Setenta Vezes Sete
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Jesus transmitia seus ensinamentos, preparando os corações para o Reino de Deus,|
quando algumas crianças foram colocadas à sua frente, a fim de que as abençoasse.
Era costume entre os judeus que os homens santos ministrassem suas bênçãos - uma evocação da proteção divina sobre crianças e adultos.
O ato de abençoar enraizou-se no Cristianismo, estendendo-se ao próprio relacionamento familiar, envolvendo pais e filhos.
Não são poucos os que guardam, no tesouro das recordações mais ternas da infância, expressões assim:
—A "bença", pai!
—Deus te abençoe, filho!
—A "bença", mãe!
—Deus te abençoe, filho!
A criançada podia dormir tranquila!
Estava presente a proteção divina, evocada pelos pais!
Gente com mania de originalidade contesta o ato de abençoar, sob a alegação de que tende a estabelecer barreiras entre pais e filhos.
O que abençoa situa-se acima daquele que é abençoado.
Isso inibiría a comunhão afetiva.
Levada às últimas consequências essa orientação, deveriamos eliminar toda disciplina no lar, porquanto, qualquer iniciativa nesse sentido representaria o exercício de indébito autoritarismo, a erguer barreiras entre adultos e crianças.
Ah, esses doutos!
Quando o cérebro se desliga do coração, perde o rumo e envereda por estranhos caminhos.
Raciocínios dessa natureza inibem uma das mais belas manifestações de afetividade no lar: Os filhos que pedem a bênção de seus pais. -
Os pais que abençoam seus filhos.
Os discípulos aborreceram-se com a presença das crianças, mas Jesus os conteve:
—Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino de Deus.
Em verdade vos digo que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele.
Abraçando os pequenos, abençoou-os, impondo-lhes as mãos.
Situava, assim, as crianças como o símbolo das condições necessárias ao ingresso no Reino de Deus.
Bem, em princípio, uma perguntinha: Onde fica?
Se você não sabe, leitor amigo, não se preocupe.
Em outra passagem evangélica (Lucas
—O Reino de Deus está dentro de vós.
Então, não se trata de local geográfico, na Terra ou alhures.
E um estado de consciência!
. Céu está em algum recanto, em nosso universo interior.
Obviamente, o inferno também.
Diriamos que são realizações pessoais, condicionadas ao que pensamos e fazemos.
Uma senhora vivia desolada e infeliz!
Dizia-se mal-amada...
O marido não lhe dava atenção; os filhos a desrespeitavam; os vizinhos eram invejosos; o pessoal de sua igreja agia com falsidade; sua vida, um tormento! Quando desencarnou, por uma questão de afinidade, ela, que cultivava um inferno em seu coração, viu-se em região de sofrimentos.
Ali, mais que nunca, sentia-se infeliz.
Mal-amada...
Reclamava que Deus não lhe ouvia as orações. Via-se cercada de gente atormentada; revoltava-se contra o destino ingrato, mergulhada num oceano de aflições...
Depois de muito sofrer, brilhou em seu coração uma réstia de humildade.
Lavou o coração com lágrimas contritas, implorando a complacência divina.
Imediatamente foi socorrida por benfeitores espirituais que a levaram para estágio reparador, em maravilhosa colônia espiritual.
Ali vivia uma comunidade feliz e ajustada, que observava integralmente o Evangelho, cultivando os valores do Bem.
A senhora esteve satisfeita...
por algum tempo.
Em breve caiu nos tormentos a que se habituara. .
Mal-amada...
Ninguém lhe dava atenção...
Havia falsidade nas pessoas...
A ladainha de sempre!
Vivendo em autêntico paraíso, permanecia no inferno que sustentava em si mesma.
Em Velho Tema, Vicente de Carvalho (1866-1
924) exprime essa arraigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.
Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, E uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos, Arvore milagrosa que sonhamos, Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim; mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos.
Onde estivermos, na Terra ou no Além, sustentaremos o céu ou o inferno, construído na intimidade de nosso ser com as ferramentas do cérebro e do coração, tendo por material o que pensamos e sentimos.
Para ingressar na recôndita região de nosso universo interior, onde está o Reino de Deus, é preciso uma senha.
Ser como as crianças - revela Jesus.
Há algo inerente à natureza infantil que devemos imitar para abrir as portas do paraíso interior.
A senha se compõe de duas virtudes.
• Pureza.
A criança não é maliciosa, não vê o mal no comportamento alheio, não se compraz com a maledicência, não guarda mágoas, desconhece a hipocrisia.
É capaz de relacionar-se com qualquer pessoa, independente da cor, raça, nacionalidade, religião, posição social...
• Simplicidade.
A criança não se sente infeliz por morar em singela cabana.
Diverte-se tanto com um pau de vassoura feito cavalo, quanto o faria o menino rico num palácio, movendo-se em patinete motorizada.
Para entrar no Reino de Deus, na intimidade de nós mesmos, é preciso resgatar a criança que fomos, aprisionada na teia das ambições, dos vícios e das mazelas.
Evidentemente, não é fácil.
Como diz André Luiz, contra a pálida réstia de luz do presente, simbolizada pelo desejo de melhorar, há montanhas de trevas do passado.
Proclama o apóstolo Paulo (Romanos
O mal que não desejo, esse eu faço.
Temos visto esse filme, no desdobrar de múltiplas existências.
Mudam os cenários, mas o enredo é sempre o mesmo: Começamos a vida como "mocinhos", dispostos a mudar o.
mundo.
Terminamos como "bandidos", comprometidos por vícios e mazelas.
E preciso produzir um filme diferente, nos estúdios da Vida.
Perseverar nos bons propósitos...
Lutar contra nossas tendências inferiores...
Conservar fidelidade ao Bem...
Cultivar ideais que nos permitam sustentar a simplicidade e a pureza dos verdes anos. "Mocinhos", jamais "bandidos".
Bem-aventurados, jamais mal-amados.
No Céu, ainda que enfrentando as agruras da Terra.
Veja mais em...
Lucas 18:15
E traziam-lhe também meninos, para que ele lhes tocasse; e os discípulos, vendo isto, repreendiam-nos.
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Lucas 18:16
Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus.
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Lucas 18:17
Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele.
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Marcos 10:13
E traziam-lhe meninos para que lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam aos que lhos traziam.
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Marcos 10:14
Jesus, porém, vendo isto, indignou-se, e disse-lhes: Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus.
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Marcos 10:15
Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como menino de maneira nenhuma entrará nele.
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Marcos 10:16
E, tomando-os nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou.
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Mateus 19:13
Trouxeram-lhe então alguns meninos, para que sobre eles pusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreendiam.
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Lucas 17:21
Nem dirão: Ei-lo aqui, ou, Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós.
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Romanos 7:19
Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.
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