No Limiar do Infinito

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CAPÍTULO 19

A COMUNHÃO COM DEUS

Dando curso ao salutar programa iniciado por Jesus, o de reunir-se com os discípulos para os elevados cometimentos da comunhão com Deus, mediante o exercício da conversação edificante e da prece renovadora, os espiritistas se devem reunir com regularidade e frequência para reviver, na prece e na ação nobilitante, o culto da fraternidade, em que se sustentem, quando as forças físicas e morais estejam em deperecimento, para louvar e render graças ao Senhor por todas as suas concessões, para suplicar mercês e socorros para si mesmos quanto para o próximo, esteja este no círculo da afetividade doméstica e da consanguinidade, se encontre nas provações redentoras ou se alongue pelas trilhas da imensa família universal.

Do conúbio da prece saem todos restaurados e otimistas, refeitos e reconfortados, portanto medicamentos eficazes para as teimosas mazelas que instam por predominar como decorrência de um atavismo pernicioso como resultam as satisfações pela oportunidade de privar com as dores e as aspirações dos companheiros de jornada, participando dos justos problemas que constituem pauta nos imediatos empreendimentos e metas do Espírito necessitado...

Prevendo que a vigorosa impulsão egoística convocasse os fieis à oração solitária, longe da solidariedade que deve sustentar todos os homens pelos caminhos da evolução, propôs o Mestre que "onde dois ou três estão congregados em meu nome ali estou eu no meio deles" (Mateus 18:20), numa evidente demonstração de que os rios da prece, fluindo na direção do mar da divina graça, não devessem apresentar-se como filetes individualistas, separados, mas como córregos convergentes que se unissem numa poderosa vertente a misturar-se no delta das Regiões Superiores da Vida.

Não que o Senhor despreze a oração ungida de sinceridade, realizada no silêncio da soledade, mesmo porque, conclamou os discípulos a que se refugiassem ao compartimento secreto do lar, sem que os olhos curiosos do mundo os vissem, a fim de, em segredo, se apresentarem a Deus, despindo-se dos atavios e complexidades exteriores com que as criaturas se manifestam umas às outras.

No colóquio com o Pai, o Espírito se despoja das artificialidades e do superficialismo por saber que desnudo ou não é conhecido por Aquele a Quem busca, sendo-lhe melhor exteriorizar-se como é, conforme se encontra, do que prosseguindo nas expressões mentirosas que nada resultam de útil ou produtivo. Outrossim, em tal conúbio, da alma que ora com o Senhor que a escuta e inspira, é mais fácil a humildade, o treino para o autoexame das imperfeições, evitando os constrangimentos que as presenças amigas ou desconhecidas normalmente impõem. Após esses interlúdios individuais em que o ser se prepara para os deveres maiores, é-lhe mais fácil partir para os tentames mais expressivos, quando, então, se lhe impõe a necessidade da prece em conjunto.

De outras vezes, a falta de hábito da oração, a ausência das técnicas da concentração constituem aos iniciantes dificuldades expressivas para a busca, mediante a prece a sós. Nesse capítulo, a convivência com outros que se capacitaram "ao anular de si para que se penetrem de Deus" leciona os meios hábeis para credenciar os neófitos e torná-los preparados para o ministério solitário.

A oração em conjunto, todavia, impele a criatura a interessar-se pelo seu irmão e a estar ao lado de quem se lhe apresenta como antipático, junto aos ofensores, em cujo momento, consoante a recomendação do Mestre, terá ensejo de refazer a paisagem que se mantém com animosidade, tornando-a amena, receptiva à cordialidade, em franco processo de drenagem do mal.

— "E quando estiverdes orando, perdoai" —, asseverou Ele com imperativa determinação, a fim de que a seu turno faça jus ao perdão de Deus pelas incessantes faltas das quais, na prece, busca excursar-se, roga olvido aos erros, suplica misericórdia...

Malgrado as imperfeições individuais, quando o grupo se reúne para orar, caldeiamse as aspirações e os seletores de pedidos do Mundo Espiritual registam e identificam as aspirações globais, a média das solicitações relevantes, dispersando atenções e auxílios, sem preferencialismo nem segregação, num todo harmonioso de benefícios gerais.

As mentes que se intercambiam pelos fios invisíveis das afinidades de gostos, aptidões e caprichos, estão em perene intercâmbio de mensagens entre os homens, destes em relação aos Espíritos desencarnados e reciprocamente.


Toda fixação de ideia, todo pensamento emite força que atua numa onda vibratória própria que se apresenta ao centro de registros para onde se dirige, encontrando

receptividade ou perdendo-se por falta de sintonia em faixa equivalente.

Assim, as mentes que se resguardam na oração defendem a casa mental da agressividade alheia, das interferências perniciosas e simultaneamente se mantêm indenes aos petardos das paixões e animosidades que lhes são arremessados por encarnados aturdidos e viciados ou por Entidades vingadoras, ociosas, perversas, cultivadoras da inveja e da insensatez.

— "Tudo quanto pedirdes ao Pai, através da oração, Ele vos dará" —, obtemperou o Senhor. É óbvio que as solicitações aqui devem ser encaradas do ponto de vista nobre, sem que a jactância e a presunção armem esquemas de automerecimentos vãos em que se pressuponha que basta pedir a fim de simplesmente receber, alcançar.

Indispensável saber pedir, compreender o fim para o qual se pede e o de que realmente necessita para pedir.

Solicitar por solicitar não produz qualquer resultado digno de nota. Preencher os mapas de pedidos com rogativas de frivolidades e supérfluos, de forma alguma constitui requerimento digno de respeito ou crédito.

Rogativas de maldições, castigos e vinganças contra outrem, porque se considere injustiçado ou ferido, jamais alcançam registo positivo, antes transformando-se em demérito para o apelante que pretende transformar os celeiros da misericórdia divina em núcleos de desforços pessoais, vinganças ou justiçamentos precipitados, a golpes de infantilidade caprichosa e mesquinha.

Nunca esquecer que Deus é o Excelso Pai de todos, da vítima e do algoz, usando da mesma benemerência e probidade para com um e outro. Ninguém, entretanto, permanecerá impune em relação aos erros, porquanto estes se insculpem na consciência do faltoso, que, hoje ou mais tarde, anelará pela reabilitação e reequilíbrio ou cairá em ocasião própria nas malhas das redes malévolas que haja entretecido para os outros, porém de que não se conseguirá liberar, senão a esforço.

Os espíritas, cristãos novos sustentados pelo Consolador, devem reviver nesse comportamento valioso de união para a prece e a meditação o mesmo ministério exercido pelos cristãos primitivos dos tempos apostólicos, que, em unção e fervor, se levantavam aos Céus, em tais momentos, de lá recebendo a inspiração e o amparo para as lutas aspérrimas a que se candidatavam, para os labores santificantes a que se entregavam, para manterem o ardor do ideal a que se doavam.


Em decorrência de tal atitude e graças à perfeita identificação de propósitos e

superioridade de anseios sensibilizavam os Mensageiros Celestes que se comunicavam em memoráveis apresentações, produzindo transfigurações, vozes diretas, materializações santificantes com as quais hauriam o alimento espiritual e o vigor para se enfrentarem a si mesmos e, logo depois, se ofertarem em holocausto vivo pela Causa do Cristo, na Terra, antes que pelas próprias causas, nascidas nas questiúnculas do dia a dia.

Na oração a criatura suplica e se apresenta a Deus; pela inspiração profunda e reconfortante responde o Senhor e se revela ao aprendiz.

Ninguém que consiga erguer-se aos pináculos da glória espiritual sem fruir esses momentos-pausas de união com Deus, em que o tempo e o espaço se fundem no instante da Eternidade, em que se diluem os limites e as coordenadas terrenas de efêmera duração.

O calvário foi precedido pelo horto do abandono e da prece e a madrugada da ressurreição foi antecipada pelo mortal silêncio de meditação da sepultura.

Oração, meditação, em consequência, são os termos-base da equação da fé, na busca do alimento da sobrevivência às conjunturas do trânsito carnal pelos rumos da Imortalidade.

De precípua importância que todos, encarnados e desencarnados, prosseguindo com a imperecível lição do Mestre, nos reunamos para orar, a fim de, elevando-nos a Deus, descermos para a aplicação e a vivência dos verbos amar, servir e passar...


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Mateus 18:20

Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí, estou eu no meio deles.

mt 18:20
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