Rejubila-te Em Deus
Versão para cópiaDesapegos
Enquanto mergulhado na argamassa celular, o Espírito submete-se ao impositivo dos fenômenos sensoriais que passam a predominar no comportamento da sua evolução.
As percepções metafísicas apresentam-se tênues, exigindo reflexão e adaptação mental constante, a fim de melhor poder-se vivenciá-las, em razão da sutileza das ondas pelas quais se expressam.
É natural, portanto, em decorrência das circunstâncias, que surjam os inevitáveis apegos procedentes do instinto de conservação a tudo quanto representa sensação.
Alguns deles servem de estímulos psicológicos para os enfrentamentos, as dificuldades existenciais e tornam-se menos afligentes, menos desagradáveis.
Outros, entretanto, transformam-se em verdadeiros cárceres privados que dificultam os necessários voos espirituais em busca da liberdade, momentaneamente diminuída...
Compromissos assumidos antes do berço diluem-se na memória ancestral e remanescem como tendências ou anseios que devem ser estimulados, em razão dos comportamentos transatos, que se tornaram os programadores da atual existência física.
Testemunhos de fidelidade anelados alteram-se, apresentam-se como sofrimentos, quando, em realidade, objetivavam conquistas valiosas para o autoaprimoramento.
Afetos e adversários que se encontravam no roteiro das realizações, ressurgem como paixões desenfreadas e lancinantes, perturbadoras, ou como inimigos inclementes que geram transtornos obsessivos lamentáveis.
O próprio processo biológico, responsável pela máquina orgânica, ao atender à inexorável lei das transformações, demonstra a fugacidade de que se constitui em razão da contínua modificação celular na sua mitose e no respectivo desaparecimento de umas ante o surgimento de outras.
Por outro lado, as experiências anteriormente vivenciadas, contribuem para a alteração das metas e dos significados, que sempre se renovam, que se expressam em formulações diversificadas.
Tudo no mundo físico é transitório e irrelevante.
Em trânsito na vestidura carnal, o Espírito dispõe, no entanto, dos períodos do sono reparador, quando, ao desprender-se parcialmente do jugo da matéria, reencontra-se com os Mentores abnegados ou os verdugos insensíveis desencarnados, de acordo com o seu nível evolutivo, o que lhe permite recordar-se da imortalidade e dos graves deveres a executar.
Demais, a contínua inspiração dos Guias espirituais contribui para que a evocação da perenidade do ser suplante as paixões aprisionadoras do ter, que fixa nas faixas menos elevadas, dando lugar aos apegos exagerados.
Exercita-te no desapego.
Títulos enobrecedores e nobiliárquicos, posições de destaque invejáveis, beleza e harmonia somática não são de caráter permanente na estrutura do ser imortal.
Possuem, certamente, valor e significado relativo, que proporcionam recursos para as finalidades existenciais, quando utilizados dentro dos padrões éticos, que favorecem o progresso e desenvolvem possibilidades para a dignificação humana.
Podem facultar o crescimento moral e espiritual das demais criaturas, se colocados a serviço da educação, do trabalho, das conquistas culturais, intelectuais, e, portanto, espirituais.
Utilizados com sabedoria, auxiliam a construção da dignidade dos demais seres, fomentam o respeito e trabalham pela fraternidade, produzem leis de justiça e de ordem.
A falsa ideia de que são indispensáveis à vida constitui, infelizmente, ledo engano dos seus apaniguados, que a vaidade humana fixa nos painéis da mente para futuras perdas e consequentes aflições...
Tesouros amoedados, fortunas em joias preciosas, em títulos e ações nas Bolsas importantes, são facultados ao ser para que os transformem em bênçãos, antes que, para serem amontoados e deem destaques aos seus possuidores nas revistas que elogiam os poderosos e os fazem invejados, mas nunca felizes ou tranquilos.
A afetividade, que se apresenta como fator fundamental, deve ser repensada, porque o outro, aquele a quem se apega, segue adiante, possui, também, o seu devir e nem sempre poderá permanecer retido nos laços mais nobres ou mais poderosos como se apresentem.
O desapego deve constituir-se proposta essencial para a conquista da harmonia interior.
Tudo que se tem, muda de proprietário, mas o que se constrói intimamente, o que se realiza, esses valores seguem com aquele que os amealhou.
Poder e glória são devaneios da presunção que facilmente perdem o seu atribuído significado ante os impositi-vos da vida, da inevitabilidade da morte.
O ser humano é imortal em sua realidade, transita em roupagem de fraca proteção, porquanto, embora sendo resistente a muitos incidentes, infecciona-se com uma ponta de qualquer instrumento insignificante quando contaminado por microrganismos nefastos...
Exercita-te em possuir sem deixar-te asfixiar pela posse possuidora.
Aprende a ser livre de coisas e das aparências, desvela os tesouros morais, as conquistas intelectuais aplicados na multiplicação do Bem.
Mesmo aqueles a quem amas, podem ficar contigo somente até a borda da sepultura.
A partir dali, cada qual segue o seu rumo.
Desse modo, não sofras porque tens ou porque te faltem.
Contenta-te em ser o mesmo sempre, jovial e alegre, numa ou noutra situação.
Francisco de Assis, imitando Jesus, preconizou: — Se não és capaz de amar, pelo menos, não prejudiques a ninguém.
Rejubila-te em Deus Se não és capaz de desapegar-te, pelo menos treina cooperação com os demais e reparte tudo quanto te exorna a existência.
Desapego é vida. Tenta-o!