Após a Tempestade

Versão para cópia
CAPÍTULO 14

EUTANÁSIA

Tema de frequente discussão, por uns defendida, por outros objurgada, a eutanásia, ou "sistema que procura dar morte semsofrimento a um doente incurável", retorna aos debates acadêmicos, face à sua aplicação sistemática por eminentes autoridades médicas, emcrianças incapazes físicas ou mentais desde o nascimento, internadas em Hospitais Pediátricos, sem esperanças científicas de recuperação ou sobrevivência...

Prática nefanda que testemunha a predominância do conceito materialista sobre a vida, que apenas vê a matéria e suas implicações imediatas, emdetrimento das realidades espirituais, reflete, também, a soberania do primitivismo animal na constituição emocional do homem.


Na Grécia antiga, a hegemonia espartana, sempre armada para a guerra e a destruição, inseriu no seu Estatuto o emprego legal da eutanásia eugênica em referência aos enfermos, mutilados, psicopatas considerados inúteis, que eram atirados ao Eurotas

por pesarem negativamente na economia do Estado. Guiados por superlativos egoísmo e prepotência, apesar das arremetidas arbitrárias do exagerado orgulho nacional, fizeram-se vítimas da impulsividade belicosa que cultivavam...

Outros povos, desde a mais remota antiguidade, permitiam-se praticar esse "homicídio exercido por compaixão"...

Em circunstância alguma, ou sob qualquer motivo, não cabe ao homem direito de escolher e deliberar sobre a vida ou a morte em relação ao seu próximo.

Os criminosos mais empedernidos, homicidas ou genocidas dentre os mais hediondos, não devem ter ceifadas as vidas, antes seremisolados da convivência social, emcelas, ou em trabalhos retificadores, nos quais expunjamsob a ação do tempo e da reflexão, que tarda mas alcança o infrator, fazendo-os expiar os delitos perpetrados. Mesmo quando em se tratando de précitos anatematizados por desconserto mental, não faltamNosocômios judiciários onde possam receber conveniente assistência a que têm direito, semque sejam considerados inocentes pelos crimes perpetrados... Emrecuperando a saúde, eventualidade excepcional que pode ocorrer, cerceados, pelo perigo de provável reincidência psicopática, poderão, de alguma forma, retribuir de maneira positiva à Sociedade, os danos que hajam causado.

No que tange aos enfermos ditos irrecuperáveis, convém considerar que doenças, ontem detestáveis quanto incuráveis, são hoje capítulo superado pelo triunfo de homenssacerdotes da Ciência Médica, que a enobrecem pelo contributo que suas vidas oferecem a benefício da Humanidade. Sempre há, pois, possibilidade de amanhã conseguirse a vitória sobre a enfermidade irreversivel de hoje. Diariamente, para esse desiderato, mergulham na carne Espíritos Missionários que se aprestam a apressar e impulsionar o progresso, realizando descobrimentos e conquistas superiores para a vida, fonte poderosa de esperança e conforto para os que sofrem, em nome do Supremo Pai.

Diante das expressões teratológicas, ao invés da precipitação da falsa piedade emaliviar os padecentes dos sofrimentos, se há de pensar na terapêutica divina, que se utiliza do presídio orgânico e das jaulas mentais para justiçar os infratores de vários matizes que passaram na Terra impunes, despercebidos, mas não puderam fugir às sanções da consciência em falta nem da Legislação Superior, à qual rogaram ensejo de recomeço, recuperação e sublimação porque anelavam pela edificação da paz íntima.

Suicidas, — esses pobres revoltados contra a Divindade —, que esfacelaram o crâneo, emarremetidas de ódio contra a existência, reencarnam perturbados pela idiotia, surdez-mudez, conforme a parte do cérebro afetada, ou por hidrocefalias, mongolismos; os que tentaram o enforcamento, reaparecem com os processos da paraplegia Infantil; os afogados, padecem enfisema pulmonar; os que desfecharam tiros no coração, retornam sob o jugo de cardiopatias congênitas irreversíveis, dolorosas; os que se utilizaram de tóxicos e venenos, volvem sob o tormento das deformações congênitas, da asfixia respiratória, ou estertorados por úlceras gástricas, duodenais e cânceres devoradores; os que despedaçaram o corpo em fugas espetaculares, recomeçamvitimados por atrofias, deformações, limitações pungentes, em que aprendem a valorizar a grandeza da vida...

Agressores, exploradores, amantes da rapinagem, das arbitrariedades, dos abusos de qualquer natureza volvem aos cenários em que se empederniram, ou corromperam, ou infelicitaram, atingidos pelo sinete das soberanas leis da ordem e do equilíbrio, refazendo o caminho antes percorrido criminosamente e entesourando os sagrados valores da paciência, da compreensão, do respeito a si mesmos e ao próximo, da humildade, da resignação, armando-se de bênçãos para futuros cometimentos ditosos.

Quem se poderá atribuir o direito de interromper-lhes a existência preciosa, santificadora?

As pessoas que se lhes vinculam na condição de pais, cônjuges, irmãos, amigos, também são lhes partícipes dos dramas e tragédias do passado, responsáveis diretos ou inconscientes, que ora se reabilitam, devendo distender-lhes mãos generosas, auxílio fraterno, pelo menos migalhas de amor.

Ninguém se deverá permitir a interferência destrutiva ou liberativa por meio da eutanásia emtais processos redentores. Pessoas que se dizem penalizadas dos sofrimentos de familiares e que desejam os tenham logo cessados, quase sempre agem por egoísmo, pressurosos de libertar-se do comprometimento e da responsabilidade de ajudá-los, sustentá-los, amá-los mais.

Não faltam terapêuticas médicas e cirúrgicas que podem amenizar a dor, perfeitamente compatíveis coma caridade e a piedade cristãs.

A ninguém é dado precisar o tempo de vida ou sobrevida de umpaciente. São tão escassos de exatidão os prognósticos humanos neste setor do conhecimento, quanto ocorre noutros!


Quantos enfermos, rudemente vencidos, desesperados recobram a saúde sem aparente razão ou lógica

?! Quantos outros homens emexcelente forma, portadores de sanidade e robustez, são vitimados por surpresas orgânicas e sucumbem imprevisivelmente?!

O conhecimento da reencarnação projeta luz nos mais intrincados problemas da vida, dirimindo os equívocos e as dúvidas em torno da saúde como da enfermidade, da desdita como da felicidade e contribuindo eficazmente para a perfeita assimilação dos postulados renovadores de que Jesus Cristo se fez vexilário por excelência e o Espiritismo, o Consolador encarregado de demonstrá-lo nos tormentosos dias da atualidade.

Argumentam, porém, os utilitaristas que as importâncias despendidas com os pacientes irrecuperáveis poderiam ser utilizadas para pesquisas valiosas ou para impedir-se que homens sadios enfermassem, ou para assistir-se convenientemente os que, doentes, podem ser salvos... E devaneiam, utopistas, insensatos semconsiderarem as fortunas que são atiradas fora em espetáculos ruidosos e funestos de exaltação da sensualidade, do fausto exagerado, das dissipações, sem que lhes ocorram a necessidade da aplicação correta de tais patrimônios em medidas preventivas salutares ou socorro às multidões esfaimadas e nuas que enxameiam por toda parte, perecendo, à guisa de migalha de pão, chafurdando no desespero pela ausência de uma gota de luz ou numa insignificante contribuição de misericórdia.

Cada minuto em qualquer vida é, portanto, precioso para o Espírito em resgate abençoado. Quantas resoluções nobres, decisões felizes ou atitudes desditosas ocorrem numrelance, de momento?

Penetrando-se o homem de responsabilidade e caridade, luarizado pela fé religiosa, fundada em fatos da imortalidade, da comunicabilidade e da reencarnação, abominará emdefinitivo a eutanásia tudo envidando para cooperar com o seu irmão nos justos ressarcimentos que a Divina Justiça lhe outorga para a conquista da paz interior e da evolução.



PENA DE MORTE

Em razão do crescente surto da delinquência na sua multiplicidade chocante, que se espalha na Terra, de forma avassaladora, em que o crime se impõe desarvorado, esmagando as florações da esperança e da bondade, legisladores de toda parte voltam a interrogar e sugerir quanto à necessidade da aplicação da pena capital diante de determinados desrespeitos ao código dos direitos do homem, à sua vida e liberdade...

O problema, porém, não obstante a gravidade de que se reveste, não poderá ser solucionado por processos análogos que defluem da violência do próprio crime ulteriormente pelo Estado tornado legal.

Lactâncio, cognominado o Cícero cristão, já enunciava no século III que "a eliminação da vida de um homem é sempre uma afronta a Deus".

A vida é patrimônio por demais precioso para ser ceifada seja por quem seja. A ninguém, individual ou representativamente pelo Estado, cabe o direito de eliminar o homem, mesmo quando este delinqui da forma mais grotesca ou vil. Se o Estado o fizer, torna-se igual ao delinquente que roubou à vítima sua vida.

Em cada criminoso vige umalienado necessitado de assistência competente de modo a reorganizar as paisagens íntimas por meio de terapêutica especializada, a fim de se tornar cidadão útil a si mesmo e à comunidade onde se encontra situado pelos impositivos da vida.

A tarefa que compete às leis é a de eliminar o crime, as causas que fomentam, não o equivocado criminoso.

A morte do delinquente não devolve a vida da vítima.

Ao invés da preocupação de matar, encontrar recursos para estimular a vida.

Educar, reeducar são impositivos inadiáveis; punir, não.

Tenhamos tento!

Não há, no Evangelho, um só versículo que apoie a pena de morte.

Quando o homem cai nas malhas do crime e culmina sua ação nefanda no extermínio de vidas ou atenta contra a propriedade por meios da violência, justo que seja cerceado do convívio social, a fimde tratar-se, corrigir-se, resgatar as faltas cometidas, mediante processos compatíveis com as conquistas da moderna civilização.

De forma alguma a pena de morte faz diminuir a incidência da criminalidade. Ao contrário, tornaa mais violenta e selvagem, fazendo que o tresloucado agressor, que sabe o destino que lhe está reservado, mais açuladas tenha as paixões destruidoras arrojando-se irremissivelmente nos dédalos das alucinações dissolventes.

Compete ao Estado deixar sempre acessível a porta para o ensejo de reparação ao sicário impiedoso ou ao flagelo humano que se converteu em vândalo desavisado.

Se o Estado ceifa a vida de umcidadão, não tem o direito de exigir que outros a respeitem.

A morte não destrói a vida.

Libertando-se o criminoso do domicílio carnal, intoxicado pelo ódio dos instantes finais, vincula-se psiquicamente, àqueles que lhe infligiram tal punição, mantendo comunhão mental de rebeldia por meio da qual mais torpes e sombrias faz as paisagens humanas...

Processo bárbaro, a pena de morte é tratamento da impiedade e do primitivismo que aniquila a esperança por antecipação, marcando a data da punição destruidora, fora de qualquer possibilidade redentora, que há de desaparecer da legislação terrena.

O criminoso não fugirá à consciência nem à injunção reparadora pelas Supremas Leis da Vida. Justo, portanto, facultar ao revel ensancha de recompor-se e reparar quanto possível os males perpetrados.

Nesse sentido, a Penologia dispõe de salutares programas de redenção para os transgressores da ordem e do direito, trânsfugas do dever e da responsabilidade, nossos irmãos atormentados da senda evolutiva.

Obviamente a questão se situa na anterioridade da alma, no seu processo depurador...

Necessário implantar na Terra, quanto antes, as condições morais saudáveis de que nos fala o Evangelho, a fim de auxiliarmos tais Espíritos enfermos que retornam para reajustar-se, defrontando desafetos e adversários que a morte não aniquilou, tornando-os irmãos e amigos.

Sem dúvida as condições sociais que promovem o crime e fomentam a existência dos criminosos devem merecer melhor tratamento humano, a fim de que aqueles que vigem nos escabrosos e sórdidos guetos de miséria conheçam dignidade e sejam comhonradez considerados.

Aristóteles, na sua Política, preceituava que o homem, para ser virtuoso, necessitava possuir alguns bens: do espírito, do corpo e das coisas exteriores, sem os quais germens criminógenos poderiamlevá-lo ao desequilíbrio.

A era tecnológica, mais preocupada com os valores objetivos e os da indústria do supérfluo e da inutilidade, vemesquecendo os legítimos objetivos do homem, seus pendores espirituais, suas realizações éticas, seus sonhos e ideais de enobrecimento.

Emulando para as aquisições de fora, facultando comodidade e prazer imediatos, faz anular a felicidade no seu sentido profundo, que independe das conquistas transitórias para as realizações essenciais e imorredouras do ser...

Aos cristãos legítimos cabe o indeclinável labor de persistir na bondade, na equidade, na paciência.

A perseverança no amor, talvez com resultados demorados, consegue a modificação da face externa das coisas e da intimidade humana para as realizações do enobrecimento.

Matar, jamais!

Um crime não pode ser solucionado por meio de outro, deis-lhe o nome ou a posição legal que se lhe queira dar: jamais terá validade moral.

Diante, portanto, da agressividade, revida com a tolerância.

Ante a ira resposta com a benevolência.

Junto ao ódio dissemina o amor.

Ao lado da hostilidade sistemática, propõe o perdão indistinto.

Perante o acusador gratuito oferece a paciência gentil, tradutora da inocência.

Só o bem tem existência real e permanente. Consegue triunfar, por fim, mesmo quando aparentemente campeia e domina o mal.

Não engrosses as fileiras dos que, violentos, pensam emeliminar...

São capazes, também, na sua revolta, de cometer crimes equivalentes àqueles para os quais, veementemente, pedem a punição capital do infrator.

Ignoras tuas forças.

Não sabes como te portarias na posição daquele que agora é o algoz.

Esparze e semeia o amor, sim, criando condições joviais e felizes para todos, oferecendo o teu precioso contributo — mesmo que seja a coisa mais insignificante — a fim de modificar o estado atual do mundo, e o crime baterá emretirada, constituindo no futuro triste sombra do passado, conforme nos promete Jesus.



Este texto está incorreto?