Lições para a Felicidade
Versão para cópiaINDULGÊNCIA
Conclusão. Item 7 (Comentários de Allan Kardec.) Destaca-se no elenco dos valores morais que exornam o caráter do ser humano a indulgência, esse sentimento elevado que se caracteriza pela compaixão pelo próximo e suas imperfeições espirituais.
A indulgência faculta a remissão dos pecados, proporcionando ao outro a reabilitação por meio de ações meritórias que o ajudam na reconquista de si mesmo, bem como na daqueles que hajam tombado nas redes intrincadas dos seus defeitos, na calúnia, ou no vitupério, na maledicência ou na crueldade em que ainda se comprazem.
Somente quando se adquire consciência dos objetivos essenciais da existência, discernindo-se o que realmente possui significado profundo, é que os sentimentos de compaixão e de indulgência assomam robustos, emulando o ser para o entendimento das próprias assim como das mazelas alheias.
É compreensível que existam indivíduos em níveis primevos de crescimento intelecto-moral, já que a sociedade é constituída por Espíritos que se encontram em variados graus de desenvolvimento, auxiliando-se reciprocamente, os mais bem aquinhoados em relação àqueles que se encontram em faixa anterior, ascendendo juntos, porém, na conquista do objetivo superior, que é a harmonia.
Quando escasseia a indulgência, que abre as portas para a lídima fraternidade, os atritos e lutas intérminas semeiam a crueldade e a malversação de valores, tornando o grupo social um campo de batalhas, no qual, o mais hábil e quiçá mais astuto ou perverso, assume o comando e triunfa sobre aqueles que são tímidos e não se dispõem aos combates da insensatez e do ódio.
O progresso tecnológico tem propiciado uma visão mais ampla do Universo e das criaturas humanas, especialmente da fragilidade que a todos caracteriza, ensinando quão variável e transitória é a indumentária orgânica, assim convidando a reflexões mais acuradas em torno da essencialidade da vida e das conquistas dos tesouros da tranquilidade e do bem.
Não obstante recalcitrante, o homem, destituído de sentimentos de elevação, acredita-se imbatível e resistente a todos os enfrentamentos, sem dar-se conta de que, a cada momento, as forças são-lhe substituídas umas por outras, no incessante transformar-se da matéria, até quando as energias em escassez deixam-no fragilizado e decadente, enfermo e dependente, inspirando compaixão e misericórdia.
Ninguém, sem exceção, foge ao fragmentar da organização fisiológica e ao seu constante movimento de transformações inevitáveis.
Aquele que hoje se apresenta possuidor de força e de poder, de saúde e de alegria, de coragem e de vigor, logo mais se encontrará vitimado pela fraqueza, pela enfermidade, por inúmeros receios, na marcha inexorável em direção da morte.
A indulgência é a mensageira angelical que entoa hinos de ternura aos ouvidos do sofrimento de qualquer jaez.
Se alguém se arvora em acusador cruel e rebelde, assacando injúrias e recriminações soezes, é credor de indulgência. Ignora que se encontra tomado por distúrbios graves de comportamento, assim expressando o estágio de inferioridade pelo qual transita.
Se outrem esmaga o fraco, que se encontra sob sua dependência, de alguma forma, comprazendo-se em amesquinhálo e destruir-lhe a autoestima e a dignidade, merece maior dose de indulgência, porque o seu transtorno emocional está a ponto de enlouquecê-lo.
Se uma pessoa se compraz no sofrimento daquele que elegeu para adversário e o vigia com ferocidade, perseguindo-o sem trégua, merece a indulgência que funcionará no seu mundo íntimo como bálsamo que o lenifica ante a ardência da aflição em que se debate.
Se este é ingrato e soberbo, olvidando-se de todo o bem que tem recebido, somente porque, neste momento, se apresenta em aparente condição de bem-estar, a indulgência para com ele é o melhor recurso para que a sua enfermidade moral estanque no nascedouro.
Se este outro é rude e presunçoso, esquecido das próprias limitações ou perdido em si mesmo, somente a indulgência para com ele será capaz de demonstrar-lhe quão mal se encontra interiormente, bem como em relação aos outros dos quais não pode prescindir.
Se aquele é invejoso e persistente nas atitudes infelizes que sabe manter contra o seu próximo, a indulgência para com a sua imperfeição moral será o recurso desconhecido que impedirá a contaminação da sua morbidez.
Indulgência sempre para com os outros, porquanto todos necessitam de recebê-la no transcurso da caminhada terrestre.
A indulgência esparze oportunidade de reabilitação ao ofensor e agressivo, mas também pacifica aquele que a oferta, por facultarlhe não se exasperar diante do mal dominante, permanecendo no bem irretocável.
Sem indulgência a vida terrena perde o seu significado, e o ser humano toma-se joguete de paixões incoercíveis que desencadeiam consequências nefastas, mediante reações perturbadoras e insanas que assolam os relacionamentos sociais, como, de certa forma, vem acontecendo através dos tempos.
Graças à indulgência, o ser edifica-se e engrandece-se, entesourando paz e alegria de viver.
Indulgente para com as misérias humanas, Jesus veio ter com as criaturas para auxiliá-las na ascensão, suportando-as com amor e compreendo-as com misericórdia.
Sabia que a libertação da sombra da ignorância é paulatina, e que a ruptura das algemas dos instintos agressivos, que deveriam ser substituídos pelos sentimentos morais, é demorada e contínua.
Jamais se irritou ou desanimou, demonstrando cansaço ou perturbação.
Mesmo quando se tornava enérgico, semelhando-se a cirurgião que deve amputar um membro canceroso a fim de salvar o conjunto orgânico, evitou a rispidez, a agressividade e os instrumentos habituais entre os seus contemporâneos.
... E nunca necessitou da indulgência de ninguém, porque tomou a Sua cruz e plantou-a no monte da perversidade humana, sem queixa nem lamentação, ainda aí mantendo-se indulgente e compassivo, perdoando a trágica perversidade daqueles mesmos que haviam recebido Seu inefável amor.
Notas
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Utilizamo-nos da 29. ed. da FEB, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Nota da Autora espiritual.
FIM