O Despertar do Espírito

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CAPÍTULO 10

SENTIMENTOS TUMULTUADOS

Os sentimentos são conquistas paulatinas do ser humano, que os desenvolve conforme os fatores ancestrais que lhe predominam em a natureza, na condição de herança genética e por consequência das condições ambientais: família, educação, sociedade.

Afirmam alguns psicólogos que a hereditariedade responde sempre pela criatura, seus atos, sua existência, tudo quanto lhe acontece internamente na área da saúde física, emocional - no comportamento - e psíquica.

Em alguns casos, indubitavelmente se encontram com razão, não porém quando consideram que os condicionamentos sociais e a educação em quase nada contribuem para alterar o quadro anteriormente definido pelos códigos genéticos.

Sem dúvida, o ser humano é resultado do seu comportamento anterior quando, em existência passada, modelou o futuro que o aguarda.

Assim considerando, o Espírito imprime, nos códigos genéticos de que se irá utilizar, tudo quanto se lhe tornará indispensável para o desenvolvimento intelecto-moral durante o processo de evolução.

Não obstante, a educação no lar e na escola, o convívio social, alteram com vigor o seu comportamento e destino, construindo valores que podem modificar o processo anterior formulado para a recuperação espiritual, face aos gravames antes cometidos.

Isso porque a Justiça Divina jamais embaraça ou impede o esforço daquele que deseja recuperar-se de quaisquer comprometimentos; antes oferece os recursos hábeis para que o desenvolvimento espiritual se expresse da melhor maneira possível, porque o amor viceja em todas as ocasiões e circunstâncias, facultando a realização dos magnos objetivos existenciais.

O egoísmo, no entanto, que se encontra instalado em a natureza humana, responde pelas situações embaraçosas e desafiadoras que retardam a marcha evolutiva, criando impedimentos e transtornos complexos no processo da evolução.

Desse modo, os mecanismos castradores que afligem o ser resultam dos processos primitivos anteriores de competição e de crueldade que ainda assinalam o comportamento individual e social, gerando estorvos ao avanço.

Como resultado imediato, facilmente os sentimentos se tumultuam e as expressões de timidez ou de violência, de agressividade e de medo se instalam com exuberância nas criaturas humanas, conspirando contra a sua realização interior.

Conflitos que remanescem do período primário tomam corpo então, alterando a conduta, que se manifesta assinalada por tormentos que se transferem de uma para outra reencarnação, como herança dos próprios atos, da qual ninguém consegue fugir.

Herdeiro dos seus pensamentos, palavras e atos, o Espírito imprime através do pensamento, nos tecidos sutis do psicossoma, os futuros fenômenos a que será submetido pela Lei de causa e efeito, que predomina na constituição espiritual da vida.

Mediante o esforço de readaptação à ordem que foi perturbada pela sua insânia ou negligência, os sentimentos se modificam, contribuindo para uma conduta saudável psicologicamente, que se faz indispensável para a auto-realização e a paz.

Os sentimentos devem e podem ser trabalhados pelo pensamento, mediante fórmulas simples de esforço pessoal, que administrem as tendências perversas, cínicas, vulgares e ciumentas, responsáveis pela permanência nos conflitos perturbadores que tanto afligem os indivíduos.

A medida que sejam superadas quaisquer expressões de desequilíbrio, por menor que pareçam, há um como dealbar de madrugada formosa que acalma e enseja alegria de viver e de amar, ampliando as forças para o prosseguimento da tarefa.

Reflexão em torno das paisagens vivas e coloridas da Natureza, convivência com os animais e as criaturas, atividades de apoio e ensementação de vegetais, tudo quanto contribua para tornar o mundo melhor e mais belo, aureolado de vibrações de paz e de prece, transformam os impulsos cruéis em sentimentos de amor e compreensão do milagre, que é a vida em suas múltiplas manifestações.


Conflitos de culpa e de vergonha

Dois fatores essenciais fazem-se responsáveis pela conduta mórbida de quem carrega culpa e sente vergonha de ser humano, de apresentar-se conforme se encontra, e não consoante a fantasia mental a respeito de como gostaria de estar.

O esforço pela evolução é contínuo e assinalado por experiências de vária ordem, que constituem conquistas libertadoras.

O primeiro deles diz respeito aos registros no inconsciente profundo, resultantes de comportamentos inadequados ou destrutivos em outras existências ou na atual, que encarceram o ser em reminiscências perturbadoras que se encontram atuantes.

Nesse caso, sentimentos controvertidos se mesclam nos processos normais das atividades patológicas, gerando situações de desconfiança e revolta, mágoa e insegurança.

Inadvertidamente, o paciente experimenta a desagradável sensação de haver escamoteado a verdade ou agido erradamente, sem que ninguém tivesse ideia ou conhecimento dos seus atos reprocháveis.

Porque os dissimulou com vigor ou conseguiu negá-los com veemência, permanece-lhe a crença subjacente de que, num ou noutro momento pode ser chamado à prestação de contas ou ser desmascarado, tombando em descrédito ou sofrendo a zombaria de quem hoje lhe oferece confiança e amizade.

Acoimado pela culpa, foge dos relacionamentos de qualquer natureza, cultiva o mau humor, processa erradamente o que ouve, sempre considerando que todas as queixas e reprimendas, advertências e observações que o alcançam têm por meta censurá-lo, humilhá-lo, estigmatizá-lo...

Assim acreditando, inconscientemente arma-se contra a família, o grupo social, as pessoas com quem convive, sempre escudado na auto compaixão, na autopunição ou na autorecriminação.

Esse indivíduo é muito difícil de ser aceito no convívio social, instável no comportamento que mantém e, não raro, é malicioso, quando não se faz perverso em mecanismo de autovalorização equivocada.

O segundo fator deflui da ignorância medieval nele ainda remanescente, que a tudo quanto ignorava, por parecer aético ou imoral, transformava em pecado, culpa, imundície, propiciando sentimentos ultrajantes e vergonhosos àqueles que passavam pelas experiências consideradas dignas de punição.

A vergonha de si mesmo assoma-lhe ainda hoje como sinal de permanência emocional nos dias sombrios da intolerância, considerando ignóbil ou vulgar, promíscuo ou sujo, todo e qualquer comportamento menos adequado ou mais primitivo, e assim se eximindo de culpa.

Apesar do conflito, prossegue mantendo a mesma conduta irregular através da ação oculta, quando as circunstâncias o permitem, ou mental e emocionalmente, desde que não seja percebida pelas demais pessoas a presença desses algozes internos que o atemorizam e o fazem sofrer.

Tudo aquilo quanto lhe parece ilícito e negativo, desde que conhecido, é vivenciado intimamente, sem testemunhas, em tormentosa busca de alegria e de prazer, que não se podem manifestar em razão das circunstâncias serem neurotizantes.

Pode-se acrescentar ainda, que esses dois sentimentos podem ser decorrência de uma convivência doentia com os pais neuróticos e irritados, que gritam e acusam, que maltratam e agridem a criança que, se sentindo impossibilitada de tolerá-los, foge-lhes da presença, refugiando-se no seu quarto ou no mundo particular da imaginação.

Acusada de ser um peso nas suas vidas ou responsável pelos problemas e transtornos que experimentam, passa a sentir culpa, de que não consegue liberar-se, prosseguindo numa adolescência incompleta, na qual surge a vergonha da própria sexualidade, por parecer-lhe algo impuro.

Enquanto se encontra sob essa tensão do lar, incapaz de entender o conflito que experimenta, em mecanismo de furtar-se à situação constrangedora, divide a unidade da personalidade, o seu equilíbrio, e passa a vivenciar uma conduta esquizofrênica.

Essa ocorrência pode ser profunda e funesta ou superficial e temporária, de acordo com a intensidade e a continuidade da conjuntura estressante.

A questão fundamental nesse acontecimento se encontra na capacidade do ego em resistir à pressão ou submeter-se-lhe. No primeiro caso, adquire autoconfiança e integridade moral, enquanto que no outro, a cisão da personalidade conduz a uma crise nervosa que pode alcançar o colapso.

Trata-se de uma tortura moral e, às vezes, física, a que a criança não tem como resistir; e quando a mesma se faz frequente, através da agressão emocional e oral, por meio das críticas ácidas e acusações intempestivas, a morte do espírito, do ideal de viver, das motivações existenciais, se torna inevitável, gerando problemas profundos no seu comportamento atual e futuro.

O pior, no entanto, vivido pelos pais, é o que se expressa pela indiferença em relação à criança, dando-lhe a ideia de que é invisível, inexistente.

Tal crueldade, executada pelos adultos, fere profundamente o ser que se inibe e perde o sentido existencial e o significado psicológico da vida.

A criança que sobrevive psicologicamente a esse conflito no lar torna-se incapaz de amar, sempre atormentada pelo ódio, que decorre do medo de novos sofrimentos, vivificando a amargura de haver sido morta em vida.

Os sentimentos de culpa e de vergonha são ambivalentes.

A culpa tem a ver com pensamentos, palavras e ações tidos por errados sob o ponto de vista moral, enquanto que a vergonha resulta dos comportamentos considerados sujos ou inferiores.

Nos relacionamentos sexuais, podem expressar-se ambos os sentimentos, que são decorrentes dos fatores examinados e se exteriorizam como medo de amar, rejeição e castração, impedindo um relacionamento saudável quão plenificador.

Quando esses sentimentos não se manifestam com clareza, a raiva e a tristeza produzem distúrbios não só psicológicos como igualmente de natureza física, em forma de tenO Despertar do Espirito são muscular em muitas partes do corpo, dores generalizadas e angustia que se acentuam à medida que o paciente os nega ou tende a ignorá-los.

A culpa é urna carga emocional muito pesada e causadora de várias lesões íntimas, enquanto que a vergonha de condutas inadequadas ou de comportamento inconsequente se transforma em fator dissolvente da personalidade, que se busca anular mediante a autodepreciação e autopunição.

Desse modo, a solução para esses sentimentos conflitantes é a busca do amor como terapia, e depois como expressão de vida, porquanto nele se podem fundir todas as emoções, anulando as imagens odientas dos pais cruéis, ou superando as falsas conceituações da moral arcaica e hipócrita, que assinalaram muitos comportamentos religiosos ortodoxos e ultramontanos que eram utilizados para dominar os fiéis.

A intolerância para com atitudes tidas como imorais ou sujas é sempre resultado de conflito naquele que assume a postura de vigilante das virtudes e preservador dos denominados bons costumes ou convenientes condutas que servem a determinados interesses, nem sempre estruturados na dignidade ou objetivando o bem comum.

Quando o indivíduo atinge a maturidade psicológica aceitando totalmente o Self, pode identificar os problemas relacionados ao medo, à insegurança, à culpa e à vergonha, como fenômenos normais do processo de crescimento emocional e moral.

Aceitando essa fragilidade emocional, desaparece-lhe o sentimento de vergonha pelos limites em que se encontra e pelos conflitos que o assinalam.

Assim, pode-se dizer que esses dois sentimentos - culpa e vergonha - têm semelhanças de conteúdo, porque ambos coíbem a liberdade e proporcionam sofrimentos que devem ser ultrapassados e vencidos.

Enquanto forem reprimidos, desconsiderados ou negados, permanecerão como inimigos disfarçados, gerando inquietação e impedindo a realização pessoal.

Aceitando o corpo e suas funções, sem o sentimento de vergonha pelos seus impulsos primitivos, que levaram a comportamentos escusos, mais fácil fica o processo de diluição do conflito.

Da mesma forma, assumindo a culpa e trabalhando-a com naturalidade, o sentimento de perdão e compreensão aos pais e aos fatores que trabalharam para a sua instalação facultamlhe o desaparecimento paulatino até a total desintegração.

O hábito saudável de aceitar-se como se encontra libera da autocrítica recriminatoria, portanto, autopunitiva.

Para o cometimento da saúde, somente através de terapia cuidadosa e prolongada, acompanhada do esforço desenvolvido pelo paciente para autocurar-se, é que culminará o processo de libertação desses algozes mediante a entrega total ao Self, num relacionamento profundo, exteriorizando os sentimentos de forma equilibrada e compensadora.

De alguma forma, todos os indivíduos experimentam sentimentos de culpa e de vergonha, que fazem parte do contexto da sociedade ainda castradora e dos fenômenos psicossociais resultantes de conceitos derivados da busca do prazer e do poder, ao invés do natural estímulo que deveria existir para um esforço constante em favor de ser-se mais e tornarse melhor.


O medo e seus vários aspectos

O instinto de conservação da vida induz o indivíduo a manter receios em torno de tudo quanto é desconhecido, que se lhe apresenta como ameaçador.

O Despertar do Espirito A necessidade de segurança, tendo em vista a própria e a sobrevivência da prole, induz ao medo das ocorrências imprevistas, que se podem apresentar de maneira desastrosa.

Não obstante esse fenômeno se encontre ínsito na criatura humana como decorrência das experiências anteriormente vivenciadas, outros tipos de medo se apresentam como resultado de transtornos psicológicos, de atavismos ancestrais, de ansiedades mal contidas, de convivências perturbadoras.

Desse modo, manifesta-se de forma normal ou patológica, quando, no último caso, se experiênciam alterações emocionais e físicas que conduzem ao pavor, responsável por graves consequências no comportamento.

Evidentemente, todos sentem medo em algum momento ou circunstância da existência física, o que é perfeitamente normal.

Aqueles que reconhecem possuir o sentimento, com mais facilidade enfrentam-no, podendo controlá-lo, enquanto que, aqueles que o negam, mascaram-no e sofrem-lhe os efeitos perturbadores, tombando, não raro, em colapsos nervosos diante de situações embaraçosas, graves ou não, que exigem serenidade para decidir e valor moral para enfrentar.

O medo pode resultar de causas reais ou imaginárias que o desencadeiam, produzindo os mesmos resultados emocionais.

Não é exatamente o fato que se responsabiliza pelo acontecimento, mas conforme o mesmo é sentido ou compreendido pelo indivíduo, que se torna o fator desencadeador do medo.

Existe um temor interno, que procede de vários fatores psicológicos que induzem ao medo de amar, de entristecerse, de ser infeliz, de ter raiva, de fracassar no relacionamento sexual, de adoecer, de morrer, de ser incapaz de enfrentar situações inadequadas ou inesperadas...

O medo também se expressa entre os animais selvagens de forma fisiológica, produzindo-lhes paralisia, que decorre do fato de se sentirem perseguidos ou atacados por outros predadores mais poderosos.

Ante a imobilização natural que os toma nessa circunstância, tornam-se presas fáceis para os inimigos, sucumbindo-lhes ante a agressão.

Da mesma maneira ocorre com o ser humano.

Quando porém se consegue superar o momento do terror, que é o momento máximo do medo, e que pode ser rápido ou lento, recupera-se o equilíbrio, podendo-se discernir e tomar a decisão correta para escapar da situação afugente.

Em razão da impossibilidade de autodefender-se, a criança sempre sente muito medo.

O adulto sempre se lhe afigura como recurso de proteção e amparo. Quando isso não ocorre, transforma-se-lhe na imaginação em motivo de terror, que sempre está preparado para afligi-la, maltratá-la, destruí-la, gerando-lhe pavor, que muitas vezes também a imobiliza, quando a situação é grotesca, violenta ou agressiva.

Como decorrência, essa emoção perturbadora é instalada no infante pela imprevidência e ignorância dos adultos que preferem ameaçá-la em nome da educação primitiva, do que orientá-la e auxiliá-la no discernimento e na compreensão dos fatos e ocorrências que a envolvem.

Desde os temores noturnos que são impostos pelos pais, amas ou irmãos mais velhos, até os naturais receios da sua constituição psicológica, a criança vive o tormento de enfrentar o medo, tornando-se contraída, excitada, ou deixando-se arrastar para a pusilanimidade, passando a uma atitude passiva, doentia, inquietante...

O medo se manifesta no corpo através da tensão muscular, da rigidez de muitas partes do organismo, da contração do maxilar, que representam as reações fisiológicas produzidas por enzimas especiais que fomentam a ocorrência.

Nesse estágio, o paciente receia perder o controle e desvairar, o que mais o fragiliza e o predispõe a uma crise de desvario mental, a princípio momentânea, para agravar-se lentamente.

Esse medo constante predispõe à perda da identidade, que é de alto significado para a saúde mental.

A identidade é parte essencial do equilíbrio individual, porquanto lhe constitui característica básica para o comportamento e a vida.

Quando ocorre essa despersonalização, fica-se predisposto a um colapso mental, que também resulta da vigência da ira contínua, que se transforma em tensão, desde que por muito tempo controlada.

Na infância, quando faltam os meios de defesa da criança, a mesma tomba na urdidura perversa do adulto ou se torna rígida para não ceder às lágrimas, ao desespero, ou não reagir, com medo de punição mais rigorosa, refugiando-se na ira sob controle, que se prolonga por toda a existência, impedindo a naturalidade no comportamento, a afetividade espontânea, já que se encontra sempre sob tensão, não tendo valor para liberar-se através de uma catarse normal.

Por tal razão, é necessário que o paciente se conscientize do próprio medo, recuperando-se da infância atormentada, e tome as providências compatíveis para libertar-se da rigidez muscular, da tensão emocional, readquirindo a alegria de viver.

Da mesma forma, o medo da morte, que é herança ancestral, assim como resultado das crenças religiosas e superstições que elaboraram um Deus vingador e punitivo, ou do materialismo que reduz a vida após a disjunção celular ao nada, o fenômeno natural da desencarnação se apresenta como tragédia, ou constitui um término infeliz para a existência humana, que sofre a dolorosa punição de ser extinguida.

A visão transpessoal do ser confere-lhe dignidade psicológica, restaura-lhe o sentido de humanidade para o qual a Vida aplicou bilhões de anos desde o momento em que apareceram as primeiras cadeias de açúcares na profundidade das águas oceânicas...

A insegurança resultante dos fenômenos do comportamento familial no ninho doméstico, geradora de conflitos, desenvolve as tormentosas expressões do medo, quais a incerteza quanto à sexualidade e à sua prática, o fascínio pelas aberrações como válvula mórbida de escape, os receios da convivência social, geradores de isolamento e de sentimentos de inferioridade.

A fragilidade, orgânica ou não, os remanescentes das condutas infelizes em existências passadas, que imprimiram no inconsciente os mecanismos de reparação, também ressumam em forma de medo de enfermidades, que as pessoas cultivam inadvertida ou prazerosamente, contribuindo para muitos transtornos na área da saúde nos seus vários aspectos.

Como terapia para todos esses conflitos que geram medo, tornam-se indispensáveis a ajuda correta do psicoterapeuta habilitado e o esforço do paciente para libertar-se da ira sob controle, da amargura penetrante, conscientizando-se dos próprios limites e das infinitas possibilidades que lhe estão ao alcance, dependendo do desejo real de realizar-se e de ser feliz.

A libertação do controle inconsciente desses sentimentos perturbadores é de vital importância para a auto-realização.

Muitas vezes o paciente não sabe como fazê-lo e negase a acreditar que se encontre com problema, o que mais dificulta a convivência com o mesmo.

Em uma auto análise cuidadosa é possível identificar as dificuldades e trabalhá-las, recuperando o equilíbrio abalado desde os dias infantis...

E compreensível, porém, que permaneçam os receios naturais de tudo quanto se apresenta como desconhecido até o momento de identificá-los, de tudo quanto produz dor e sofrimento, não lhes evitando o enfrentamento, e avançando na sua direção com naturalidade e discernimento, a fim de ultrapassá-los.

Essa conduta resulta em uma atitude saudável perante a vida e si mesmo.


Falta de amor

De importância fundamental para a vida é o amor, sem o qual o ser humano permaneceria no primarismo dos fenômenos biológicos.

O amor vige em todas as expressões da Natureza, mesmo quando não identificado sob essa denominação, qual ocorre nas Leis que regem a Criação, expressando harmonia e ordem.

A medida que o ser abandona as faixas iniciais do processo da evolução, os instintos em predomínio em sua natureza imiscuem-se nas expressões do amor que tem origem divina e transformam esse sentimento em conflito, em reação, gerando dificuldade de comportamento e de crescimento emocional.

Lentamente porém, o amor rompe as amarras em que se encontra detido e expressa-se através de incontáveis recursos que terminam por comandar as aspirações, as palavras e os atos das criaturas.

Vencer os degraus iniciais, superando os desafios naturais que surgem como consequência do trânsito nas faixas mais primitivas é o dever que a todos se faz imposto pela necessidade de adquirir e preservar a saúde nas suas variadas expressões e complexidades.

O amor é sentimento superior que brota espontaneamente no ser humano.

Não necessita ser conquistado, nem se reveste de qualquer atavio exterior para impressionar ou atingir a sua meta.

Quando escasseia em alguém, aí estão encravados diversos conflitos, principalmente aqueles que resultam dos fenômenos perinatais perturbadores, da convivência doméstica difícil, dos relacionamentos frustrantes como também de problemas orgânicos que desenvolvem a amargura, a revolta, a tristeza e a sistemática desconfiança em razão de influenciarem o comportamento.

Em casos dessa natureza, torna-se imprescindível a análise dos fatores que desencadearam a problemática, a fim de serem erradicados, abrindo espaço para a vigência do sentimento afetivo.

Crianças que foram desamadas ou que vivenciaram um grupo familiar agressivo, de constituição grosseira ou vulgar, permanecem assinaladas pelos atritos emocionais e desajustes a que se viram submetidas, cerrando-se ao sentimento, por transferirem para a sociedade aquilo que lhes era comum na intimidade doméstica.

Bloqueando a capacidade de amar, por não se sentir amada, a criança encarcera outros sentimentos e tendências, impedindo-lhes o desenvolvimento em razão da ira e das mágoas que teve de acumular para sobreviver ou da dissimulação de que se revestiu, a fim de ser poupada pelos adultos perversos ou doentes que a cercaram, crivando-a de reprimendas, de golpes e de desinteresse emocional.

Existem pais que mantêm antipatia pelos filhos e o demonstram, traduzindo a insanidade em que jornadeiam, longe de qualquer respeito pelo ser que depende da sua proteção e orientação, desenvolvendo neles reações mais violentas, que explodirão na adolescência ou na idade adulta contra a sociedade.

Noutros casos, os mesmos se aprisionam no ressentimento ou matam a sensibilidade, tornando-se amorfos, depressivos, mentirosos, inseguros, desconfiados...

O primeiro passo para uma saudável terapia do paciente não amado e que tem dificuldade de amar, é auxiliá-lo a vencer a auto compaixão, procurando abandonar a postura de vítima e esforçando-se para recuperar o seu lugar ao sol das oportunidades de crescimento interior.

Toda vez que se refugia na autocomiseração, deixa de lutar, abandonando-se ao estágio em que se conserva como ser infeliz, quando lhe cabe superar a dificuldade e construir a vida sob nova condição.

Logo após, identificar os fatores causais do transtorno e revivê-los corajosamente, desculpando aqueles que lhe foram motivo de embaraço e de tropeço, tornando a sua existência amarga e sem sentido.

Em uma análise tranquila do acontecimento, ao invés de evitá-la, dar-se-á conta de que o responsável pela situação penosa também foi desditoso, pois que assim ou pior fizeramlhe aqueles que o cuidaram ou descuidaram da educação.


O sentimento de mágoa deve ceder lugar a um ato de compreensão do limite emocional e espiritual em que o outro

—pai, mãe, amigo, grupo familiar - se encontrava, não lhe sendo possível haver-se desincumbido de outra maneira em razão da ignorância e do primitivismo em que se demorava.

E provável que o gerador da situação penosa acreditasse estar fazendo o melhor, porquanto, no seu nível de compreensão e de maturidade psicológica atormentada, essa era a medida de comportamento e o mecanismo para bem enfrentar os desafios existenciais.

A medida que se vai penetrando no entendimento dos conflitos alheios, tornam-se menores os próprios, e uma visão nova, otimista, da existência, toma o lugar daquela sombria por onde se transitava.

O amor é tão maravilhoso, que basta o desejo de abrigálo no íntimo e ei-lo que se encontra embrionário, passando a germinar e desenvolver-se.

O amor é o verdadeiro milagre da vida.

Frágil, é portador de força incomum. Assemelha-se a essa persistência e poder do débil vegetal que medra em solo coberto de cimento e asfalto, enfrentando todos os impedimentos, e ali ergue sua pequenina e delicada folha verde de esperança.

E indispensável abrir-se ao amor, a fim de que o amor se assenhoreie do coração e passe a comandar as disposições existenciais, traçando planos grandiosos para o futuro.

O amor leva à integridade moral, quando se pensa que ele conduz à perfeição.

Essa é uma aspiração de todo ser que pensa.

No entanto, é conveniente não a confundir com o perfeccionismo, que resulta da luta íntima para ser melhor, para atingir metas inalcançáveis em tormentosa insatisfação em relação ao que se faz e ao que se deseja.

O perfeccionismo aflige o ser, que perde o parâmetro dos limites e, inquieto, complexado, tenta, por esse meio, demonstrar aos outros e a si mesmo o de quanto é capaz, embora nunca se satisfaça com o adquirido, o já realizado.

Normalmente resulta do medo de ser superado, de ser colocado à margem, de não merecer elogio ou destaque, tornando-se essa incerteza um flagelo interior que nunca se sente compensado com a alegria do dever cumprido, nem dos objetivos alcançados.

A busca da integridade moral, porém, que resulta do amor, deve ser a meta a ser atingida por todos aqueles que se preparam para uma existência feliz.

Quando não são encontradas diretrizes que estabeleçam as linhas básicas e os limites para a perfeição, o perfeccionista arrosta consequências dolorosas no comportamento futuro.

Mas se persegue a integridade moral, física, emocional, conscientizando-se dos deveres e responsabilidades para com a vida, eis que a falta do amor que lhe não chega cede lugar à harmonia íntima e ao interesse de amar, devolvendo em carinho tudo quanto recebeu em acrimonia, porque sabe quanto aflige e magoa o desinteresse e a agressividade de que foi vítima.

O amor é terapia eficaz para vários distúrbios de comportamento, desde que o paciente se resolva pelo ato de ser aquele que ama, devolvendo à vida a grandiosa bênção da existência que pode tornar edificante e felicitadora.




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