Garimpo de Amor

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CAPÍTULO 29

Amor e serenidade

O amor é o agente desencadeador da serenidade, tornando-se-lhe o tônico de vitalização.

Enquanto se pense que o amor se encontra fora do Si, navega-se em rumo equivocado.

A cultura tradicionalista e retrógrada estabeleceu que, para a conquista do amor, bastam a aparência cuidada, as boas maneiras, os costumes morigerados, a habilidade na forma de apresentar-se, utilizando-se de técnicas de conquistar amigos, de influenciar pessoas...

De forma alguma existe fundamento nesses métodos para conseguir-se o amor.

Certamente que essas condutas despertam interesse, chamam a atenção, atraem interessados nos relacionamentos. Não sendo autênticas as manifestações externas, não procedentes da autoestima e do real prazer de amar, assim que se aproximam, aqueles a quem se deseja influenciar e atrair, logo dão-se conta da superficialidade de que se revestem e da falta de vibração interior, aquela que irriga de alegria a pessoa a quem é direcionada e se afastam, estremunhados, decepcionados, inquietos...

Por outro lado, a mesma cultura, ora avançada e inquieta, que trabalha em favor da projeção da imagem, quando busca envolver as criaturas com mimos e artifícios, em tentativas de formar clãs de adeptos, corte de admiradores, clubes de simpatizantes, não consegue acalmar as ânsias do coração nem preencher os imensos vazios da emoção, resultando maiores a solidão e o sofrimento.

A visão correta a respeito do amor estabelece que ele se encontra dentro do ser, apenas aguardando exteriorizar-se, quando os fatores propiciatórios assim lhe permitem.

Cultivado com carinho e preservado com respeito, expande-se e realiza o mister para o qual existe, que é proporcionar serenidade. Não apenas para acalmar as ansiedades ou apaziguar as tempestades íntimas, porém realizar um estado de paz que suporta vicissitudes, postergamentos de alegrias, embates continuados, sem perder o vigor de que se reveste.

A serenidade, no entanto, que deve ser buscada, decorre da manutenção de pensamentos saudáveis, enriquecedores, que estimulam ao trabalho, ao autoburilamento, ao ministério da abnegação que elimina a culpa. Mediante esse comportamento mental, a verbalização das ideias é irretocável, não havendo campo para a vulgaridade nem para a contaminação oral, apresentando-as límpidas de expressões perniciosas que induzem à elaboração de clichês perturbadores. Nesse investimento, surge a oportunidade da ação, que se reveste de significado ético profundo, dignificante, capaz de desencadear condutas outras salutares. Como efeito natural, o amor está presente, embutido em todos os passos do processo de harmonização.

No começo, expressa-se como amor a si mesmo, mediante a preservação da sua identidade, dos seus sentimentos, não se permitindo os contágios deletérios que se manifestam mediante as conversações extravagantes e degenerativas. Por fim, torna-se exteriorização do sentimento em relação às demais criaturas, por meio de envolvimentos espirituais, mentais, buscando proporcionar-lhes alegria e bem-estar, mesmo que sem a presença física daquele que o oferece.

É muito compensador doar-se o amor e recebê-lo de volta, não em forma de gratidão ou de simples retribuição, mas como efeito da sua própria vigência. O intercâmbio de amor é operação fascinante, que tem caráter de opulência emocional. No entanto, quando ainda não se faz retributivo, e não retorna, de forma alguma perde o seu significado, deixando de ensejar a serenidade que lhe é alma e coração.

Quem ama é sereno, porque confia no resultado do seu sentimento.

Quando se ama, mantém-se serenidade, porque se sabe e se pode aguardar a resposta da oferta que propicia.

O amor é da responsabilidade de cada criatura, e como efeito, possui características especiais, crescendo sempre mais e apresentando-se cada vez melhor.

Pode-se induzir outrem a amar, estimulá-lo à realização do amor, nunca porém amar-se por outrem.

O amor é qual medicamento precioso e oportuno que deve ser experiênciado, a fim de curar-se a enfermidade da solidão, o desalinho da emoção, o transtorno dos sentimentos, os vícios ancestrais. Cada um deverá usá-lo, a fim de poder colher os resultados que espera. Essa operação é individual e intransferível.

Às vezes, surgem dificuldades para o despertamento do amor, para a sua fixação no indivíduo, para a sua expansão.

O amor é semelhante às águas do rio que demandam o mar… O amor surge em forma de intenção, que é a manifestação inicial de qualquer projeto humano. Criar a possibilidade mental de amar é enriquecer-se de vida e multiplicar os objetivos existenciais.

Quando se experimenta a suave presença do amor, o coração enternecese e a serenidade toma conta dos sentimentos, ajudando a melhor conduzir o discernimento, que se ilumina, alargando os horizontes da existência na Terra.

Diante de alguém rebelde e agressivo, insano e perverso, pode-se aquilatar a validade da terapia do amor, porquanto, se a educação e a assistência médica contribuem enormemente para o refazimento da organização celular, não conseguem alcançar os recônditos do ser, que somente se renova e se relaxa, quando se entrega à sua condução.

Da mesma forma, como na raiz de muitos crimes e alucinações encontrase ausente o amor na infância, na adolescência ou é resultado da frustração na idade adulta, a sua presença, mesmo que tardia, consegue minimizar os efeitos danosos e trabalhar pela recuperação do calceta.

Quem se permite por ele cativar, transforma-se de imediato, pois que passa a experiênciar diferentes estados de alma, que não conhecia, esforçando-se por mantê-los como parte fundamental do seu novo comportamento.

O amor real está sempre propondo ao indivíduo a autossuperação, por descobrir quanto ainda pode mais amar, já que a alegria que o toma é tão expressiva que a existência não mais passa a ter sentido, se não for sob o seu comando.

Pode-se acumular haveres, conseguir-se poder, destaque na sociedade, passear no carro do triunfo, receber aplausos e desfrutar de todas as comodidades imagináveis, mas quando não se possui amor, torna-se impossível manter-se a serenidade. Mesmo porque a posse de qualquer natureza, quando não se estrutura na integridade do amor, abre espaços para a instalação de medos, de ansiedade, de desconfiança, ante a provável possibilidade de perda. Esse terreno, o do poder, do brilhar no mundo, se não for pavimentado com o amor, torna-se cediço, perigoso, e quase todos aqueles que por aí transitam perdem o rumo ou asfixiam-se imprensados nos movimentos que os fazem afundar.

O amor é o agente desencadeador da serenidade, tornando-se-lhe o tônico de vitalização.

Somente o amor cicatriza as feridas da alma, recompõe a harmonia dos sentimentos, encoraja para o prosseguimento da luta, oferece vida e fervor.

Direciona a fé e dinamiza a esperança.

O coração que ama nunca envelhece, nem sucumbe ao peso de ingratidão alguma, porque está sempre sereno, na alegria, na tristeza, na felicidade, na dor, na conquista ou na perda, sem mudar de rumo emocional.



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