O Despertar do Espírito

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CAPÍTULO 3

A BUSCA

A vida moderna, excessivamente tecnológica, com suas consequências desumanas, lentamente transforma o ser humano em verdadeiro robô, desnaturando-lhe os sentimentos, que se convertem em automatismos repetitivos, sem que as emoções façam parte da sua agenda diária de realizações.

Todos os acontecimentos nos dias atuais transcorrem com celeridade, não podendo ser impressos nos refolhos do ser, exceto aqueles que chocam pela violência ou pela vulgaridade em constante renovação, a fim de saciarem a sede de prazeres dos sentidos, num crescendo assustador.

As questões nobres da existência têm sido substituídas pelas soluções simples apresentadas pelas máquinas devoradoras, que facultam mais tempo a todos, que, não obstante, continuam com carência de espaço físico e mental para refazimento e renovação emocional.

Exagerados compromissos, reais e imaginários, arrancam o indivíduo do seu mundo interior para reuniões e encontros, quase sempre infrutíferos do ponto de vista emocional, fazendo-os desperdiçar excelentes oportunidades para o trabalho nobilitante, o estudo educativo, as pausas de reflexão e de criatividade.

Nesse arder de ansiedades contínuas estiola-se o sentido humano de encontrar a paz, transferindo-o de um problema para outro, por diferentes preocupações, nessas ocasiões nas quais se fala muito sem dizer-se nada, enquanto se ouve muito barulho sem participar-se de coisa alguma.

A necessidade de fazer-se presente em toda parte e a qualquer hora indu-lo a gastar, excessivamente e sem reposição, as energias que poderiam ser canalizadas para o crescimento íntimo, a beleza, a cultura, a paz, a solidariedade ou a fraternidade, com um sentido profundo de dignificação de si mesmo e do grupo social no qual se encontra.

O vaivém dos interesses programados por outras pessoas como se fossem dele, aturde-o e desidentifica-o, trabalhando em favor de uma personalidade conveniente, aquela que agrada aos demais embora agindo em sentido oposto às aspirações acalentadas.

Estar na moda, viver as novidades, agitar-se, constituem síndromes de pessoa bem em relação à vida e às exigências sociais, apesar de se tornarem um fardo insuportável para conduzir, exigindo sempre mais esforço.

O perfil humano desenhado se apresenta como uma imposição que se torna indispensável para todo aquele que aspira ao triunfo, à glória dos quinze minutos que é disputada pelos ansiosos gozadores da atualidade.

O ser interior, o Eu profundo, fica à margem dos acontecimentos, enquanto o ego assume funções para as quais não se encontra preparado psicologicamente.

Dr. Roberto Assagioli e um crescente número de terapeutas compreenderam esse tormento e a magnitude que possui a criatura humana, em sua marcha inexorável para a plenitude que lhe está reservada, propondo valiosos esO Despertar do Espirito tudos que se converteram na Psicossíntese, doutrina psicológica portadora de valiosa contribuição para a paz, para a auto-realização da criatura humana.

A auto-realização é um desafio que se encontra diante de todos os indivíduos, sem a qual a incompletude irrompe, tornando-se fator patológico de desequilíbrio.

Maslow, o admirável psicoterapeuta americano, a quem muito devem as novas conceituações psicológicas, descreveu os processos de crescimento e de desenvolvimento das inúmeras possibilidades do ser humano, de forma essencial à compreensão e aceitação do eu, concitando-o ao equilíbrio, à harmonização interior das suas faculdades, proporcionando-lhe a perfeita integração dos motivos individuais.

Utilizou-se do termo cunhado por Kurt Goldstein - self-actualization, propondo outros que seriam equivalentes de alguma forma, tais como: self-realization, self-development, como a maneira mais correta de viver a individuação muito bem conceituada por Jung.

A auto-realização é todo um lento e complexo processo de despertamento, desenvolvimento e amadurecimento psicológicos de todas as adormecidas potencialidades íntimas, que estão latentes no ser humano, como suas experiências e realizações ético-morais, estéticas, religiosas, artísticas e culturais.

Equivale esclarecer que é todo um esforço bem direcionado para a realização do Eu profundo e não da superficialidade das paixões do ego.


Torvelinho social e solitude

Conduzido pela movimentação incessante da globalização dos interesses, das lutas, dos comportamentos ditados pela Mídia alucinada e pela automação proposta pelo sistema vigente na sociedade, o indivíduo vê-se empurrado para onde e com quem não mantém qualquer traço de afinidade ou pensamento comum, atendendo mais às imposições arbitrárias da situação que à autossatisfação a que aspira.

Sentindo-se a personalidade agredida pelos valores que lhe são impostos sem conveniente livre escolha, a qual lhe proporcionaria equilíbrio, o transtorno comportamental se lhe instala, face à dicotomia entre aquilo que sente e o que deve demonstrar, de forma a estar em harmonia com o grupo social sempre exigente e extravagante.

O ser humano é, por excelência, um animal social, como decorrência inevitável do seu instinto gregário, que necessita do outro para a sustentação dos requisitos que o constituem.

Não obstante, a sua individualidade não pode sucumbir no báratro das situações existentes, que lhe não concedam compensações emocionais.

Há funções psicológicas que não podem ser negligenciadas sem graves consequências, como a intuição, a criatividade, a vontade, que se exteriorizam do fulcro da psique humana, que é o Espírito.

Os indivíduos são diferentes entre si, em razão do seu processo evolutivo, apresentando tendências, comportamentos e necessidades específicas.

Estabelecer técnicas e ética de comportamento psicológico assentadas na experiência com alguns biótipos, é conspirar contra a sua saúde emocional, porquanto os valores que a uns preenchem as carências, para outros, passam sem qualquer significativa emoção.

Há conflitos que pairam no imo do ser humano e nem sempre são excogitados com a seriedade e o cuidado que merecem, como a ambivalência, a tendência à inércia de alguns - indiferentes a novas conquistas e à alteração do comportamento - enquanto outros buscam a aventura, a afirmação de valores, a segurança.

Ocorre também o surgimento de novos impulsos, que se apresentam como necessidades urgentes que pretendem a superação das anteriores. E esses fenômenos tomam corpo nos momentos de definição de rumos, nos períodos da adolescência em trânsito para a idade adulta, e dessa para a velhice, especialmente abrangendo as aspirações religiosas, as espirituais...

O ser humano é uma unidade orgânica, sem dúvida, mas que não pode ser comparada ao fenômeno que ocorre com a célula na harmonia do corpo somático, que se submete aos impositivos do conjunto, a fim de que o mesmo apresente saudável.

Essa unidade orgânica, diferentemente da célula, pensa e tem sentimentos próprios, que em ser canalizados para o seu bem-estar e o equilíbrio do grupo social.

Não dispondo de meios para expressar-se na sua realidade funcional, esse indivíduo foge para comportamentos alienados, como única forma de dar vazão à sua realidade.

Observa-se, em consequência, que a sociedade como um todo encontra-se desestruturada, sem fundamentos seguros, definidos, capazes de facultarem o seu próprio engrandecimento.

As suas conquistas têm-se firmado mais nas realizações tecnológicas e científicas, a prejuízo daqueloutras de natureza emocional harmônica, estética, espiritual.

O abarrotar de equipamentos eletro-eletrônicos criou a fantasia da facilidade, da riqueza, da ambientação num mundo que seria destituído de problemas, ao tempo em a conquista não tem trabalhado em favor de muitos dos mais graves novos desafios, porque profundos - as dilacerações emocionais.

Face a essa conduta, irrompem na sociedade a violência, a agressividade, o desrespeito ao cidadão, a perda do seu espaço, o medo, a insegurança ameaçadora, a fuga para as fortalezas domésticas, a ansiedade, a desconfiança...

Tais ocorrências afastam o indivíduo de si mesmo, desidentificam-lhe os objetivos fundamentais da existência, levando-o à perda do contato com a sua realidade interior, afetada pelos contingentes externos.

A vida em sociedade não pode expulsar o interesse da busca da individuação de cada um dos seus membros, tornando-os confusos e padronizados em uma escala comum.

Para que a mesma seja lograda, é necessário que se rompam as amarras dos exagerados vínculos sociais, isto é, dos compromissos sem significado, pueris e de pequena duração, resultantes dos caprichos esdrúxulos dos formadores de opinião.

O ser psicológico necessita de espaço mental para encontrar-se, de reflexão serena e de avaliação de conduta, mediante análise cuidadosa de si mesmo, que somente se faz possível na solitude.

O ruído das festas intérminas, as alegrias exageradas do sucesso, o aturdimento das agendas lotadas, as gargalhadas estridulas e a embriaguez dos sentidos, impedem a auto-realização, a individuação.

Ante a impossibilidade de encontrar-se esses momentos preciosos para a solitude na movimentação do cotidiano, o retorno a uma vida simples, que permita a descontração, o relaxar dos sentidos, o reencontro com a beleza espontânea da vida em a Natureza, constitui preciosa terapia para o discernimento que vai conduzi-lo à auto-realização.

Seria ideal que cada pessoa, a seu modo e conforme sua possibilidade, tentasse a solidão em um lugar silencioso, mágico pela sua simplicidade, sem apetrechos comO Despertar do Espirito plicados nem atulhamento de coisas desnecessárias.

O essencial, o básico para uma vida saudável, constitui material de pouco volume, enquanto que, na ansiosa busca de realização por fuga, aparecem como indispensáveis os complexos equipamentos e materiais que ocultam ou confundem as necessidades reais.

Talvez, por isso, se haja cunhado o brocardo que afirma: O homem feliz não tinha uma camisa, enquanto outros, com móveis entupidos de roupas e artefatos em quantidade, sofrem quando têm que escolher, pois que nunca sabem qual o melhor para utilizar-se.

A inevitabilidade do recolhimento interior, a fim de encontrar-se a sós, em silêncio, deve constituir um processo terapêutico valioso e urgente para libertar a criatura do aturdimento em que tomba.

A falta de tempo para a auto-realização conduz à ansiedade responsável pela insatisfação, e, posteriormente, ao transtorno comportamental correspondente.

Não somente se necessita de tempo físico, mas também o de natureza mental, aquele que proporciona serenidade, que faculta o discernimento para entender os desafios existenciais e enfrentá-los com equilíbrio, sem culpa, nem rebeldia.

É no silêncio que se pode encontrar Deus, fruir de paz, desvendar os enigmas, auto-aprimorar-se.

Nem todos têm facilidade de silenciar aflições e perguntas pungentes na balbúrdia, na alucinação do cotidiano, tornando-se preciso buscar um lugar que propicie as condições ambientais facilitadoras das emocionais.

Como providência terapêutica, todos devem afastarse por algum tempo do contubernio em que se encontra detido, refazendo caminhos de pensamentos, revitalizando disposições para o trabalho, a família e a sociedade, auto-encontrando-se.

Não se trata de buscar um tipo de repouso entediante, feito de ociosidade, mas de um retorno às suas origens, à pureza do coração, à simplicidade, à análise de como é morrer, deixando as inutilidades que recebem atribuição de valiosos tesouros.

Viver é também uma experiência do morrer, considerando-se a incessante transformação orgânica operada nas células e nos departamentos que conformam o corpo.

Quando ocorre o fenômeno final - ou pouco antes - o ser desperta para o significado real da existência e das suas aquisições, experimentando frustração e amargura pelo uso inadequado que deu à jornada ora em encerramento.

Assim sendo, a busca de solitude é uma forma de despojamento de todos e de tudo, temporariamente, de forma a entender a vacuidade dos apegos e tormentos pelas posses de relativo significado.

O maior tesouro é a identificação do Eu, com todos os conteúdos vitais que conduz, aquisição que somente é lograda mediante ingentes sacrifícios.

A solitude em um lugar sossegado, ante um céu transparente e portador de noites estreladas, à beira-mar ou no bosque, na montanha ou no vale verdejante, no deserto ou num jardim, longe do bulício e perto do pulsar da Natureza, oferece forças para a auto-superação, a auto-iluminação, de forma que o retorno ao cotidiano não produz choque, não proporciona saudades do vivido, nem tormento pelo desejo de repeti-lo.

Solitude com reflexão, a fim de viver no tumulto sem desesperação, saudavelmente, tranquilamente, eis o impositivo do momento.

O redespertar para a beleza, deixando-se mimetizar pela sua contribuição de harmonia e de vida, somente é possível quando o Eu emerge e passa a comandar as atividades, tornando-se a realidade dominante em todo o processo de transitoriedade.


Cansaço e desânimo

O desânimo, qual ocorre com o cansaço, pode ser resultado de vários fatores: enfermidade orgânica, gerando perda de energia e, por consequência, de entusiasmo pela vida; estresse decorrente de agitação ou de tensões continuadas; frustrações profundas que retiraram a máscara de como eram considerados os objetivos acalentados, deixando o paciente diante do vazio existencial, e efeito do descobrimento do canal de ligação entre o Eu e o ego, dos diferentes níveis do consciente e do superconsciente, facultando a inundação por quase desconhecida claridade, que modifica o rumo existencial.

Não poucas vezes a personalidade se sente impossibilitada de assimilar e reter as alterações impostas pelo curso dos acontecimentos, produzindo um choque entre o intelecto e a emoção.


Quando o organismo se debilita, seja qual for a causa

—enfermidade, estresse, frustração - as resistências psicológicas diminuem, dando curso à manifestação do desânimo, que se expressa em forma de cansaço e desinteresse por tudo quanto cerca o indivíduo, mesmo aquilo que antes era uma fonte de entusiasmo e fortalecimento.

Para que seja removida a lamentável consequência, torna-se importante a terapia do fator causal, recompondo os equipamentos celulares em desordem, ao tempo em que o esforço mental pela recuperação deverá acompanhar o tratamento encetado.

O repouso, como contributo para a auto análise e detecção do fluxo detonador dos distúrbios, constitui-se de vital importância, pelo renovar dos objetivos, pelo superar das angústias e tensões, reconquistando a alegria de viver.

Logo depois, mediante a renovação mental e os objetivos existenciais, a frustração em predomínio cede lugar à esperança que se renova, sendo rompidas as cadeias retentoras no mal-estar.

Toda vez que uma descarga elétrica ultrapassa a capacidade de condução dos seus filamentos, os mesmos sofrem desintegração.

De forma semelhante, os estados estressantes continuados terminam por perturbar o fluxo da energia vitalizadora, impedindo a produção de enzimas específicas para o equilíbrio psicofísico, facultando o surgimento do desânimo.

O desânimo é inimigo sutil do ser humano.

Instalase-lhe a pouco e pouco, terminando por vencer as resistências morais, que se sentem desestimuladas por falta de suporte emocional para a luta.

Nesse sentido, nunca será demais recordar, o contributo da oração, por favorecer a canalização de energias superiores que vertem da Divindade em direção do indivíduo em atitude receptiva.

Ressurgem-lhe, inicialmente, momentos de euforia e bem-estar, que embora rápidos, se vão fixando e tornando-se habituais até preencherem o vazio interior, reconvocando-o para o equilíbrio necessário à manutenção da saúde mental e emocional.

A repetição desses estados gentis restitui a alegria de viver, oferecendo-lhe metas saudáveis e renovadoras, que o enriquecem de paz interior.

Outrossim, o descobrir do canal interior que proporciona a ascensão de nível emocional, facultando a identificação do Eu e suas infinitas potencialidades, proporciona dois estados muito especiais no comportamento psicológico. O primeiro, feito de exaltação agradável, pelo conduzir a estados alterados de consciência, que facultam a identificação de fenômenos anímicos e mediúnicos, abrindo espaços mentais e emocionais de extraordinárias proporções; o segundo, estimulando o desinteresse pelo que antes constituía-lhe significado de primacial importância, sugerindo a fuga consciente do mundo, cujos riscos são inumeráveis.

Nenhuma realização pode ser alcançada através de processos agressivos à realidade ambiental, onde todos se movimentam.

A superação dos seus constrangimentos e imposições deve ser empreendida, sem que, no entanto, se faça fundamental, alienar-se em forma de busca de outra realidade, que será quimérica, porquanto não foram solucionados os enigmas internos, nem esclarecidas as necessidades reais.

Durante esse processo, uma inquietação inicial domina o aspirante à auto-realização, impondo-lhe um grande desgaste de energia nervosa, o que pode ser interpretado como de natureza patológica, antes sendo, em realidade, de manifestação mística, no seu sentido correto.

Nesse estágio do encontro com o Eu, a personalidade descobre as respostas para muitos conflitos, esclarecimentos para as dúvidas, inspiração para a conduta, ampliação dos objetivos humanos, sociais, artísticos e espirituais.

Tal vivência, todavia, é muito penosa, porque altera completamente a consideração em torno dos valores até então aceitos, propondo novos investimentos em atividades dantes nunca pensadas.

Sempre é difícil a mudança de uma para outra estrutura psicológica, especialmente se o empreendimento é feito sem o concurso de um terapeuta, um mestre experiente, um guru...

Mergulhar no abismo de si mesmo é viagem que favorece com uma visão desconcertante da realidade, qual um grande parto que faculta vida nova... mas produz dores.

Passada a fase inicial, mais significativa e deslumbrante, pode o candidato tombar num estado de dúvidanegação daquilo que lhe aconteceu, derrapando no desânimo e no cansaço. As energias, aplicadas no período eufórico, diminuem o fluxo, e o ego desperta do entorpecimento em que se encontrava, para novamente assumir o comando dos fenômenos emocionais.

Surgem então os períodos de críticas acerbas e de contestações sobre a validade da ocorrência, bem como conclusões apressadas com caráter negativo tentando reduzila a patologias alucinatórias, como havendo sido crises de delírios ou de fantasias exacerbadas.

Apesar disso, a visão de plenitude, a evocação de belezas e aspirações que foram vividas, não desaparecem, produzindo amadurecimento, calmo e profundo, no ser, com um renovado desejo de que voltem a acontecer.

Vez que outra, novamente se abre o canal de ligação e a experiência transcendental se dá, passando a constituir emulação para a conquista de um estado permanente e nunca de transitória duração, que sendo assim, efêmera, deixa amargura no íntimo.

Nesse estágio, torna-se indispensável que o indivíduo se esclareça quanto à ocorrência, demitizando-a e fazendo ruir o arcabouço do sobrenatural que, quase sempre, acompanha as experiências mais profundas da individuação, da completude.

Conscientizado de que o estado de iluminação ou exaltação dos sentidos não pode permanecer como um fato concluído, permanente, torna-se indispensável retornar à realidade objetiva do dia a dia, ao mesmo tempo mantendose impregnado pelo conteúdo dos valores adquiridos durante a ocorrência.

Quando alguém atravessa um campo plantado de lavanda ou de qualquer outro vegetal perfumado, mesmo após vencido o espaço continua com o aroma fixado no corpo e na pituitária especialmente.

Assim ocorre em relação às experiências em torno do despertar espiritual, a respeito da vida no seu sentido e significado mais exato quão profundo.

Vencer o desânimo e o cansaço, quando quer que se apresentem, decorrentes de qualquer fator, é o investimento que deve ser feito imediatamente, de forma que a busca da plenitude não sofra solução de continuidade, ou adiamento para ocasião não definida, que pode resultar em nenhuma futura tentativa.

O ser psicológico é alguém em constante transformação para melhor, porquanto o Eu real é de natureza eterna e deve ser descoberto quanto preservado, por constituir-se a meta essencial da existência terrena.


Perda do sentido ético existencial

O indivíduo possui, mesmo que inconscientemente, o germe do sentido ético da existência terrena.

Chispa do Psiquismo Divino que é, traz no âmago do Eu profundo esse embrião que se desenvolve na razão direta em que o conhecimento e a emoção predominam sobre os instintos primários, abrindo espaço para a razão, o discernimento, a evolução.

Como a sua marcha é ascensional, cada passo dado significa experiência nova que se lhe incorpora, facultando-lhe experimentar novos desafios.

Desenvolvendo mais a personalidade que a individualidade que é, vê-se compelido em manter a aparência que torna os seus conflitos despercebidos dos demais membros do grupo social, sem que os solucione ou se resolva por enfrentá-los de maneira objetiva, consciente da sua existência.

Posterga, quanto lhe é possível, o auto-enfrentamento, pensando em apagar as tendências, os impositivos emocionais não atendidos, que se lhe transmudam em pesadelos ou fantasmas sempre presentes, não obstante ignorados.

Enquanto os seus esforços por granjear valores amoedados e posição social, amigos e relacionamentos agradáveis à sua volta, trabalho e emprego mediante os quais se possa manter e à família - quando a tem constituída -, crê-se livre dos tormentos que se derivam das insatisfações não corrigidas, dos conflitos sofridos na fase perinatal, em torno da sua aceitação ou não no seio familiar, da infância mal vivida, ou das heranças de existências pregressas das quais procede.

Se é vítima de um insucesso de qualquer natureza econômico, social, emocional, orgânico - logo derrapa na perda do sentido existencial, acreditando que não mais existe motivo para prosseguir, já que tudo se lhe apresenta sombrio e sem roteiro de segurança, às vezes conjeturando até aterradoramente sobre a possibilidade da fuga pelo suicídio.

Nesse estado de desarmonia interior e de vazio psicológico, os seus são raciocínios pessimistas-masoquistas, porquanto a visão da realidade encontra-se confundida com o transtorno que sempre é temporário, mas que pode assumir significação considerável, em razão da importância que lhe seja ou não atribuída.

Por outro lado, se conseguiu experiênciar a canalização espiritual e viveu as emoções místicas profundas, o retorno ao dia a dia traz desconforto e mal-estar, considerando-se estranho onde agora se encontra.

E inevitável tal ocorrência, desde que a ascensão difíO Despertar do Espirito cil às cumeadas é retribuída pelo oxigênio puro, a paisagem infinita que os olhos alcançam, o silêncio musical do Cosmo, a solitude apaixonante.

O retorno brusco ao torvelinho produz o choque natural de urna grande queda no abismo do já conhecido e não mais desejado, o sufocar-se na pesada atmosfera das paixões de que pensava se haver libertado, recomeçando a penosa marcha de volta, na incessante busca da plenitude.

Sugerem-se muitas técnicas psicoterapêuticas para os pacientes que experimentam esse vazio, essa perda do sentido ético existencial, dentre as quais, um estudo biográfico do mesmo, no qual, narrando oralmente ou por escrito a sua vida atual, refaça a caminhada desde os primeiros passos, a fim de poder identificar a origem dos conflitos e complexos que o aturdem ou que lhe transmitem insegurança, o súbito desinteresse pela vida.

Por extensão, a confecção de um diário, pelo menos dos acontecimentos mais importantes ou significativos, que sejam registrados, oferecerá ao terapeuta a paisagem consciente assim como os aspectos inconscientes que trabalham em favor do transtorno.

O paciente deverá ser conscientizado do que está utilizando psicologicamente, a fim de melhor responder qualitativamente em benefício pessoal.

Nesse aprofundamento, são ressuscitados alguns aspectos e características dos pais que influíram na formação da sua personalidade e ora ressumam de forma perturbadora.

Em tal quadro, será possível fazer-se uma comparação entre os traços de semelhança e de contraste com os familiares, com os seus ascendentes, aqueles que mais lhe marcaram a existência, ou que foram resultado de incompatibilidades do meio onde viveu.

Ressurgirão, nessa ocasião, as subpersonalidades que se encontram mergulhadas no imo e têm ascendência em determinadas situações emocionais sobre a personalidade predominante, sempre que o conflito reponta ameaçador.

O trabalho de integração das subpersonalidades é de magna importância para o estabelecimento do comportamento saudável, já que, face à existência desses diferentes eus, que são responsáveis por distintas condutas, como aquela quando a pessoa se encontra a sós e a que assume quando no meio social, e aí mesmo, a depender da companhia, se de destaque ou sem importância no conjunto dos interesses econômicos ou políticos, mantendo radicais transformações.

O mesmo ocorre, quando no lar ou no escritório, com amigos ou com desconhecidos, oportunidades nas quais as atitudes fazem-se muito diferenciadas, demonstrando que vários eus se sucedem, cada qual assumindo um papel de importância conforme a necessidade do momento.

William James, o psicólogo pragmatista americano, foi dos primeiros a registrar essa ocorrência, conforme sucedeu com o fisiologista francês Pierre Janet ao apresentar a tese das personalidades múltiplas ou secundárias.

A busca da auto-realização não pode ser interrompida em razão dos episódios menos felizes que fazem parte do processo de crescimento moral e espiritual.

Renovada a aspiração de liberdade e de nova experiência, os traços psicológicos do paciente vão-se alterando para o equilíbrio, enquanto supera os conflitos e reduz as subpersonalidades, passando a vivências menos conflitivas e mais gratificantes.

Para o êxito do cometimento, vale a pena acrescentar a técnica do serviço ao próximo, que constitui emulação para superar-se o desinteresse existencial, desde que a sua O Despertar do Espirito passa a ser uma vida" útil, da qual outras dependem, estimulando-o ao prosseguimento da luta, mesmo que, momentaneamente, sob dificuldades que também promovem o raciocínio, a capacidade para o crescimento interior, a coragem para vencer impedimentos.

Quando alguém não enfrenta desafios, jamais amadurece psicologicamente, mantendo-se na fase lúdica e fascinante da infância, sem sabedoria nem consciência da sua realidade existencial.

Toda vez, portanto, que se desenhem sombras perturbadoras nos painéis da emoção, trabalhando contra os valores éticos da existência - dever, realização, trabalho, alegria, inspiração para o belo e o útil, crepúsculo interior, necessidade de autopunição ou episódios de auto compaixão - torna-se imprescindível buscar o recurso terapêutico, mediante o trabalho interior de renovação dos valores e ideais esposados, ou recorrer ao auxílio técnico do psicoterapeuta, capaz de reativar os centros de vida, momentaneamente submersos no mar encapelado dos conflitos.




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