Após a Tempestade

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CAPÍTULO 5

FILHOS INGRATOS

A ingratidão — chaga pestífera que um dia há de desaparecer da Terra — tem suas nascentes no egoísmo, que é o remanescente mais vil da natureza animal, lamentavelmente persistindo na Humanidade.

A ingratidão sob qualquer forma considerada expressa o primarismo espiritual de quem a carrega, produzindo incoercível mal-estar onde se apresenta.

O ingrato, isto é, aquele que retribui o bem pelo mal, a generosidade pela avareza, a simpatia pela aversão, o acolhimento pela repulsa, a bondade pela soberba é sempre umatormentado que esparze insatisfação, martirizando quantos o acolhem e socorrem.

O homem vitimado pela ingratidão supõe tudo merecer e nada retribuir, falsamente acreditando ser credor de deveres do próximo para consigo, semqualquer compensação de sua parte.

Estulto, desdenha os benefícios recolhidos a fim de exigir novas contribuições que a própria insânia desconsidera. É arrogante e mesquinho porque padece atrofia dos sentimentos, transitando nas faixas da semiconsciência e da irresponsabilidade.

Sendo a ingratidão, no seu sentido genérico, detestável nódoa moral, a dos filhos para com os pais assume proporções relevantes, desde que colima hediondo ato de rebeldia contra a Criação Divina.

O filho ingrato é dilacerador do coração dos pais, ímpio verdugo que se não comove com as doloridas lágrimas maternas nemcom as angústias somadas e penosas do sentimento paterno.

Com a desagregação da família, que se observa generalizada na atualidade, a ingratidão dos filhos torna-se responsável pela presença de vários cânceres morais, no combalido organismo social, cuja terapia se apresenta complexa e difícil.

Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em relação à prole, cometem erros graves, que influemconsideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo podem, se rebelamcontra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia e da agressividade contínua, culminando, não raro, emcenas de pugilato e vergonha.

Muitos progenitores, igualmente, imaturos ou versáteis, que transitam no corpo açulados pelo tormento de prazeres incessantes — que os fazem esquecer as responsabilidades junto aos filhos para os entregarem aos servos remunerados, enquanto se corrompem na leviandade —, respondem pelo desequilíbrio e desajuste da prole, na desenfreada competição da utópica e moderna sociedade.

Todavia, filhos há que receberam dos genitores as mais proliferas demonstrações e testemunhos de sacrifício e carinho, aspirando a um clima de paz, de saúde moral, de equilíbrio doméstico, nutridos pelo amor semfraude e pela abnegação semfingimentos, e revelam-se, de cedo, frios, exigentes e ingratos.

Se diante de pais irresponsáveis a ingratidão dos filhos jamais se justifica ou procede, a proporcionada por aqueles que tudo recebem e tudo negam, somente encontra explicação na reminiscência dos desajustes pretéritos dos Espíritos, que, não obstante reunidos outra vez para recuperar-se, avivam as animosidades que ressumam do inconsciente e se corporificam emforma de antipatia e aversão, impelindo-os à ingratidão que os atira às rampas inditosas do ódio dissolvente.

A família é abençoada escola de educação moral e espiritual, oficina santificante onde se lapidamcaracteres, laboratório superior emque se caldeiam sentimentos, estruturam aspirações, refinamideais, transformam mazelas antigas em possibilidades preciosas para a elaboração de misteres edificantes.

O lar, em razão disso, mesmo quando assinalado pelas dores decorrentes do aprimorar das arestas dos que o constituem, é forja purificadora onde se devemtrabalhar as bases seguras da Humanidade de todos os tempos.

Quando o lar se estiola e a família se desorganiza a Sociedade combale e estertora.

De nobre significação, a família não são apenas os que se amam, através dos vínculos da consanguinidade, mas, também, da tolerância e solidariedade que se devem doar os equilibrados e afáveis aos que constituem os elos fracos, perturbadores e emdeperecimento no clã doméstico.

Aos pais cabem sempre os deveres impostergáveis de amar e entender até o sacrifício os filhos que lhes chegam pelas vias sacrossantas da reencarnação, educando-os e depondo-lhes nas almas as sementes férteis da fé, das responsabilidades, instruindo-os e neles inculcando a necessidade da busca de elevação e felicidade. O que decorra serão consequências do estado moral de cada um, que lhes não cabem prever, recear ou sofrer por antecipação pessimista.

Aos filhos compete amar aos pais, mesmo quando negligentes ou irresponsáveis, porquanto é do código Superior da Vida, o impositivo: "Honrar pai e mãe", sem excluir os que o são apenas por função biológica, assim mesmo, por cujo intermédio a Excelsa Sabedoria programa necessárias provas redentoras e pungitivas expiações liberativas.

Ante o filho ingrato, seja qual for a situação em que se encontre, guarda piedade para com ele e dálhe mais amor...

Agressivo e calceta, exigente e impiedoso, transformado eminimigo insensível quão odioso, oferta, ainda, paciência e mais amor...

Se te falarem sobre recalques que ele traz da infância, emcomplexos que procedem desta ou daquela circunstância, em efeito da libido tormentosa com que os simplistas e descuidados pretendemescusa-lo, culpando-te, recorda, emsilêncio, de que o Espírito precede ao berço, trazendo gravados nas tecelagens sutis da própria estrutura gravames e conquistas, elevação e delinquência, podendo, então, melhor compreende-lo, mais ajudálo, desculpá-lo com eficiência e socorrê-lo com probidade prosseguindo ao seu lado semmágoa e encorajado no programa com a família inditosa e os filhos ingratos, resgatando pelo sofrimento e amor os teus próprios erros, até o dia em que, redimido, possas reorganizar o lar feliz a que aspiras.



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