Jesus e Vida

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CAPÍTULO 23

Culto lamentável

O politeísmo, que recebeu de Moisés e, mais tarde, de Jesus, os golpes mortais mais seguros para eliminálo, através da História adaptou-se à doutrina cristã com verdadeiros requintes de dominação arbitrária, desfigurando-a de maneira deplorável através do culto aos apóstolos, aos mártires e mais tarde aos santos, que se tornaram os novos deuses entronizados pela insensatez.

Combatido pela razão nos tempos modernos da cultura, novamente impôs-se ao desvario, elegendo outras formulações que passaram a atrair a atenção e o interesse coletivo, aureolando-se de míticas homenagens, qual ocorreu em Paris, com a deusa razão, no período da Revolução, desfilando em cortejos não menos idólatras do que aqueles realizados pelas religiões ultramontanas.

Sem nunca deixar de existir, porque parece haver uma necessidade dominadora na criatura humana pelos cultos externos e mágicos, na atualidade alcança o esplendor na apologia da exaltação física, na glorificação desportiva e artística, na exacerbação da vulgaridade e dos comportamentos promíscuos...

Atraindo multidões aturdidas e fascinadas, na sua inconsequência celebram festivais de anarquia, em forma de bacantes vergonhosas e ultrajantes com que seduzem as novas gerações desequipadas de experiência, de maturidade psicológica e de discernimento mental.

Fomentam a impressão de que a existência na Terra tem como objetivo único desfrutar do prazer sem cansaço, embora a consumpção que logo ocorre devoradora.

Noutras vezes, apresentam-se nos desvarios do sexo, da drogadição e nas condutas indignas, arrebatando centenas de milhões de pessoas iludidas que acreditam somente nessa realidade que se manifesta através do dinheiro, da fama, do poder.

São os três deuses atuais mais poderosos no processo cultural da sociedade contemporânea.

Quem lhes não oferece submissão e não os homenageia, tomba na marginalidade, é considerado incapaz, alienado, destituído de objetivos grandiosos ou simplesmente ingênuo...

No passado, algo remoto, o poder da força bruta manteve os fortes que sobreviveram aos mais fracos, por imposição do processo evolutivo.

À medida que houve o desenvolvimento mental, a astúcia ancestral armou a inteligência de artifícios e prosseguiu dominando os demais.

Posteriormente, a partir do momento em que o rei Creso, da Lídia, passou a cunhar moedas de ouro, logo foram convertidas em instrumento perverso de dominação.

A fama defluente das vitórias nas guerras coroando os heróis, mesmo que assassinos confessos, fez que se tornassem credores de adoração das massas idiotizadas, constituindo-se motivo de cobiça para quase todos.

Nos dias atuais, a conquista do dinheiro tornou-se de fundamental importância para o logro do poder e da fama ou em ordem contrária... É imprescindível entesourar, brilhar, submeter, sem nenhuma consideração pelas demais criaturas.

Alcançar um deles para depois os outros a qualquer preço, faz-se essencial para a existência humana.

Enquanto ascende essa deplorável postura, diluem-se os valores ético-morais, que são desrespeitados, inclusive, por aqueles que os estabelecem através de códigos de honra e de leis que deveriam ser dignificadoras...

O triunfador, que conquista qualquer um desses deuses, não se preocupa com as vítimas que lhe servem de pedestal para o brilho enganoso.

Nada obstante, os modernos adoradores desses novos bezerros de ouro asseveram estar vinculados a esta ou aquela doutrina religiosa que abjura a idolatria, mantendo conduta paradoxal.


* * *

Com o inexorável passar do tempo, a jornada, através dele, termina por demonstrar a esses equivocados quão perdidos se encontram.

Possuem quase tudo, recebem a bajulação idólatra, fingem-se de imortais no corpo, apresentam-se como campeões da juventude louçã, da beleza e da fortuna, mas lentamente as forças diminuem, o corpo perde a flexibilidade, as funções orgânicas complicam-se, e muitos passam à solidão dourada, ao esquecimento, à entrega dos vapores alcoólicos ou à intoxicação das drogas químicas.

Quase todos que se lhes acercam durante o período de glória e se lhes entregam para o gozo, utilizam-nos, negociam com esses deuses, ansiosos por ocupar-lhes os lugares deslumbrantes...

Cansam-se facilmente deles, que detestam sorrindo, desejando-lhes todo o mal possível, para seguirem adiante, procurando novos argonautas, mais recentes musas e semideuses do Olimpo das suas fantasias, para os seguirem em renovadas procissões ridículas.

O pódio onde estiveram ontem sendo coroados de glória e favorecidos pela fortuna, está agora homenageando outros, recém-chegados e ambiciosos, poluídos moralmente e desejosos de apagar-lhes a memória. Esses estão investindo tudo quanto dispõem, a fim de passarem à governança do reinado de utopias, sonhando com o período que esperam seja infinito, no qual viverão para sempre...

Competem em escândalos, quando lhes faltam valores capazes de chamar a atenção, a fim de desfrutarem da fama e permanecerem em festas contínuas, no foco das máquinas fotográficas, dos periódicos sensacionalistas, da mídia devoradora, que os olvidam em pouco tempo, aguardando suas mortes para trazê-los novamente de volta às suas manchetes, faturando mais dinheiro em suas memórias...

Esses deuses, além de mentirosos, são perversos, porque o dinheiro não compra o amor nem a paz, a fama não preenche o vazio existencial, nem o poder tranquiliza aquele que o detém.

O ser humano, para adquirir o dinheiro, afadiga-se até a exaustão, perdendo a saúde, para tornar-se rico. Logo depois, gasta o que foi acumulado para recuperar a saúde destroçada, e quando tal ocorre, perde a confiança nos seus deslumbrados súditos e adoradores, sentindo a terrível solidão que os faz extravagantes, maníacos, vítimas de transtornos obsessivos-compulsivos ou simplesmente insensíveis à afetividade.


* * *

O verdadeiro culto que é lícito vivenciar-se, é ao dever que conduz à autoconsciência, à verdade.

O conhecimento da vida e da sua finalidade é essencial à harmonia e à felicidade humana.

Os deuses da fantasia são adornos momentâneos e que podem ser utilizados com sabedoria, porque, em si mesmos, são neutros. O uso que se lhes dá, é que os torna escravocratas ou libertadores.

Com muita propriedade Jesus asseverou: - O meu Reino não é deste mundo, mas não desconsiderou, não condenou, nem desdenhou o mundo que é bendita escola de educação e de progresso espiritual.

Cuidado com o politeísmo em relação aos novos deuses!

Agitação espiritual Observa a volúpia dos desequilíbrios que tomam conta da Terra, nesse aspecto desagregador das estruturas morais do ser, da família, das instituições vigentes.

As valiosas conquistas da inteligência e da tecnologia não têm conseguido modificar as paisagens espirituais das criaturas humanas, pelo menos, no sentido geral, erguendo-a a patamares de civilização e ética vivenciais mais elevados.

Legiões de desvairados utilizam-se, pelo contrário, desses recursos preciosos que se lhes encontram ao alcance, e, em face do primarismo que os assinala, aplicam-nos de maneira perturbadora, dando largas aos instintos perversos, que adquirem cidadania cultural.

Ao lado desses, outros tantos, que possuem discernimento, ou que, pelo menos aparentam-no, apaixonam-se pelas próprias ideias, e aturdidos no mundo interior, desencadeiam terríveis campanhas de morticínio, de antagonismos, de ódios insanos por toda parte.

Organizações e sociedades culturais, políticas, econômicas, religiosas, mergulham em graves comportamentos éticos resultantes de alguns dos seus membros, seus altos executivos e administradores embriagados pelo poder, maculando-o mediante as ações nefastas de que são responsáveis, delinquindo, ao impacto das paixões egóicas irracionais.

Para onde se dirige o olhar, vêem-se a beleza e o horror em confrontos chocantes.

As emoções, incapazes de suportar os enfrentamentos desgastantes desequilibram-se e os transtornos se lhes instalam multiplicados, aturdindo uns, alucinando outros indivíduos através da inarmonia interior.

As condutas generalizam-se tragicômicas, insustentáveis, assinalando a agitação que se amplia.

Não padecem dúvidas que o intercâmbio espiritual inferior torna-se preocupante em razão de apresentarse em caráter epidêmico...

Isto porque, há uma perfeita identidade vibratória entre os desencarnados infelizes e os deambulantes nas roupagens físicas procedentes das mesmas regiões da erraticidade.

Desde que permanecem nos propósitos infelizes em que se comprazem, mantêm o comércio nefário, desse modo apressando os processos evolutivos por meio do sofrimento.

Lamentável, no entanto, é a ocorrência da avalanche de desaires em crescimento, arrastando pessoas que se deveriam acautelar, para evitar-se o contágio maléfico.

Líderes religiosos, políticos de expressão, multiplicadores de opinião, homens e mulheres de elevados sentimentos, que são conhecidos pelos seus exemplos de cidadania, que inspiram confiança, de um para outro momento são envolvidos pela turbulência e engrossam as fileiras da anarquia, deixando desencanto e frustração, ao mesmo tempo retirando os suportes morais naqueles que os respeitavam e neles viam exemplos dignos de seguidos.

A balbúrdia e as fugas espantosas para o abismo dos prazeres exacerbantes dificultam a manutenção da alegria real, do equilíbrio, da harmonia...

Para onde caminha a humanidade?!

Dois mil anos de doutrina cristã e uma tão perturbadora colheita de paz!


* * *

O Espiritismo, por sua vez, veio reverter essa ordem torturada, restaurando o sentido psicológico e moral da existência do ser humano na Terra.

A medida que as suas excelentes propostas são aceitas pelos que buscam diretrizes de segurança e anelam pela alegria de viver, acostumados ao clima de desarmonia, logo resolvem interpretar a mensagem clara e profunda desse conhecimento conforme a sua emoção.

Ao invés de aplicarem as lições à conduta, procuram adaptá-las ao que já pensam e facilmente dissentem do movimento, das instituições, dos trabalhadores mais abnegados, acusando-os irresponsavelmente, formando grupelhos de criticas perversas, gerando-lhes dificuldades que se multiplicam.

Certamente que são poucos esses companheiros invigilantes e presunçosos. No entanto, são muito hábeis na arte de confundir e de dividir, a fim de poderem imperar...

Surgem as agressões e calúnias difamatórias contra aqueles que não se lhes submetem ao talante, nem se identificam com as suas ideias.

Desejam solucionar os problemas dos outros e do mundo, sem resolverem os próprios, decantam a capacidade mental que se atribuem, menosprezando a dos demais.

Fazem-se agressivos, irônicos, insolentes.

Chegam atrasados ao compromisso espiritual e informam que aqueles que estão à sua frente no labor, estão querendo competir com eles, que buscam somente a exaltação pessoal e a glória mentirosa.

Apontam erros em tudo e em todos, acusam os demais, informando que desejam lograr a autopromoção em incontrolável conflito interior, que lhes desvela as ambições malcontidas.

Não estão a serviço do Bem, mas dele se servem com deslavado cinismo, atendendo à própria megalomania.

São vítimas, sim, nossos irmãos bulhentos, da agitação espiritual inferior que os alcança, obsidiando-os.

Não te permitas enredar nas suas trampas.

Mantém o teu ritmo de trabalho com Jesus, sem lhes facultares a honra de afligir-te.

Não debatas com eles, não lhes resistas ao mal de que são portadores, mantendo-te em paz.

Prossegue fiel ao programa em que te firmas e aguarda o tempo.

A irmã Morte, que um dia te interromperá a trajetória, também os alcançará...


* * *

Nunca te deixes consumir pelas preocupações do mal, seguindo sempre adiante.

Jesus te aguarda à frente.

Esta agitação é transitória e logo passará, deixando os seus tristes efeitos cravados nas carnes de milhões de almas que recomeçarão.

De tua parte, age com amor sempre, até quando a harmonia se espraie como bênção de Deus entre todas as criaturas terrestres.




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