CAPÍTULO 48

O PROBLEMA DA RENÚNCIA

"Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás, não está apto para o reino de Deus. ", Lucas 9:62.

O agricultor diligente padece as injunções do clima áspero, as dificuldades do solo, a adversidade das pragas na sua gleba, a fim de que a sementeira de hoje se faça bênção de colheita futura, renunciando a comodidades e repouso.

O oleiro toma do barro pegajoso e modela-o, na antevisão da peça de utilidade que surgirá, renunciando à limpezae ao conforto momentâneos.

O artesão experimenta a rudeza do trato com o material de que se serve, pensando no objeto que plasma, renunciando à placidez do descanso e da ociosidade.

O desbravador das terras e mares experimenta as difíceis injunções do meio, pensando nos benefícios futuros do esforço, renunciando à família, à civilização...

Em todo ideal de engrandecimento humano, a renúncia é impositivo indispensável.

O problema da renúncia está no significado que se empresta ao móvel central que a inspira.

Atitude de sabedoria é renunciar ao imediato prazer que passa breve, pela satisfação mediata, que não tem termo.

Perfeitamente natural, que no empreendimento espiritual se cumpra a exigência da renúncia a determinados objetivos, a fim de lograr mais relevantes metas.

O homem, no mundo, não poucas vezes vê-se constrangido a renunciar uma aquisição para lograr outra. Significativo é o esforço, quando tomado em função de valores éticos expressivos, evitando frustrações e desaires.


* * *

Renuncia ao amor-próprio, a fim de viveres a fraternidade legítima.

Renuncia à maledicência, em considerando as próprias ulcerações morais que trazes ocultas.

Renuncia ao ódio, tendo em vista a necessidade do perdão.

Renuncia à comodidade, renovando-te pelo trabalho na caridade fraternal.

Renuncia à inveja, precatando-te contra a loucura.

Renuncia aos triunfos transitórios logrados a qualquer preço, sobrepondo-lhes as esperanças e consolações espirituais que te aguardam.

Renuncia ao orgulho antes que te envenenes interiormente.

Renuncia à sensualidade, edificando no imo o templo ao amor puro.

Renuncia aos alheios caprichos e retentivas familiares ante o chamado de Jesus e dá-te em regime de abnegação, se possível, de totalidade...


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O homem a tudo renuncia quando acionado pelas ambições mundanas.

O patriota segue ao clima da guerra, renunciando aos vínculos da família, buscando preservar a paz.

Renuncia-se aos liames da consanguinidade quando se inicia a construção de nova família pelos laços matrimoniais.

Sobrepondo-se à excelência da vida futura, as renúncias do trânsito carnal nada significam, antes constituindo emulação para o labor que se abraça em Espírito.


* * *

Arma-te de coragem e investe tuas forças na renúncia, no silêncio, no trabalho edificante, na ação da caridade e renuncia, renuncia sempre que possível.

Quem renuncia possui; quem frui deve. "Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás - asseverou o Senhor - não está apto para o reino de Deus. " Jesus, o Mestre por Excelência, renunciando aos enganosos e sedutores triunfos da Terra, que O não fascinaram, lecionou que a verdadeira ventura consiste na superação das humanas conjunturas, para demonstrar a grandeza da paz sem conflito e da felicidade sem jaça.



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Lucas 9:62

E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

lc 9:62
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