Dias Gloriosos
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RECUPERAÇÃO E CURA
Indispensável fazer-se a diferença técnica entre os processos de recuperação orgânica e cura. O primeiro diz respeito ao refazimento dos equipamentos celulares que, desajustados, recompõem-se e voltam a funcionar com equilíbrio, nem sempre significando que houve o retorno da saúde; enquanto que o segundo, a cura, se verifica nas engrenagens mais delicadas da constituição celular.
Os mecanismos propiciadores da degenerescência orgânica e da instalação das enfermidades encontram-se no cerne do ser, na sua estrutura energética, de que se encarrega o perispírito na sua condição de organização modeladora da forma, portanto, das necessidades indispensáveis à evolução do ser espiritual.
Graças a esse corpo sutil, constituído de energia específica, as ondas mentais que decorrem da fixação das ideias, mais tarde corporificadas em atos, imprimem fatores que se fazem responsáveis por ocorrências profundas na estrutura molecular do corpo físico.
Iniciando-se, desse modo, o complexo mecanismo da modelagem da organização biológica - as células, sua estruturação, desenvolvimento, multiplicação pela mitose como resultados naturais dos intrincados fenômenos mentais e morais do indivíduo - instalam-se a saúde ou as enfermidades, de acordo com as suas necessidades evolutivas, estabelecendo-se os programas que dizem respeito a cada existência corporal.
O ser humano é, em decorrência, o resultado de tudo aquilo que elabora, cultiva e realiza.
A cura real é uma operação profunda de transformação interior, que ocorre somente quando os fatores propiciadores da injunção danosa se modificam para melhor, dando lugar ao equilíbrio das suas variadas funções no campo da energia.
Imprescindível se faz, nesse caso, que a mente processe todos os conteúdos emocionais e morais de maneira adequada, a fim de que a recuperação da saúde através da terapia utilizada venha a produzir a cura real, evitando as recidivas que decorrem exatamente da falta de composição vibratória dos delicados elementos pelos quais o Espírito interage no corpo.
A recuperação temporária pode ocorrer em razão dos esforços empregados pelo terapeuta, da bem direcionada aplicação dos medicamentos e a momentânea mudança de atitude mental do paciente. Todavia, se não houver uma profunda alteração de comportamento interior - desejo sincero de sarar, cultivo íntimo de bem-estar, propósitos edificantes, renovação dos hábitos mentais - certamente a enfermidade reaparecerá ou se apresentará sob nova diagnose, dando curso ao seu mister de despertá-lo para a sua realidade profunda como ser imortal.
Na grande maioria das pessoas enfermas, está presente o efeito de determinada conduta vivida anteriormente, na qual houve desistência dos referenciais da vida, mesmo que de forma inconsciente, como resultado de ocorrências que poderiam Días Gloriosos haver sido encaradas de maneira menos pessimista, menos autodestrutiva.
É inevitável a sucessão de desares, de frustrações, de desencantos existenciais, porque a própria experiência humana é rica de manifestações dessa ordem. A atitude, porém, do indivíduo diante delas, é que define o seu futuro, mesmo quando venha a mudar de conduta emocional. Não raro, os danos já estão causados às tecelagens delicadas da aparelhagem geradora das células, na área da energia que elabora as moléculas.
Pode-se observar que, antes do surgimento ou instalação de diversas doenças, o paciente se permitiu desconsertos íntimos, anelou pelo abandono da luta material, sentiu-se esgotado pela sucessão de tormentos e dores morais, permitindo-se o desânimo desgastante.
A consciência da realidade espiritual do ser auxilia-o a esforçar-se para continuar a viver no corpo, quanto lhe esteja destinado, sabendo, não obstante, que desencarnará, como é natural, todavia, utilizando-se de todos os valiosos recursos da própria existência, a fim de torná-la mais digna e apetecida.
Esse comportamento contribui de maneira expressiva para o seu restabelecimento, para a sua recuperação imediata e a sua cura mais tarde, ainda que venha a liberar-se da máquina física no momento próprio.
Por sua vez, o médico deve cuidar de descobrir no doente o ser que se encontra sob a injunção enfermiça, passando a cuidar da pessoa, ao invés de apenas dedicar-se a assistirlhe a deficiência e a oferecer-lhe a terapia correspondente. Tal conduta médica servirá também de contribuição valiosa para a autoconfiança do paciente, para sua identificação como criatura humana e não somente como alguém que ocupa um leito hospitalar ou se encontra sob a problemática do desgaste orgânico onde quer que esteja.
A complexidade do ser humano tem raízes bem fincadas no seu emocional, na forma como se sente cuidado, amado, respeitado, ou, por outro lado, esquecido, desconsiderado, uma pesada carga sobre os ombros alheios...
Experimentando o amor, autoestimula-se e luta por corresponder, desde que possua maturidade psicológica proporcionadora do discernimento lúcido. Quando isso não ocorre, autopune-se, envenenando-se de alguma forma, sem mesmo dar-se conta, ou permanece dominado pelo propósito de desistência da vida física.
Seja qual for, porém, a enfermidade a desgastar o indivíduo, os estímulos verbais que lhe cheguem, as vibrações de simpatia que o visitem, as emoções joviais que experimente tornam-se excelente contributo psicoterapêutico, indispensável mesmo à sua recuperação, à reconquista da saúde, portanto, à cura.
Dentro dessa óptica, poderá ocorrer a alguém indagar a respeito de enfermidades em pessoas portadoras de excelentes virtudes, de conduta irreprochável, cultivadoras de princípios éticos elevados, o que pareceria desacreditar a proposta autocurativa que decorre da vida moral sadia e da conduta mental elevada.
A condição de humanidade, isto é, de o indivíduo encontrar-se revestido de matéria, já traduz a sua efemeridade, realçando, desse modo, a oportunidade de realizar a experiência autoiluminativa.
O que diferencia um paciente comum de outro portador de expressivos dotes do sentimento e da moral, é a maneira como aceita e enfrenta as vicissitudes, as doenças, os desafios existenciais.
Enquanto o sofrimento para os desavisados se constitui num martírio, numa desgraça, para os outros - aqueles que se sustentam na fé religiosa racional, no equilíbrio das emoções
—significa recurso de crescimento, instrumento de enriquecimento de valores mais elevados, que estão ao alcance somente dos que se empenham na conquista dos patamares mais nobres da libertação pessoal Entre esses vitoriosos sobre os próprios limites, a Humanidade conhece os mártires, os heróis, os santos, os cientistas e os artistas, os filósofos e os construtores do bem, do bom e do belo que viveram nas diferentes épocas da História.
Tornaram-se exemplos de valor moral, de grandeza espiritual e paradigmas que servem de modelo para todos os demais que ainda permanecem nas faixas mais pesadas das aspirações evolutivas.
Acima de todos eles, porém, destaca-se Jesus, que jamais enfermou, todavia, ofereceu-se em sacrifício, sem qualquer débito, a fim de ensinar sublimação e amor a todos os indivíduos, no seu estágio mais elevado que o pensamento pode identificar.