Liberta-te do Mal

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CAPÍTULO 32

Coerência e austeridade

O teu compromisso com a imortalidade é portador de grave e alta responsabilidade.

Ele diz respeito ao teu futuro espiritual, em favor do qual deves investir os teus melhores recursos, por lhe considerar o sentido de elevada magnitude, em razão de sua perenidade.

Renasceste, na Terra, com a destinação luminosa, a fim de te libertar de toda e qualquer sombra que te vem impossibilitando o avanço em direção à plenitude e tem sido o fator determinante de os teus conflitos e dificuldades evolutivas.

Conhecedor que és dos conteúdos sublimes da fé racional que haures na Doutrina Espírita, já não te podes permitir o luxo enfermiço da ignorância nem as justificativas infantis em torno das impossibilidades que te cabem ultrapassar, com naturalidade e entusiasmo.

A luz que te norteia os novos caminhos é bênção a que vens fazendo jus pelos esforços contínuos de libertação das mazelas que te têm acompanhado ao largo do tempo.

Não mais te detenhas nos comportamentos infelizes, aqueles que proporcionam prazeres mórbidos, mais intoxicam a mente e pervertem os sentimentos, agrilhoando-te às masmorras do atraso moral.

És filho de Deus, que te ama, havendo-te concedido a honra de Lhe conhecer o Embaixador incomparável, que se ofereceu em sacrifício espontâneo, a fim de que pudesses fruir da vida, dessa vida que proporciona abundância.

Antes, embora sentisses a necessidade de crescer interiormente, de fruir paz, de te encantar com todos os contributos com que a Natureza te felicita, encontravas-te dependente dos instintos básicos que nutriam as paixões primárias, impedindo-te a experiência das emoções elevadas.

Com Jesus aprisionado nas torpes celas do dogmatismo e da perversidade, das superstições e fórmulas sacramentais, cuidando dos poderosos e olvidando-se dos pobres de espírito, seguias hipnotizado pela ilusão das compensações concedidas pelo arrependimento antes da morte, aguardando um céu de ociosidade e contemplação eterna, ou receando o terrível inferno onde não vigem a misericórdia nem a compaixão.

Desorientado, talvez, pela impropriedade de tais conceituações, abraçaste o materialismo imediatista e frustrante, buscando ignorar o sentido nobre da vida, procurando fruir tudo quanto o momento podia oferecer, permanecendo, no entanto, interiormente vazio de significado e desestimulado para a luta de renovação.

Nesse momento significativo, porém, encontraste Jesus descrucificado pelo Espiritismo, o companheiro dos desafortunados e dos vencidos, dos tristes e dos oprimidos, dos que choram sem conforto nem esperança, dos viandantes sem roteiro que, de braços abertos a todos alberga no Seu generoso coração de Mestre irretocável.

Ouvindo-Lhe dos lábios sensíveis a melodia imperecível do Sermão da montanha, renasceram na tua alma as esperanças, renovaram-se os teus propósitos de trabalho, e renasceste para a vida, e agora, fascinado pelo Seu exemplo de amor, tentas seguir Lhe as luminosas pegadas pelos ínvios caminhos da atualidade aflita...

Não vaciles, nem te permitas a paralisação da tua marcha.

Avança resoluto, e conquista o tempo, recuperando aquele malbaratado na insensatez e na desorientação.

O teu compromisso com Jesus é formal, e se trata de um contrato sério para todos os teus dias atuais e futuros.

A Sua doutrina é feita de energia e de vida, não havendo lugar, nos seus postulados, para a indecisão, a amargura, o arrependimento da dedicação, as negociações ilícitas muito do agrado da frivolidade humana.

Aceitaste-Lhe a companhia e a diretriz, havendo-te prometido fidelidade e coerência existencial em relação aos Seus ensinamentos.

A coerência te facultará a austeridade na conduta mental, verbal e comportamental, não anuindo aos vícios que predominam nos grupos sociais e aos quais eras afeiçoado, mudando de atitude com energia e demonstrando que já não pertences mais aos círculos dos comportamentos vãos e atormentados.

A transformação moral que te deves impor inicia-se por meio dos novos hábitos mentais edificantes, deixando, à margem, aqueles que te intoxicavam e produziam tormentos de vária ordem.

As paisagens psíquicas a que te afeiçoaste estarão sempre enriquecidas de quadros cambiantes de beleza enriquecedora que te falam de amor e de mansidão, de alegria e de trabalho, de esforço regenerativo e de aprendizagem.

Quando alguém sai de uma furna onde se homiziava demoradamente, sofre a cegueira produzida pela feérica e abundante luz. Faz-se necessário absorvê-la cuidadosamente, adaptando-lhe a vista e acomodando-se ao deslumbramento que os olhos enfrentam e se tornará o novo mundo de observação.

É natural, portanto, que ao se sair das densas trevas da ignorância do Bem e do abismo em sombras dos torpes comportamentos, a nova paisagem produza um choque inicial, fascinando, a pouco e pouco, o observador que a descobre.

Cultivando a saúde emocional, o candidato à ascensão não tergiversa, não sendo gentil para com os outros por meio da defecção da própria crença, mas, delicadamente declinando das contribuições perturbadoras e se mantendo íntegro, em grande fidelidade a tudo aquilo que hoje faz parte da sua decisão para manter o comportamento iluminativo.

A sua grande preocupação deve cingir-se ao combate às imperfeições que ainda o atraem aos hábitos que reconhece doentios e de que se deseja libertar, não facultando espaços para os devaneios inquietadores a que se encontrava acostumado.

Uma agenda de preocupações novas, mais com o interior do que com o exterior da existência, toma-lhe os campos da mente e se enriquece, cada vez mais, ao constatar a grandeza da existência que lhe passava despercebida, porque sempre estava entulhada pelo lixo das coisas irrelevantes.

Automaticamente, modifica-se-lhe a área da saúde e do bemestar, respirando melhor o oxigênio da esperança e da alegria real, modificando-se, significativamente, e de tal forma que se surpreende ante os acontecimentos que passam a suceder no seu caminho.

Sem dúvida, é necessária a coerência entre em que se crê e como se comporta, facultando austeridade dinâmica e não agressiva em relação a tudo e a todos.

Essa coerência, sempre a mantiveram os primeiros discípulos de Jesus, alguns dos quais abraçaram o martírio, jubilosos, cantando as glórias do Céu com olvido dos tormentos da Terra.

Poderiam ter abjurado, porque lhes era concedido esse direito, sob a justificativa de que, ficando no corpo, poderiam servir mais, trabalhar mais pela divulgação do pensamento de Jesus, no entanto, sabiam que, nessa conduta, ocultava-se o medo do testemunho, de provar a imortalidade e a mansidão do Rabi.

Era exatamente essa coragem estoica e doce que surpreendia os perseguidores que mais se encolerizavam, temendo-lhe o sublime contágio...

Como hoje não mais existem as perseguições declaradas, públicas e legais, tem em mente que as arenas são muito mais amplas e perigosas, porque se iniciam nas fronteiras do sentimento pessoal, alargando-se em direção ao mundo inteiro.

Mantém-te vigilante, portanto, coerente e austero, na tua vivência com Jesus.



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