Dias Gloriosos
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DESAFIOS DO IDEAL
Quando alguém se dispõe à luta para a edificação de qualquer ideal passa, necessariamente, por três fases específicas indispensáveis ao êxito que lhe deve coroar o esforço: sonho, construção do programa ambicionado e sua habitação.
De início, é impositivo primacial gerar alguma coisa, concebendo-a como essencial à própria existência. Ninguém, portador de mente lúcida e dotado de sentimentos dignos, que não sinta necessidade de promover o progresso da humanidade, quanto àquele de si mesmo, que brota do inconsciente e se torna uma força capaz de remover os mais difíceis obstáculos que se apresentem.
Como um sonho, passa a alimentar o psiquismo que se nutre do delineamento da obra, que vai tomando vulto até abarcar todos os espaços da mente e do coração. Por mais se deseje dissociar do mapa mental a onda idealista, eis que se lhe instala e cresce, fazendo-se o motivo básico da existência.
Envolve todo o ser em inabitual alegria, transmitindo musicalidade às horas e sentido psicológico para a caminhada ascensional.
Vertendo das Esferas Superiores, enriquece mediante o delinear de aspirações que se convertem em verdadeiro encantamento. Os mais graves cometimentos alteram-se, transformando-se em emulação para o prosseguimento das lutas. Por mais que invista os valores do esforço e do sacrifício, esses contributos náo constituem sofrimento, antes energia nova para tornar realidade o que se encontra formoso nas paisagens profundas do psiquismo.
O sonho é o grande passo definidor de qualquer projeto, porque pode ser renovado a cada momento, alterando contornos, ampliando traçados, recompondo páginas e remodelando-o quantas vezes aprouver.
Essas paisagens iridescentes do mundo mental dão dimensão do infinito de possibilidades que se encontram diante de todo e qualquer indivíduo, aguardando pela sua cooperação.
Espelho mágico a refletir a realidade metafísica, plasma abstrações que um dia se transformam em fenômenos objetivos na esfera dos sentidos humanos, que se desenvolvem sob os seus comandos sutis.
Região da transcendência, nesse painel delicado os Mentores da Humanidade trabalham as aspirações humanas e nelas insculpem os pensamentos que comporão o futuro e são antecipados por inspiração, desde que haja silêncio próprio para captar as suas vozes inarticuladas.
Quem não anela, não sonha, ainda permanece em níveis deploráveis do processo da evolução, sem a captação das harmonias espirituais que envolvem o planeta e todos quantos o habitam.
Vivenciada essa fase, arrebatado pelo projeto de realização idealista, o indivíduo passa à construção do programa.
Materializar a ideia é enfrentar as dificuldades de encontrar o material hábil para a sua concretização, os recursos próprios, identificar as circunstâncias e propiciar-se valores morais, a fim de não precipitar os momentos que têm a sua hora específica.
A instalação dos ideais superiores no mundo físico encontra diversos obstáculos compreensíveis, em razão da sua estrutura densa e conveniente para a preservação da ignorância e do parasitismo. Diante de novos cometimentos que irão alterar a qualidade do comportamento, as resistências do convencional, do aceito, se levantam em forma de barreiras impeditivas.
Tudo parece conspirar para dificultar ou mesmo não permitir que haja alteração naquilo que está conforme o prazer geral, concedendo comodidade a alguns em detrimento dos demais que choram e que sofrem, cujas vozes não são ouvidas, abafadas pelo ruído daqueles que estão alucinados e intoxicados pelas festas vãs, nas quais afogam as próprias debilidades...
Ninguém, entretanto, pode impedir a força ciclópica do progresso, nem frear a marcha da evolução, que sempre irrompe quando menos se espera e produz fissuras no organismo do poder mentiroso, levando ao malogro da sua dominação.
Pedra a pedra, em ação contínua, se levantam as obras da dignificação humana e social, alterando o comportamento ocioso e cúmplice da indiferença, que cede lugar aos novos impulsos das realizações incomparáveis, que tornam a vida mais apetecível e o espírito humano imbatível pela força do seu idealismo.
Nessa batalha sem quartel, surgem os mártires, apresentam-se as vítimas permanentes para as paixões asselvajadas terem ensejo de ferir, para atender os equivocados quanto à realidade do ser e do seu destino. No entanto, sabem, esses que se empenham pela alteração das condições de vida, que o seu exemplo irá fecundar outras sementes que estão sepultadas no âmago de outros heróis e que ainda não tiveram ensejo de vir a fluxo.
Após o seu trânsito, e em sua memória, muitos outros estarão estimulados a levar adiante o trabalho que a morte não interrompe, não raro os próprios idealistas retornando pela dádiva da reencarnação, ampliando as possibilidades propiciatórias do desenvolvimento da sociedade e da mudança de mentalidade enfermiça que por largo período vicejou dominante.
A história da construção dos ideais é a saga do sacrifício e da abnegação daqueles que se tornaram seus instrumentos dignos.
Nesse labor, as injunções penosas ao invés de produzirem desânimo, mais vitalizam os seus inspiradores, que se sentem projetados na direção do futuro, que podem captar por antecipação.
As calúnias e maledicências, as acusações indébitas que produzem celeuma, tornam-nos conhecidos mais do que a divulgação excelente dos seus propósitos. Todos aqueles que encetaram a marcha para a realização do enobrecimento experimentaram os ataques sórdidos dos adversários do progresso, que os excruciaram, e porque os não venceram, utilizaram-se da chocarrice, da chalaça, intentando ridicularizá-los, tornando-os, assim, conhecidos e até mesmo respeitados em outros lugares onde as suas vozes ainda não haviam chegado.
... E porque os seus ideais eram verdadeiros, tocaram pessoas nobres e descomprometidas com os aranzéis dos parvos, que lhes aderiram ao empenho de renovação do grupo social em particular e do mundo em geral.
O próximo passo é o da aceitação, que se generaliza, sendo um momento crucial, porque o conteúdo profundo da mensagem se torna superficial, adulterando-se-lhe a expressão.
Fundamentalmente esse estágio, o da construção exitosa, torna-se delicado, porque é nessa fase que as expressões do egoísmo de quantos se acercam se manifesta, apresentando sugestões pessoais, fora do contexto do ideal, e lutas desnecessárias para o exibicionismo, a vaidade, a exacerbação dos sentidos.
O idealista, no entanto, que atravessou os momentos mais escuros, conhece a via em que agora deve deambular, e com habilidade prossegue sem perturbar-se com as injunções momentosas das distrações, dos embaraços, das competições quase inevitáveis.
Concluída a fase de construção, surgem os projetos da manutenção e vivência, que aguardam por cuidados especiais.
Agora, porém, apresenta-se a hora de habitar o sonho, não mais de correr, de afadigar-se, de prosseguir em desespero, de insistir em desarrazoadas tentativas de continuismo, passando à satisfação de viver as emoções compensadoras do esforço desenvolvido.
Nem todos estão preparados para habitar os sonhos tornados realidade. O ritmo de trabalho, as fadigas incontáveis e noites intermináveis criaram o hábito de mover-se e esfalfar-se de tal maneira, que a mudança de comportamento parece impossível de ser adotada.
O idealista, malgrado os seus sentimentos nobres, perde o contato com a realidade e acredita-se dono do labor, imaginando que ninguém tem condições de o substituir, transformando-se em instrumento de perturbação e de mau desempenho, por não querer repartir com os demais, esquecendo que todos somos mordomos das Divinas Concessões e que daremos conta do que seja realizado.
Habitar o sonho, certamente, não é distanciar-se do mister, pelo contrário, trata-se de vivê-lo em outra dimensão, de fruí-lo em manifestação diferenciada, de ser feliz ante o realizado, pensando com calma nas imensas possibilidades que ainda estão desenhadas, mas que talvez outros devam dar continuidade.
Mediante esse raciocínio, a paz se aloja no coração e a confiança que, em momento algum depereceu, robustece-se e alegra-se rica de gratidão à Fonte da Vida de onde tudo procede.
Todo ideal direcionado à Terra pode ser comparado a um filho amado que se concebe enternecidamente, se lhe prepara o enxoval de amor e de carinho, para ir educando-o com esforço e esmero até o momento de entregá-lo ao destino que o aguarda, para que dê continuidade ao processo de crescimento dele próprio e da humanidade.
Impedi-lo de avançar por cuidado ou excesso de zelo é castrá-lo e privar a sociedade da convivência de um dos seus queridos membros, em tormentosa volúpia de propriedade de vida, longe da razão e da lógica.
Da mesma forma que os pais são cocriadores, os obreiros são coconstrutores, cujo desempenho se coroa de alegria, quando terminada a etapa que lhes foi destinada a realizar.
Sonhar com os ideais de engrandecimento humano, empenhar-se na sua edificação e habitar os resultados com carinho e gratidão a Deus, constituem os passos gigantes que todos os indivíduos devem promover em favor de si mesmos e da sociedade.