dedicado e afetuoso, que espera fazê-la feliz.
Marquinho Marco Aurélio Leite Fonseca do Amaral (13)
IDENTIFICAÇÕES
(1) - Querida Mãinha - Mãinha era como ele chamava a mãe.
(2) - Naquele domingo, 11 de maio, dedicado às Mães, não podíamos imaginar, nem você, nem seu filho, que ali se iniciava a nossa aflição demorada - Dia 11 de maio - data em que ele foi internado.
(3) - Hepatite - Diagnóstico constatado pelos médicos em Belo Horizonte.
(4) - Acontecimento verdadeiro.
(5) - Logo depois, em Belo Horizonte - Vendo que ele não estava bem foi levado para Belo Horizonte.
(6) - "Tudo vai sair bem, Deus vai ajudar" - Frase dita por ele quando ia para a UTI.
(7) - Abraão - Nome do seu irmão.
(8) - Padre Eustáquio - Um padre muito milagroso em Belo Horizonte.
(9) - "Ao acordar, renovado, sem dores, ali estava Dr. Bezerra de Menezes que atendia aos apelos de minha avó Leia. " - Leia é sua avó paterna muito devota de Bezerra de Menezes.
(10) - 27 de maio - Data em que desencarnou.
(11) - 29 de junho - Data em que completaria os seus 15 anos.
(12) - Realmente, foram celebradas várias missas, face à condição religiosa da família.
(13) - Nome correto.