Após a Tempestade
Versão para cópiaAPÓS A TEMPESTADE...
A ciência aliada à Tecnologia prognosticou para o homem dias de fartura e conforto, facultando-lhe o gáudio de incomparáveis voos pelos céus da felicidade.
Fascinados pelas perspectivas fantásticas do poder, os técnicos de todos os matizes, mais preocupados com o imediatismo objetivo, olvidaram que as edificações que se destinam ao homem, e consequentemente, à Humanidade, não podem prescindir dos valores do espírito, das expressivas contribuições éticas relevantes, sobre as quais — pedras angulares que são — podem ser realizadas com êxito as construções legítimas, sem os perigos que ameaçam as demais realizações de natureza utopista, porque transitórias.
A conquista do Espaço, com as possibilidades viáveis de mais audaciosos passos na direção de outros mundos, de forma alguma produziu a cobiçada realização interior dos habitantes da Terra...
Os extraordinários avanços da Medicina, diminuindo incontáveis problemas, abrem portas ao conhecimento de outras inúmeras e complexas desordens orgânicas e psíquicas com que a criatura se vê a braços, sem meios de solução a curto prazo.
As doutrinas educacionais, produzindo experiências válidas e alentadas, não obstante assessoradas pela Psicologia e por notáveis matérias auxiliares, renovando cada dia sua Metodologia aplicada, padecemperplexidade ante o malogro dos resultados esperados, face ao despautério da Juventude, sua alucinação, suas frustrações gerando suas temeridades, sobressaltos que alarmam pedagogos e psicólogos em relação às futuras gerações...
Soluções apressadas surgemde todo lado, colimando insucesso quando aplicadas aos múltiplos problemas que agitam as Nações, as comunidades, os homens...
Tempestades morais, econômicas, sociais rugemameaçadoras em toda parte.
As ondas eriçadas do oceano da Humanidade estão cobertas por cirros borrascosos, nos céus da atualidade.
A Terra parece gigante nau batida e as criaturas aturdidas estertoram, choram, gritam, esbravejam... e oram.
A falência do materialismo é evidente. Responsável pelo estado atuai das gentes e da civilização, após galvanizar por pouco as multidões, empalidece, bruxuleia e logo morrerá...
Após a tormenta, porém, a bonança abençoada da paz.
Só o amor, conforme ensinou e viveu o Cristo — manjar divino e preciosa linfa — resolverá os magnos e angustiantes tormentos humanos.
Fará que as criaturas todas compreendam que somente por meio do auxílio recíproco se poderão salvar; que há dores isoladas, porquanto os distúrbios de cada um produzem os desequilíbrios do conjunto; que a felicidade não pode ser aquisição egoísta; desde que é improvável o júbilo de alguém cercado pelas lágrimas de muitos; que a esperança emule os jovens na marcha para o progresso, arrimando-os em sadia fraternidade com que se alçarão aos misteres elevados da existência.
Um amor igual ao que fez o príncipe Sidarta renunciar ao luxo e dar-se à meditação, à fraternidade; que incitou Francisco de Assis ao matrimônio com a pobreza e à humildade, restaurando nos espíritos a pureza da fé; que convidou Gandhi à cruzada da "não violência" e Schweitzer à abnegação pelos irmãos enfermos em Lambarené...
Amor que ergueu apóstolos da renúncia e sacerdotes da Ciência nobre, missionários da Caridade e santos do sacrifício, ases da realização superior e protótipos do pensamento filosófico libertador, titãs da fé religiosa e heróis da fraternidade quando as guerras lamentáveis, a corrupção e as maldades ameaçavam, destruidoras...
De entre os destroços morais que representam a falsa cultura materialista, do meio das misérias sociais que amesquinham e aparvalham, o amor traz de volta aos ouvidos humanos a doçura das Bem-aventuranças, na sua preciosa síntese de Sabedoria e beleza convertendo-se no cântico jubiloso dos que esperam fruir as horas ditosas que já se estão anunciando desde agora.
O Evangelho — código moral de valor incomparável — em toda a sua pureza, consoante a restauramos Espíritos do Senhor, no pórtico da Era Nova, penetrará, por fim, as almas, tornando-se o Estatuto seguro e indiscutível para as Nações e os homens.
As páginas que constituem este livro examinam alguns dos temas palpitantes da atualidade, que mais conflitos vêm criando, gerando debates acirrados e complexos estudos.
Nada traz de excepcional a nossa contribuição, nem padecemos da jactância arrogante dos que se supõem doutos ou sábios. Resulta de demoradas meditações e estudos do lado de cá, ouvindo preciosas instruções de venerandos trabalhadores recém-chegados e de outros que se encontram empreparação para o retorno ao Orbe, da comparação entre os textos do Evangelho e da Codificação Espírita de que Allan Kardec foi o instrumento elegido pelo Senhor.
Estudando cada assunto, conforme a pauta dos debates entre os irmãos encarnados, pretendemos de alguma forma cooperar para a mais rápida mudança das condições morais e espirituais da Terra, nossa mãe generosa onde nos empenhamos para a ascensão e emcujo seio, no momento, transitamalmas queridas, que nos indagam, interrogam, solicitando alvitres, opiniões e respostas que as tranquilizem e confortem durante estes dias de tempestades.
É um ensaio a mais ao lado dos múltiplos estudos sérios que examinam os graves problemas abordados, que tratamos comleveza e simplicidade, utilizando as lentes do amor ao próximo e da fé em Deus.
Nenhuma aspiração intelectualista, presunção nenhuma.
Insignificante participação pessoal, objetivando o bem de todos, que um dia nos unirá como irmãos no Grande Bem
Joanna de Ângelis
Salvador, 10 de abril de 1974.