Dimensões da Verdade

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CAPÍTULO 25

PESSOAS, OPINIÕES E NÓS

Refletes, ensimesmado, com o espírito inquieto: "Nunca pensei que me acontecessem tais aflições"! ...

Lamentas, angustiado, conjecturando: "Esperava ingratidões, certamente, não, porém, de quem as sofri".

Murmuras, cansado, com o coração em frangalhos: "Até quando manterão opiniões injustas e rigorosas contra mim"?

Consideras, ferido, pensando: "Como são impiedosas as pessoas que me combatem! Nem sequer procuram saber se agi como afirmam que agi".

Evocas, de olhos tímidos, todos os lances dolorosos: "Mudaram de opinião, os meus amigos, com a mesma rapidez com que formularam opiniões anteriores"...

Lastimas, humilhado, monologando: "Expulso do afeto de tantas pessoas e seviciado pela opinião de quem tanto amei"!

Sofrido, recorda-os, acalentando pensamentos de união imediata, esquecido de que a enfermidade, para bater em retirada, exige tempo que faculte ao organismo afetado o refazimento e a readaptação.

E conservas o espinho que te atiraram como lâmina cravada nos tecidos sutis da alma, embora os aceites como necessário, fazendo-te purgar...

Sem o quereres, aspiras o ópio da ingratidão de quantos te amarguraram e te deixas sombrear pelas opiniões deles, como se fosses não o que és, mas o que eles dizem.

Pessoas e opiniões são circunstâncias transitórias nas realidades legítimas da vida.

Aquelas de destaque que te deixaram à margem não perderam o valor nem te diminuíram.

As opiniões delas, embora valiosas algumas vezes, noutras circunstâncias refletem estados emocionais passageiros, que o tempo afirmará ou alterará.

Nós, no entanto, somos o que vivemos intimamente diante da consciência.

Somos oportunidades em nós mesmos de fazer e refazer, prosseguindo resolutos e intimoratos no ideal que elegemos como meta essencial da existência.

Por isso não nos podemos deter nas evocações negativas, coletando limitações, revidando golpes da inferioridade das pessoas e das suas opiniões.

Destinados à luz imperecível, guardamos a destinação sublime da vida real.

Estêvão, o cristão inesquecível, perseguido por Saulo, a quem respeitava, não diminuiu o ardor da fé, embora as pedradas que lhe roubaram a vida física...

Paulo, logo mais, valoroso, não arrefeceu o devotamento nem a fidelidade a Jesus, apesar do abandono a que foi relegado pelo próprio pai... e das perseguições sem conto que enfrentou...

Francisco de Assis, o santo do amor, levado ao tribunal pelo genitor envolveu-se na alegria e, desprezado por todos, saiu entoando seu hino de fraternidade excelsa...

Vicente de Paulo, rechaçado nos ideais de caridade a que entregava, redobrou esforços no ingente labor de ajudar, sem desconsolo...

Tómas Campanela, mesmo preso por 27 anos, não abandonou as convicções que o conduziram ao cárcere...

João Huss, expulso do solo pátrio e perseguido sem piedade manteve, até a morte, os ideais de fé esposados, embora queimado vivo...

Bernardo Palissy encarcerado na Bastilha como huguenote não se arrependeu das bênçãos com que o seu gênio enriquecera a sociedade...

Paracelso, sem amigos, entre amarguras inumeráveis continuou as experiências com que enriqueceu a cultura hermética do seu tempo...

... Apóstolos e mártires, heróis da fé e filósofos, cientistas e pensadores de alto jaez beberam a taça de excrementos da impiedade das pessoas, sofrendo-lhes as opiniões deprimentes, fiéis, no entanto, a eles mesmos e aos ideais os sustentavam.


* * *

Em relação ao Espiritismo e quantos lhe são fiéis, não é diverso.

A Doutrina que atualiza a mensagem cristã, trazendo como roteiro de salvação a nobre conduta evangélica, não poderia ficar indene às deficiências dos homens. Na impossibilidade, porém, de adulterarem ou poluírem os seus ensinamentos, por ser Doutrina dos Espíritos, voltam-se contra nós, encarnados ou desencarnados, aliados às mentes com as quais sintonizam na Terra ou na Erraticidade, utilizando os recursos de que dispõem.

Não te aflijas, não te deixes sofrer.

O Espiritismo, que hoje te comanda o tesouro da reencarnação, é puro e nobre como a luz — banha-te com a sua limpidez e claridade.

Foste convidado à função de "carta-viva" — expressa em atos a mensagem que conduzes, esquecendo perseguições e desditas por imposição da própria tarefa.

Jesus, o Incomparável Modelo e Guia Nosso, desconsiderando pessoas e opiniões do tempo em que esteve na Terra, ateve-se ao desempenho do sublime dever de amar e servir, convidando não apenas os que eram tidos como puros e nobres, de todos conhecidos pelo valor de que se encontravam investidos, mas principalmente aqueles que, em se arrependendo do mal praticado, ao ingressarem nas fileiras da Boa Nova, promoveriam "alegria no Reino dos Céus" graças à condição anterior em que viviam, agora em salutar alteração nas linhas superiores dos ensinos d’Ele.



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