Setenta Vezes Sete

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CAPÍTULO 12

A FIGUEIRA QUE SECOU

Mateus 21:18-22 Marcos 11:12-14, 20-

Após a entrada triunfal em Jerusalém, Jesus pernoitou em Betânia.


Pela manhã|

retornou, em companhia dos discípulos.


Vendo uma figueira, buscou figos. Nada encontrou. Então, sentenciou:

—Nunca mais nasça de ti algum fruto!

A noite, o grupo permaneceu no Monte das Oliveiras, entre Jerusalém e Betânia.

Pela manhã, passando novamente pela figueira, os discípulos tiveram uma surpresa: secara até a raiz!


E murmuravam:

—Como aconteceu tão depressa?


Pedro, impressionado, comentou:

—Veja, Mestre, secou a figueira que condenaste!


Jesus respondeu:

—Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito. Por isso vos afirmo: tudo quanto pedirdes, orando com fé, crede que o recebereis.


* * *

Surpreendente o castigo imposto à árvore.


Em suas pregações, anunciando o advento do Messias, João Batista dizia que toda árvore que não produzisse bons frutos seria cortada e lançada no fogo

"7bMateus 3:10).

Reportava-se ao mal extirpado do coração humano pelo sofrimento.

Imagem forte, mas compatível com a lógica.

Estamos sujeitos a um mecanismo de causa e efeito que faz retornar para nós o bem ou o mal que praticamos, a fim de aprendermos o que devemos e o que não devemos fazer.

Aqui é diferente.

Jesus, que sempre abençoava, tem um comportamento inusitado.

E se dirige a quem?

Ao criminoso, ao assassino, ao homem mau?

Nada disso!

Condena humilde e inocente vegetal!

Chocante, incompatível com sua grandeza, principalmente por um detalhe, conforme informa o evangelista Marcos: não era tempo de figos.


* * *

Bem, podemos considerar que estamos diante de uma interpolação.

Esta passagem não teria acontecido.

Foi enfiada nos Evangelhos, em determinada época, como censura à nação judaica, dizimada pelos romanos nos anos setenta, por não produzir frutos de adesão ao Cristianismo.

Algo semelhante ocorrería no plano individual.

Quem não se convertesse corria o risco de ver secar a própria alma, que de nada mais serviría senão para arder no inferno.

Também podemos admitir que estamos diante de um simbolismo, revestido de ação dramática e chocante para melhor fixação, recurso usado, frequentemente, por Jesus.

Os discípulos jamais esqueceríam a figueira que secou, a representar as intenções e vocações não realizadas, estéreis por inércia das pessoas.

Há espíritas com grande potencial de trabalho que nunca se decidem a "arregaçar as mangas".

Poderíam produzir frutos abençoados nas lides do Bem, mas se demoram na indiferença.

Situam-se como figueiras estéreis.

Alguém dirá que não chegou a hora.

Não é bem assim.

Em qualquer realização, particularmente de caráter espiritual, não há hora predeterminada.

Nós fazemos a hora, que se vincula ao exercício da vontade.

Não somos vegetais, que aguardam estação apropriada para produzir.

Seres pensantes, a consciência do dever, que nos induz a superar o comportamento egoístico, é muito mais um exercício da vontade do que uma imposição do tempo.

Espíritos há que se demoram, séculos acomodados às suas fraquezas e viciações.

Quase a totalidade da população brasileira é ligada ao Cristianismo, sejamos católicos, espíritas, evangélicos...

No entanto, estamos longe de constituir uma sociedade cristã, capaz de erradicar a fome, a miséria, a injustiça social, males que afligem tanta gente.

Por quê?

É que as pessoas não se decidem a vivenciar em plenitude os ensinamentos de Jesus, nos domínios da solidariedade.

O Espiritismo nos adverte que é preciso fazer a nossa hora - hora de trabalhar, de servir, de renovar, de ajudar, de participar...


Deveriamos perguntar, diariamente, a nós mesmos:

—Estou fazendo acontecer a construção de um mundo melhor, com o meu empenho, a minha dedicação, o meu esforço em favor do próximo?


* * *

Muito poderemos realizar, até transportar montanhas, se tivermos fé, como ensina Jesus.

Há contestadores, a proclamar que oram muito e pouco conseguem.

Equivocam-se.

Esperam que Deus ouça seus desejos.

Ignoram o principal, na oração: Ouvir o que Deus deseja de nós.

Enquanto nossas preces exprimirem meros apelos em favor do próprio bem-estar, experimentaremos frustrações, mesmo porque, geralmente, o que pedimos está em desacordo com o que necessitamos.

Há o doente que anseia pela cura; o homem que luta com acerbas dificuldades; o deficiente físico que busca o corpo perfeito; a mãe que deseja livrar o filho da morte...

Não obstante, enfrentam situações compatíveis com suas necessidades, em contingências, não raro, inamovíveis.

Se orarem com a mera intenção de modificar o quadro de suas provações, deixarão o santuário da oração tão infelizes quanto entraram.

Mesmo quando lidamos com situações superáveis, não podemos esperar que o Céu tudo providencie.

Deus nos inspira nos caminhos a seguir, mas não pretendamos que nos carregue no colo.


* * *

Consideremos a afirmativa de Jesus sobre o poder da fé.


Digo:

—Senhor, tenho fé em ti.

Guardo a certeza de que com o teu poder, esta montanha será transportada daqui para acolá!

Espero um minuto, uma hora, um ano, uma vida...

O colosso não vai mover-se um só milímetro!

Mas, se confiante na ajuda de Deus, tomo o carrinho, a pá e a picareta, e me disponho a desmontá-la, poderá demorar algum tempo e exigir muito trabalho, mas conseguirei o meu propósito.

Deus nos dá a inspiração, a força, o equilíbrio, mas o trabalho de remover obstáculos e dificuldades, a fim de realizar nossos sonhos, é inteiramente nosso.


* * *

Recordo ilustrativo episódio de um padre francês, cuja igreja estava situada no coração de uma região outrora residencial, agora industrializada.

Muitas fábricas, nenhum morador, culto às moscas.

Era preciso transferir a igreja.

Como fazer?

Dizer ao templo: transporta-te daqui para acolá?

Pois foi exatamente o que ele fez, não por exercício de magia, mas com a fé indômita de quem confia em Deus e faz a sua parte.

Conseguiu um terreno da Prefeitura e começou a desmontar a igreja, telha a telha, tijolo a tijolo, trabalho perseverante, metódico, envolvente...

Começo difícil.

Apenas ele e alguns paroquianos.

Mas a fé é um fenômeno envolvente.

Dezenas de voluntários foram atraídos por aquele padre indômito que encasquetara levar sua igreja para novo endereço.

Rapidamente, a antiga construção foi desmontada, transportada e reconstruída no local escolhido.

Admirável realização de um homem consciente de que tudo é possível quando nos dispomos a fazer o melhor, confiantes em Deus e em nós mesmos.


* * *

As vezes, artistas dotados de sensibilidade conseguem exprimir, em momentos de inspiração, a ideia mágica de que tudo depende de nós.

E disso que nos fala Ivan Lins, em famosa canção: Depende de nós...

Quem já foi ou ainda é criança, Quem acredita ou tem esperança, Quem faz tudo por um mundo melhor...

Depende de nós, Que o circo esteja armado, Que o palhaço seja engraçado, Que o riso esteja no ar, Sem que a gente precise sonhar.

Que os ventos cantem os galhos, Que as flores bebam orvalho, Que o sol descortine mais as manhãs.

Depende de nós, Se este mundo ainda tem jeito, Apesar do que o homem tem feito, Se a vida sobreviverá.

Depende de nós...

Quem já foi ou ainda é criança, Quem acredita ou tem esperança, Quem faz tudo por um mundo melhor...

Depende de nós, leitor amigo!

A propósito, permita-me uma pergunta impertinente: O que você está fazendo por um mundo melhor?



Este texto está incorreto?

Veja mais em...

Mateus 21:18

E, de manhã, voltando para a cidade, teve fome;

mt 21:18
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Mateus 21:19

E, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti. E a figueira secou imediatamente.

mt 21:19
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Mateus 21:20

E os discípulos, vendo isto, maravilharam-se, dizendo: Como secou imediatamente a figueira?

mt 21:20
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Mateus 21:21

Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até, se a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito;

mt 21:21
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Mateus 21:22

E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis.

mt 21:22
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Marcos 11:12

E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome,

mc 11:12
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Marcos 11:13

E, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos.

mc 11:13
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Marcos 11:14

E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto.

mc 11:14
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Mateus 3:10

E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.

mt 3:10
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