Dimensões da Verdade

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CAPÍTULO 15

BENEFÍCIO E GRATIDÃO

Deslizando incansável, o rio não cogita de examinar, as bênçãos que conduz nem sindica o solo por onde segue.

Bailando no ar, o perfume nada pede além da amplidão para espraiar-se.

Convertendo-se em alimento, não espera o grão outra dádiva da vida senão trituramento.

O sol fecundo não escolhe sítio para visitar com luz, calor e vida.

A chuva fertilizante não tem preferência por onde espalhar vitalidade.

Todos cooperam em nome da Divindade sem exigências e sem reclamações.

São úteis e passam.

Nada esperam, nada impõem.

Aqueles que os podem utilizar, beneficiam-se e não recordam sequer dos bens que auferem com eles, mas nem por isso eles deixam de produzir.

Examinando as lições sem palavras com que a Natureza se expressa, pode o homem, com o discernimento, muito fazer em favor do próximo e de si mesmo.


* * *

Não digas, quando a ingratidão te bater à porta: "Nunca mais ajudarei a ninguém! " Não exclames, quando a impiedade dos teus beneficiários chegar ao reduto do teu lar: "Para mim, chega!" Não reclames, quando a soberbia dos teus pupilos queimar tuas mãos generosas com as brasas da maldade que carregam consigo: "E eu que tudo lhes dei! " Não sofras, dizendo, quando o azorrague daqueles a quem amas te ferir o devotamento: "Arrependo-me de ter ajudado! " Não retribuas mal por mal, pois que, assim, vitalizarás o próprio mal.

A noite domina quando encontra sombras no roteiro e a enfermidade se alastra quando se agasalha em organismos indefesos.

O bem que se faz a alguém é luz que se acende interiormente.

Gostarias, sim, de recolher gratidão, amizade, compreensão...

Todos nós gostaríamos de experimentar os pomos da gratidão.

A árvore, porém, não pergunta a quem lhe colhe o furto para onde o carrega, que pretende dele. Felicita-se por poder dar e se multiplicar através da semente que, atirada alhures, abençoa o novo solo com outras dádivas de alegria.

Imita-lhe o exemplo.

Teus frutos bons, que produzam bons frutos além...

Tuas nobres tarefas, que se desdobrem em tarefas superiores mais tarde.

A ti a alegria de fazer, doar, e nunca a ideia de colher reconhecimento ou gratidão.

Gratidão, pode ser, também, pagamento.

Seja grato o teu coração, mas não esperes pelo reconhecimento de ninguém.


* * *

A reencarnação, por impositivo da Lei, aproxima de ti queridos afetos de ontem, adversários do pretérito que te buscam para receber ou para exigir, envergando trajos diferentes e estranhos sobre espíritos conhecidos.

Refaze ou completa a tarefa interrompida, o dever esquecido.

A água do rio harmoniosa que o sol traga em hausto de calor tornará ao solo, ao curso antigo, em chuva dadivosa.

O bem que faças, viajando sem parar em muitos corações, espalhará luz no longo curso e, amanhã, — nos caminhos sem fim do futuro — mesmo que não o saibas ou o tenhas esquecido, ressurgirá mais além, mais formoso, mais fecundo.



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