Em Busca da Verdade

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CAPÍTULO 11

A VIDA E AMORTE

A organização fisiológica de um ser humano é uma das mais grandiosas peças da engenharia genética jamais antes ou depois elaborada...


Constituída por um sistema cirulatório que varia entre 150. a

190. quilômetros de artérias, veias e vasos em um circuito excelente e único, pelo qual viaja o sangue que nutre todas as células, num total de cem trilhões, renovando-se continuamente, com exceção dos neurônios cerebrais, segundo alguns neurocientistas, enquanto outros informam que algumas ilhas se repetem quando os mesmos morrem, para que a vida possa pulsar no grandioso mecanismo.

Todo esse equipamento depende do oxigênio que lhe é vital e que transforma o sangue venoso em arterial, eliminando as perigosas toxinas que produz pelo aparelho escretor, mantendo um equilíbrio invejável.

A bomba cardíaca, que lhe é fundamental, começa a pulsar a partir do vigésimo dia da fecundação, quando automaticamente é disparado um choque elétrico, e não cessa de realizar a função incomum da sístole e da diástole, de modo que o sangue chegue ao cérebro e dele aos pés atravessando esse extraordinário sistema circulatório, que é autopreservador.

Se, por acaso, uma picada de alfinete lhe destrói milhares de capilares, logo outros lhes tomam o lugar, em um mecanismo insuperável de ordem e de ação, e, quando há um corte maior, de imediato, é atirada sobre o mesmo uma delicada camada de fibrina, para realizar o tampão que lhe impede a morte pela hemorragia, que seria contínua, com exceção nos hemofílicos, cujo processo é mais delicado e mais complexo...

Os sistemas nervosos de sustentação e equilíbrio são de uma complexidade incomum, emitindo vibrações e mensagens que se responsabilizam pela harmonia de toda a maquinaria, na execução da sua programática.

As glândulas endócrinas, especializadas, funcionam dentro de um ritmo que transcende a capacidade total do entendimento humano, contribuindo com os hormônios responsáveis pela estabilidade de todos os equipamentos físicos, emocionais e psíquicos...

Essa aparelhagem sem similar é ativada por sistemas especiais emissores de energias que procedem da mente, circulando em todo o organismo, mente que, por sua vez, é instrumento de manifestação do Espírito, quer consciente ou não da sua existência e significado.

Resistente a diferentes altitudes e golpes de vária ordem, é, no entanto, frágil, pois que pode ser vítimada por bactérias e vírus que mantém sob controle, quando o sistema imunológico, por alguma razão deixa de funcionar como seria desejável...

É que todo o comando se encontra no Espírito que a vitaliza e conduz, contribuindo para o seu êxito ou sua desorganização, embora nem sempre esteja consciente da alta magnitude do investimento de que se encontra possuído, a fim de alcançar as estrelas, saindo, por definitivo, da treva da ignorância para a glória da imortalidade...

Essa máquina extraordinária que a nenhuma outra se compara foi, no entanto, trabalhada pelas Divinas Leis ao longo de dois bilhões de anos, aproximadamente desde a formação das primeiras moléculas de açúcar, na intimidade das águas oceânicas abissais, chegando à atualidade com equipamentos elétricos e eletrônicos dos mais sofisticados, de forma que através dela o Espírito pode desenvolver o seu deus interno, cantando as glórias de Deus...

Nesses incomparáveis equipamentos encontram-se os mecanismos que expressam a inteligência, o sentimento, as tendências de toda natureza, graças ao perispírito que os modela, obedecendo às exigências da Lei de Causa e Efeito, no desempenho da tarefa para a qual foi elaborado pela Divindade, na sua condição de envoltório sutil da alma ou Espírito.

A bênção, portanto, de um corpo, para o crescimento espiritual, por mais limitado e destroçado que seja, é de não apreciado valor, porquanto reflete as necessidades do seu agente espiritual, sempre responsável pela maneira como se condensa no mundo das formas.

Respeitá-lo com imenso carinho, oferecendo-lhe os contributos próprios para que sejam alcançadas as finalidades às quais se destina, é o dever inteligente do viandante na romagem terrena.

Resguardá-lo das agressões internas, que procedem dos atavismos ínsitos nele próprio, defluentes da sua conduta passada, é consciência de dever para com o invólucro material de que necessita para crescer e reparar, conquistar o infinito e avançar na busca da individuação.

Quando o Self se encontra consciente dos seus atributos, melhor trabalha para a harmonia que lhe é necessária, a fim de desempenhar as funções de mortalidade e de imortalidade que lhe dizem respeito, superando os impositivos da sombra, que evoca os caminhos dúbios que foram transitados e necessitam da contribuição do entendimento para que haja plena harmonia.

Desse modo, o corpo deve ser considerado um santuário sublime que a vida concede ao Espírito, a fim de que permita o desabrochar dos valores adormecidos, qual ocorre com o solo generoso que acolhe a semente, a fim de que alcance a meta que jaz no seu imo.

De maneira idêntica, é necessário atender essa semente inteligente resguardando-a das pragas e perigos mesológicos que podem atentar contra a sua sobrevivência e desenvolvimento vital.

Assim considerando, os maiores perigos jazem internamente, são as imperfeições morais remanescentes do primarismo, que teimam em manter encarcerado o ser real, fazendo-o repetir as façanhas infelizes que o tornaram desditoso.

O esforço pelo autoconhecimento, pela autoidentificação no tocante às possibilidades que lhe dizem respeito é compromisso inadiável para todas as criaturas que despertam em consciência lúcida para atingir a meta da existência, que é o estado sukha.

Normalmente, em mecanismos de transferência ou de fuga da responsabilidade, pensam alguns indivíduos que os seus inimigos encontram-se fora, programando ataques, estabelecendo estratégias de agressão e de destruição, sem dar-se conta de que esses jamais alcançam o seu objetivo se encontram a lucidez daquele de quem não gostam e a preservação dos seus valores morais em clima de harmonia.

Desse modo, os adversários de fora, muito decantados, mal algum podem fazer, quando se está consciente de si mesmo e disposto a galgar níveis mais elevados na escala da evolução que não cessa.

Por isso mesmo, qualquer ocorrência perniciosa que afete esse gigantesco instrumento da evolução, representa um dano de consequências graves, impondo refazimento através do renascimento corporal, em equipamento desorganizado pela sandice que o indivíduo se permitiu.

A visão religiosa castradora do passado via no corpo um adversário em face dos seus impulsos e necessidades, passando a puni-lo de maneira covarde e a aplicar-lhe cilícios, a fim de diminuir-lhe a vontade, em falsas tentativas de libertá-lo das tentações, preferindo a ignorância que lhe vedava o entendimento para compreender que os desejos infrenes, os apelos carnais são reflexos do estágio do Espírito que se reflete na matéria e não ao contrário.

O amor, portanto, para com o doce e calmo jumentinho, conforme o denominava o santo de Assis, em reconhecê-lo como o animal em que montava, é a proposta mais bela e rica de contribuições para a sua preservação e harmonia.


A vida harmônica

Genericamente, alguns biólogos definem a vida como o fenômeno que anima a matéria.

A referência à vida humana, que abrange o período da fecundação até o da desencarnação, mediante o qual o Espírito toma a matéria e a abandona, é caracterizado pela presença da energia pensante.

A vida encontra-se estuante em toda parte, seja no campo da estrutura molecular como naquele que se expressa em outra dimensão - a de natureza espiritual.

A vida humana, entretanto, é a transitória existência corporal, através da qual se processam os mecanismos da evolução física, psíquica, emocional e espiritual, seguindo a fatalidade da perfeição relativa que a todos se encontra destinada.

A morte, no ser humano, por sua vez, é a cessação dos fenômenos orgânicos, a degeneração do tronco encefálico, abrindo espaço à desencarnação, que constitui a liberação total do Espírito em relação à estrutura material.

Por isso, nem sempre morrer é desencarnar, considerando-se que constitui um expressivo número, o daqueles que se mantêm apegados aos despojos materiais, após a ocorrência da morte, na vã expectativa de trazê-los de volta à vitalidade.

Vivenciando uma existência sensualista, assinalada pelo egoísmo e pelas suas expressões mais vis, o acontecimento que produz a morte orgânica de forma alguma libera o princípio inteligente da vestidura que lhe facultou o gozo e as sensações exorbitantes.

Fixado nos equipamentos de que se utilizou, o fenômeno mortis não proporciona de imediato a identificação da mudança de plano vibratório em que se encontra, em razão da continuidade das percepções orgânicas, apresentando-se como impressões vigorosas que transmitem a ideia de que nada se modificou.

Lentamente, porém, à medida que ocorre a transformação e a desintegração dos despojos, o ser real é assaltado pelo pavor e aturde-se na ignorância em que se manteve de referência à realidade além do campo sensorial.

Essa perturbação prolonga-se por tempo indeterminado, variando de um para outro indivíduo, conforme o nível de consciência que lhe é próprio.

O Self em reestruturação após o desenlace dos complexos equipamentos celulares, das combinações químicas eletroeletrônicas do cérebro, prossegue dominado pelo imperativo do ego que o manteve encarcerado na sombra das paixões servis, dando-lhe a falsa ideia de que tudo prossegue em regime de similitude, embora o sucesso que teve lugar...

De outra maneira, quando se viveu dentro dos padrões éticos estabelecidos, mantendo-se respeito pela existência, utilizando-se da roupagem carnal de maneira sóbria, edificante e construtiva, experiência-se, desde cedo, um natural desapego pela mesma, como consequência da visão espiritualista que se possui da vida.

Tendo-se em mente que tudo é transitório no mundo físico, e que o corpo é somente um instrumento para a evolução, ama-se a organização material, consciente, porém, da sua relatividade, da sua destrutibilidade pela morte.

Os fenômenos biológicos são recursos preciosos para que o Espírito adquira a consciência de Si-mesmo, ampliando a sua capacidade de entendimento intelecto-moral das coisas e da realidade em que se encontra.

Tendo como objetivos imediatos a saúde e o bem-estar, opera em todas as circunstâncias de maneira a evitar comprometimento desequilibrante, dando-se conta de que a sua felicidade está vinculada aos fatores ambientais e humanos, que também devem participar do mesmo empreendimento ditoso.

Para que o tentame seja alcançado, o Sélf identifica os alvos estabelecidos, empenhando-se no esforço pela harmonização dos arquétipos perturbadores e desenvolvimento das faculdades que se lhe encontram em germe, em estado de adormecimento.

Tratase do empenho pelo autodescobrimento, pela autoiluminação, pela superação das heranças ancestrais geradoras de inquietação e sofrimento.

Como o sofrimento se encontra presente em todas as fases do desenvolvimento do ser, por tratar-se de um fenômeno natural, ora por desgaste biológico, ora por ocasionar o sofrimento do sofrimento, vezes outras por impermanencia, impõe-se a atitude estoica de aceitá-lo jovialmente como processo de percurso inevitável, do qual resultam inúmeras conquistas, quais o amadurecimento psicológico, a visão da solidariedade em relação aos seres sencientes - vegetais, animais e humanos - em cujo grupo se encontra.

A consciência dessa transitoriedade da matéria proporciona ao Self a eleição dos cometimentos edificantes, aqueles que não geram culpa nem arrependimento, proporcionando a vida harmônica em ideal identificação com tudo e com todos.

Trata-se, sem dúvida, de um grande esforço a ser desenvolvido.

No entanto, a pérola que reflete a luz das estrelas é arrancada dos abismos em que se desenvolve no molusco que a retém como mecanismo de autodefesa, ou como a estátua de rara beleza que estava oculta na pedra grosseira ou no metal sujo e informe...

A existência humana é um desafio gigantesco no processo ontológico da evolução.

Por mais se queira, ninguém é capaz de evitar os impositivos em que se expressa.

Por isso mesmo, o pensamento ético estabeleceu diretrizes de segurança para que sejam logrados os objetivos da saúde e da tranquilidade, do bem-estar e da alegria de viver.

Aprofundando a sonda na complexidade do ser humano, a psicologia analítica oferece valiosos recursos para a autoidentificação, para a descoberta dos limites e das possibilidades inimaginadas, para a construção da plenitude, libertando o paciente de todo grilhão retentivo na ignorância, na enfermidade, nos transtornos de comportamento...

Quando o indivíduo puder olhar-se com serenidade, sem culpa nascida no passado, sem saudades dele ou ansiedades pelo futuro, na expectativa do vir-a-ser, nada obstante os conflitos que lhe permaneçam, terá conseguido avançar decisivamente no rumo da autorrealização, portanto, de uma vida harmônica.

Essa conquista não impede a luta contínua, porque a evolução não tem limite, e quanto mais se adquire conhecimento mais se ampliam os horizontes do saber e as indagações em torno do existir, do Cosmo, da vida em si mesma.

Para o êxito desse cometimento, a autoterapia do amor e do sentimento de dever contribui para o prosseguimento do esforço de crescimento interior, de realização enobrecida, de harmonia, desaguando no estado numinoso.

O ser numinoso exala equilíbrio, segurança, autoconquista.

Transforma-se em um polo de atração que beneficia todos aqueles que se lhe acercam, porque a sua exteriorização é benéfica e enriquecedora.

De igual maneira, o indivíduo voluptuoso, vulgar, insensato, mesmo que se apresentando bem-vestido e com a persona bem trabalhada, cuidadosamente maquilada para a vida social, exterioriza o bafio pestilencial do seu estado interior.

Basta uma aproximação, um contato, para que se sinta o perigo do contágio da sua condição moral e espiritual.

Logo ocorre uma falta de empatia entre aquele que é saudável e o enfermo, produzindo fenômenos psicológicos de antipatia e distanciamento.

Cada qual é aquilo que cultiva interiormente, suas aspirações e pensamentos, seus cuidados ou desastres emocionais, não podendo ocultá-los de tal forma que psiquicamente os mesmos não se manifestem.

Nesse capítulo, pode-se inferir que as existências pregressas impuseram o seu selo representativo da conduta que cada qual se permitiu.

É comum ouvir-se dizer que os discípulos de determinados mestres iogues asserenam-se junto deles, sem necessidade de qualquer verbalização...

O mesmo ocorre com muitos pacientes quando chegam os seus médicos, enfermeiros ou assistentes, sendo generalizada a ocorrência em relação às pessoas portadoras de sentimentos elevados que produzem alegria e geram harmonia a sua volta.

De igual maneira, aqueles que são temperamentos rebeldes, instáveis, comportamentos doentios, sentimentos avaros e mesquinhos, turbulentos e perversos, fazem-se identificar facilmente, mesmo que o não queiram, sem qualquer manifestação exterior.

O ser psíquico-moral é o verdadeiro indivíduo.

A nobre tarefa da psicoterapia é trabalhar esse Self que centraliza todas as atenções e cuidados, nele descobrindo os registros das aflições defluentes das experiências malogradas, dos comprometimentos desastrosos, do que poderia haver realizado de meritório e ficou na expectativa...

Onde se encontre o enfermo psicológico ou físico, ou mental, aí está a totalidade dos seus atos em reencarnações anteriores agora refletidos na conduta angustiosa ou aflitiva que o aturde.

Imprescindível trabalhar-lhe o inconsciente coletivo, buscando os arquétipos portadores de desintegração e sofrimento que nele ressumam com frequência.

Os primeiros passos para a conquista da vida harmoniosa, são aqueles que liberam o despertar da consciência de si, ao lado da responsabilidade assumida em favor das mudanças que se fazem necessárias na ementa existencial.

Desmascarar a ignorância e diluir a sombra onde quer que se refugiem, constituem o segundo passo de lucidez para alcançar-se o objetivo anelado.

Assumindo facetas desculpistas, ensejando processos de transferência de responsabilidade, o ego engenhoso e insubordinado procura sempre manter-se no comando, disfarçando a aparência e mantendo os conteúdos doentios.

Outras terapias, denominadas alternativas, também são muito úteis para a conquista dessa vida harmônica sempre buscada.

Desde os procedimentos de cromoterapia, como os de massoterapia, os de meditação e ioga para atingir o mocsa, os de fluidoterapia especialmente através dos passes e outros tantos valiosos recursos à disposição dos interessados, o importante é alcançar a individuação, a sukha...

Muitos outros indivíduos, entretanto, preferem ficar vitimados pela síndrome do mundo cruel, conforme a denominam os sociólogos, em face da alta carga de informações negativas, de desastres e infortúnios de que são vítimas, informando a impossibilidade de as superar ou pelo menos digeri-las mentalmente.

Sem dúvida, é um disfarce para evitar assumir a responsabilidade pelo que está ocorrendo no mundo, porquanto, ao lado das misérias e vicissitudes, também se encontram os exemplos de dignificação e sacrifício de verdadeiras multidões que permanecem no anonimato ou se tornam conhecidas, sem darem importância ao lado infeccioso da sociedade, que se apresenta em forma de doença pandémica e constante.

A predominância dos bons e dos portadores de sentimentos elevados proporciona à vida uma paisagem de esperança e de significação, qual um amanhecer de bonança após a violência da tormenta.

A aquisição, portanto, de uma vida harmônica, está na dependência da eleição que cada um faz em torno dos objetivos existenciais, sendo factível anelá-la e trabalhar por conquistá-la.


...

E o filho pródigo voltou para os braços paternos...


Equipamentos psicológicos para o ser

Na extraordinária façanha da existência humana, a conquista de sentido e de significado é de relevante magnitude, pois que, do contrário, não se vive, apenas se vegeta, conforme conceituação de um brocardo popular.

A constituição do Self como energia pensante, na condição de princípio inteligente do universo, conforme é definido o Espírito pelos Benfeitores da Humanidade, impõe por princípio e legitimidade todo um arsenal de equipamentos psicológicos para o desempenho da tarefa que deve executar - a autoiluminação.

Procedente do Psiquismo Divino, possui, em germe, todas as potencialidades provenientes da sua causalidade, sendo-lhe necessário o despertar das mesmas e o desenvolvê-las ao largo das experiências sucessivas.

Em decorrência, o ser psicológico que é, impõe-se como de fundamental relevância em todo o processo evolutivo, sendolhe necessários recursos psíquicos propiciatórios para o alcance dos seus objetivos.


Sediando as aspirações no superconsciente e conservando as realizações no inconsciente coletivo, o seu envoltório perispiritual é o reservatório onde se encontram todos os valores amealhados, dignificantes ou inquietadores, e que ressumam com frequência, de acordo com as emoções, as ocorrências

" que fazem parte do processo de evolução, auxiliando-o na ascensão ou induzindo-o ao sofrimento.

Como consequência, as suas são necessidades de ordem ética, estética, transpessoal, como recursos de manutenção do equilíbrio e de impulsos para o avanço pela senda libertadora dos atavismos negativos que interferem no comportamento que opta pelo bem-estar.

A alegria de viver, por exemplo, é um dos mais valiosos equipamentos psicológicos para o êxito do empreendimento humano, porquanto, através desse sentimento, todas as experiências adquirem significação, selecionando aquelas que promovem com a superação tranquila em referência às portadoras de angústia e de aflição.

Para que haja alegria de viver, no entanto, impõem-se condições emocionais específicas, tais sejam: os procedimentos mentais saudáveis, nos quais o pensamento e a imaginação ativa exercitam-se trabalhando as aspirações da ordem e do dever, da ação nobre e da solidariedade, do progresso e da abnegação, mantendo o clima superior propiciatório ao entusiasmo, sem as defecções ocasionadas pelos conflitos; a reflexão antes de qualquer atitude, a fim de evitar a culpa que transtorna, elegendo as condutas que proporcionam júbilo interior; as atividades representativas da caridade, da compaixão; a auto análise frequente, de modo a identificar os erros e reabilitar-se deles, os acertos e seus prosseguimentos...

Isto porque, segundo a opinião do eminente Jung: ... dentro da alma, desde suas origens primordiais, têm havido um desejo de luz e uma ânsia incontida para debelar as sombras primordiais...

a noite psíquica primordial...

é hoje a mesma que a de incontáveis milhões de anos passados.

O anseio pela luz é o anseio pela consciência.

A busca dessa consciência profunda transforma-se em meta que conduz à plenitude psicológica, quando o sofrimento não encontra lugar para instalar-se, ou quando ali presente, ser superado.

Embora o sofrimento permaneça no mundo e nas criaturas como uma fatalidade do seu processo de evolução, mediante os equipamentos psicológicos da busca da luz, torna-se factível diluí-lo na claridade do amor inefável.

O sonho alquimista era a transmudação dos metais comuns em ouro de alto valor, que não foi conseguido.

Nada obstante, psicologicamente, é possível essa alquimia no ser, ao transformar a sombra em luz e os conflitos com as suas marcas de perturbação no ouro da harmonia.

Para tal cometimento, os recursos a serem utilizados são internos e fazem parte da construção da consciência, pois que, somente por seu intermédio, é possível a conquista da sabedoria, ao discernir entre o que é necessário e inútil na existência, de real ou de aparente valor...

Enquanto isso, a luta interior em relação ao sofrimento prossegue contínua.

Ainda conforme o pensamento junguiano, o oriental planeja vencer o sofrimento expulsando-o como se fora uma coisa, enquanto o ocidental pensa que conseguirá libertar-se dele através dos medicamentos.

Nenhum medicamento, porém, tem o poder de eliminar os sofrimentos que se derivam da consciência de culpa, dos fenômenos psicológicos da afetividade não correspondida, das ansiedades não concretizadas, do desejo do belo e da paz não conseguidos...

O dinheiro, por exemplo, pode oferecer uma farta alimentação, jamais provocar o apetite; pode conseguir o conforto, nunca, porém, a paz de quem habita o lugar agradável;

a presença de pessoas, sem que lhe ofereçam o amor...

A morte de um ser querido interrompe os sorrisos e o poder do mundo não o pode trazer de volta, embora possa mover praticamente tudo e todos...

Tais ocorrências produzem sofrimentos, sem dúvida, que não podem ser expulsos a golpes de insistência mental nem socorridos com medicamentos de qualquer natureza.

Têm de ser enfrentados pacientemente pela psique, através do estado autoconsciente do Self.

É natural que o sofrimento e a felicidade manifestemse lado a lado, em aparente oposição, que os equipamentos psicológicos da compreensão podem fundir num estado de harmonia, quando se compreenda que através do primeiro se pode alcançar a segunda, bastando, para tanto, a compreensão das suas origens e da sua permanência.

Diluindo-se as marcas que procedem do inconsciente individual e do coletivo, anula-se a desdita e despertando a criança maltratada, que se encontra latente, consegue-se entender que é possível conciliar um com a outra, desde que transformando o primeiro em caminho que conduz à plenitude.

Não havendo reproche, nem mágoa pelas ocorrências desagradáveis geradoras do sofrimento, não têm vigência os mórbidos resíduos psicológicos, antes surgem perspectivas favoráveis à superação do mesmo, porque outros fatores tomam-lhe o lugar, como sejam: a paz de consciência, o desejo para alcançar as metas programadas, os ideais abraçados.

Quando a mente está voltada para os significativos labores de elevação moral, social, espiritual, artística ou de qualquer outro tipo, as expressões do sofrimento perdem a preponderancia na emoção e, naturalmente, deixam de influenciar o comportamento.

Dessa forma, a melhor maneira de superar o sofrimento e conquistar a felicidade é trabalhando-o, aceitando-o, ultrapassando-lhe os limites e as imposições.

Em assim comportando-se, o sofrimento se transforma num dínamo gerador de energia que se desenvolve e produz recursos para a conquista da individuação.


Como equipamento psicológico, é justo ainda insistir-
-se no relacionamento criatura-Criador, pensamento-oração,

mente-esperança, que facultam a sintonia com as forças cósmicas de onde procedem todas as coisas materiais, e em forma de energia vitaliza e acalma todos quantos se utilizam desse comportamento.

Vivendo-se no mundo em que tudo é energia sob diferentes aspectos de aglutinação de moléculas, o pensamento também pode e deve engendrar mecanismo propiciatório ao surgimento de forças psíquicas que trabalham pelo bem-estar e superam as construções do sofrimento.

Tudo, portanto, encontra-se dentro da pauta do querer corretamente, a fim de conseguir-se retamente.

Pensando-se com equidade e justiça, agindo-se com bondade e compaixão, vivendo-se com esperança e alegria, a iluminação dá-se natural, ampliando a capacidade no Self para.

gerar o estado numinoso permanente.


A fatalidade da morte

O fenômeno biológico da morte faz parte do equivalente em relação ao nascimento: aglutinação de moléculas que se reúnem e se desarticulam quando ocorre a anóxia cerebral.

Pode-se afirmar, no entanto, que o oposto de morte não é vida, mas renascimento, como afirmou Buda, porquanto, sempre se está na vida, quer no corpo físico, quer no corpo espiritual.

Sendo o Self mortal e imortal na visão transcendente de Jung, ei-lo transferindo-se de vibração, pelo fenômeno da morte, ou mergulhando no corpo através do impositivo da reencarnação.

A morte é, portanto, o término do fenômeno biológico, encerramento de uma etapa orgânica, na qual todos os elementos constitutivos do corpo físico se diluem e se transformam sob a ação poderosa da química presente em a Natureza...

Desse modo, o significado psicológico mais valioso da existência corporal é a conquista valiosa da imortalidade, na qual se está mergulhado, mas que se torna lúcida e plena após a desencarnação.

Nesse período, após a ocorrência breve ou longa de obnubilação da consciência, agora sem o envoltório cerebral, o ser, lentamente, de acordo com as suas construções morais e mentais, retorna ao estágio de energia ou princípio inteligente, sem as intecorrências do aprisionamento no casulo material.

A jornada humana no corpo deve constituir a meta plena para o reencontro com a vida total.

Portanto, todos os investimentos mentais, morais e psicológicos necessitam voltar-se para essa realidade, tendo em vista a impermanencia do corpo físico.

Considerando-se a imortalidade como a grande meta, definitiva, cada instante da viagem corporal representa oportunidade valiosa de crescimento iluminativo, investimento psicológico precioso para a conquista da saúde integral, aquela que procede do interior para o exterior.


Esse nascer e morrer na esfera física propicia ao Espírito a conquista da incomparável plenitude, etapa a etapa, conforme responderam os Benfeitores espirituais a uma indagação de Allan Kardec, demonstrando que tudo evolve no Universo: ... Éassim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo...

* Desde os primórdios do Self, quando surge nas formas primárias, o seu despertamento ocorre através do encadeamento das experiências carnais, em sucessivos renascimentos corporais, permitindo que se agigantem a pouco e pouco as potencialidades nele adormecidas, que são inerentes à Divindade da qual procede...


Não fosse dessa forma, a existência corporal, em razão da sua brevidade, não teria o menor sentido de lógica ou de finalidade, quando se considera o tempo indimensional e o infinito,

logo dissolvendo-se o pensamento no nada, no aniquilamento.

A sobrevivência do ser espiritual é crucial para que a vida física tenha justificativa e sentido psicológico.

Que o digam aqueles que nasceram sob injunções coercitivas dos sofrimentos quase inconcebíveis, sem lhes haver concedido direito à comunicação, ao pensamento, à razão...

Muitos outros, atrelados às necessidades socioeconómicas, dão início às existências nas palhas da miséria e transitam nos meios escabrosos onde vivem sem a mínima claridade do amor, nem da solidariedade, misturando-se o crime com a adversidade...

Incontáveis seres que deliram na loucura sob maltratos inumanos, enquanto inúmeros atoleimados perdem-se nos descaminhos do esquecimento humano...

Ocorrências cruéis sucedem com indivíduos portadores de inteligência e de beleza, mas que pertencem a etnias e raças consideradas inferiores, sendo obrigados a sorver o amargo fel do preconceito e da perseguição inclementes.

Sucessos e insucessos de toda ordem afetam as criaturas humanas, como se fossem frágeis marionetes ao capricho do absurdo, que se manifesta inesperadamente, a uns elevando ao êxtase da felicidade e a outros, ao abismo da miséria e do abandono.

Gênios do pensamento e da arte, da ciência e da cultura, repentinamente são vítimas de fenômenos infelizes e vencidos por acidentes vasculares cerebrais, perdem o contato com o mundo de beleza a que se acostumaram ou que edificaram e não mais o podem fruir.

Igualmente sucedem, a cada instante, a incontáveis pessoas, outros tipos de acidentes automotores, choques e quedas, incêndios e desabamentos nos quais os sentidos físicos são danificados, quando não deixam sequelas profundas na psique, que se desconecta da realidade e foge para o olvido de si mesmo ou para os delírios sem sentido das alucinações...

Considerando-se que a presença do sofrimento em todos os segmentos da sociedade é normal, qual seria, então, o sentido da vida, além disso?

Nada obstante, o ser espiritual, vencedor de mil embates, em cada dolorosa vivência aprimora-se mais, adquire mecanismos de defesa, robustece a confiança nos valores ético-morais, experiência as gloriosas possibilidades que lhe dormem no íntimo.

Herdeiro das próprias realizações, é o artífice da saúde e da doença, da sabedoria e da ignorância, responsável pela sombra, pelo anima-us, pelo ego que se devem fundir num eixo equilibrado com o Self, que os precede e os sobrevive.

O prosseguimento da inteligência e do pensamento além da esfera carnal, representa o mais extraordinário sentido existencial, pelo abarcar de todas as expressões da emotividade e dos outros demais sentimentos.

Tendo-se em mira esse significado, mais exequível se torna viver, seja em qual situação ou circunstância for, por saber-se que é temporária e breve a jornada carnal, portadora de finalidade educativa, psicoterapêutica, responsável pelo engrandecimento do si-mesmo.

Com esse equipamento, a certeza da imortalidade faculta que todos os fenômenos humanos adquiram lógica e possam ser compreendidos como edificantes, portadores de futuro bem-estar e de harmonia.

Atávicamente, porém, o medo da morte e do aniquilamento permanece como um arquétipo terrível e ameaçador, herança do período da caverna, quando ocorria o fenômeno que não era interpretado pelo homem primitivo, que via o outro ser decompor-se, tresandar podridão e não mais voltar ao convívio...

Sem a capacidade de discernir, o culto do sepultamento desenhou-se-lhe no Self, dando lugar às superstições compatíveis com o nível evolutivo e gerando no inconsciente profundo o horror da ocorrência não compreendida.

Apesar disso, foi na intimidade dessa mesma caverna que as almas aflitas ou não daqueles que sucumbiam ao fenômeno da morte, retornavam, apavorando ou aparentando poder, que proporcionaria ao pensamento mítico a concepção dos deuses, iniciando-se lentamente a compreensão da existência post-mortem e dos gênios bons e maus, dos deuses nobres e viciosos...

A longa jornada atinge, na atualidade, a concepção da Divindade fora dos padrões convencionais em forma de objetivaçóes materiais, apresentando-se como a Causa Incausada, a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas...

A morte, portanto, ao invés de temerária, é o veículo que conduz o ser imortal ao seu destino, proporcionando-lhe, quando terminados os renascimentos carnais, a total conquista do Self, do numinoso, da individuação, da felicidade plena e sem jaça.

Por fim, como escreveu Jung estudando e observando idosos na quadra terminal: ... a psique inconscientefaz pouquíssimo caso da morte.

Prosseguindo, ainda, no tema, elucidou: É necessário, pois, que a morte seja alguma coisa relativamente não essencial... A essência da psique estende-se na obscuridade muito além das nossas categorias intelectuais.

O encontro com a verdade liberta o ser da ignorância e integra-o totalmente na vida.

Desse modo a busca da verdade não deve cessar, pois a cada instante ei-la que se apresenta grandiosa e deslumbrante.

Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?

(Paulo aos Coríntios 1:15-55)

* Questão 540 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. 29 a edição da FEB.

Nota da autora espiritual.






FIM




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