Lições para a Felicidade
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ASPIRAÇÕES MÁXIMAS
114. Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que se melhoram?
"São os próprios Espíritos que se melhoram e, melhorando-se, passam de uma ordem inferior para outra mais elevada. "
O ser humano, educado conforme as convenções sociais, não raro preocupa-se apenas com os valores imediatos e de respostas objetivas, concretas, que facultem alegrias momentâneas.
As suas ambições giram em torno daquilo que pode ser transformado em lucro, cujos resultados atendam aos interesses existenciais, envolvendo-o em novas buscas para favorecer-lhe prazer e poder mais grandiosos.
O imediatismo transforma-se na única meta que persegue. E mesmo quando pensa no futuro, esse se lhe apresenta como oportunidade de prosseguir desfrutando tais concessões, que podem ser conseguidas através do poder aquisitivo e dos relacionamentos com os quais se identifica.
Impensadamente acredita que toda a existência deverá transcorrer em forma de agradável jornada de gozos e experiências compensadoras, sem dar-se conta dos incidentes naturais e dos problemas que dizem respeito à própria organização molecular na qual se encontra mergulhado.
Vagas ideias da vida espiritual fazem parte da sua agenda de informações, dando-lhe um significado secundário, como se a mesma fosse uma ficção que merece, vez que outra, algum comentário, do qual se extraiam considerações mitológicas, irreais...
O corpo é a sua fonte de prazer, e todas as energias são direcionadas para a sua manutenção, preservação e concessões a ele pertinentes.
Surpreendido, porém, pelos fenômenos biológicos ou psicológicos que lhe constituem a maquinaria de uso, e que não correspondam aos apetites e planos delineados, deixa-se arrastar pelo corredor estreito dos conflitos ou da amargura, reclamando e exigindo alteração de ocorrência, em face do que observa nos outros, naqueles que se lhe apresentam como tipos padrões que sempre parecem felizes e sem problemas.
Essa miopia espiritual é responsável por larga faixa de depressivos, exaltados, toxicômanos, pervertidos, ansiosos, desequilibrados.
Mediante uma óptica totalmente distorcida, esse indivíduo acredita-se credor da Vida e nunca dependente, cujos meandros deveria percorrer com diferente comportamento.
O hedonismo que nele predomina é força de coerção asfixiante, que a cada dia se torna mais selvagem e impiedoso, afligindo-o sem cessar.
A transitoriedade do corpo é, sem dúvida, uma bênção para o Espírito, porque se encarrega de vencer a arrogância de uns e a supremacia de outros, o orgulho de alguns e a presunção de diversos, em razão de a todos conduzir dentro das mesmas expressões de fragilidade e de necessidades equivalentes.
Não obstante essa circunstância, que é fundamental e definidora da vida, não são escassos aqueles que permanecem no pedestal do ufanismo, acreditando-se ou fingindo acreditar-se diferentes, superiores, merecedores de todos os favores que supõem merecer.
Nenhuma acusação a quem assim procede. Apenas é de lamentar que, na atual conjuntura espiritual da Terra, ainda permaneçam pessoas ignorando a realidade de si mesmas, os objetivos superiores a que se devem entregar, o significado das suas existências, os melhores métodos e recursos para adquirir a felicidade sem jaca e alcançar a harmonia ideal.
O tempo, na sua imutabilidade, devora todas as construções ilusórias.
Passando-se através dele, esboroam-se os castelos da fantasia e as edificações da vaidade.
Nações sucedem-se, umas às outras, com as suas glórias e decadência, suas realizações poderosas e temporárias, deixando escritas, nas esteias de pedras calcinadas pelo Sol ardente e sob os lençóis de águas oceânicas ou de areias dos desertos, as ruínas daquilo que antes foram esplendor e grandeza.
Povos inteiros sucumbiram e os vestígios das suas jornadas, são estudados, em vãs tentativas de buscar-se respostas para a sua forma de vida, as suas atividades e os seus dias ora ultrapassados.
Homens e mulheres notáveis assinalaram os seus momentos nessa história admirável, que é a saga da conquista do Infinito e, principalmente, da imortalidade.
São essas páginas vivas de ontem que se apresentam mortas nos monumentos e obras eloquentes, que devem servir de advertência a todos aqueles que vivem estes momentos de conquistas e de exaltação, ambicionando pelo prolongamento do tempo no corpo, sem dar-se conta da maior vitória, que é aquela adquirida sobre a morte.
O ser imortal é o grande vencedor de todos os embates.
Penetrar-lhe a origem, o destino, e interpretar-lhe as disposições para autovencer-se, há de tomar-se o programa racional a que cada homem e mulher se devem vincular, dedicando-se à elucidação das incógnitas que surjam pela frente.
Nessa tentativa de entender o mundo causal de onde procede e para o qual retornará, desenvolver-se-lhe-á o sentido de dignidade e cuja ambição máxima deverá ser aquela que diz respeito à sua realidade profunda, que lhe facultará um avanço incomum para a conquista de si mesmo.
O carro orgânico passa muito rápido pelas estradas do tempo, mas o Espírito imortal vence-o com galhardia, porque se encontra em conjuntura diversa do seu impositivo.
Conta Heródoto de Halicarnasso que o rei Creso da Lídia era possuidor da maior fortuna existente no seu tempo. Seus palácios e bens somavam importância extraordinária, no entanto, sendo pai de dois jovens, um deles era surdo-mudo, não podendo dar continuidade à governança do povo e o outro, a quem desejava tornar rei, foi vítima de um augúrio cruel, revelando que seria morto por uma lança ou flecha, o que aconteceu, para infelicidade do genitor.
Recebendo, oportunamente, Sólon, o sábio ateniense, no seu suntuoso palácio, aguardou que o nobre visitante o elogiasse e, por todos os meios tentou descobrir-lhe o pensamento a respeito da sua importância.
Como Sólon se mantivesse discreto e o advertisse indiretamente quanto ao tempo, ficou magoado e desiludido.
Posteriormente, desencadeando a guerra contra Ciro, rei dos persas, foi batido em diversas batalhas, até que tombou prisioneiro do adversário poderoso.
Levado ao poste da humilhação para ser queimado, teria exclamado: - Oh! Sólon, como tinhas razão...
Casualmente passando junto ao que seria a fogueira pronta para consumir o vencido, Ciro ouviu-lhe a exclamação, e porque fosse admirador de Sólon, mandou libertá-lo e indagou-lhe porque a ele se referira, havendo o monarca em desgraça contado o que acontecera quando recepcionou o sábio.
Compadecido, Ciro poupou-lhe a vida e manteve-o a seu serviço pelo resto da existência...
Ali estava muito bem representada a transitoriedade das glórias terrenas, quando o rei passou a vassalo...
Somente na conquista dos valores eternos é que o ser adquire bens que se não transferem de mãos e harmonia que nada vence.