Dias Gloriosos

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CAPÍTULO 11
Ilustração tribal

TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS


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O pavor ao inevitável fenômeno da morte vem conduzindo o ser humano a mecanismos, audaciosos uns e lamentáveis outros, mediante os quais pensa que seria possível burlar a fatalidade biológica, seja pelos recursos da Ciência trabalhando pela longevidade das células e automática reparação dos órgãos danificados ou através das fugas espetaculares que se dão pelos transtornos neuróticos.

Atemorizado, sob a carga de enfermidades depurativas, recorre à eutanásia, acreditando evitar as dores, ou ao suicídio, na vã tentativa do absurdo mergulho no rio do esquecimento absoluto.

Normalmente, iludindo-se quanto à transitoriedade do arquipelago molecular no qual habita, aliena-se dessa realidade, anestesiando os centros do discernimento e supondo-se livre da futura disjunção orgânica.

Felizmente, a Medicina concluiu que a morte real é a que decorre da inutilização do tronco encefálico e não mais apenas a aparente dos neurônios cerebrais.

Portadores de morte cerebral, vitalizados através de aparelhos, têm despertado periodicamente, demonstrando que havia irrigação de oxigênio mantenedor dos neurônios, o que lhes permitiu a reconquista da consciência e das funções fisiológicas aparentemente desorganizadas.

Essa salutar ocorrência ensejou estudo e avaliação mais profundos da vida biológica e da sua cessação, oferecendo a possibilidade de novas conclusões na área, que contribuíram para mais segura definição da ocorrência da morte.

Enquanto o Espírito se encontre vinculado ao corpo a vida nele se manifestará, mesmo que sob a insuficiência funcional de muitos dos seus órgãos.

A interrupção dos batimentos cardíacos e a consequente destruição do tronco encefálico é que caracterizarão a separação da alma do seu invólucro material, ocorrência, portanto, propiciatória da morte desse último.

Graças às incontáveis conquistas do conhecimento e do sentimento, o homem e a mulher já merecem ter as suas dores diminuídas, realizando o processo de evolução mediante os inestimáveis recursos do amor, que é a fonte geradora de vida e de felicidade.

A inevitabilidade do progresso tem auxiliado os seres a encontrar os meios mais eficazes para alcançar essa meta anelada, que é a libertação do sofrimento.

Por esse empenho, à medida que a ciência e a tecnologia ampliaram o número de instrumentos para melhores maneiras de viver, também facultaram a diminuição de muitos sofrimentos, a superação de alguns, a anulação de terríveis flagelos que periodicamente dizimavam milhões de vidas. Ao mesmo tempo, essas conquistas ampliaram o período de existência útil no planeta, facultando aos seres humanos mais valiosas oportunidades para usarem com sabedoria a reencarnação.

Banida lentamente a dor física e atenuadas as aflições morais na Terra, cabe aos seus habitantes realizar profundas mudanças de comportamento ético e espiritual, a fim de que a sua conduta não dê surgimento a novos comprometimentos, a diferentes processos depurativos, a doenças desconhecidas e devastadoras conforme ainda vem acontecendo...

Não raro, quando são vencidas etapas físicas e não se dá a transformação moral efetiva do ser, permanecem sequelas que contribuem para o surgimento de novos processos de advertência pela dor, recurso natural da vida para promover a evolução, que é inestancável.

Desse modo, o progresso científico alcançou a técnica dos transplantes de órgãos, facultando a muitos enfermos a possibilidade de se recuperarem das doenças e do desgaste a que se encontram submetidos.


Verdadeira bênção, o transplante de órgãos concede oportunidade de prosseguimento da existência física, na condição de moratória, através da qual o Espírito continua o périplo orgânico. Afinal, a vida no corpo é meio para a plenitude

—que é a vida em si mesma, estuante e real.

Aquele que oferece conscientemente os órgãos que podem ser úteis, tendo em mente o benefício que podem proporcionar aos seus irmãos enfermos, realiza uma doação de alto teor moral, verdadeira caridade no seu sentido profundo, contribuindo em favor da diminuição das dores na Terra.

O receptor, por sua vez, atenuadas as causas cármicas do padecimento que sofre, já merece essa concessão divina, tendo ampliada a existência física, a fim de reparar os males causados pelo bem que realize, ao mesmo tempo melhorando as condições de vida no planeta.

As ocorrências normais de insucesso estão perfeitamente desenhadas no mapa das ocorrências da lei de causa e efeito, moral, que ainda predomina no paciente, impedindo-lhe a atual recuperação, o que não significa impropriedade ou desqualificação da técnica.

Pode suceder alguma interferência obsessiva na terapia do transplante, por parte do doador rebelde, que não foi consultado antes, e ainda permanece vinculado aos despojos materiais. Esse processo, porém, somente se dará se houver permanência de débito por parte do receptor e ocorrer uma sintonia vibratória entre ambos, como consequência da situação psíquica inferior predominante no caráter dos mesmos.

A rejeição, portanto, igualmente ocorre como fator de demérito do beneficiário, cujo perispírito não reestruturou o órgão recebido, adaptando-o à sua necessidade e gerando substâncias reativas, que expulsaram o corpo estranho aos seus equipamentos.

Ninguém se encontra no mundo condenado ao sofrimento sem remissão. O amor é sempre o bálsamo luarizante que está ao alcance de todo aquele que se disponha a usá-lo.

Mesmo os seres mais empedernidos, quando alteram a disposição mental e a emocional, procurando romper os fortes grilhões da impiedade ou do vício, de imediato se beneficiam com as vibrações do bem que está sempre ao seu alcance.

A Divindade, por sua vez, acompanhando o esforço humano pelo progresso e pela libertação das dores, faz que, periodicamente, mergulhem nas pesadas camadas da psicosfera terrestre os missionários do amor, da sabedoria, da ciência e das artes, para que sejam melhoradas as condições ambientais e evolutivas dos seus habitantes.

Nesse investimento do Divino Amor, cabe aos homens observar os requisitos básicos para tornar dignos os seus labores, credores de respeito, evitando descambar para os interesses mesquinhos e vergonhosos a que são conduzidos por pessoas inescrupulosas e inconsequentes.

A venda indiscriminada de órgãos é um desses descaminhos, que abre portas a um comércio ignominioso, gerador de crimes hediondos, que devem estarrecer a humanidade, levando-a a abominá-los.

Tal comportamento favorece os ricos e anula os pobres, discrimina as criaturas, elegendo-as pelos valores materiais em detrimento do significado das suas existências.

Ao mesmo tempo, enseja a retirada apressada de órgãos antes da ocorrência da morte real - a do tronco encefálico — sob falsas justificativas em torno da cerebral... Ademais, faculta que quadrilhas criminosas sequestrem crianças ou mendigos sem identidade, tomando-lhes os órgãos para o nefando comércio.

Esse recurso poderá responder por terríveis obsessões em que o ser lesionado, que não foi consultado para o transplante, cobre o órgão que lhe foi tomado sem anuência ou sofra as excruciantes dores da cirurgia a que foi submetido, após o homicídio de que foi vítima e nada pôde fazer para evitá-lo.

Torna-se urgente uma bioética para os transplantes de órgãos e uma consciente preparação dos doadores que devem ser voluntários e não compulsórios, ficando à mercê de legisladores desinteressados dos valores reais e apenas preocupados com as suas próprias conquistas, longe do conhecimento espiritual que é a base da vida.

O corpo é patrimônio que Deus elaborou para servir de veículo ao Espírito nas suas multifárias reencarnações, saindo da treva para a conquista da luz. Merecedor de todo respeito, toda dignidade, é instrumento-luz que a ignorância ou a persistência no mal transforma em sombras ou depósito de miasmas para a sua própria aflição.

Todo investimento de amor a ele direcionado enriquece de sutis vibrações os seus equipamentos que se sutilizam e se tornam mais energizados, desenvolvendo forças que o equilibram e revigoram.

Quando o ser está consciente da sua imortalidade e compreende quão valiosa para outras vidas será a doação dos órgãos que lhe têm sido úteis e preciosos, caminhando para a dissolução, podendo, no entanto, salvar outras vidas, diminuir as angústias do seu próximo, a mesma se lhe apresenta como forma dignificante de crescimento íntimo.

Olhos que viram belezas e irão arrancar das trevas pessoas que tateiam sem luz; rins que filtraram o sangue da vida e poderão libertar das pesadas e perigosas injunções das máquinas de hemodiálise; pele saudável que substituirá tecidos queimados ou dilacerados rudemente... coração, pulmão, fígado, glândulas que a ciência poderá utilizar em momento próprio, serão incomuns benefícios para a humanidade, desde que haja ocorrido a morte real dos doadores...

Os avanços científicos alcançarão esse patamar e outros ainda mais desafiadores, como já ocorre com as microcirurgias cerebrais e outras equivalentes, prolongando a existência física para mais rápido processo de evolução espiritual do ser humano.

Transferido o órgão para outro corpo, automaticamente o perispírito do encarnado passa a influenciá-lo, moldando-o às suas necessidades, o que exigirá do paciente beneficiado a urgente transformação moral para melhor, a fim de que o seu mapa de provações seja também modificado pela sua renovação interior, gerando novas causas desencadeadoras para a felicidade que busca e talvez ainda não mereça.

O Espírito, à medida que pensa e age, está sempre alterando a existência corporal, porque, gerando causas, experimentará os inevitáveis efeitos que virão oportunamente, exigindo cumprimento.

O transplante de órgãos direcionado à dignificação da vida humana e realizado sob os auspícios de uma bioética trabalhada na Lei do Amor, representa grandioso passo da humanidade que ruma para o futuro melhor, apesar de a morte, que a todos aguarda, continuar inevitável como processo de liberação do corpo, para a existência espiritual, esta sim, a verdadeira e eterna.



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