Encontro com a Paz e a Saúde

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CAPÍTULO 9

A CONQUISTA DA CONSCIÊNCIA

O ser humano transita invariavelmente pelo processo evolutivo em estado de adormecimento no que diz respeito às ações, vitimado pelo ressumar dos arquivos do inconsciente, que liberam hábitos e atividades fixados, ensejandolhe a repetição automática dos mesmos, sem o necessário discernimento que advém da conquista da consciência.

Em face do largo trânsito pelas faixas mais primárias, quando as experiências faziam-se predominantemente na área sensorial, abrindo possibilidades para o futuro racional, os pródromos da consciência irromperam em insights para fixar-se no Self, após as atividades demoradas do ego.

O desabrochar das potencialidades internas do ser fazem-se muito lentamente, enquanto as vivências orgânicas da sobrevivência, da manutenção do corpo, do repouso e da reprodução prevalecem assinalando com vigor a vilegiatura humana, nas repetidas reencarnações.

Em cada oportunidade instalam-se novos valores que se fundem no inconsciente individual com as heranças do coletivo, impulsionando sempre para mais elevadas percepções.

A aquisição da consciência é processo lento e profundo, porque se encontra em germe no próprio ser, como a pérola preciosa na concha escura do molusco bivalve onde se desenvolve após a irritação no tecido que lhe dá origem...

O Upanixade assevera que Essa divindade que se vai manifestando nas atividades do universo habita sempre no coração do homem como alma suprema.

Aqueles que a identificam através da percepção imediata do coração, atingem a imortalidade.

É óbvio que a imortalidade é o destino dos seres sencientes, especialmente quando atingem o período de humanidade.

No entanto, o adormecimento da consciência dificulta-lhes avançar nesse rumo, porque ignoram o discernimento diante dos acontecimentos existenciais, sendo levados pelas paixões primitivas, aquelas que terão de ser abandonadas durante o curso de iluminação interior.

Essa busca para o encontro ocorre no domínio da natureza onde o ser está localizado, sendo-lhe necessário entender os mecanismos dos fenômenos de maneira lógica e real, o que o leva às causas essenciais e o encoraja para as novas conquistas que significam autolibertação e auto-iluminação.

Em um sentido figurado, trata-se da inteligência que abrange o conhecimento, mas também do coração que sente e se aformoseia no amor, essa divina essência da vida, que é o ponto culminante da busca.

A partir do momento em que ele se instala no íntimo, torna-se mais fácil o avanço, pois que resulta da superação do ego e das suas cargas de paixões escravizantes.

O ego não é o violino afinado para que a musicalidade do Universo possa dele espraiar-se, mas em face da capacidade que tem de ocultar o Self, quando entendido e trabalhado, liberta a melodia do sentimento de afeição que se vincula ao Amor Divino, facultando a identificação com a felicidade.

Nesse período de busca da consciência real, as imperfeições morais obscurecem o discernimento, apresentando valores que não são legítimos, mas que são disputados em renhidos combates perturbadores, que assinalam o espírito com futuros conflitos e tormentos que poderíam ser evitados, caso tivesse a clara visão da realidade e do objetivo final, que é a plenitude.

Em face da ignorância dos tesouros do amor, o indivíduo se demora em discórdias e falsas posturas de superioridade, dividindo e impondo regras infelizes nas comunidades de que fazem parte.

É nessa fase que surgem os comprometimentos com a intolerância, expressando-se em discriminações vergonhosas, como se todos os seres não procedessem da mesma Gênese Soberana.

Há, apesar desses limites, uma ânsia profunda no cerne do ser humano, que é atingir a harmonia, entender o Uno, integrar-se-Lhe, sem a perda da sua individualidade.

Esse cometimento se tornará possível, mediante o avanço, passo a passo, em que se vão superando os limites e aumentando a capacidade de compreensão do poderoso recurso da evolução.

Numa retrospectiva, pode-se analisar as aquisições logradas ao largo do raciocínio em relação ao tempo passado, entendendo os períodos superados e agradecendo as vitórias que foram conseguidas, e que resultaram dos impulsos para alcançar a Grande Luz.

Essa observação tranquila do já conseguido facultará possibilidades estimuladoras para as etapas que deverão ser conquistadas, sem danos emocionais nem perturbações do sentimento, antes, mediante o aprimoramento dos valores internos e as expectativas da vitória.

Teilhard de Chardin afirmava que o ser humano é a ponta da flecha do processo evolutivo, por encontrar-se, neste momento, com o melhor índice de consciência conhecido na Terra.

Essa proposta, é resultado do seu conceito de que o processo da evolução ocorre mediante complexificação da consciência, mediante a agregação dos recursos cósmicos diante de uma força externa, que é tangencial, auxiliando a consciência que favorece com novos estados de ser.

Trata-se, portanto, da ascensão no rumo da Consciência Universal, o Uno, a melhor diretriz para alcançar-se o essencial: a plenitude!

Desse modo, o ser traz, em si mesmo, no seu inconsciente profundo, todo o potencial de que necessita para a autoconsciência, desenvolvendo-a nas muitas etapas das reencarnações, pois que, para tanto, se encontra no mundo físico.

A aquisição da consciência faculta a independência de cada um, ao mesmo tempo a vivência harmônica na comunidade em que se encontra colocado para evoluir, ensejando a fraternidade legítima, porque, somente através dela, no intercâmbio de sentimentos e de realizações, é possível alcançar a união com o Pensamento Cósmico.

Trata-se de um processo que avança do simples para o composto, do escuro para o claro, da ignorância para a compreensão, da morte para a imortalidade com todo o seu potencial de vida e de bênçãos.

Compreender a consciência tem sido um dos grandes objetivos da psicologia, questão sempre presente nos comportamentos de ação e de reflexão do ser humano.

Felizmente, alguns estudiosos já concluem que a consciência encontra-se no ser espiritual que é, adormecida, aguardando os esforços dos relacionamentos e dos conhecimentos para despertar, propiciando, cada vez mais, amplas capacidades de realização.

Será, portanto, na consciência, que se detectarão os conflitos e problemasdesafios que afligem os indivíduos e que os psicoterapeutas deverão trabalhar com intensidade, de maneira a iluminar os seus complexos escaninhos, nos quais estão guardados todos os fenômenos da historiografia da evolução de cada um.


Heranças inconscientes

Esse oceano quase infinito que é o inconsciente humano, responde pela conduta e pelos reflexos mentais, emocionais e morais de cada indivíduo, que se expressa conforme os arquivos de que é portador.

Experiênciando a inteligência há apenas duzentos mil anos, quando lhe surgiram os pródromos, e a razão, nos últimos dez mil anos, a aquisição da consciência permanece como um grande desafio, exigindo-lhe grande esforço para neutralizar os impulsos internos habituais, automáticos do instinto, abrindo espaços para a reflexão, o discernimento e a lucidez em torno da realidade.

Transitando numa forma de sono-sonho semi-desperto, as ocorrências apresentam-se conforme a imaginação e as impressões fixadas, não de acordo com a sua estrutura real, o que o aturde, não poucas vezes, quando procura identificação com os fatos.

Ei-los em forma de imagens algo deformadas pela ausência de discernimento em torno da sua formulação.

Somente, há pouco e pouco, a neblina que os envolve dilui-se ante a claridade do discernimento que coloca parâmetros e definições em todos eles.

Não se trata de uma conquista imediata, mas de um esforço contínuo, a fim de criar novos padrões de comportamento, apresentando de maneira nova as ocorrências antes destituídas de significado.

A visão de uma árvore, por exemplo, que se apresentava como um conjunto, sem muita nitidez, passa a oferecer os detalhes da copa, da folhagem, do tronco, das cores vivas...

Da mesma forma, a floresta não somente representa o conjunto abrangente, mas os detalhes, as características variadas, tudo quanto a constitui, sem a perda do volume em que se apresenta.

Essa observação natural do detalhe, ensejando maior penetração no conteúdo, significa avanço em tomo do despertar para a realidade, para a conquista da consciência.

Compreensivelmente, o processo de crescimento começa na fase da consciência de sono-sem-sonhos, quando todos os acontecimentos são destituídos de significado psicológico, de realidade, expressando-se de maneira automática, repetitiva, retendo o indivíduo nos instintos primários de que se utiliza para sobreviver.

Embora o intelecto esteja em ação, não existem paradigmas para o comportamento que estejam arquivados no imo, sendo essas as primeiras experiências que se consolidarão, à medida que sejam vitalizadas, podendo ressumar em forma de conhecimento que se aprimora quanto mais sejam vivenciadas.

Nesse cometimento, a vontade ainda não estruturada é responsável por um papel importante.

Se estimulada a prosseguir no objetivo do despertamento, facilitar-lhe-á a ocorrência, mas se permanece sem estímulo, deixa de produzir o resultado desejado.

A vontade significa o desejo de mudança, de crescimento na escala dos valores humanos, a fim de alcançar-se a perfeita lucidez, mediante a qual é possível a vivência da alegria e do bem-estar psicológico.

Nas manifestações mais primárias o prazer é sempre decorrência das manifestações sensoriais, que irão facultando as expressões emocionais encarregadas de tomar as áreas da organização física, por melhor traduzirem os conteúdos do ser profundo, do Self, o herdeiro do arquétipo primordial em cujo cerne a vida é plena.

À medida que o ressumar das experiências antropológicas encontra campo no ego para expressar-se, de alguma forma liberam os seus resíduos mais dominantes, facultando novos arquivamentos que irão constituir a consciência lúcida do futuro.

A esmagadora força dos instintos começa a experimentar o trabalho da vontade desperta para o equilíbrio e a disciplina, transformando impulsos em ideias e desejos sensoriais imediatos em aspirações psicológicas portadoras dos sentimentos do belo, do bom, do nobre.

IJm sutil discernimento assoma, então, considerando o que é apenas prazeroso em relação àquilo que é útil, proporcionando bem-estar e promovendo a alegria de viver, sem os constrangimentos das sensações exclusivas.

Concomitantemente, o superconsciente irriga o abismo da inconsciência com aspirações desconhecidas que se encarregam de romper o envoltório denso das necessidades orgânicas, a fim de que surjam os anseios de felicidade fora das satisfações habituais.

A ciência e a arte de pensar com discernimento constituem um avançado passo no processo da evolução em que se encontra o espírito humano, sempre convidado a mais amplas conquistas, porque lhe está destinado o patamar da sintonia cósmica, aguardando-o em vibrações de harmonia transcendente.

Haver alcançado esse nível de consciência é ter-se superado, conseguindo vencer os impulsos para adaptar-se ao raciocínio cada vez mais depurado, em ascese fascinante, cada vez mais enriquecida de possibilidades.

Ken Wilber, analisando os estágios da consciência, reporta-se às fases prépessoal, pessoal e transpesso-al.

Na fase pré-pessoal, ainda, segundo ele, a consciência estagia no sensóriofisico, fantasmagórico-emo-cional e mente representativa.

Na segunda etapa, a pessoal, vive-se a mente regra-papel, mente reflexivaformal, visão lógica.

Por fim, no nível transpessoal, experiência-se o psíquico, sutil, causai.

... E acrescentaríamos os fenômenos paranormais conscientes, responsáveis, incluindo a mediunidade lúcida e a saúde emocional.

Nesse período pré-pessoal, a predominância do sensório-físico é a experiência mais vivenciada pelo ser em quem o inconsciente governa as ações, porque todos os sentimentos estão embotados pelo fantasmagórico-emocional, no qual as reflexões operam-se através da mente representativa.

Os símbolos são os recursos que favorecem a comunicação e essas imagens da mente representativa são tudo quanto consegue demonstrar a capacidade de pensamento.

No entanto, trata-se de uma conquista que ruma para novos comportamentos psicológicos, que as reencarnações facultarão ultrapassar mediante as vivências que são impostas pelo processo de crescimento intelectomoral.

A mente é campo fértil preparado para a sementeira de infinitas possibilidades, que são conseguidas graças ao esforço do Self em ampliar-se incessantemente, pois que essa é a fatalidade que lhe está reservada.

À medida que a consciência aflora e se vai enriquecendo, a fase pessoal abre-lhe as perspectivas da razão e da lógica, facultando ao ser o raciocínio e o discernimento propiciadores do entendimento dos fenômenos da vida, do pensamento em si mesmo, da estética, da ética, da arte, da ciência e da tecnologia...

Nada obstante, os alicerces profundos continuam enviando as suas mensagens perturbadoras em forma de conflitos existenciais e de traumatismos emocionais, em relação a tudo quanto não pôde ser liberado conscientemente.

A catarse ocorre através das distonias que devem ser trabalhadas pelos psicoterapeutas capacitados a penetrar-lhes nas causas profundas, erradicandoas com sabedoria e paciência.

Por fim, na fase transpessoal, o ser humano supera-se e torna-se o senhor de si mesmo, podendo avançar com equilíbrio e paz na conquista do Universo, porquanto já conquistou o Self e agora é-lhe mais fácil o avanço.

Somente, então, as reservas do inconsciente profundo estarão transformadas em experiências-base do processo de crescimento, não mais interferindo na socialização e no desenvolvimento psicológico do indivíduo.


Despertar da consciência

* A consciência cotidiana é resultado das experiências mentais e emocionais que se repetem por automatismo, criando os hábitos do discernimento entre as atitudes certas e as incorretas.

As buscas da razão operam dentro de padrões de comportamentos saudáveis, nos quais o ego seleciona os valores mais compatíveis com o próprio bem-estar, mas também de sabor geral, ensejando satisfações har-monizáveis com os objetivos existenciais.

O despertar da consciência faculta o estágio de sono-com-sonho lúcido, vivenciando experiências que impulsionam ao progresso moral e ao preenchimento do vazio existencial, sem os estágios de saturação, de tédio, de modorra emocional.

Não somente as sensações fortes dão sentido psicológico, nesse nível, mas também as emoções sutis do próprio existir contribuem para que novos objetivos surjam na espontânea alegria de viver.

As impressões do passado vão perdendo o significado dominante, e o vir-a-ser assume interesse vivo, pois que constitui meta a ser alcançada, mesmo que não definida de momento.

William James afirmava: Parece não haver dúvida de que todos somos até certo ponto vítimas da neurose do hábito...

muitas vezes impedidos de avançar por causa das barreiras impostas pelos costumes ancestrais.

Informa-se, num brocardo tradicional, que os hábitos são uma segunda natureza.

E tem procedência a afirmação, porque eles impõem comportamentos não necessariamente racionais, mas automáticos, repetindo-se em sucessão interminável...

É necessário que haja a compreensão dos mecanismos intencionais da consciência colocados a serviço do futuro, para superá-los, evitando a tendência à desvalorização, que decorre dos não superados, geradores de rotina e de descontentamento.

Como efeito, os indivíduos que permanecem nos hábitos sem alteração coisificam-se, perdendo o sentido de humanidade.

Talvez, por isso, Gurdjieff afirmou que a maioria das pessoas não existe, ou quase não existe: são pouco mais que nuvenzinhas de vapor aglutinadas por um corpo.

Desse conceito, algo absurdo, confirmou que essas nuvenzinhas não sobrevivem (à morte), porque não há praticamente nada para sobreviver.

Fora realidade esse postulado e não havería razão alguma para a luta em que se deveríam empenhar as criaturas através daquarta via ou via do homem hábil por ele estatuída, considerando-se a fatalidade da destruição da consciência.

Sua proposta, aliás, baseia-se na busca do conhecimento, o de natureza científica, facultando a aprendizagem, para não se aceitar informações sem a experiência de si próprio, não se permitindo crer em algo sem o conhecer, sem o constatar, sem o exame a seu respeito.

Assim considerava o ser humano apenas como máquina, o que explicava a guerra, na qual umas lutavam contra outras máquinas, todas acionadas pelo ego reagindo em uns contra os outros.

Na sua proposta, um tanto pessimista, embora o grande valor e contribuição da sua psicologia, as pessoas deixam-se levar por outras como folhas ao vento, sem saber o destino para onde são conduzidas.

Então sugere o trabalho que oferece estrutura e peso espiritual de forma que não seja movimentado por força alguma de fora.

Em realidade, no despertar da consciência de si, surge o conceito de destinação, de imortalidade, de autoconhecimento, de valorização de conteúdos, de estímulos a novas descobertas saudáveis e a significativas realizações.

O indivíduo retira do seu passado as experiências geradoras de conhecimento, mas não se detém nele, superando as ocorrências e criando novos embates de despertamento pessoal, a fim de que a névoa das memórias transatas não interfira na claridade das suas reais aspirações.

Esse conceito de destinação oferece ânimo para a luta sem tédio, sem objetivos de vitórias sobre os outros, mas sim, sobre os impulsos inferiores, conscientizando-se de que se trata de um ser imortal, cujo destino não teve início no berço, portanto, não se consumirá no túmulo...

À semelhança de uma herança genética divina, descobre Deus em seu mundo interior, como razão de existir, propelindo-o à futura identificação durante a fase de au-toconsciência elevada, que deverá ser a meta a conquistar, através dos outros níveis a alcançar, quando descobrindo a máquina pela qual se movimenta, conseguir controlar todas as suas funções, em disciplina natural, sem sacrifícios martirizantes nem concessões pieguistas.

A vida racional, em si mesma, exige uma contínua renovação de conceitos, de modo a ampliar os horizontes existenciais e melhor compreendê-los, mesmo que a perder-se no infinito.

Por isso, o conhecimento desempenha um papel relevante, ao lado da emoção que deve ser direcionada para o equilíbrio ético e a estabilidade saudável, operando com segurança esses recursos em benefício do controle sobre as demais funções da maquinaria orgânica.

É indispensável que o esforço para manter a emoção em harmonia seja parte do programa da consciência de si, porquanto, qualquer variação de humor, do intempestivo gargalhar ao profundo cismar, sempre expressa desequilíbrio no vasto campo da emoção.

Desse modo, nem o excesso de emotividade, nem a escassez dela, em razão da prudência que deve viger no comportamento saudável de todo aquele que se liberta das heranças dominantes e procedentes da natureza animal.

Logicamente, as demais expressões passam a merecer identificação, porque a consciência, em processo natural, alcança o nível de conhecimento de si mesma, trabalhando os instintos que se submeterão ao controle da razão, funcionando dentro dos mecanismos necessários à sua finalidade.

Ao invés de reagir-se - por instinto -, agir-se - pela razão.

Os impulsos passam a ser controlados pelo discernimento em face da consciência de si, de responsabilidade, de compromisso com a vida, superandose a pouco e pouco, até quando o pensamento lúcido sob o amparo da razão e da lógica predomine no conjunto geral.

De imediato a consciência - o Self - constata a necessidade de trabalhar os movimentos corporais, estabelecendo linhas de comportamento equilibrado, a fim de que todo o conjunto orgânico se expresse em ordem, facultando a harmonia geral da maquina biológica.

A função sexual assume, nesse momento, papel de relevante importância, em razão do predomínio que mantém sobre o organismo, seja a de natureza procriativa, seja em razão do prazer, exercitando a valorização da mente em relação ao conúbio corporal, antes que as exigências do desejo desgovernado e vicioso conduzam ao relaxamento dos sentimentos de amor e de respeito pelo parceiro.

Na complexidade da organização genética, a consciência desperta de si mesma, é propelida a trabalhar com ponderação quando a função psicológica do indivíduo não corresponde à organização fisiológica, diferindo a anatomia do comportamento emocional, o que pode produzir transtorno grave nas áreas psicológica e orgânica.

Para bem conduzir-se, mantendo-se saudável, o indivíduo é convidado a um aprofundamento dos valores ético-morais, em qualquer situação, e particularmente neste caso, estabelecendo diretrizes de equilíbrio sexual e de conduta social para que lhe não criem choques perturbadores, mesmo quando escamoteado o sentimento por aparente aceitação da ocorrência, mascarando conflitos que sempre ressumam em forma de depressão, de distúrbio do pânico, de alienação...

Alargando-se, cada vez mais, a percepção do maqui-nismo orgânico em que se encontra, a consciência de si identifica a emoção superior, aquela que induz ao cultivo da beleza, da arte, da poesia, da música, da inspiração do bom e do gentil, do nobre e do superior.

Abrem-se, então, as perspectivas para a contemplação da paisagem terrestre, das cores que vestem o mundo, das ocorrências de natureza mais sutil, como o canto e a música, a pintura, a meditação, a prece, a comunhão com outras mentes em sintonia superior, a yoga, a meditação, a conversação estimulante e inspi-radora...

O belo, que existe no mundo interior, transparece em todas as coisas exteriores e desabrocha em sentido de harmonia dantes não experiênciado.

Detalhes despercebidos anteriormente nos relacionamentos passam a ter significados profundos na emoção, ao tempo em que experiências transpessoais ampliam as possibilidades de compreensão da vida e da sua finalidade.

Quando se alcança o nível de consciência de si, não mais é possível uma existência harmônica sem a presença da arte nas suas mais variadas expressões do amor como sentimento de união entre as criaturas e tudo quanto existe, porque o significado real da caminhada humana é alcançar a plenitude pela autodoação.

Após o conhecimento, esse desiderato somente é atingido através do amor que se sublima.

Nesse estágio de emoção superior, a consciência vislumbra o nível mais elevado que é o objetivo cósmico, transcendental...

O afa, porém, para a etapa mais elevada de consciência, é precedido do controle da máquina, na função intelectiva superior, quando o conhecimento já não se restringe aos interesses da cultura, pura e simplesmente, da aquisição de informações científicas e tecnológicas, filosóficas e éticas, mas à sua aplicação total na conduta, que transforma o indivíduo em um líder, mesmo sem o desejar, um modelo a ser seguido, porque, aspirando à harmonia, vivência o equilíbrio, a saúde integral.

O nível de consciência de si é de alto significado no processo da evolução psicológica e moral do ser humano, ao lado do equilíbrio psicofísico que vigerá a partir de então.

A identificação com a harmonia entre a mente e o corpo, as sensações e as emoções, as aspirações e as forças morais proporcionam a compreensão de uma continuação da vida após o decesso da organização física ao túmulo, porquanto a Natureza - Deus - não aplicaria mais de dois bilhões de anos na construção do santuário orgânico, não houvesse a presença doprincípio inteligente a guiar as aglutinações celulares sob direção divina.

A imortalidade desenha-se na consciência e após esforços hercúleos, o ser alcança o nível objetivo, transcendental, cósmico...


Consciência plena

Alcançado o nível de consciência de sono-com-sonhos, a realidade apresenta-se ainda difusa, cujos contornos perdem-se em vagos delineamentos que não lhe correspondem à exatidão.

Assim mesmo, têm início os fenômenos morais de sentido ético do comportamento, assinalando o bem e o mal, no entendimento da vida, embora acompanhados de justificativas para o erro, como decorrente de impulsos incontroláveis subjacentes no âmago do ser.

Essa é, aliás, a forma como se escusam aqueles que delinquem, especialmente nas atitudes de agressividade e violência de todo tipo, e, em particular, nas de caráter sexual.

Certamente que esses impulsos primários ainda são predominantes nessa fase, mas o conhecimento que começa a discernir faz-se acompanhar da vontade que deve ser utilizada para o seu controle, em face do estado de humanidade que já foi alcançado, facultando a eclosão do pensamento, do raciocínio.

No instante em que a consciência de si se instala, o sentimento acompanha a capacidade de compreensão dos acontecimentos, dando lugar ao surgimento da culpa, no momento após a prática do erro, em forma de remorso e de arrependimento com o consequente resultado da busca em favor da reparação...

Muitos pensadores e psicólogos debatem sobre a questão do bem e do mal, assinalando que se trata de fenômenos relativos e dependentes de conjunturas sociais e políticas, culturais e evolutivas da sociedade.

De alguma forma, o mal tem um significado especial na conduta educativa do indivíduo, por trazer-lhe consequências perturbadoras, em forma de distonia, inconformismo, conflitos, como efeitos naturais da sua prática.


Com sabedoria ímpar, os espíritos superiores, quando interrogados por Allan Kardec, sobre essa questão, responderam-lhe que O bem é tudo aquilo que é conforme à lei de Deus; o mal tudo que lhe é contrário. (*

*) O mal tem existência relativa, enquanto o bem não lhe toma o lugar.

Procede, portanto, da prática equivocada e egoística em relação ao bem, não tendo, desse modo, legitimidade, qual ocorre com a sombra que é a ausência da luz e com a imperfeição, que é a cópia distorcida da perfeição.

Quando se tem dificuldade em agir corretamente - o bem - atua-se de maneira equivocada e prejudicial - o mal.

A consciência objetiva transcende a razão linear, cotidiana, e se identifica com o Uno, participando da harmonia cósmica.

A individualidade liberta-se do ego e faz-se irmã da Natureza e de todas as criaturas que existem, mantendo um relacionamento vibrante com as energias universais e os seres que habitam outras dimensões vibratórias...

A paranormalidade, que começou a desabrochar no nível anterior, quando a emoção rompeu o círculo vicioso das paixões, engrandecendo-se, torna-se um sexto sentido.

Essa conquista libera o indivíduo de todo e qualquer sofrimento, da ansiedade, do medo de ter medo, dos conflitos...

Expandindo-se, a consciência plena é estágio superior da peregrinação terrestre.

É nesse nível que se alcançam a inteligência lúcida, a imaginação ideal e a criatividade desprovida de sonhos e enganos, sem os arquétipos habituais, na área da superconsciência, desvendando o porvir, logrando o vir-a-ser.

Quando se está em nível inferior, é como alguém colocado num quarto totalmente escuro e silencioso que perde a capacidade de pensar com lucidez, pela falta de estímulos fortes, pela perda do senso de valores.

A herança da tendência negativa e pessimista existente nos alicerces do inconsciente produz o desaparecimento da mente e a consequente perda do sentido do prazer, que são as bases organizativas do que se denomina como realidade...

Nessa fase, a compreensão dos valores é quase nula e sem sentido psicológico, porque a capacidade de qualificação encontra-se embotada, incapaz de expressar-se com nitidez.

Alcançando-se, no entanto, a consciência plena, logra-se o estágio superior da peregrinação terrestre.

É aí, durante essa inabordável conquista, que se atinge o Cristo Cósmico, penetrando-se no entendimento do mecanismo universal, nas leis da vida, embora os limites que fazem parte do espírito humano, na sua condição de relatividade ante o Absoluto.

Mergulhada nesse oceano de sabedoria, a consciência libera o amor que surge em formulação inabitual e manifesta-se triunfante em domínio de todas as emoções que se deslocam do ego para o Self na gloriosa identificação com Deus.

Alcançado o estágio numinoso - a grande meta psicológica da existência terrestre - já não é mais a personalidade que vive, mas a essência divina consubstanciada no ser que se liberta do cárcere das reencarnações para iniciar novos ciclos de evolução transcendental.

O fascínio para a aquisição dessa autoconsciência, essa clara compreensão da sua finitude ante a infinitude da vida, propele o ser na direção ditosa da sua imortalidade vitoriosa.

A transferência de um para outro nível de consciência objetiva enseja a sublimação do ser, facultando-lhe a visão coletiva desde o alto, ao invés da limitada capacidade do verme que enxerga apenas o que se encontra à sua frente, ao tempo em que propicia encantamento e beleza, estimulando às novas e mais amplas conquistas para a libertação total.

Os sábios e mestres de todas as épocas, os místicos e santos, ao lado de artistas e cientistas de alto coturno espiritual, bem como os heróis de todas as expressões conseguiram este logro, perdendo o ego e tornando-se budas, cristos, mahatmas, taumaturgos...

O desaparecimento do eu apaixonado e perverso deu-se, não mediante a autonegação, a autodestruição, mas através da autodiluição das estratificações dos alicerces atávicos procedentes das experiências primárias da evolução.

O trânsito, portanto, do Self, pelos diferentes níveis de consciência, pode ter lugar mediante sofrimentos e êxtases, largas vivências do erro ou através dos processos das lentas transformações.

O príncipe Sidharta Gautama, por exemplo, iluminou-se quando se deixou arrastar pela correnteza da vida em entrega total.

Paulo de Tarso adquiriu a consciência objetiva, no momento do magno fenômeno da aparição de Jesus, no deserto, às portas de Damasco.

Francisco de Assis conseguiu os estigmas e a consciência plena, quando depurado de todo desejo.

Miguel Ângelo, após esculpir o Moisés e terminar a Criação, na Capela Sistina, entrou em êxtase efundiu-se com a obra.

Handel pairou acima da consciência cotidiana, enquanto compunha o Aleluia, no seu imortal O Messias.

Teresa de Ávila diluiu-se na Consciência cósmica, deixando-se consumir pelo total amor por Jesus...


...
E Galileu, Newton, Ticho Brahe, Pasteur, Sem-melweis, Hansen, Einstein, Max Planck, Heisenberg e modernos neurocientistas quando, esquecidos de si mesmos, entregaram-se à obra de libertação da humanidade. (
* * *

) Milhares de outros missionários conseguiram insights da consciência plena nos momentos de clímax das suas realizações, quando alguns mergulharam nos seus arcanos e neles permaneceram iluminados.

O processo natural, que faculta a conquista da consciência plena, é também feito de avanços na abnegação, no discernimento, no amor e na autodoação.

Todos os seres humanos marcham inexoravelmente para essa conquista, que deve ser o objetivo do processo evolutivo, no qual se encontram incursos.

Nesse atraente percurso, no qual o erro e a maldade são apenas experiências seletivas para a conquista da sabedoria, consegue-se a superação das angústias, do vazio existencial e dos sofrimentos, pois que tal é a meta da vida, ocorrendo esse processo lenta e saudavelmente.

Temas para reflexão: "631.

Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem e o que é mal? "Sim, quando crê em Deus e o quer saber.


Deus lhe deu a inteligência para distinguir um do outro. " *
"Pelo contrário, rejeitamos as coisas ocultas, que são vergonhosas, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus: mas, pela manifestação da verdade, nós nos recomendamos à consciência de todos os homens diante de Deus. " 2Co 4:2

Vide nosso livro O ser consciente - O Essencial - LEAL-1993.

Notas da Autora espiritual.

Questão 630 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.

Notas da autora espiritual.

Vide Médiuns e Mediunidades - Consciência mediúnica.

Espírito Vianna de Carvalho. - Ia. Edição. Arte e Cultura-1991.

Notas da autora espiritual.



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Veja mais em...

II Coríntios 4:2

Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.

2co 4:2
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